quinta-feira, 31 de maio de 2012

Curta #3: "Unholy Women - The Inheritance" (Uketsugu Mono, 2006)


Sabem quando a imaginação já não dá para mais? Mas têm mesmo que cumprir aquele prazo ou levar aquele projeto até ao fim? Não faz mal, pode-se sempre reciclar ideias. Que interessa que já se tenha visto a mesma estória não sei quantas vezes antes e melhor? “The Inheritance” é apenas isto. Um filme que herda o cinema de terror que lhe antecede e confia na eficácia das curta-metragens anteriores para manter o espetador colocado ao ecrã.
Após um divórcio que a deixou na penúria, Saeko (Maki Meguro), muda-se para a velha casa da família no campo com o jovem filho Michio (Kenta Suga). O ambiente não é propriamente agradável visto que sua a mãe Masahiko (Ruka Ushida) está um pouco louca e trata mal o neto. Mas é altura de “comer e calar” já que de momento Saeko não tem meios para ir para outro lado. O pequeno Mishio, aborrecido naquela terra no meio do nada explora a casa e descobre a existência de um pequeno que devia ter mais ou menos a sua idade. Era o irmão de Saeko que desapareceu quando ainda eram novos. A sua morte deixou desconforto e talvez por isso, o ambiente familiar não se tenha tornado o melhor. Entretanto, também Saeko começa a explorar e descobre que o passado nem sempre permanece onde deveria.
Uma pista: a herança não é um objeto físico…
“The Inheritance” é um “mistériozinho” sobrenatural previsível, no qual não há susto nem deleite. Não desafia o espetador. É seguro. Para quem não apreciar particularmente o género de terror esta é capaz de ser a curta-metragem mais acessível. Toyoshima não leva a estória até ao limite, não pensa outros modos de tornar as suas mulheres impuras. Provavelmente não há maior pecado que aquele que elas cometem mas os motivos fornecidos são no mínimo vagos. Toyoshima podia ter apostado num ritmo mais elevado para construir um argumento mais sólido. A sua estória não é mais que a de um medo de criança mal explorado pelos adultos. Não há nada de original ou que faça refletir. É facilmente associado a filmes como “Dark Water” ou “The Grudge”. E se o final é desconfortável, quase dá vontade de voltar ao início e ver “Rattle Rattle”, que também não é nada de novo mas sempre é mais intenso! Duas estrelas.


Realização:  Keizuke Toyoshima
Argumento:  Keizuke Toyoshima
Maki Meguro como Saeko Hishikawa
Kenta Suga como Michio Hishikawa
Ruka Ushida como Masahiko Hishikawa

Próximo Filme: "Haunted Changi" (2010)

domingo, 27 de maio de 2012

Pecadilhos das Horas Vagas #5 - "Saga Saw"


Sabem aquele filme que sempre que dá na TV não conseguem desligar-se e vêem até ao fim? Aquele filme que todos acham um pouco parvo mas do qual vocês gostam secretamente? Lembram-se daquele velho filme que está gravado em VHS e não conseguem deitar fora? Ou que já viram tanto que a fita até já está meio estragada? Escrevam um texto, não uma crítica, mas uma confissão, sobre um filme da vossa preferência: o vosso guilty pleasure, sem medos ou censura, um “Pecadilho das Horas Vagas. O confessionário é vosso.

Por: Por: André Marques do Blockbusters


I have a confession to make…. sim é verdade que eu adoro (posso até dizer que sou mesmo fanático) por filmes de terror com serial-killers, e de preferência com um mínimo de inteligência e não do estilo rural americano que matam apenas por matar. Aprecio uma boa história de infância triste e penosa, ou de um acontecimento tenebroso, que tenha digamos ‘lógica’ e mostre ao espectador o assassino como uma pessoa para além de uma máquina de matança pura e simplesmente.



Pronto agora devem estar a pensar: avisem a PJ que temos um potencial serial-killer em Portugal. Não, nada disso. Apenas me intriga e apela aos meus neurónios este tipo de acções e atitudes, assim como o modo como se criaram e moldaram, e falo-vos de filmes como O Silêncio dos Inocentes, Halloween, ou mais recente na TV com a série Dexter. Mas nenhum destes filmes me deslumbrou tanto como quando vi Saw pela primeira vez há já uns bons sete anos atrás, tinha eu 16 anos.


Caiu-me que nem ginja no gosto e desde então que o vi já umas quantas vezes consideráveis e nunca me farto de toda aquele lógica da história e narrativa, de todos os twists e do valor “moral” (com muitas aspas) que o filme transmite e quer mostrar. Depois do primeiro já saíram mais 6 filmes entretanto e eu vejo sempre um atrás do outro já quase como uma obrigatoriedade minha. Claro que nenhum dos outros a seguir foi tão bom como o primeiro (o terceiro foi o segundo melhor na minha opinião), mas isso já não me afecta, pois a droga deste guilty pleasure é já bastante forte, podiam vir mais 10 filmes e podem ter a certeza que eu iria vê-los a todos.

