domingo, 27 de outubro de 2013

"8 Immortals Restaurant: The Untold Story" (Bat sin fan dim ji yan yuk, 1993)


Wong Chi Hang está bem dentro do negócio do restaurante. É ele que prepara os bolinhos de carne que fazem as delícias dos clientes. A preparação do porco não é complicada desde de que se disponha de força e de facas bem fiadas. A prática, essa, ele já tem. Ele esventra o animal e retira-lhe os miúdos. Com o focinho decepado e o corpo despojado de órgãos pode então fazer um corte longitudinal profundo desde a traqueia até ao ânus. A seguir vem o trabalho mais difícil. Tem de cortar através de osso para o cortar em dois. Conseguido isto, torna-se mais fácil desmembrar e separar as peças de carne para os diversos pratos a confeccionar. A frieza com que realiza estes actos apenas reforça a ideia de que provocá-lo pode constituir o maior e último erro que cometemos em vida.


 A sua personalidade sociopata pode ser identificada na sequência inicial, onde Wong reconhecido como aldrabão por um parceiro de jogo, solta a fúria da pior maneira, assassinando-o de forma brutal. Depois de provocar um incêndio para apagar os indícios do crime, evade-se de Hong Kong por Macau, assumindo uma nova entidade. A estória avança até 1986, com a ilha em polvorosa após a descoberta de membros humanos numa praia. Após a realização de diversas diligências a polícia chega à conclusão que os restos humanos pertencerão à mãe do antigo dono do restaurante “Oito Imortais” que é dado como desaparecido juntamente com a mulher e os cinco filhos. Com sucessivas pistas a apontarem a ligação do restaurante ao crime e o comportamento cada vez mais bizarro de Wong, nada podia preparar a força policial para uma estória com contornos tão perversos. “8 Immortals Restaurant” interessa-se mais pelos crimes que a investigação policial, sendo sobre esta que recaem os momentos de alívio cómico. Excentricidade dos cineastas, um momento de revelação de restos humanos, acaba por ser uma das oportunidades para injectar um pouco de humor num instante de tensão.

O argumento baseia-se em crimes reais que chocaram Macau durante os anos 80, pelos requintes de malvadez com que Wong Chi Hang assassinou duas famílias desconsagrou os seus cadáveres. E na maior parte, estes factos são apresentados tal como sucederam. A película introduz elementos muito interessantes que têm vindo a ser propagandeados atualmente sob a forma de “inédito”, nomeadamente, uma narrativa conduzida em grande parte pelo ponto de vista do assassino com todos os detalhes grotescos que isso implica. Pertence à “Categoria III”, um sistema de rating vigente em Hong Kong que postula que apenas pessoas com 18 anos de idade ou superior podem visionar, alugar ou assistir em sala de cinema aos filmes com essa classificação. Conhecido pela violência extrema e cenas de sexo explícitas, é um género muito procurado e ao qual, os cineastas locais não procuram fugir pois, sobretudo em casos onde o orçamento é reduzido e a qualidade bastante baixa, pode servir de chamariz. “8 Immortals Restaurant” é conhecido como um dos exemplos superiores desta classificação mas não poupa o espectador.  Anthony Wong apresenta um desempenho assombroso. O seu Wong Chi Hang é vil, é asqueroso, é aterrador. Tido pelo público como um homem simpático e acessível, que também encarna ocasionalmente em cinema, ele transfigura-se totalmente nesta personagem. Sem próteses ou qualquer outro acrescento para modificar as suas feições, a sua entrega é de tal modo impressionante que a sua fisionomia se altera para a de um homem desagradável e perigoso. As cenas em que Wong esquarteja as suas vítimas, seja um porco ou um ser humano, são arrepiantes. Atentem sobretudo à cena em que Wong elimina uma família inteira. Há algo de tão perigosamente amoral naquele personagem que corremos o risco de confundir a ficção com o real. E sem restrições de classificação, pouco ou nada é deixado para imaginação. Mesmo filmes que se afirmam de “extremos” e “irreverentes” não são capazes de gerar imagens tão provocantes ou obscenamente repulsivas como este. Para o aficcionado de terror “8 Immortals Restaurant – The Untold Story” é a prova de fogo. Ideal para apaixonados por estórias verídicas e viciados em desafiar os seus limites de tolerância. Três estrelas e meia.

