Ken (Shahkrit Yamnarm) é um actor famoso e playboy cuja vida é ferozmente devassada nos tablóides. Mas isso não o detém de namorar qualquer rapariga que lhe apetece e se for preciso manter várias relações ao mesmo tempo. Por que ele é assim tão bom, o macho ideal das raparigas tailândesas.
Ken não se coíbe de as deitar fora como a um pedaço de lixo para passar à próxima. Como ele próprio diz nada como namorar várias para saber qual é a rapariga certa e ele é jovem, para quê comprometer-se tão novo? Será fácil de pensar a lista de ex descontentes não deve ser pequena. A sua última façanha amorosa foi trocar a namorada Meen (Navadee Mokkhavesa) por Ploy (Wanida Termthanaporn) a actriz com quem contracena no seu último filme. Os media entram num frenesi com esta nova relação e começa a circular a notícia de que o casal estará para casar. Entretanto, Ken e a sua namorada começam a ser perseguidos não se sabe bem por quem...
Os clichés começam cedo e logo uns atrás dos outros. Ex-namorada morta? Visto. Um fantasma a passar no corredor? Visto. Uma cena sexy na banheira? Visto. Longos cabelos negros que surgem do nada? Visto. Vou olhar para trás por que está algo atrás de mim? Visto. Torna-se um profundo bocejo.
Ainda agora me interrogo se a música que acompanha a cena na banheira pertence a um programa desses por cabo sobre jardinagem ou se será de algum filme pornográfico, de tão especial que foi. E meus amigos, acabar de ver um filme e esta ser das poucas preocupações que cá me ficaram diz muito da qualidade do filme. Dos actores não tenho grande coisa a dizer excepto que Ken é apenas um dos personagens principais mais detestáveis desde, desde... não me consigo recordar de nenhum. O que é que as moças vêem em Ken? Pois se não é mais do que um engatatão, egocêntrico em quem é impossível confiar excepto na sua constante mudança de ideias. E admitamos, na generalidade os actores sabem que a experiência cinematográfica da audiência está a ser tão penosa como a deles. Não se pode dizer que o argumento, com frases tão poderosas como "Prometo-te que serás a única e a última mulher da minha vida" contribua para o festival de falta de qualidade que é "My ex".
Acredito que qualquer coisa na linha de "Fatal Attraction" (1987), seria mil vezes melhor que a fantasmo-chachada que é esta película. É que infelizmente nem os "sustos" metem medo. Além de cópias baratas de outros filmes, incluindo de filmes tailandeses, que nem ao menos se deram ao trabalho de ir copiar fora do país, a sua previsibilidade e fraqueza são sobrecompensados com gore. Os cineastas lá deverão ter pensado que alguma coisa havia de resultar. Mas não, a música também não funciona. A música romântico-dramática é deplorável, belíssima talvez para uma novela de horário nobre, para um filme de terror não tanto. Já me esquecia, a câmara, céus, a câmara! Não sendo de estilo câmara ao ombro, parecia ter sido manobrada por alguém com a doença de Parkinson (que me perdoem as pessoas com este mal) mas a câmara tremia por demais. E querem saber o melhor? Escapa-se-me a compreensão disto mas fizeram uma sequela. Resultados de bilheteira ditam que seja feita toda a espécie de lixo. Enfim... A qualidade é comparável à de "Sacred" (Keramat, 2009) e não tenho a certeza se "My ex" não será inferior. Se quiserem pertencer àquela espécie muito em voga nos dias de hoje do "Cinéfilo Masoquista", força. Meia estrela.
Realização: Piyapan Choopetch
Argumento: Adirek Wattaleela, Sommai Lertulan e Piyapan Choopetch
Elenco:
Shahkrit Yamnarm como Ken
Wanida Termthanaporn como Ploy
Navadee Mokkhavesa como Meen
Atthama Chiwanitchaphan como Bow
Bordin Duke como Nimit
Navadee Mokkhavesa como Meen
Atthama Chiwanitchaphan como Bow
Bordin Duke como Nimit
Próximo Filme: "The Heirloom" (Zhai bian, 2005)
Acho muito injusta a forma como muitos criticam o terror oriental. Primeiro, acusa-se muito o gênero de utilizar clichés. Mas ninguém parou pra reparar que a vida real é por si só um grande cliché. Sem falar que não dá pra chamar de cliché a premissa "garota insatisfeita com a vida amorosa morre e volta dos mortos para assombrar o ex-companheiro". Esse tipo de história faz parte do folclore asiático. Quem pesquisar as origens do horror oriental vai descobrir que sua maior fonte de inspiração são os dramas vivenciados por mulheres vítimas de homens que não souberam valorizá-las. Nisso elas tornam-se fantasmas e buscam vingança. E essa tendência está, consequentemente, retratada em inúmeros filmes. Então isso chama-se tradição e não cliché. Até por que existem várias formas de retratar essa mesma premissa. A questão da fantasma ter longos cabelos desarrumados que cobrem parcialmente a face também tem explicação. Isso se deve ao fato de que para os asiáticos o normal é uma mulher no dia a dia andar com o cabelo arrumado. O cabelo desarrumado seria indicio ou de que a mulher está doente ou morta. Então esse simbolismo da "fantasma de longos cabelos negros" também não pode ser acusado de cliché. Os críticos deveriam buscar as origens das coisas antes de começar a criticar só pelo prazer de criticar.