Achei (e continuo a achar) que na altura quando surgiu Saw não havia já muita imaginação nos filmes de terror americanos e este veio como que ressuscitar um interesse maior por esse género, visto o seu argumento trazer algo de novo, e temos de concordar (pois mesmo para quem não gosta: contra factos não há argumentos) que para um filme deste género ter conseguido ter 6 sequelas no mercado cinematográfico de hoje em dia é obra.

Pelos dias de hoje parece que estamos a voltar outra vez a uma certa monotonia neste género, mas espero que surja um novo ‘Saw’ para eu juntar à minha colecção de guilty pleasures :) até lá mantenho-me um dos fiéis seguidores desta saga, e se vier um oitavo podem contar com o meu bilhete :)

Para terminar quero agradecer à FilmPuff pelo convite e dar-lhe os parabéns pela iniciativa e muita força para o excelente trabalho que está a desenvolver no Not a Film Critic. Um bem haja a todos ;)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

"Prayer Beads - Omoinotama Nenju (Okano Masahiro 2004) - "Echoes"



Boas ideias há muitas. Agora, quando se fala em concretização… Veja-se o caso da série “Masters of Horror”, tem alguns episódios excelentes e depois tem outros… menos bons. “Prayer Beads” é um conceito nipónico mais antigo. Nove episódios constituem a série, nove contas para um rosário. Por que o nome da série, será algo como contas de reza, contas de um rosário. Ora o que isso tem que ver com os temas explorados é uma consideração só ao nível dos grandes intelectuais que eu só vejo ali tentativas mais ou menos aleatórias de assustar o espectador em meia hora.
Os episódios têm pouca ou nenhuma ligação entre si pelo que a análise deste sétimo episódio – relaxem, é inócua. “Echoes” é a conta número 7, o número da perfeição? Não. Decerto existirão melhores episódios. Um casal de idosos descobre parte do cadáver da neta e parte para a cidade à descoberta do que provocou a sua morte. Desde logo, um gazilião de interrogações: como é que a partir de um membro adivinham que é Yumiko? Como sabem que ela foi assassinada? Como é que encontram logo o rasto dela na cidade? Que pode um casal de velhotes fazer a esse respeito? Não desesperem pelas respostas que elas não tardam em ser apresentadas, embora pareça a meia hora mais longa da vossa vida. Ecos da vida além da morte? Ecos de mentes com uma ligação muito especial?
Infelizmente não causa grande ressonância na nossa própria mente. O sentimento é de tristeza e até indiferença perante tudo quanto sucede. Apesar de uns quantos efeitos engraçados para quebrar a falta de ritmo e de cor. Céus, que fotografia mais desinteressante. Mais que não seja é um pequeno retrato pedagógico sobre o fosso entre a velhice e a juventude. No japão existe uma cultura de reverência e respeito perante os mais velhos, cultura essa que se tem desvanecido perante uma juventude cada vez mais desafiante. E eles, que pouco ou nada sabem, são superiores em termos físicos e zombam das relíquias de um passado onde as suas não se faziam ouvir.
Apenas não esperem demasiado de uma série de televisão com poucos meios. Os efeitos especiais são tão maus quanto parecem e a representação idem. Algures, os actores olham para o horizonte como se o seu olhar quisesse ou tivesse de facto algo para dizer. Uma mentira, visto que o argumento é fraco, vazio de estória disfarçada em diálogos sem consequência e instantes cheios de nada. É diferente, claro. Vale pelo prazer de criticar as opções das séries de baixo orçamento. Mas passado pouco tempo a estória eclipsa-se da memória. Não é memorável, e muito menos faz perder o sono. Talvez seja aconselhada a não fãs de terror. Duas estrelas

Realização:  Naoki Kusumoto
Argumento:  Naoki Kusumoto
Kei Sato
Michino Yokoyama
Takashi Youki
Mieko Konya
Joe Odagiri

Próximo Filme: Curta #3: "Unholy Women -  The Inheritance" (Uketsugu Mono, 2006)

domingo, 20 de maio de 2012

Curta #2: "Unholy Women - Hagane" (2006)