Realização: Danny Lee e Herman Yau
Argumento: Wing-kin Lau e Kam-Fai Law
Anthony Wong como como Wong Chi Hang
Danny Lee como Chefe Lee
Emily Kwan como Bo
Julie Lee como Pearl
Fui-On Shing como Cheng Poon
Parkman Wong como Bull

Próximo Filme: 407 Dark Flight 3D, 2012

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Not a Film Critic está nomeado para os TCN Awards 2013

Olá, eu sou a Rita, tenho mais de uma vintena de anos (não vou dizer quantos tenho, era só o que faltava), e sou viciada em filmes de terror. Sim, eu gosto do género de terror, o mais subestimado, pisado e desvalorizado e sou maior de idade. Não. Tanto quanto sei, sou uma pessoa perfeitamente funcional e não sonho com esganar, estropiar, mutilar, desfazer, despedaçar, esmagar, abater, decepar ou trucidar pessoas. Não durmo com um facalhão ao lado da cama ou uma pistola debaixo da almofada e não, não guardo um álbum de recortes dos maiores serial killers de sempre. Não tenho por hábito jogar GTA e nunca achei que o Marilyn Manson fosse aquela cena. Não tenho ilusões quanto a “Amyityville” ter alguma vez sido assombrada, não me parece que os mortos retornem à “vida” sobre o estado de zombies e apenas joguei o jogo do copo uma vez. Só a vida real me dá pesadelos. Acredito que a imaginação faz o papel de preenchimento da ausência de emoções fortes, que nos fornece explicações para o que a nossa mente racional não tem em crer ou aceitar. O pocong, o vampiro, o zombie, o kuntilanak, o fantasma, o aswang, o onryo, o tiyanak, o demónio, o alienígena, o kaiju e o mutante são uma constante do meu quotidiano. Já perdi a conta aos filmes que vi, aos filmes que recomendei e não vejo a hora de parar. O Not a Film Critic é o espaço onde o terror tem a devida atenção. É a minha segunda casa. Sejam muito bem-vindos.

Votações no Cinema Notebook, barra lateral. Convido a conhecerem todas as categorias e os outros nomeados, que de resto, estão amplamente divulgados no Blogue de Votações. A hashtag do evento é #tcn2013. Obrigada.

Nomeação Melhor Reportagem: NAFF - Not a Film Festival


Nomeação Blogue Colectivo: Scifiworld PT

Nomeação Melhor Blogue Individual: Not a Film Critic
Nomeação Blogger do Ano: Rita Santos aka FilmPuff Maria


Independentemente de resultados, uma garantia: o Not a Film Critic vai manter a regularidade e os temas que sempre o marcaram. #tcn2013

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

"Chaw" (Chawu, 2009)


É quase um ritual, quando se abordam filmes de monstros, mencionar o “Alien” (1979) e o “Predator” (1987). São clássicos e são, simplesmente o padrão de excelência para qualquer tipo com pretensões de cineasta que queria assustar o pessoal com uns fatos de borracha. A malta nova, se calhar, já está tão dessensibilizada que não encontra o factor M (Medo), nestas películas. Mas a verdade é que criar um filme com uma besta atemorizante, hoje em dia, é ingrato. É já se viu tudo e de todas as maneiras. Aqueles filmes constituem um marco, no que diz respeito aos alienígenas e, no campo dos animais temos tamanha variedade desde o tubarão (“Jaws”, 1975) passando por ovelhas (“Black Sheep”, 2006) até ao coelho (“Monty Python and the Holy Grail”, 1975). Parece que o desafio sempre foi o modo como as captar. Ora, estamos perante um jogo de vislumbres ora mostram-no assim que podem e do modo ostensivo possível. Os filmes que optam pela revelação célere tendem a optar pelo género da comédia negra e tentam dela capitalizar ao máximo. “Chaw”… é como um adolescente. A princípio sabe o que quer mas passado algum tempo confessa-se indeciso e, no fim, chega à conclusão que é uma criança grande e ainda lhe falta algo para a atingir a maturidade.

Depois de uma sequência inicial brutal (adorava deixar-vos aqui um spoiler mas tenho de me manter firme e rejeitar o engodo), que decidiram que “Chaw” seria uma comédia e, como tal, teriam de estupidificar o argumento e respectivos personagens. Os momentos de humor acabam por resultar na maior parte mas não deixa de ficar a sensação, durante bastante tempo de que algo não está certo. A mudança de rumo do horror à comédia é tão radical que uma pessoa não pode deixar de se interrogar o que poderia ter acontecido tivesse o material seguido noutra direcção.

