Os soldados são estereótipos que já vimos noutros filmes: o novato, o homem de família, o que tem extensa experiência de batalha… Contudo, as personagens-tipo não afectam o desenrolar da trama, pelo contrário, facilita a distinção entre os soldados do pelotão e a escolha dos nossos favoritos. “R-point” empresta alguns dos seus elementos a belos filmes de guerra como “Platoon” (1986) e “Saving Private Ryan” (1998). Oferece uma perspectiva humanista dos soldados e não como meras máquinas de morte. É também um exercício de reflexão sobre a guerra e o valor da vida humana. Justifica-se enviar para a morte um conjunto de soldados para salvar outros que provavelmente já não estarão vivos? “R-point” evita colocar-se de um dos lados da guerra. Existem apenas soldados no meio de uma guerra e que lutam pela sobrevivência. Alguns ainda têm a vida toda pela frente, outros têm família para a qual querem voltar. O que o argumentista e realizador Su-chang Kong não nos deixa esquecer é que estes homens não são peões inocentes. A situação desesperada em que se encontram vai testar a confiança que colocam na unidade e a disciplina. Todos eles pecaram de algum modo e o temor que os atinge traz a descoberto as suas falhas. À medida que os acontecimentos espiralam fora de controlo, os soldados vão-se tornar mais desconfiados e paranóicos, trazendo a lume o que de melhor e pior guardam dentro de si e, por fim, ditar os seus destinos. Su-chang Kong aproveitou ainda para lançar achas para a fogueira, ao não deixar de fora apontamentos como as intenções colonialistas, imperialistas, de controlo político e económico dos povos chineses, franceses e americanos sobre o território vietnamita. É como se o Vietname fosse uma terra de todos e de ninguém, em que cada povo vai surgindo à vez para reclamar a sua parte. Não considero justo incluir “R-point” no género do K-horror visto que é primeiramente, um filme de guerra. Também não esperem muito gore e os poucos momentos que impressionam pessoas mais sensíveis não estão muito realistas. Sangue de groselha? Valha-nos o argumento, as personagens distintas e o cenário da selva cambojana onde foi rodado. Com todos esses pontos fortes, no final fica uma sensação de vazio, de que faltou algo. A trama não é concluída de modo satisfatório. Os filmes asiáticos são conhecidos por deixarem perguntas por responder mas “R-point” merecia um desenlace mais forte. O motivo da assombração não é clarificado. Se no final alguém vos perguntar porque sucederam acontecimentos terríveis em R-point respondam com um simples “Porque foram para a guerra”. Três estrelas.
Realização: Su-chang Kong
Argumento: Su-chang Kong
Woo-seong Kam como Tenente Tae-in Choi
Byung-ho Son como Sargento Chang-rok Jin
Tae-kyung Oh como Sargento Young-soo Jang
Wong-sang Park como Sargento Cook
Seon-gyun Lee como Sargento Park
Jin-ho Song como Sargento Oh
Byeong-cheol Kim como Cabo Byung-hoon Joh
Kyeong-ho Jeong como Cabo Jae-pil Lee
Yeong-dong Mun como Cabo Byun
Ju-bong Ji como Capitão Park
PS: Há alguns anos que persiste o rumor de que Zhang Yimou pretende realizar o remake de R-Point, em terras americanas. Mas por esta altura não se sabe se o projecto continua na mesa.
Próximo Filme: "Bloody Reunion" aka "To Sir with Love" (Seuseung-ui eunhye, 2006)
Sem comentários:
Enviar um comentário