Lá dizia a Capuchinho Vermelho à Avozinha: “Ó avó, mas que grandes olhos tu tens” e “Que orelhas tão grandes”. “Esses braços são grandes! Que boca tão grande tu tens”.  Tudo isto para dizer que se parece com lobo, cheira a lobo e fala como um lobo, provavelmente é! Convenhamos que se uma rapariga tiver umas pernas lindas e um saco na cabeça, isto não augura nada de bom. Mas vamos começar pelo início. Primeiro sinal de alerta, o chefe quer que um subordinado saia à força com a irmã dele, Hagane (Hagane Takahashi). Parem tudo, um chefe a querer que um empregado leve a sua irmãzinha mais nova a sair? Algo não cheira bem. Quer dizer, se pensarmos nas implicações, o pior que pode acontecer é o pobre rapaz ser despedido. Então, por quê? Segundo sinal de alerta, a rapariga surge para o encontro com uma mini-saia e, um saco castanho que a cobre até à cintura. Das duas, uma: ou a moça é feia como a noite dos trovões ou algo de terrivelmente errado se passa. Só que depois o moço vê aquelas pernas e não há como lhe dar a volta. Mikio (Tasuko Emoto) sente um misto de repulsa quando ouve os grunhidos de Hagane e vê coisas estranhas como insectos a sair do saco e, fascinação, acentuada pelas pernas alvas e longas, complementadas por uns apetecíveis saltos altos vermelhos. Um encontro do inferno transforma-se num jogo de sedução estranho, no qual ele corre atrás de algo que o enoja, mas não consegue deixar de perseguir, acicatado pelo desejo de agradar ao chefe. Aliás, que grande mestre do calculismo é o homem que escolhe um jovem virginal que se deseja seduzir por um belo par de gambias e não faz mais perguntas.
É uma crítica engraçada ao homem e à sua capacidade de se deixar levar pelo físico, no caso, apenas da cintura para baixo: “Desde que tenha órgãos sexuais serve”. E no entanto, é contado com seriedade. Não é uma comédia no verdadeiro sentido da palavra. Embora, os momentos em que Hagane desata a correr e choca com objectos ou tropeça e cai no chão sejam hilariantes. Ela sempre tem um saco na cabeça que não a deixa ver nada à frente não é? Mas ela tem um apetite sexual saudável e ele é um moço tímido e educado que não quer desiludir o chefe… Digamos que existe um final feliz, para ambas as partes…
“Hagane” é uma curta bizarra e surpreendente. Suzuki e Yamamoto escreveram um argumento com base na piada urbana do “saco na cabeça”, em alusão às mulheres feias e transformou-a em algo mais. De facto, se calhar existe mais do que uma cara feia por debaixo do saco. E a curta-metragem é tão envolvente que dei por mim a pesquisar para saber se a actriz Nahana era mesmo feia. O cinema tem destas coisas. Confunde-se o imaginário com o real e quando isso sucede, sabemos que estamos perante um bom produto de consumo. Três estrelas e meia.

Realização: Takuji Suzuki
Argumento: Takuji Suzuki e Naoki Yamamoto
Tasuko Emoto como Mikio Sekiguchi
Nahana como Hagane Takahashi
Teruyuki Kagawa como Tetsu Takahashi

Próximo Filme: "Prayer Beads - Episode 7: Echoes" (2004)

Só para que não subsistam duvidas, eis Hagane (Nahana).

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Pecadilhos das Horas Vagas #4 - "Armageddon" ou "O Grande Asteróide de '98"


Sabem aquele filme que sempre que dá na TV não conseguem desligar-se e vêem até ao fim? Aquele filme que todos acham um pouco parvo mas do qual vocês gostam secretamente? Lembram-se daquele velho filme que está gravado em VHS e não conseguem deitar fora? Ou que já viram tanto que a fita até já está meio estragada? Escrevam um texto, não uma crítica, mas uma confissão, sobre um filme da vossa preferência: o vosso guilty pleasure, sem medos ou censura, um “Pecadilho das Horas Vagas. O confessionário é vosso.

Por: João Campos do Viagem a Andrómeda


A Filmpuff pediu-me um texto sobre guilty pleasures no cinema, desafio que aceitei prontamente. O único problema é o seguinte: como é que eu, um fã assumido de mau cinema, posso ter guilty pleasures cinematográficos? Note-se que não falo de filmes maus, como Twilight, mas de maus filmes. E a distinção - inventada neste exacto momento - é relevante. Há filmes maus que são apenas isso - filmes maus, com maus argumentos, maus actores, má fotografia, maus títulos… enfim, percebem a ideia. E há maus filmes que, de tão maus que são, se tornam bons. OK, não exactamente bons, mas, vá lá, interessantes. Veja-se, por exemplo, The Room. Será possível fazer um filme pior que The Room? (Por acaso até é, como Alien vs. Predator nos mostrou, para nosso horror) É difícil superar a pérola realizada, produzida, interpretada e escrita por Tommy Wiseau. No entanto, The Room é um filme imperdível - precisamente por ser tão mau. Admitamos: é preciso um talento extraordinário para fazer algo tão mau sem esforço aparente nesse sentido. Se ainda não viram, esqueçam os blockbusters deste Verão.


E falo de The Room mas poderia muito bem falar de outras pérolas como Troll 2, Pocket Ninjas ou Manos: The Hands of Fate. Não sinto qualquer vergonha por gostar de ver estes filmes. Pelo contrário, tenho até algum orgulho: considerando o risco de hemorragia cerebral, aguentar qualquer um destes filmes na íntegra sem danos cerebrais permanentes é uma proeza quase equivalente a escalar o Kilimanjaro.


Há ainda aqueles filmes que, enfim, deixam muito a desejar mas que são irresistíveis por compensarem com adrenalina e testosterona aquilo que lhes falta em qualidade cinematográfica. Por exemplo, há algumas noites, durante a semana, apanhei o Rambo 3 no Hollywood antes de ir dormir, e acabei por ir para a cama uma hora e meia mais tarde do que o previsto. Missing in Action? Venham eles, que Chuck Norris é sempre high entertainment. Steven Seagall a fazer de cozinheiro após se ter reformado da Delta Force? Porreiro, ele leva a faca, eu levo as pipocas. E os filmes do Van Damme? O argumento é sempre o mesmo, e acabam sempre da mesma maneira - mas é impossível não os ver quando os apanhamos em zapping. É como se as pilhas do comando falhassem de repente, se o dia de Sol radiante rebentasse em aguaceiros e se todas as tarefas domésticas, académicas ou profissionais que tenhamos para fazer se tornem irrelevantes.
Escusado será dizer que aguardo The Expendables 2 com uma ansiedade quase idêntica à de The Dark Knight Rises. Ainda que por motivos diferentes.

