Em cada ano surge um filme querido por uns quantos mas não tão querido que chegue às listas de melhor do ano. “Insidious: Chapter 2” tinha o potencial para entrar nessas listas (as de terror), arrastado pelo sucesso do seu antecessor. 2012 foi um ano difícil. Houve muita e boa oferta, especialmente, no que toca ao território indie “V/H/S 2”, “ABC’s of Death”, You’re next” e “American Mary” outros de investimento mais avultado e ainda assim inesperados como “The Conjuring”, também do realizador de “Insidious” mas não é como se alguém esperasse que o relâmpago atinge o mesmo local pela terceira vez.
Os Lambert recuperaram Dalton das garras do que quer que o prendia no “outro lado”. No entanto, a aflicção está longe do fim. Elise (Lin Shaye) a médium que ajudou Josh (Patrick Wilson) a resgatar Dalton foi assassinada e Renai (Rose Byrne) começa a denotar atitudes peculiares, pouco características no marido. Para quem viu o filme anterior, esta última constatação dificilmente será uma surpresa. Para os restantes, eis um conselho: “Insidious: Chapter 2” é tão sequela quanto uma sequela pode ser e, neste caso, não ter visionado o primeiro filme constitui um obstáculo à sua compreensão. Despender uns bons minutos de filme apenas tentando compreender a estória é capaz de não abonar a favor dessa mesma obra, digo eu. Ainda sim, “Insidious: Chapter 2” sofre de muitos mais problemas que o facto de ser uma continuação. Tendo Elise morrido e com um suspeito mais do que evidente é bastante estranha a atitude descontraída e desleixada da polícia face ao evento. Serve as conveniências de argumento? Sim. É realista? O menos possível. Qualquer agente com dois neurónios conseguiria chegar com facilidade à identidade do culpado. Conseguindo (sobre)viver com tal falha óbvia, conseguem aguentar 100 minutos de filme… “Insidious: Chapter 2” fragmenta-se em várias direcções, incluindo uma Renai que continua assombrada, desta vez a dobrar pois desconfia que a “entidade” que os ensombra ainda permanece com eles e o facto de Josh revelar um comportamento cada vez mais preocupante e Lorraine (Barbara Hershey) parte com os ajudantes de Elise numa senda para descobrir enfim, as raízes do mal que tocou a sua família.
Dita um dos lugares-comuns do cinema de terror que sempre que existe um qualquer fenómeno sobrenatural inexplicável, a dada altura, alguém tem um momento “ideia luminosa” e decide: “se calhar devia investigar por que é que me está a acontecer isto”. Isso sucede com Lorraine que depois de ter visto o filho Josh por uma assombração em criança e o mesmo repetir-se, agora, com o neto, decide, finalmente, que talvez fosse pertinente compreender as causas da assombração. Ei, mais vale tarde que nunca! E se a investigação não é aborrecida, Wan e Whannell apresentam mais do que bons e numerosos motivos para nos mantermos num estado de expectativa e sobressalto constante. Admito, com um misto de prazer e de culpa que os melhores momentos são aqueles em que depois de um rápido crescendo com aproximação da lente e aumento do som da música à mistura, nada sucede. Valem pelo crescendo da tensão e pela brincadeira com os nervos. A cena que antecede o que pode ou não ser um susto é, ela própria, assustadora. Isso é terror. Foi o que sucedeu com “Insidious” e se veria a repetir, com melhor efeito em “The Conjuring”. Esta dupla sabe do seu ofício. Eles sabem o que têm de fazer para colocar a audiência numa pilha de nervos. O que nos leva ao argumento. Enquanto cada momento brilha por si próprio, enquanto cena ou sequência do mais puro terror, estas peças, em conjunto, não funcionam como um puzzle, como um todo coerente. Há momentos que precisavam de ser afinados para melhor encaixarem no filme global. A exemplo disto, refira-se a dupla Specks (Leig Whannell)/Tucker (Angus Sampson) que apresentam os poucos momentos de comédia do filme. Ou melhor, tentam, porque a comédia é forçada e no máximo só gera mais momentos de riso nervoso. Lá está, a incongruência, numa obra onde todos se encontram ultra-sensíveis, à espera de algo que os faça quebrar. E depois há todo um recurso a analepses e prolepses, tão recorrente que leva ao questionamento sobre afinal, que raio é que se está a passar no presente? Quanto à direcção assumida apenas posso traçar um breve paralelo a “The Pact” (2012), cuja racionalidade soa, apesar de tudo, mais credível que qualquer outra explicação que fosse apresentada. Três estrelas.
O melhor:
- O terror!
- Sentimento de nostalgia (cenário, adereços, cenas reminiscentes de
clássicos)
- Enfoque em Barbara Hershey
O pior:
- A dupla Tucker/Specks
- Qual estória?
- Continuidade
Realização: James Wan
Argumento: James Wan e
Leigh Whannell
Patrick Wilson como Josh
Lambert
Rose Byrne como Renai Lambert
Ty Simpkins como Dalton
Lambert
Lin Shaye como Elise
Rainier
Barbara Hershey como Lorraine
Lambert
Steve Coulter como Carl
Leigh Whannell como Specs
Angus Sampson como Tucker
Próximo Filme: "Double Vision" (Shuang Tong, 2002)