domingo, 20 de janeiro de 2019

Notas de um Festival de Terror, Edição de 2018 – parte cinco (Final)

“Anna & the Apocalypse” (2017) - Alguma vez partilhei aqui um ligeiro desgosto recente com musicais? Musicais como “The Sound of Music” (1965), um “Mary Poppins” ou qualquer filme do Fred Astaire, com aqui a je é à vontadinha. Agora falem-me em “Glees” (2009-2015) ou Chicagos (2002) e mandar-vos-ei lavar os olhos com filmes de terror. Anna & the Apocalypse centra-se na jovem Anna (Ella Hunt) que tem o desejo de iniciar um ano sabático e partir para a Austrália à aventura para se descobrir, ao invés de iniciar de imediato a universidade o que não conjuga bem com as expectativas do pai ultra protector e de John (Malcolm Cumming), o melhor amigo que mantém por ela uma paixão secreta que só a própria não vê. Inicia-se uma luta pela sua afirmação enquanto jovem adulta e as expectativas dos que a rodeiam e o apocalipse zombie que ameaça acabar com os seus sonhos e a vida de todos durante a época da “paz no mundo”, o Natal. “Anna & The Apocalypse” é uma lufada de ar fresco. Faz o género avançar numa fusão inesperada e surpreendentemente coesa com terror e não lhe faltam quilómetros de charme. Enverga a ingenuidade fofinha de um elenco sobretudo desconhecido e não cai no erro das grandes encenações coreográficas que podem tornar o género por vezes plástico. A pouca encenação que existe é naturalmente ancorada num elenco jovem excitável e um excelente timing cómico. “Anna & The Apocalypse” faz também uma homenagem competente ao melhor filme de zombies do milénio “Shaun of the Dead” (2004). A comédia musical natalícia de terror zombie que não sabia que queria. Quatro estrelas.

Realização: John McPhail
Argumento: Alan McDonald e Ryan McHenry
Ella Hunt como Anna
Malcolm Cumming como John
Sarah Swire como Steph
Christopher Leveaux como Chris
Ben Wiggins como Nick
Marli Siu como Lisa
Mark Benton como Tony
Paul Kaye como Savage

“Brothers’ nest” (2018) – Tendo passado despercebido em favor de filmes como “One Cut of the Dead” ou “Anna & the Apocalypse”, “Brothers’ nest” entra no complicado mundo das relações familiares. Os irmãos Jeff (Clayton Jacobson) e Terry (Shane Jacobson) têm tudo planeado: disseram às famílias que vão passar uns tempos a Sidney para mas na verdade estão à espera do padrasto na quinta da família para o matar. A mãe deles tem cancro e Jeff está convencido que quando morrer o marido irá ficar com a quinta que para ele lhes pertence. A melhor forma de solucionar este problema parece a mais extrema de todas e arrastar o irmão para “o que tem de ser feito” não lhe pesa na consciência. Terry é manipulado pelo irmão mais velho e o plano traçado testa a sua fé no irmão e nas crenças que teve toda a vida sobre a sua infância. “Brothers’ Nest” tem sido equipado a uma obra dos irmãos Cohen e é de facto uma obra fraterna. Clayton e Shane são de facto irmãos e muitas vezes as suas interações são tão naturais que o discurso quase inventado na hora, sobretudo nos momentos em que apontam defeitos no outro ou as falhas óbvias no plano maquiavélico. Quase aqueceria o coração não fosse o caso de se terem juntado para matar o padrasto e ferir o coração de uma mãe doente. À boa forma de uns Cohen, o plano não corre exactamente como planeado e o desvelar da situação não é bonito. Os acontecimentos revelam uma série de verdades desconfortáveis e desemboca numa questão fundamental. Quem queremos ser? “Brothers’ Nest” é menos um filme de terror que um thriller mas ainda assim uma boa aposta Motelx para quem prefere dinâmicas mais assentes na realidade. Três estrelas.
Realização: Clayton Jacobson
Argumento: Jaime Browne e  Chris Pahlow
Shane Jacobson como Terry
Clayton Jacobson como Jeff
Kim Gyngell como Rodger
Lynette Curran como Mãe
Sarah Snook como Sandy


Errementari (2017) – Vinha de Espanha com boas expectativas e já alguns prémios, incluindo o prémio da audiência no Festival de San Sebastian. Num título mais pessoal tinha ouvido falar grandes coisas do filme e, bem, o visionamento acabou por redundar numa desilusão. Errementari passa-se num tempo de perseguição de bruxas e de superstição. A antevisão de aldeões com tochas e forquilhas é acertada. Há um ferreiro chamado Patxi que é um proscrito numa aldeia. Muitas estórias se contam sobre os seus tempos na guerra e os aldeões preferem não se cruzar com ele. Quando Usue uma órfã com um comportamento rebelde se cruza com o ferreiro o seu segredo bem ao cimo. Ele fez um pacto com o diabo para se manter vivo mas não quer cumprir a sua parte do negócio e mantém um demónio seu servo como prisioneiro. A pequena Usue deixa-se enganar pelo demónio e Patxi terá de se despachar antes que o diabo e uma população acicatada pelo desaparecimento da menina lhe venham reclamar a sua vida. Errementari é um conto de fadas basco que faz recordar Del Toro mas com um sentido de humor inesperado. É também daí que advém um dos seus maiores problemas. O demónio que Patxi mantém prisioneiro Sartael é um mimo de se ver: a caracterização do personagem é espectacular. Infelizmente e apesar de Eneko Sagardoy fazer um papelão, o humor do seu personagem mata a atmosfera pesada que antecede o seu aparecimento, seguindo-se mais tarde uma descida aos infernos em imagem gerada por computador onde se denota mais as limitações do orçamento. Sartael é a personagem certa no filme errado. O marketing do filme parece concordar, dado que o trailer de Errementari também fazia adivinhar um filme com muito mais teor de terror que de comédia e, para um dos últimos filmes a ser exibidos na edição de 2018 do motelx, não posso se não concordar. Duas estrelas e meia.

Realização: Paul Urkijo Alijo
Argumento: Paul Urkijo Alijo e Asier Guerricaechevarría
Kandido Uranga como Patxi
Uma Bracaglia como Usue
Eneko Sagardoy como Sartael
Ramón Aguirre como Alfredo
José Ramón Argoitia como Mateo
Josean Bengoetxea como Santi
Gotzon Sanchez como Faustino
Aitor Urcelai como Benito
Maite Bastos como Blanca


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