Adiante, que a prosa vai longa, e convém passar ao tema deste artigo. De todos os filmes mauzinhos que eu vejo sempre que o apanho na televisão, há um de que gosto especialmente. Não é exactamente um guilty pleasure, pois não me sinto culpado por me divertir à brava a vê-lo, mas considerando o tema, creio ser o mais apropriado: Armageddon. Ponto prévio: detesto o Michael "Explosions! More Explosions" Bay e tudo aquilo que ele representa - a primazia dos efeitos especiais sobre quaisquer outros atributos cinematográficos, nomeadamente as interpretações e o argumento (que, só por acaso, até são os dois elementos mais importantes de um filme), a objectificação da mulher, a destruição metódica de ícones da infância. Não vi nenhum dos seus filmes recentes e não tenciono fazê-lo num futuro próximo, mesmo que o homem continue a mandar sequelas dos Transformers a cada dois anos ou que faça do próximo filme das Tartarugas Ninja um petisco de cágado à lagareiro. No entanto, Armageddon é um filme… especial. Ainda há dias o revi todinho, quando o apanhei a começar numa sessão de zapping. Que maravilha. O filme é lamechas? Sim. Terrivelmente lamechas, com os Aerosmith a tentar roubar a taça de banda sonora mais pirosa da década de 90 à Céline Dion. Centra-se imenso nos efeitos especiais? Sim - basicamente, tudo no filme é um pretexto para explosões, de Paris e Shangai à estação espacial MIR e, claro, ao asteróide que está em rota de colisão com a Terra. O argumento tem mais clichés do que, enfim, um dicionário de clichés? Sim. Há o pai que quer melhor para a filha e não quer que ela case com quem ela quer casar, há o desastre iminente que só os americanos podem salvar, há o comic-relief estrangeiro, há a gaja boa, há o sacrifício, há (por duas vezes!) o momento clássico da bomba detonada ou não detonada no último momento possível, há o momento a puxar a lagriminha, há o voo dos caças norte-americanos quando o vaivém regressa, há a omnipresente bandeira dos EUA… e poderia continuar. Há maus actores? Tem um dos maiores canastrões do cinema actual: Ben Affleck, provavelmente o único homem (excluindo Tommy Wiseau) que faz o Keanu Reeves merecer um Óscar. Claro qeu também há o Bruce Willis, e o Bruce Willis é sempre excelente (o resto do elenco não é mau), mas nem o melhor Willis consegue apagar a nódoa dramática que é Affleck.
Acontece que é justamente aquí que reside o grande enigma de Armageddon: por que carga de água o Bruce Willis se sacrificou para assegurar que Ben Affleck regressava à Terra são e salvo para se alapar à sua filhota? A sério, que raio de pai é aquele? Mais: que raio de Bruce Willis é aquele? O Bruce Willis de Die Hard teria amarrado Ben Affleck ao asteróide e fugido dali antes daquilo rebentar - soltando um sonoro "Yippee-ki-yay, motherfucker", voltando para a Terra para consolar a inconsolável filhota e apresentá-la, sei lá, a um actor a sério (caramba: até o Steve Buscemi servia). Mas não: Armageddon é lamechas, e por isso Willis teve de ficar pendurado num asteróide enquanto Affleck regressava à Terra a pensar nas maminhas da Liv Tyler. Boring.


No fundo, eu acho que continuo a ver o filme na esperança de apanhar um final diferente em que Willis de facto deixe Affleck no asteróide, e resolva dois grandes problemas de uma vez só.
Claro que, lamechices à parte, o filme tem uma coisa digna de nota - e, curiosamente, de nota máxima. Falo, obviamente, do personagem Lev Andropov, interpretado por Peter Stormare. Lev é sem dúvida uma das personagens mais divertidas que já vi em blockbusters medíocres. A sério: desde o momento em que aparece, na estação espacial, e diz num sotaque russo exageradíssimo "I'm not going anywhere" que sabemos estar a preparar-se alguma coisa muito especial, e Stormare não desilude. Da primeira à última cena, Lev Andropov salva Armageddon da destruição total (pun intended) e arranca-nos uma gargalhada com o seu humor deadpan e com a caricatura da sua própria personagem, num franco overacting de Stormare. Basta ver qualquer cena com Lev - são todas excelentes, e enquanto temos o homem no ecrã até conseguimos esquecer o canastrão que invariavelmente surge na cena seguinte.


Em resumo: Armageddon é o filme típico de Michael Bay, e não fosse pelo Lev Andropov - e, vá lá, pelo Bruce Willis -, não mereceria ser visto. Dentro do género de filme catástrofe, há que reconhecer que Deep Impact, do mesmo ano e com um tema parecido, é incomparavelmente superior. No entanto, Armageddon é um dos meus filmes mauzinhos preferidos. Deste, e já que a coisa está na moda, quero remake. Com Affleck pendurado no raio do asteróide, se faz favor.