Sammaeri é uma pequena agrícola onde o acontecimento mais excitante é a feira de produtos orgânicos. Isto é, até serem encontrados os corpos trucidados de alguns aldeões. Decididos a parar com a carnificina um grupo de cidadãos, polícias e mercenários junta-se para caçar a besta responsável pelo evento. Entre estes encontram-se Il-man Chun (Hang-seon Jang) que tem desejos de vingança por a neta ter sido uma vítima do que acredita ser um javali gigante, Kang-soo Kim (Tae-woong Uhm) um polícia de Seul “promovido” para ali e Man-bae Baek (Je-moon Yoon) que sonha com a glória da caça. Nenhuma das personagens é memorável, ainda que o elenco seja sólido. Temo que seja a velha armadilha dos personagens descartáveis. Talvez por isso, não sejam abençoados com inteligência acima da média ou se detenham no ecrã por tempo suficiente para que se crie uma afinidade. E a polícia coreana demonstra ad nauseam a sua completa impreparação e incapacidade para lidar com situações de emergência, aqui para boa conveniência do argumento. Que faria se fossem voluntários? Para os mais atentos “Chaw” tem uma estória muito similar a filmes como “Jaws”, sendo que existem as primeiras mortes, desvalorização ou, se preferirem, descrença dos responsáveis da localidade devido a época importante para a sua sobrevivência económica, a constatação do óbvio à medida que a contagem de mortos aumenta, a contratação de especialistas para resolver o problema que falham redondamente e, mais para o fim, o bom herói relutante apanha os cacos. Os políticos só vêem cifrões à frente, os polícias são uns incompetentes e o herói nunca tem um pingo de vaidade. Tão, refrescante… Quanto à ameaça propriamente dita e, nos intermeios de comédia com terror, o “monstro” não se revela poderoso o suficiente para entrar nos pesadelos do homem comum. Além de que enquanto, a memória colectiva da cena em que javalis comedores-de-homens atacam um homem em “Hannibal” (2001), não se esvanecer o “monstro” de "Chaw" parecerá sempre por comparação um marco menor. Mas lá está, a besta é grande, o número de vítimas é significativo e são jogados todos os lugares-comum que resultaram anteriormente. Veredicto: Se apreciam filmes com bestas assassinas, "Chaw" acerta nas notas todas mas não o vejam com esperanças de grande originalidade. Duas estrelas e meia.

Realização: Jeong-won Shin
Argumento: Jeong-won Shin e Yong-Cheol Kim
Tae-woong Uhm como Agente Kim
Yoo-mi Jung como Soo-ryun
Hang-seon Jang como Il-man Chun
 Je-moon Yoon como Man-bae Baek
Hyuk-kwon Park como Detective Shin
Gi-cheon Kim como Chefe dos aldeões
Sang-hee Lee como Chefe da Polícia
Seo-hee Go como “mãe” de Deok-gu
Hye-jin Park como mãe do agente Kim
Yeon-hwa Heo como Mi-young
Yoon-min Jung como Agente Park

Próximo Filme: "Bun Man: The Untold Story" (Bat sin fan dim ji yan yuk, 1993)

domingo, 20 de outubro de 2013

"Dead Sushi" (Deddo Sushi, 2010)


Noboro Iguchi, realizador de títulos tão improváveis e absurdos como “RoboGeisha” (2009), regressa com “Dead Sushi” uma séria concorrente ao lugar cimeiro de um Top 5 de Objectos Inanimados com Institutos Assassinos do Cinema. 

Keiko (Rina Takeda) é uma jovem aprendiz de chefe e karateca que foge da disciplina imposta pelo próprio pai, um chef especialista em sushi ultra-rígido, para se tornar servente numa estalagem. Lá, é alvo das constantes humilhações do chefe e do pessoal negligente até que perante o ataque de sushi assassino (sim, leram bem), Keiko se torna única pessoa capaz de deter a ameaça. Um ex-cientista de uma farmacêutica pouco escrupulosa deseja vingar-se do tratamento de que foi alvo e cria um vírus zombie que infecta o sushi servido aos convivas na estalagem. O sushi torna-se, (naturalmente?), uma criatura mutante com o intento de devorar todos quantos se encontram à sua frente. Por entre mortos e feridos alguém há-de escapar. Certo?

