domingo, 4 de dezembro de 2011

"R-point: Ghost Squad" (Airpointeu, 2004)

Vietname, 1972. Inferno na terra. Gerida e mantida por razões políticas, como sempre são as grandes guerras, encontra-se num impasse. O tenente Tae-in Choi e o soldado Kim aproveitam um momento de pausa nas hostilidades para irem às prostitutas em Nha Trang. Num momento de distracção o inimigo ataca e Kim acaba por ser morto. Entretanto, é recolhido um soldado ferido gravemente em R-point, cujo pelotão estará todo morto. Ele encontra-se num estado de delírio e os seus superiores não conseguem retirar um sentido das palavras desconexas. O quartel-general recebe uma transmissão que indica que os soldados podem ainda estar vivos e decide enviar um grupo de homens para desvendar o seu destino.
O superior de Choi dá-lhe a oportunidade de se redimir se cumprir esta última missão depois do descuido em Nha Trang. Ele e outros 8 soldados são enviados para R-point, uma zona rural inóspita onde têm desde logo uma recepção “calorosa” por parte do inimigo. Eles atingem uma rapariga vietnamita e abandonam-na para morrer dos ferimentos. Mais tarde, encontram uma gravação antiga que fala de um massacre de vietnamitas por chineses, que os largaram num lago e construíram um templo sobre o local para trazer harmonia ao local. Cedo voltam a encontrar um novo aviso: “Quem tem sangue nas mãos, não regressará vivo”. Um a um, os soldados começam a experienciar fenómenos pouco naturais. Os avisos antigos e a súbita realização de que poderão não estar sozinhos começa a ter efeitos perversos na moral dos soldados. É curioso, por que, ali estão eles, no meio de uma guerra. Muitos já terão tido a sua experiência de combate, terão visto cenas que o ser humano comum não consegue sequer imaginar e, no entanto, encontram um novo medo no desconhecido. O terror advém do inesperado e não num qualquer batalhão inimigo que se esconda na selva.
Os soldados são estereótipos que já vimos noutros filmes: o novato, o homem de família, o que tem extensa experiência de batalha… Contudo, as personagens-tipo não afectam o desenrolar da trama, pelo contrário, facilita a distinção entre os soldados do pelotão e a escolha dos nossos favoritos. “R-point” empresta alguns dos seus elementos a belos filmes de guerra como “Platoon” (1986) e “Saving Private Ryan” (1998). Oferece uma perspectiva humanista dos soldados e não como meras máquinas de morte. É também um exercício de reflexão sobre a guerra e o valor da vida humana. Justifica-se enviar para a morte um conjunto de soldados para salvar outros que provavelmente já não estarão vivos? “R-point” evita colocar-se de um dos lados da guerra. Existem apenas soldados no meio de uma guerra e que lutam pela sobrevivência. Alguns ainda têm a vida toda pela frente, outros têm família para a qual querem voltar. O que o argumentista e realizador Su-chang Kong não nos deixa esquecer é que estes homens não são peões inocentes. A situação desesperada em que se encontram vai testar a confiança que colocam na unidade e a disciplina. Todos eles pecaram de algum modo e o temor que os atinge traz a descoberto as suas falhas. À medida que os acontecimentos espiralam fora de controlo, os soldados vão-se tornar mais desconfiados e paranóicos, trazendo a lume o que de melhor e pior guardam dentro de si e, por fim, ditar os seus destinos. Su-chang Kong aproveitou ainda para lançar achas para a fogueira, ao não deixar de fora apontamentos como as intenções colonialistas, imperialistas, de controlo político e económico dos povos chineses, franceses e americanos sobre o território vietnamita. É como se o Vietname fosse uma terra de todos e de ninguém, em que cada povo vai surgindo à vez para reclamar a sua parte. Não considero justo incluir “R-point” no género do K-horror visto que é primeiramente, um filme de guerra. Também não esperem muito gore e os poucos momentos que impressionam pessoas mais sensíveis não estão muito realistas. Sangue de groselha? Valha-nos o argumento, as personagens distintas e o cenário da selva cambojana onde foi rodado. Com todos esses pontos fortes, no final fica uma sensação de vazio, de que faltou algo. A trama não é concluída de modo satisfatório. Os filmes asiáticos são conhecidos por deixarem perguntas por responder mas “R-point” merecia um desenlace mais forte. O motivo da assombração não é clarificado. Se no final alguém vos perguntar porque sucederam acontecimentos terríveis em R-point respondam com um simples “Porque foram para a guerra”. Três estrelas.

Realização: Su-chang Kong
Argumento: Su-chang Kong
Woo-seong Kam como Tenente Tae-in Choi
Byung-ho Son como Sargento Chang-rok Jin
Tae-kyung Oh como Sargento Young-soo Jang
Wong-sang Park como Sargento Cook
Seon-gyun Lee como Sargento Park
Jin-ho Song como Sargento Oh
Byeong-cheol Kim como Cabo Byung-hoon Joh
Kyeong-ho Jeong como Cabo Jae-pil Lee
Yeong-dong Mun como Cabo Byun
Ju-bong Ji como Capitão Park

PS: Há alguns anos que persiste o rumor de que Zhang Yimou pretende realizar o remake de R-Point, em terras americanas. Mas por esta altura não se sabe se o projecto continua na mesa.


Próximo Filme: "Bloody Reunion" aka "To Sir with Love" (Seuseung-ui eunhye, 2006)

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