Mil agradecimentos João. Reafirmo, (desta vez, publicamente), que quando for grande quero escrever como tu!

domingo, 13 de maio de 2012

Curta #1: "Unholy Women - Rattle Rattle" (Katakata, 2006)



Para um verdadeiro fã de terror a obsessão pouco saudável do povo japonês com o género não é uma grande novidade. E também não é muito difícil adivinhar onde a maioria dos filmes de terror nipónicos vão beber inspiração. É ali mesmo, no Japão, nos mitos e lendas locais que se retratam e reinventam estórias de horror. Muito comum é a utilização do Yurei ou fantasma, nomeadamente, na sua forma vingativa -, o onryo. Mas se mencionarmos nomes como Kayako ou Sadako, mais depressa os vossos cérebros se iluminarão. É então o onryo, o elemento desestabilizador, aquele que nos faz, após uma noite de cinema de j-horror, perscrutar com um olhar mais atento que o costume, todos os cantos de um quarto para verificar se está tudo bem. Isso e acendermos as luzes antes de entrarmos numa nova divisão.
“Rattle Rattle” ou em japonês Kata Kata, parece, devido à sonoridade uma curta-metragem cómica, no entanto, esta primeira impressão não podia estar mais errada. Vide o trailer e apreciai os gritos histéricos de uma das personagens.
Os créditos introduzem um casal, dentro de um carro envolto na noite. Akira (Kousuke Toyohara) e Kanako (Noriko Nakakoshi) conspiram numa aura de pecado. Eles pretendem casar mas persiste um obstáculo à sua inteira felicidade: Akira é casado. Será que a mulher lhes vai levantar problemas? Ou terão de continuar a encontrar-se na noite? É na escuridão que Kanako, regressando a casa ouve um chocalhar. Bem acima de si, um som estranho e enervante. Som desumano. De algo que não é deste mundo? Algo súbito e repentino precipita-se sobre ela e Kanako perde os sentidos. Quando recupera a consciência, com pouco mais do que um corte e atordoada regressa ao apartamento de solteira. Começa então o pesadelo. Uma mulher de vermelho persegue-a e tenta matá-la! Incrivelmente, não existe ninguém naquela cidade. Apesar da moça gritar a plenos pulmões.
Yurei é a desconstrução da mulher a estado primitivo. O monstro de vermelho possui uma única vontade e esta é a de destruição e não há conversa ou tentativa de o fazer reconsiderar que resulte. O Yurei de Keita Amemiya é uma parábola de como a maldade interior se transforma em fealdade exterior, tornando-se pois, cada vez mais horrendo à medida que procede a atacar a inocente Kanako. Embora o objectivo deva estar muito longe de se pretender induzir a tais reflexões. A narrativa é confusa mas nem por isso original. É uma encarnação de truques que já vimos, com algumas imagem gerada por computador e cenários apetecíveis. De resto, é uma aposta sólida em medos que já demonstraram atrair as massas ao cinema e, por isso, a escolha ideal para a introdução a uma antologia de terror. “Rattle Rattle” é a curta mais emblemática de “Unholy Women”. Isto, com especial enfase na palavra “emblemática”, que para assistir ao melhor segmento das três curtas-metragens temos de aguardar por “Hagane”. Três estrelas.

Realização: Keita Amemiya
Argumento: Keita Amemiya
Noriko Nakakoshi como Kanako Yoshizawa
Kousuke Toyohara como Akira Tasaki
Yuuko Kobayashi como Katakata

Próximo Filme: Curta #2: "Unholy Women - Hagane" (2006)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

"Ichi the killer" (Koroshiya 1, 2001)


ATENÇÃO: Cenas de violência extrema!

É degradante. É extremo. É ofensivo. É do Takashi Miike. Nada de novo. Não obstante ser uma adaptação de uma mangá “Ichi the Killer” respira Miike por todos os poros. É o tipo de filme com o qual as crianças mais destemidas só deixarão de ter pesadelos quando estiverem bem na adolescência e os velhotes por pouco não terão uma síncope. Sim. É esse tipo de filme. Como tal e, numa manobra de marketing cinematográfico arriscadíssima, desafio-os a continuar a ler esta apreciação ou passarem rapidamente para a seguinte. A partir deste momento estão por vossa conta e risco. Coragem!