ResponderEliminarNo filme em questão foi criticado também uso da câmera que "tremia" muito. Mas hoje em dia é comum o uso do tremor da câmera como recurso estético. Isso dá mais realismo à história, afinal ninguém enxerga o mundo através de planos paradinhos.
A única crítica que achei justa foi quanto ao fato de os sustos não surtirem efeito, pois eu geralmente morro de medo desse tipo de filme e esse aqui deu pra assistir sozinho de noite. As atuações estão boas para a proposta do filme. Afinal, o filme não é e nem tem a intenção de ser um "filme de arte", então não tem por que exigir atuação do nível de Marlon Brando ou Laurence Olivier. Esse é um filme feito para espectadores que apreciam uma despretensiosa história de terror e não um filme existencialista para críticos metidos a besta se gabarem.
Então, para o que propõe esse filme está bonzinho e quem não gostou não vá ver filme de terror. Pois os "clichés" são uma coisa intrínseca ao gênero.
Afinal o que esses críticos queriam? Fantasmas de cabelo rastafári verde?
Paulo David: Vou responder por pontos que talvez seja mais fácil.
ResponderEliminar1) Tradição: Via pela qual os factos ou os dogmas são transmitidos de geração em geração sem mais prova autêntica da sua veracidade que essa transmissão. Cliché: Molde ou vulgaridade que a cada passo se repete com as mesmas palavras. = CHAVÃO, LUGAR-COMUM
O que se passa nos filmes asiáticos em geral é o recurso ao lugar-comum. Tem por base uma qualquer lenda urbana de facto mas repetem-se todos os chavões de filme de terror. Não há originalidade no retrato dos mitos que inspiraram os filmes. Filme após filme repetem os mesmos sustos: portas que rangem, mulher de longos cabelos negros que surgem em lugares o mais estranho possível...
2)A questão das origem das lendas que estão subjacentes aos filmes, já o mencionei em inúmeras apreciações sejam elas japonesas, coreanas, tailandesas, etc. Portanto, os problemas dos filmes também não advêm daí. Se reparar a crítica que faço é à repetição dos mesmos elementos do susto e não das estórias. Embora sim, também já canse estarem sempre a ir beber à mesma fonte.
3) Ninguém mencionou um "filme de arte", excepto o Paulo. Estórias despretenciosas?! Sou toda a favor, se quiser leia o texto sobre Senjakala ou Bulong, de que aqui já falei. Mas existe um mínimo aceitável: um argumento razoável, boas actuações, uma banda-sonora que não remeta para uma novela (para isso vejo TV, obrigada) e mais do que belos corpos que é a única coisa que os actores que surgem em cena nos oferecem.
Posto isto, acho que o Paulo preferiu focar-se sobre os que "criticam o terror oriental" e não nesta crítica especifica ao filme que aqui fiz. Aí o problema é seu e não meu. De resto, se gostou o filme e o entreteve? Óptimo. É a sua opinião e é livre julgar como entender. Mas não será isso que fará de "My ex" um bom filme.
Olá, estive ocupado esses dias e só vi sua resposta agora, mas vamos lá.
EliminarPrimeiramente o que estou expondo é apenas uma questão de opinião pessoal, então não há necessidade de haver intriga entre a gente. OK?