Entre as cenas memoráveis encontram-se a da assistente irritante que é “trincada” por um destes zombies, aquela em que duas jovens se tornam a mesa e o prato principal da comida que serviam, ou quando um dos atacados é alvo de uma “plástica” facial extrema… Mas a piada não fica por aí já que a personagem principal é uma karateca que foge do mundo altamente competitivo e exigente dos chefes de sushi para combater os rolos assassinos, tendo por sidekick um chef com fobia de facas. Quem é que inventa cenários destes?
“Dead Sushi” enquadra-se na categoria sobejamente conhecida de “estes japoneses devem estar loucos”. Há os filmes “normais”, i.e., que podiam ser criados em qualquer parte do mundo e depois há os outros, os criados pelos nipónicos que se baseiam nas premissas mais extraordinárias e, estranhamente funcionam. A palavra de ordem é: “não há limites”. A improbabilidade e impossibilidade presente nestas películas surge em grande quantidade e em rápida sucessão formando uma relativa coesão. Se a audiência estiver predisposta a aceitar tudo quanto sucede no ecrã, “Dead Sushi”, “Tokyo Gore Police”, “Meatball Machine”, entre muitos outros, funcionam como um novo subgénero de cinema que apresenta rasgos de genialidade. Regra geral, as personagens são do sexo feminino e existe tanto de acção como de comédia, de preferência em conjunto. Adicionem uma pitada de terror et voilá. Características: os close-ups de seios e roupa interior feminina são um must. Cenas como uma protagonista perder um botão da blusa ou cair e ficar com as cuecas expostas não serão novidade. De notar que o aparecimento de personagens mutiladas, com um ou mais membros mecânicos tais como metralhadoras ou lâminas não deve ser inesperado. A contagem de mortos não deve ficar abaixo de uma dezena. De preferência, acompanhados de salpicos de sangue, esguichos de sangue, banhos de sangue ou todas as opções anteriores. Neste aspecto, o Robert Rodriguez com os seus esforços grindhouse, vêm à mente como o equivalente de Hollywood mais aproximado. A compor o ramalhete, estão slogans tão exagerados como o próprio filme: “O Sushi contra-ataca” ou “Acção Quente do Wasabi”. Pensem em “Dead Sushi” como uma reinterpretação de um “Airplane” (1980), ou um "The Naked Gun” (1988) com bolinha vermelha.
“Dead Sushi” pode ser um gosto adquirido, mas não me parece que quem não apreciasse sushi anteriormente se vá tornar fã. Aliás, se forem um dos infelizes comtemplados com fobia a sushi esta é a pior alternativa possível a não ser que estejam a considerar submeter-se a terapia a longo prazo. Duas estrelas e meia.

Realização: Noboro Iguchi
Argumento: Noboro Iguchi, Makiko Iguchi e Jun Tsugita
Rina Takeda como Keiko
Shigeru Matsuzaki como chef
Kentaro Shimazu como Yamada
Takamasa Suga como Nosaka
Takashi Nishina como Senhor Hanamaki
Asami como Yumi Hanamaki
Yui Murata como Misse Enomoto

Próximo Filme: "Chaw" (Chau, 2009)

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Pocong Rumah Angker, 2010

Sugestão: Saltem o trailer e passem directamente à visualização com legendas em inglês no youtube