No seio da yakuza Kakihara (Tadanobu Asano), um assassino sadomasoquista, vulgo psicopata empedernido descobre que o patrão sumiu. Desapareceu. Desvaneceu-se no ar. Puff. Enquanto os restantes membros da “família” pensam que Anjo fez um desfalque e fugiu, Kakihara está convencido que “alguém o fez desaparecer”. Isso é um bocado mau por que um Kakihara insatisfeito é um homem extremamente perigoso. E ainda mais que o costume já que desapareceu o único homem que o fazia sofrer fisicamente como deve ser. Ele retira prazer da dor e Anjo é o único que lha sabe dar. Jijii (Shyn’ia Tsukamoto) surge na paisagem e acusa Suzuki de ser o autor do crime. Kakihara pode ser fiel como um cão mas não é propriamente inteligente. Então… Pobre Suzuki. O que Kakihara lhe faz, até que é finalmente convencido que Suzuki não tem nada a ver com o acaso. Não interessa. Foi divertido. Aliás, a nova pista é bem mais interessante. Diz que Anjo foi atacado por um tal de Ichi (Nao Ohmori), um temível assassino, sádico como nunca se viu antes. Kakihara vê vermelho… de alegria. É este o fado de quem se deixa agarrar por “Ichi” até ao fim. Assassinatos, tortura, violação, tudo no registo mais violento que possam imaginar. É que “Ichi” é terrivelmente gráfico. Bem, depende. Se são fãs de gore estão perante um excelente filme. Sangue, tripas, desmembramentos, sangue a esguichar por todos os lados, muito sofrimento do ser humano. Se não, como já disse antes, o melhor é verem um filme sobre uma casa assombrada ou assim. Não existe uma única personagem equilibrada neste universo. Uma única que se aproveite. Chanfrados ao extremo ou uns pobres coitados cujas acções mais depressa nos fazem detestá-los do que apiedarmo-nos deles.

No centro da trama encontra-se Kakihara, alguém que rezamos a todos os santinhos para que não exista na vida real. É um sadomasoquista assumido que se não fosse assassino teria de ser um talhante ou caçador. Sei lá. Aquilo só está feliz quando o mal está a ser praticado. E não é de falinhas mansas. Não há cá execuções com tiros para ninguém. Para ele, o acto de matar é como um consumar do acto sexual. Também não se percebe como ele se tornou perverso mas até os próprios subordinados têm medo dele. Dificilmente, alguém voluntaria para deixar Kakihara encostar a cabeça no seu ombro e contar-lhe todos os seus traumas. No espectro oposto encontra-se Ichi, um cobarde e um medroso, que foi atacado por rufias em miúdo e agora, na vida adulta, não se sabe defender. As mazelas de infância e um manipulador nato ajudam a torná-lo um assassino nato. No entanto, ele não sabe controlar os seus desejos, bem retorcidos por sinal, que o fazem ficar com uma erecção de cada vez que vê alguém a ser violentado, em particular, as raparigas por quem se sente excitado mas nunca sonharia satisfazer. E é assim, esta orgia de violência e sexo que faz desencadear uma série de actos inimagináveis e repugnantes. A estória tem algo muito vago que se assemelha a um fio condutor e apenas se aproveitam os personagens, sobretudo os dois antagonistas, saídos quase a papel químico de livros de psicologia, já que devem apresentar um pouco de todos os transtornos de personalidade existentes. Assistir a “Ichi the Killer” é saber que vamos assistir a uma viagem louca, na maioria das vezes desagradável. Então porquê ver? Talvez algum desejo voyeur qualquer de se ver como é a vida do outro lado? Vocês sabem que o têm... Duas estrelas e meia.


Realização: Takashi Miike
Argumento: Hideo Yamamoto e Sakichi Satô
Tadanobu Asano como Kakihara
Nao Ohmori como Ichi
Shyn’ia Tsukamoto como Jjii
Paulyn Sun como Karen
Suzuki Matsuo como Jirô / Saburô

Próximo Filme: Curta #1: "Unholy Women - Rattle Rattle" (Katakata, 2006)

domingo, 6 de maio de 2012

"Death Note" (Desu Nôto, 2006)



