Um dia marcado pela boa disposição.
Dia III
Alien on Stage
On stage everyone can make you laugh
Se não estivesse familiarizada com o fenómeno "The Room", quase acharia estranho o conceito de um grupo de teatro amador composto por motoristas de autocarro de uma pequena vila inglesa, levar uma adaptação séria de "Alien" ao palco.
Depois de dar vida a pantominas divertidas em natais anteriores para angariar fundos para caridade, a decisão do grupo de criar uma peça inspirada no icónico filme de Ridley Scott confundiu muita gente.
A encenação revelou-se um fracasso. Passaram de natais de casa cheia para apenas 20 pessoas. Uma adaptação séria de Alien não equivalia às habituais comédias de Natal. Agora, podia dizer que a estória ficou por aqui mas tal não seria verdade.
No meio do escasso público encontravam-se duas londrinas que encontraram um flyer sobre a peça que as intrigou tanto que as levou a conduzir três horas para assistir à peça. O resultado não podia ser mais feliz: elas fizeram da sua missão levar a peça aos palcos de Londres. O melhor? Conseguiram.
O documentário “Alien on Stage” é o caminho desde os ensaios penosos e de imaginação fértil amadora até aos palcos do West End. É a estória da Cinderella, se esta conduzisse um autocarro.
A candura daquele grupo de pessoas ordinárias, que se vêm surpreendidas pelo amor à pequena peça que fizeram com alegria e ingenuidade fazem deste documentário o momento feel good do festival MOTELx de 2021.
O valor de "Alien on Stage" não reside na componente técnica mas nas emoções que provoca. Como documentário não existem muitas ideias. É quase amador. De facto Lucy Harvey e Danielle Kummer têm pouca experiência como uma breve passagem pelo IMDB vos poderá demonstrar. Sobra um amor incomensurável pelo material. Amam o filme “Alien” e amam a dedicação daquele grupo de pessoas, tratando-as com o máximo de respeito. Se aplicarem a mesma paixão aos próximos projetos e adquirirem mais experiência talvez nos possam vir surpreender.
“Alien on Stage” não é sobre actores à procura do estrelato. É sobre pessoas normais, com trabalhos normais que fazem o melhor que podem com os parcos meios de que dispõem. Nas horas livres dos trabalhos a tempo inteiro decoram textos, montam cenários e arranjam soluções criativas para encenar uma peça muito difícil e nada óbvia de levar ao palco. Um chestburster de espuma a fazer a sua estreia no palco ao vivo? Brilhante. A despeito de alguns momentos de autoconsciência como um encenador que se recusa a perder a paciência enquanto é filmado ou uma das actrizes a censurar os palavrões que lhe pesam na alma, é nas interações reais entre o grupo amador que o documentário ganha vida. Impossível assistir e não ficar bem disposto.
Sweetie you Won’t Believe it
A comédia física, música cazaque e a descrença entram num bar e…
Já posso riscar da minha bucket list ter assistido a um filme do Cazaquistão e posso confirmar que foi a surpresa positiva do 3º dia.
Confirmo que “Sweetie you Won’t Believe it”, mantém a tendência de comédias de terror inesperadas que vêm de mansinho e roubam o coração da audiência depois de “One Cut of the Dead” ou “Extra ordinary”. Ri-me tanto com aquele aquele último que quase tive contracções. #truestory
“Sweetie you Won’t believe it” segue a alegre tradição da comédia de enganos.
Farto de Zhanna, a sua mulher grávida ultra exigente, Dastan só quer um bocadinho para si, antes de o bebé nascer. Sem sequer saber pescar marca uma fugida para ir pescar com dois amigos, longe das preocupações do quotidiano. Quer o acaso que assistam a um homem a ser assassinado por causa de um negócio que correu mal e põem-se em fuga do bando de malfeitores pelo meio da mata. Pelo caminho cruzam-se com um serial killer temível, um pai e uma filha muito estranhos (a sério, o que é que aquela gente põe na água?) e a realização de que Zhanna entrou em trabalho de parto. Será que conseguem fugir dos bandidos? Será que conseguem chegar antes que a criança nasça? E se chegarem a tempo, será que a mulher não irá matar, ela própria Dastan, por ter dado de frosques?
O filme é acompanhado por uma excelente banda-sonora, um mix de folk com eletrónico cazaque que admito já, não me importava de ouvir de novo. Faz recordar as comédias tailandesas e outros filmes mais mainstream como “Tucker & Dale vs Evil”, sem passar por parente pobre. Em particular a sequência de eventos que desembocam numa autêntica bola de neve são um pequeno toque de génio. Digamos que a culpa de tudo quanto sucede no filme pode ser atribuída à mulher grávida.
Não é isento de erros, incluindo alguns subenredos que podiam ser melhor explorados: Dastan tem as finanças numa miséria. Nos instantes iniciais é focada uma reportagem sobre o desaparecimento de três mulheres. É mostrado um álbum que demonstra um acontecimento vital na vida do serial killer. O par pai e filha é tão peculiar que mereciam mais minutos só para eles. Estas e muitas outras questões ficam por explorar e isto leva-me a uma sugestão: teria sido muito interessante desdobrar este “Sweetie” numa mini série, acompanhando cada grupo de personagens e as suas estórias já que são estas que dão cor ao guião. Não faço ideia como se irá materializar a distribuição internacional deste filme mas estejam atentos. Vale a pena o esforço.
Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte quatro
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