Você novamente mencionou o fator "mulher de longos cabelos negros" como cliché. Mas pense bem, as mulheres asiáticas no geral possuem cabelos longos e negros, logo é natural que seus fantasmas preservem esse aspecto. Ou será que você queria que em cada filme o fantasma tivesse um corte e uma cor de cabelo diferente?? Como você é muito ligada no gênero deve saber que há uma porção de filmes que usam o mito da "mulher de longos cabelos negros" de forma original, sem jamais poderem ser taxados de cultivadores de cliché (ex: "Shutter", "Ringu", "Ju-On", "The Unborn", a série "The Eye", etc). Então o problema não reside na utilização de elementos que já foram usados antes e sim na forma como cada um utiliza. Se "My Ex" tem problemas (e não nego que possua alguns) é devido a incompetência de seus realizadores e não aos elementos já abordados anteriormente. Até porque, quando o diretor é ruim de nada adianta ele se valer de uma ideia original, pois o filme continuará ruim.
O "Ringu", do Hideo Nakata, por exemplo, possui uma trama que se fosse jogada nas mãos de um diretor sem talento teria resultado num fracasso total, mas graças a maestria de Nakata o filme é uma obra-prima. Ou seja se 90 cineastas talentosos produzissem cada um um filme com a mesma ideia (fantasma de mulher de longos cabelos negros se vinga de seu parceiro) eu garanto que todos esses 90 filmes seriam bons e criativos.
E novamente eu digo, a vida real é por si só bem repetitiva e cheia de clichés. Observe o cotidiano ao seu redor, as conversas de suas amigas, os noticiário dos jornais e você verá sempre as mesmas ocorrências vivenciadas por pessoas diferentes. Não dá pra imaginar um catálogo inesgotável de situações nunca representadas antes para colocar nos filmes. E se você olhar bem, todos os gêneros do cinema tem suas repetições. O faroeste, por exemplo, sempre tem mocinhos e vilões, tiroteios, duelos, brigas em saloons e, no geral, o final feliz para o mocinho. As repetições são intrínsecas ao chamado cinema de gênero (ação, terror, faroeste, ficção-científica etc), então se você é do tipo que se incomoda com isso é melhor você assistir só filmes de arte como os de Ingmar Bergman, Pier Paolo Pasolini, Claude Chabrol etc (mesmo assim creio que até ai você vai encontrar os mesmos dilemas do ser humano).
Concluo dizendo que "My Ex" está longe ser um filmaço do tipo "Shutter" ou "The Eye", mas também não é a catástrofe que você diz que é.
Bom é isso, parabéns pelo blog e espero poder discutir outros títulos com você.
Paulo David: olá de novo e volto a repetir: "os clichés começam cedo e logo uns atrás dos outros: Ex-namorada morta? Visto. Um fantasma a passar no corredor? Visto. Uma cena sexy na banheira? Visto. Longos cabelos negros que surgem do nada? Visto. Vou olhar para trás por que está algo atrás de mim? Visto. Torna-se um profundo bocejo." Onde é que nesta parte estou a individualizar a mulher de londos cabelos negros? Em sequência, todos estes elementos surgem vezes sem conta. Nada tem que ver com o mito/lenda mas com o modo como a direção aborda o assunto que... espante-se (!) repete-se ciclicamente. Concordo quando diz que todos os géneros têm repetições, aos quais, claro, o cinema asiático não é imune. Mas existe um momento em que já não estamos no inicio do milénio e, dez anos de ver a mesma sucessão de acontecimentos já não é aceitável. Ainda sente medo quando vê esses filmes? Eu não. Quanto ao faroeste vejamos... Muios são baseados em acontecimentos histórico pelo que não há por onde fugir. Mas agora até já misturam o western com outros géneros metendo aliens e zombies. Há sempre por onde explorar. Não me vai dizer que já não há espaço para a criatividade no cinema?! Veja os slashers: Bloody Reunion não é original? Ou os thrillers de vingança, não considera I saw the devil refrescante pela abordagem? Quanto aos outros titulos que mencionou, tais como shutter, ju-on, ringu... já os abordei a todos aqui e se calhar ficará surpreendido com a qualidade que lhes encontrei e por gostar realmente deles... Posto isto, é como lhe digo, my ex é apenas uma tentativa de copiar elementos de filmes anteriores e, infelizmente, mal feito. Céus, só os diálogos são atrozes! A única questão que levo a peito Paulo David é considerar que eu coloco todos os filmes de terror asiático no mesmo saco e os julgo todos iguais quando tal não podia estar mais longe da verdade. Ju-on, ringu, a tale of two sisters, por exemplo, não podiam ser mais parecidos em termos da temática de assombração e, mais diferentes e brilhantes na sua especificidade. Para finalizar, My Ex não é um bom filmes nem o podia ser, abordando do ângulo de "filme de terror asiático" ou de qualquer outro. Mas é como digo, se entreteve cumpriu a sua função principal, o que está muito longe de ser igual a filme de boa qualidade. > Transformers? Battleship??...
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