No Japão existe uma maravilhosa promiscuidade entre a escrita e o audiovisual. Só deste modo se explica como um Haruki Murakami viu recentemente adaptado ao cinema o seu romance “Norwegian Wood”, ou como a autora Kanae Minato esteve a esta distância de ver o seu misterioso “Confessions”, nomeado para o óscar de melhor filme estrangeiro de 2010. E o mesmo se aplica à mangá (se preferirem ser menos puritanos, banda-desenhada), que é menos brincadeira de crianças e fases de adolescentes do que entretenimento sério para adultos. A transição natural é para o cinema de animação e estúdios desses, há-os aos pontapés. Toei? Ghibli? Sunrise? Mas nem sempre uma versão live action é o melhor passo seguinte. O filmes de animação e todo o merchandise gerado a seu redor, já rende tanto dinheiro por si próprio, que uma adaptação mal sucedida pode matar a franquia. Tipo, os fanáticos da mangá, não têm grande apreço por quem lhes mata os hobbies.
“Death Note” é uma dessas obras que se podiam ter virado contra os seus criadores. Concebido originalmente por Tsugumi Ohba (estória) e Takeshi Obata (desenhos), “Death Note” foi adaptado a uma série televisiva pela Madhouse Studios e por fim, abençoado pelos deuses dos filmes em 2006. A franquia quedou-se por dois filmes e um spin-off de uma das personagens mais populares “L” (Ken’ichi Matsuyama). “Death Note” pode ser traduzido à letra por bloco da morte.
Light Yagami (Tatsuya Fujiwara) é o típico estudante idealista, revoltado com a injustiça no mundo que gostaria de mudar para “melhor”. Fica-se pelos sonhos até ao momento em que o bloco cai do céu, a seus pés e lhe é dada a hipótese de demonstrar a sua concepção de “melhor”. O bloco tem inscritas cinco instruções fundamentais: a pessoa cujo nome for registado no bloco morrerá; a morte ocorre somente quando o escritor visualiza o rosto da vítima; ela morrerá como ele previu se esta tiver sido registada nos 40 segundos imediatos à escrita do nome, sendo que sem descrição da causa da morte, morrerá de ataque cardíaco. A quinta instrução diz que após a causa da morte, o escritor tem 6 minutos e 40 segundos para detalhar o modo como ocorrerá a morte. Estes são os fundamentos, mas existem outras regras passíveis de ser aprendidas com a “experimentação”.
Light é acompanhado pelo Shinigami Ryuuk (Shidô Nakamura), um Deus da Morte, só visível a quem tocar no bloco da morte e cuja longevidade depende da morte de seres humanos. Além de um Deus da Morte que fala connosco e nos ajuda a matar seres humanos através de um bloco, ele tem um vício curioso por maçãs. E que melhor maneira de promover a ingestão de fruta a crianças? “Death Note” é uma melhor ideia no papel do que em filme. Infelizmente, a premissa de transformar o projecto concebido em objectivo realizado, só funciona no filme pois, que uma boa mangá não se transformou necessariamente na melhor adaptação. E o problema nem advém da premissa. Convenhamos que um bloco assassino não é a estória mais realista mas este conceito low tech não é assim tão diferente de websites, e-mails, cassetes de vídeo e de música amaldiçoados. Embora, estes exemplos tecnológicos tenham por trás uma força sobrenatural, nomeadamente, sob a forma de energia residual deixada por uma morte em circunstâncias trágicas. Em “Death Note” existe uma grande mortandade mas, originada pelas maquinações conscientes de Light Yagami. Se, nos créditos iniciais, podíamos empatizar com o seu desejo de erradicar a injustiça e a maldade, a partir do momento em que ele se torna senhor dos destinos de todos esse sentimento desaparece.  Será menos condenável em termos morais, se ao invés de premirmos um gatilho, escrevermos um nome? É que não deixamos de ser autores materiais de um crime… Imaginem-me então a escrever num bloco de notas o vosso nome, enquanto visualizo mentalmente a vossa face… Já sentem arrepios?
Contudo, não terá sido o bloco que tornou Light um criminoso. Ele já era um psicopata em potência. O bloco foi a oportunidade. E Ryuuk, Deus da Morte, redunda numa espécie de consciência e alívio cómico mais digna de compaixão que Light. Afinal, Ryuuk é movido pelo instinto de sobrevivência. Já Light torna-se paranóico e um megalómano, devido a um desejo subconsciente de poder. O seu objecto estende-se pois de criminosos inveterados, a todos aqueles que se interpuserem entre ele e a sua missão, ou apenas a quem não grama. Ele é a justiça. Ele é Kira (contração de killer). Um dos seus mais poderosos opositores é um tal de L, personagem que só podia vingar em todo o seu esplendor no universo mangá. Com um corpo frágil e aparência anémica, L passa os dias encolhido na posição fetal, comendo doces. Alguém mais reparou na fixação oral presente na escrita de Ohba? “Death Note” resume-se às personagens a que não é alheia a escolha de actores.  Tatsuya Fujiwara foi o corajoso Shuya em “Battle Royale” (2000), Ken'ichi Matsuyama pode ser visto mais recentemente no drama “Norwegian Wood” (2010) e Shidô Nakamura, a voz de Ryuuk, esse então, protagonizou um pouco de tudo desde “Letters from Iwo Jima”(2006), a “Fearless” (2006) e “Red Cliff” (2008-2009). De resto, a iluminação e a câmara de “Death Note” parecem retiradas de uma série de televisão. Nada contra mas se estiver a dar algo mais interessante na televisão bem, já estão a ver o meu dilema. Duas estrelas e meia.

Realização: Shusuke Kaneko
Argumento: Tsugumi Ohba, Takeshi Obata e Tetsuya Oishi
Tatsuya Fujiwara como Light Yagami
Ken'ichi Matsuyama como L
Asaka Seto como Naomi
Erika Toda como Misa Amane
Shidô Nakamura como Ryuuk


Próximo Filme: "Ichi the killer" (Koroshiya 1, 2001)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

"Hunger Games" (2012)