Se não existir mais nenhuma característica redentora da generalidade do cinema de terror indonésio, que ao menos se aprecie a inocência. Quando se valorizam as narrativas ultra-complexas que redundam em estórias absurdas (ainda que tenhamos relutância admiti-lo), há que dar espaço às falsas narrativas que não são mais que uma sucessão de eventos repetidos, num movimento circular com enfoque nos corpos dos intervenientes, no gag que puxa a gargalhada e enfim, no terror.
Zak e Pung são dois rapazes desmiolados que decidem realizar filmagens durante a noite (óbvio!) na casa assombrada local para o jornal da escola. Haverá algo mais emocionante que uma casa assombrada? (Não respondam). Estes estarolas, com pouco ou nenhum jeito para seduzir o género feminino conseguem atrair as colegas de turma Joanna e Debbie para o seu projecto e não tarda, todos se vêem alvo de manifestações sobrenaturais. Pocong Rumah Angker não deixa nada para a imaginação e significa literalmente, pocong (fantasma enrolado num sudário) numa casa assombrada. Por isso, não é de estranhar que ao fim de segundos tenhamos a primeira aparição que surge sob a forma de uma bailarina de Jaipong, de um pocong e ainda anciões versados na arte de combater as trevas. Para aqueles lados há imensos peritos em combater aparições inesperadas. Não se preocupem. “O que foi retirado deve ser devolvido” e só assim terá “descanso eterno” e coisas que tais. Mais fácil de falar do que fazer com uma trupe que tem como cabecilha Zak, que desconfio, empresta mais de si ao papel do que conseguiu descarnar a sua personagem. Pocong Rumah Angker é “Zakocêntrico”, disso não restam dúvidas. A personagem confunde-se com o actor com o mesmo nome e aproveita para qualquer oportunidade para improvisar dando lugar a cenas involuntariamente engraçadas pois, enquanto Zak dispara falas de cabeça, os restantes actores tentam desesperadamente manter-se nas personagens. Não faço ideia o que passou pela cabeça do realizador, se deu instruções para os actores seguirem o “show de Zak” ou se acreditou na magia em directo e deixou a película rolar. Uma aposta arriscada se querem que vos diga pois com 77 minutos de duração, não há muito sumo para se espremer. Surpreendente é o número de piadas sexuais e alusões homoeróticas, para bem da comédia claro, num país que se crê muito conservador. Existe de tudo, desde piadas com testículos e erecções à possibilidade de ósculos entre homens e partilha de cama… Enfim, tudo o que se podia esperar do cinema coreano e das comédias sexuais americanas, à la “American Pie” (1999), que se encontram atualmente num estado comatoso.
Diz que Pocong Rumah Angker é de terror e é aí que os problemas se agravam. Desde o início que a assombração é posta a descoberto e, além de uma ocasional aparição não se pode dizer que os fantasmas sejam muito assustadores. A maquilhagem horrenda assemelha-se a um disfarce de Halloween que correu mal. Já para não mencionar o styling exactamente igual ao de filmes anteriores. Ora, onde é que já vimos mulheres de cabelos desgrenhados com aparência atemorizante? A verdadeira tragédia reside no não aproveitamento da única ideia criativa que poderia elevar Pocong Rumah Angker a um patamar superior. Por momentos, há um laivo de reflexão, de tragédia escondida que poderia impactar em definitivo os nossos tontos personagens e depois, demasiado rápido, desaparece, para dar lugar aos pocong, aos kuntilanak (espíritos), às casas assombradas, num eterno movimento circular. Que ninguém diga que os espectadores não gostam de previsibilidade. Uma estrela e meia.

Realização: Koya Pagayo
Argumento: Ery Sofid
Zaky Zimah como Zaky
Donita como Joanna
Pamella Bowie como Debbie
Krisna Patra como Ipung
Radith

Próximo Filme: “Dead Sushi” (Deddo Sushi, 2012)

domingo, 13 de outubro de 2013

"My wife is a gangster" (Jopong manura, 2001)

Não consegui encontrar o trailer com legendas em inglês mas poderão encontrar o filme com legendas online

Eun-jin (Eun-Kyung Shin) é uma chefe da máfia dura que subiu a pulso. Respeitada e temida por subalternos e inimigos, encontra-se muito perto de se tornar a número um do gangue. Tem quase tudo para ser feliz. Ela inicia a busca para encontrar a irmã Yu-jin (Eung-kyung Lee) de quem tinha sido separada no orfanato. Ela encontra-a mas as notícias não são animadoras: Yu-jin tem cancro em fase terminal. Entre o sentimento de culpa por não a ter procurado mais cedo e a tristeza profunda, Eun-jin promete à irmã satisfazer os seus últimos desejos para tornar a sua partida o mais suave possível. O que Yu-jin pede é uma missão quase impossível. Ela quer que Eun-jin se case antes de morrer com a sua benção. (A utilização de uma doença terminal como arma para justificar a chantagem emocional nunca cessará de me espantar). O que se segue são alguns dos episódios mais caricatos do cinema de comédia dos últimos dez anos. Eun-jin perdeu, a custo de se tornar uma mulher temida e poderosa a sua feminidade e capacidade de se relacionar com os outros. Basta dizer que Yu-jin deve ter sido a primeira pessoa, em muitos anos, a pôr a mafiosa a chorar! As tentativas de transformar esta lagarta numa borboleta são capazes de fazer soltar a gargalhada dos mais cépticos. Desde os conselhos poucos avisados dos seus subalternos à aparência de mulher pouco recomendável completa com uma postura incorrecta e a incapacidade para andar de saltos altos, qualquer oportunidade é boa para puxar pela comédia física. A vítima das tentativas peculiares de sedução de Eun-jin é Sool-i (Sang-myeon) um homem de sucesso no mundo dos negócios e um zero no que respeita a relações. Mas o mundo do crime não descansa e entre a caça ao homem e o conforto de uma irmã no leito da morte, Eun-jin tem de lidar com o gangue dos Tubarões Brancos que tem aumentado a agressão contra os seus homens.

