Assim, temos direito a uma frase introdutória que nos fala no "Hsiao guei" uma prática com raízes no folclore chinês que significa, literalmente, criar crianças fantasma. Há quem acredite que as crianças fantasma possuem grandes poderes e podem trazer grande fortuna a quem as possuir. Então, são venerados fetos humanos dentro de urnas... Para quem viu "Three Extremes... Dumplings" (2004), a visão não será pior. Contudo, e eu já estava à espera de uma grande partida cósmica, quem os possui também paga um preço muito alto. Podes ter toda a fortuna deste mundo que também terás uma maldição acompanhar-te enquanto viveres. Tão bom.
James (Jason Chang) herda a velha mansão da sua família que morreu toda num suícidio em massa há 20 anos. Que faz ele? Muda-se para lá (esta é a parte em que a audiência faz um suspiro colectivo pensando nos inúmeros filmes que já viu com casas assombradas e abana a cabeça em descrença). Pouco depois, Yo (Terri Kwan) que até há pouco tempo estava decidida a ir para o estrangeiro muda inesperadamente de ideias e vai viver com James. Hey, se o meu namorado herdasse do nada uma mansão gigantesca, na qual não são feitas obras há pelos menos vinte anos, só madeira estragada e tinta das paredes descascada e de ambiente spooky mudava-me já a correr... Ou então não. O casal convida dois amigos Yi-Chen (Yu-chen Chang) e Ah-Tseng (Tender Huang) para visitar o seu novo lar e cedo se precipitam uma série de acontecimentos que ninguém consegue explicar. Pesadelos, perdas de memória, visitas inesperadas e mortes, motivam Yo a investigar o passado da família de James. Por conveniência, uma sobrevivente dos eventos de há 20 anos está internada num asilo ali à mão (onde é que já vimos isto antes?) e estranhamente sã para lhe contar o terrível segredo de família. Não é que seja tudo terrivelmente surpreendente ou não fossem feitas revelações nos primeiros segundos mas, a backstory que é o melhor do filme é mal aproveitada e aqui estou a ser muito simpática.
Também as actuações deixam muito a desejar, Yo alterna entre a corajosa e a parvinha, ora faz o que quer ora subitamente a opinião de James já lhe interessa para alguma coisa. Apesar disto, Yo acaba por ser o melhor do filme neste campo. Yi-Chen a amiga repórter de Yo é mais forte e tem infinitamente mais presença do que ela mas o papel que recebeu é muito limitado. Quanto a James que é só o elemento catalisador da narrativa é fraco. Nem é só unidimensional, é mau. Numa das cenas finais, vemos Jason Chang a puxar todo o dramalhão de novela do horário nobre que tem dentro de si. A acção torna-se involuntariamente ridícula, o que não pode ser bom, sobretudo se tivermos em conta que é Terri Kwan que possui experiência profissional em novela. É ainda de salientar a mestria do cinematógrafo Kwan Pun-leung que cria alguns frames imaginativos num filme de outro modo aborrecido no campo das ideias. O mundo das cores, os jogos de sombras em conluio com uma música romântica conseguem tornar a mansão uma visão assustadora. Só é pena que "The Heirloom" pareça melhor (a nível visual) do que na realidade é. Infelizmente, se o cenário está e bem montado, falta-lhe argumento e cenas de sustos eficazes. É tudo muito previsível, fácil e barato. Mãos que surgem de repente, breves close-ups, sabem a pouco e não conseguem montar a tensão necessária para um filme que se diz de terror. Também as mortes são fracas, falta-lhes ímpeto e pior, não têm plausibilidade. Não aquecem nem arrefecem. O realizador Leste Chen vindo do mundo dos videoclip pop asiáticos é competente embora não pudesse ter feito muito mais com o material que lhe foi dado para trabalhar. Não está mal para uma estreia mas também podia ser melhor. Duas estrelas.
Realização: Leste Chen
Argumento: Dorian Li
Elenco:
Terri Kwan como Yo
Jason Chang como James
Yu-chen Chang como Yi-Chen
Tender Huang como Ah-Tseng
Jason Chang como James
Yu-chen Chang como Yi-Chen
Tender Huang como Ah-Tseng
Próximo Filme: "Harry Potter and the Deathly Hallows", 2011
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