Diz que depois do fim há sempre alguma coisa. No caso, serão uns jogos da fome. Enquadrado num cenário pós-apocalíptico, 24 participantes de doze distritos competem entre si, num jogo mortal televisionado para gáudio da população do Capitólio. A expressão “pós-apocalíptico” sempre foi, para mim, um mistério dado que apocalipse significa o fim dos tempos. Visto que a maioria do pessoal não recebeu o comunicado com essa informação, bota apocalipse para frente tipo: em tudo o que são filmes do género de ficção científica. Assumindo, a correcção da palavra apocalipse ao tema em causa fica pois, definitivamente comprovado que os humanos são piores que as baratas. Não há modo de as erradicar. E se lhes arrancarmos a cabeça, ainda sobrevivem durante nove dias.
Ora então nesse tal futuro não tão utópico como querem fazer crer os simbolismos mal dissimulados de “The Hunger Games”, treze distritos revoltaram-se contra o Capitólio. A revolta foi esmagada e só restaram doze distritos, condenados até ao fim dos tempos, passe a expressão, a entregar dois “tributos” cada ao Capitólio, para um programa de televisão onde jovens entre os 12 e os 18 anos combatem até à morte até restar um único sobrevivente. Num ritual anual chamado a ceifa, são escolhidos um homem e uma mulher que serão os representantes do seu distrito nos jogos da fome. A pergunta que vos tem assolado até aqui: porquê jogos da fome? Porque os distritos são pobres. Há pessoas a morrer de fome fora da capital. Cada distrito subjugado ao poder do vencedor da guerra ocorrida 75 anos antes constitui a sua fonte de riqueza. Por exemplo, do distrito 12, onde reside uma certa Katniss (Jennifer Lawrence), o Capitólio retira minérios. Assim se vê, um retrato do mundo evoluído versus o subdesenvolvido, no qual os ricos extraem com todo o direito ou, como tal pensam, a matéria-prima dos pobres. Enquanto a memória de uma revolta estiver suficientemente presente na memória de um Capitólio, este usá-la-á para entreter as massas. Enquanto os pobres se sentirem fracos, com fome e demasiado trabalho nos corpos esquelécticos, eles serão “justamente” punidos pela sua ofensa anterior. É neste contexto que a jovem Katniss se voluntaria para os jogos da fome após o sorteio ter calhado em sorte à sua irmã de apenas 12 anos, Primrose (Willow Shields). Desde logo vemos uma rapariga vencedora. Ela não se resigna perante as adversidades. Ela é uma lutadora. E sabemos isso, desde o primeiro momento em que a vimos no ecrã. Acompanhamos a sua ida para a capital, onde é coberta de luxos que nunca mais voltará a usufruir e treinada para sobreviver e matar. Por fim, assistimos à sua ida com Peeta (Josh Hutcherson), o rapaz selecionado com ela, para o terreno dos jogos.
Até aqui refreei uma vontade louca de falar de “Battle Royale” (2001), filme do qual “The Hunger Games” foi mais do que levemente inspirado. Isso constitui um problema? Não. “The Hunger Games” é menos polémico e o seu público-alvo diferente. Ambos sobrevivem por si próprios. Considerando os defeitos de “The Hunger Games”, nem por isso deixa de ser um filme acima da média. Mas falava-se em defeitos. Jennifer Lawrence é uma das mais recentes estrelinhas destinadas a brilhar com luz intensa. Ela é um talento, no entanto, a sua presença em “The Hunger Games” ainda carece de alguns apontamentos. Jennifer, cara redondinha como é, não se adequa à imagem de uma rapariga atacada pela fome. Não advogo as imensas flutuações de peso dos actores. Contudo, menos uns dois quilos já tornariam Jennifer mais imersa na personagem. Depois, Jennifer é muito forte sendo que passa por arrogante no ecrã. Embora se compreenda a revolta de Katniss com todo o espectáculo que envolve a morte de crianças e adolescentes e pessoal de roupas e penteados estranhos que aplaudem a selvajaria, a sua aura é de pouca vulnerabilidade, qual animal encadeado pelos faróis de um carro. Afinal de contas, só pode sobreviver um entre 24 escolhidos. Quais são as probabilidades de ser ela a regressar para casa? Quais, quando até há distritos que treinam os seus jovens desde pequenos para sobreviver aos jogos? Mais, sobreviver para quê? Para regressar ao mundo da fome, depois de ter conhecido os luxos do Capitólio. Para uma família que simultaneamente a aguarda e a inveja por tudo quanto conheceu, num sítio que nunca irão visitar? A parte dos jogos é infelizmente demasiado breve. Mal se chegam a conhecer os oponentes. E a simpatizar com eles. A estória de Rue, uma rapariguinha pequena que combate nos jogos ao lado de Katniss é por demais breve. Queria tê-la conhecido como fora apresentada no livro. E os vilões? Por piores que sejam, têm no máximo 18 anos e sofreram lavagem cerebral. São estes apontamentos que sabem a pouco. A transposição para a tela foi óptima dadas as circunstâncias mas uma pessoa não pode deixar de se perguntar, dado exemplos como o de Harry Potter, se não valeria a pena partir o livro em dois e espremer tudo para uma maior satisfação. Três estrelas.

Realização: Gary Ross
Argumento: Gary Ross, Suzanne Collins e Billy Ray
Jennifer Lawrence como Katniss Everdeen
Willow Shields como Primrose Everdeen
Josh Hutcherson como Peeta Mellarke
Wes Bentley como Seneca
Stanley Tucci como Caeser Flickerman
Donald Sutherland como Presidente Snow
Woody Harrelson como Haymitch
Liam Hemsworth como Gale Hawthorne
Elisabeth Banks como Effie Trinkett

Próximo Filme: "Death Note” (Desu Nôto 2006)
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