“My Wife is a Gangster” para os mais atentos pode recordar “Married to the Mob” (1988), onde uma Michelle Pfeiffer interpretava o papel de viúva pouco inocente. As semelhanças só se encontram no nome. Pois, enquanto Michelle desejava abandonar essa vida, da qual tinha pleno conhecimento, Sool-i está completamente às escuras quanto ao trabalho de Eun-jin. No entanto, o casal não é tão incongruente como se podia fazer pensar. Eun-jin encontra em Sool-i o contraponto perfeito. Correndo o risco de soar a uma dona de casa americana dos anos 50, no casamento Eun-jin poderá encontrar o “normal” numa vida a dois e deixar de viver apenas para o trabalho. Ele pode trazer a estabilidade e a paz de espírito tão desejada, se ao menos ela deixar. Além disso e, ao contrário do que o título internacional poderia fazer pensar, o enfoque é em Eun-jin e no seu complicado acto de equilibrismo.

“My Wife is a Gangster” não funciona porque há humor de casa-de-banho e comédia sexual a rodos, MWIAG funciona porque o elenco, desde os actores principais aos secundários sabem exactamente do que as suas personagens precisam para funcionar. Won-cheol Sim interpreta o papel de braço direito de Eun-jin cuja lealdade é à prova de fogo. Nunca se coloca em questão se Jang-ka é incorruptível ou não. E a representação é subtil o suficiente para se perceber que Jang-ka está apaixonado por Eun-jin mas nunca iria pôr a relação chefe-subordinado em perigo. Já Eun-ju Choi que surge apenas breves minutos interpreta uma rapariga fácil e pouco pirosa, que ensina Eun-jin a ser mais feminina e versada no sexo com os resultados que se conhece. Em “My Wife is a Gangster”, num movimento típico do cinema coreano, os argumentistas brincam com o género criando uma fusão de comédia com acção dramática. Ora estamos a rir com as tentativas patéticas de Sool-i de levar a mulher a ter relações sexuais com ele, ora um membro querido do gangue de Eun-jin é assassinado por mafiosos. Mas ao invés das investidas reverterem num produto com personalidade múltipla, resulta. As transições são fluidas e só o choque da mudança de ritmo e o tempo já investido no filme, é que poderão conferir um sentimento de embuste. Ou se aceita o mal menor das mudanças de género ou se rejeita o que até ali tinha sido uma boa experiência cinemática. Três estrelas.
Realização: Jin-gyu Cho
Argumento: Hyo-jin Kang e Moon-Sung Kim
Eun-Kyung Shin como Eun-jin ou Mantis
Eung-kyung Lee como Yu-jin
Sang-Myeon Park como Sool-i
Won-cheol Shim como Jang-ka
Eun-ju Choi como Sheri
Jae-mo Ahn como Romeo
In-kwon Kim como Banse
Se-jin Jang como Sang-eo
Jeong-hun Yeon como Hyo-min
Gye-nam Myeong como Chefe

Próximo Filme: Pocong Rumah Angker, 2010

domingo, 6 de outubro de 2013

"Ghost Child" (Toyol, 2013)


“Ghost Child” é um bom exemplo de como as fronteiras culturais fazem toda a diferença. Esta película originária de Singapura tem como título original “Toyol”, uma palavra nascida de crenças pagãs que tem um significado muito específico e conhecido em países como Malásia, Indonésia ou Singapura. E em países como a Tailândia, Filipinas, Camboja ou China, apenas possui outro nome. Logo, estes povos ao acorrerem às salas de cinema para assistir a “Ghost Child” sabem o que vão ver. Para os restantes, a ignorância não tem de ser um mal maior pois sempre permite que exista alguma aura de mistério no visionamento do filme. O problema é que se não for o nome do filme a revelar uma narrativa pré-inexistente, a audiência fica totalmente às escuras pois, “Ghost Child” não oferece pistas nenhumas para o que se está a passar no ecrã. Sem prestar grande atenção ao título (muitas vezes a tradução para o inglês não é literal e até mesmo enganadora), a muito custo entendi a acção. Apenas quando fui pesquisar informação adicional sobre o filme e regressei a algumas cenas é que o significado se concretizou na plenitude…
“Toyol” é o espírito de uma criança que é invocado através de magia negra e do recurso a um feto humano. O Toyol é utilizado por pessoas pouco escrupulosas para roubar dinheiro e jóias a outrem ou ter boa fortuna no geral. O Toyol é como uma verdadeira criança, devendo ser alimentado, mimado e ver todas as exigências satisfeitas, que podem incluir sacrifícios. Quando ameaçado, ele torna-se vingativo, podendo atacar até a família do seu senhor. Bem vistas as coisas, não parece que a recompensa de ter um Toyol seja grande mas enfim…
Quando o viúvo Choon (Chen Hanwei) salva Na (Carmen Soo) de uns bandidos que a perseguiam parece que encontrou a pessoa certa para voltar a assentar. Na é misteriosa e de origem indonésia o que não agrada à mãe de Choon e a Kim (Jayley Woo), a filha adolescente. Nunca ninguém gosta de ver a senhora da casa, pelo menos na psique delas, substituída. Sobretudo, quando a decisão é extemporânea e elas nem sequer são questionadas se, se sentem confortáveis com o facto de uma estranha, por muito bonita e simpática que possa ser, ir morar com elas. Além disso, existe ainda um grande preconceito em torno das empregadas domésticas de países mais pobres que acabam por se casar com os antigos patrões. Seja por pertencer a povos inferiores, para muitos é essa a ideia que grassa, seja por destruir casamentos existentes, o que infelizmente também sucede. Por isso é natural que quando os colegas de Kim descobrem que a sua madrasta tenha ascendência indonésia, esta se torne o alvo de piadas cruéis. Kim e a avó não ajudam à sua defesa pois a sua recepção fria a Na apenas demonstra como elas são permeáveis ao preconceito e ao desejo egoísta de que Choon permaneça solteiro. Apenas quando as atividades de Na começam a aparentar grande suspeição é que o seu asco se revela justificado. Acções que não são mais do que pequenos nadas, pistas que apontam para ela somente por exclusão de partes e, admita-se, desejo de que Na não seja uma boa pessoa, justificando assim a sua renitência em aceitá-la. A associação ao Toyol é que é fantasista, no mínimo. Mesmo conhecendo o folclore local, uma pessoa terá de ser bastante supersticiosa para chegar a esse ponto.

A personagem de Na é de longe a mais injustiçada. A despeito de uma breve descrição do seu passado, a câmara quase não se interessa por ela. Como se ela não fosse o elemento que provoca o conflicto familiar. Sofre pois de discriminação dupla: é a estranha que veio introduzir-se numa família “feliz”, provocando, a ruptura da sua paz podre mas não tem direito a tempo de antena suficiente. Choon, surge como uma personagem manipulável, sem qualquer controlo sobre o seu destino, comete o pecado de apaixonar-se depois de perder a primeira mulher mas, depois, não é capaz de gerir as pessoas que tem em casa, falhando na defesa da sua opção de vida.
A narrativa de “Ghost Child” é uma teia de sustos desconexos, ideias subdesenvolvidas e associações fantasistas mais rápidas que a velocidade warp. A concretizar-se a premissa da existência de um Toyol, “Ghost Child” não oferece nada de novo pois o tema já foi abordado noutros filmes da região a ser apenas um engodo para o mistério sobrenatural, restam pois as personagens que tendo potencial, são tão pouco exploradas que tão pouco geram afeição. Duas estrelas.

Realização: Gilbert Chan
Argumento: Gilbert Chan e Tan Fong Cheng
Chen Hanwei como Choon
Carmen Soo como Na
Jayley Woo como Kim
Cecilia Heng como mãe de Choon 
Vanessa Lee como Tiffany

Próximo Filme: "My Wife is a Gangster" (Jopog Manura, 2001)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

TOP 12: Bonecos Assustadores


Foi quando vi “The Conjuring”, que as memórias se reacenderam. Um medo tão antigo que foi e continua a ser retratado em filme. Nunca fui do género assustadiço mas reconheço que quando estamos sozinhos, os sentidos ficam alerta e o cérebro começa a pregar-nos partidas. Sobretudo, quando estamos sós e os objectos, mesmo ali à mão, parecem ganhar uma força que não lhes reconhecia antes. Como se tivessem vida. Talvez por isso, entenda o porquê de o Robbie se sentir um pouco mais seguro depois de cobrir o boneco palhaço com um cobertor. Um daqueles bonecos tão perfeitos, tão próximos que chegam a dormir nas nossas camas, como se fossem reais, quase diabólicos. Isso recorda-me ainda de outra estória, uma real, de uma amiga que encurralada numa partida por um namorado preferiu cabecear a parede até perder os sentidos a deixar cama na qual fora deixada uma boneca de porcelana… Sem mais delongas e por ordem cronológica, o Top 12: Bonecos Assustadores.


1) “Dead of Night – The Ventriloquist’s Dummy” (1945, Reino Unido) – Um conjunto de estranhos muito britânicos, excepto um, que confere o elemento exótico ao grupo, reúne-se numa casa de campo e considera uma excelente ideia passarem o serão a contar estórias de terror… Uma dessas estórias fala do ventríloquo Maxwell (Michael Redgrave), cuja sanidade parece ir desta para melhor quando o seu boneco Hugo anuncia que o quer trocar por Sylvester, um outro ventríloquo com mais talento. A antiguidade é capaz de ser o que melhor funciona a favor de “Dead of Night”: o facto de ser a preto e branco (há qualquer coisa de inquietante nas sombras); as personagens pouco vividas, ainda sem a influência nefasta dos filmes de Hollywood do séc. XXI e o sorriso irónico de Hugo que sai sobremaneira beneficiado pela ausência do pormenor. Cena memorável: Quando Maxwell diz a Sylvester em tom de aviso “Tu não sabes do que o Hugo é capaz…”
Hugo, em toda a sua glória?

Mad Clown
2) “Poltergeist” (1982, E.U.A.) – Este foi o filme que iniciou o medo irracional de bonecos para muitos. “Poltergeist” é um filme enganador. Os sorrisos de uma família típica americana não conseguem esconder cenário mais perturbador: e se o mal se instalasse no seio da família e atacasse o seu membro mais frágil? Podia enumerar várias cenas para explicar porque é que “Poltergeist” não deve ser visto por crianças mas se não o puderem evitar, a cena que leva o prémio para momento “deve ser supervisionado por adultos” é aquele em que o boneco-palhaço faz das suas. É suposto os palhaços suscitarem a alegria e bons pensamentos mas Robbie Freeling tem medo do boneco que o parece observar enquanto dorme. E olhando para ele como não partilhar dessa opinião? Estava mais que visto o que ia suceder e, quando sucede, o pobre Robbie e vários milhões de crianças ganham medo a palhaços para o resto da vida. Cena Memorável: Quando “Mad Clown” acorda! Instituição que é capaz de não ter gostado do filme: o circo!


"Queres brincar comigo?"
3) “Child’s Play” (1988, E.U.A) – Que seria deste Top sem o seu exemplo mais icónico? Era o mesmo que fazer uma lista de Kaiju mencionar Godzilla! No filme que todos falam mas, em crianças, poucos tiveram a coragem de ver, um serial killer consegue, através do recurso ao voodoo, “reencarnar” num brinquedo de criança. Isso não o impede de continuar a matar pessoas. Andy (Alex Vincent) é o pobre miúdo a quem a mãe, sem saber, oferece Chucky, o boneco que alberga a mente perversa do assassino. Chucky, propriamente dito, não tem um aspecto que grite: “É tão giro. Tenho de ir a correr comprar este boneco para dar ao meu filho”. Mas foi vendido a preço de saldo portanto… Acho que não é muito difícil a qualquer pai perceber onde é que dar um boneco assassino a uma criança de 6 anos é capaz de não correr muito bem. Vejam o lado positivo, se têm um filho pedinchão, ponham-no a ver este filme. Claro que depois é capaz de começar a fazer chichi na cama e renegar os brinquedos mas é por um bem superior. Uma brincadeira de crianças portanto. Cena Memorável: Quando a mãe de Andy percebe que Chucky está a trabalhar… sem pilhas!


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