domingo, 28 de setembro de 2014

"Life After Beth", 2014


Pessoal, o “Shaun of The Dead” aconteceu há dez anos. E, se sim, quase todas as comédias de terror de zombies são comparadas àquele filme, chega um momento em que temos de seguir em frente. As comédias de terror com zombies após o “Shaun of the Dead” não são, nem devem querer ser este último. É o mesmo que os críticos da velha escola, que sempre que vêem um filme de zombies remetem sempre para um certo George E. Romero. São referências é certo, mas estas não se podem substituir às películas que assistimos no presente apenas por que na altura fizeram tanto pelo género.
Quando Beth (Aubrey Plaza) morre após ser picada por uma serpente o seu namorado Zach (Dane DeHaan) fica de rastos. Ele ganha uma obsessão mórbida com todas as questões relacionadas com Beth, começando até a passar longos períodos fora de casa, na companhia dos pais desta, Maury (John C. Reilly) e Geenie (Molly Shannon). Os pais e o irmão Kyle (Mathew Gray Grubler) não compreendem que ele perdeu o amor da sua vida, ainda que a relação estivesse a atravessar problemas. Se calhar até acham que ele está a caminhar para a depressão, envolvido que está nas longas sessões de masoquismo em casa de Beth. Aquilo que foi o modo encontrado por Zach para mitigar a dor que sente no coração é-lhe um dia retirado repentinamente. Os pais de Beth deixam de lhe abrir a porta e de o acolher na sua casa, no seu peito. Está na altura de esquecer Beth. Mas ele não está pronto e o que vê um dia choca-o até à sensatez. Beth está na casa dos pais, não se recorda do que lhe sucedeu e continua ainda bastante apaixonada por ele. Onde os pais dela vêem um milagre, Zach vê uma tragédia prestes a acontecer: Beth é um zombie.

“Life After Beth” aborda uma experiência ainda pouco aflorada nos filmes de zombies. O que sucederia se a pessoa que mais amassemos no mundo se tornasse um zombie? Como tanto se tem assistido, quer no cinema quer em televisão, os protagonistas são rápidos a tomar a decisão definitiva, a da morte irrevogável daqueles com quem partilhavam a vida íntima. Ainda que a decisão seja motivada pela compaixão, isto não significa que o acto seja tomado com facilidade. Aquelas personagens que o argumentista tentou convencer-nos de que estavam a atravessar o apocalipse das suas vidas tornam-se desumanas em segundos. Mas “Life After Beth” nunca chega a ser uma tragédia, pois todas as fases da aceitação da morte de um ente querido estão minadas de piadas. A aceitação cega da “segunda vinda” de Beth pelos pais desta, a apatia dos pais Zach e a obsessão do irmão deste com a autoridade constituem pistas para a conclusão mais improvável de todas, o amante de Beth é o menos louco de entre os loucos. Outra inovação é talvez, o enfoque dos personagens nas suas próprias vidas. Estão tão “casados” com a sua própria realidade que não questionam o que sucede em seu redor. E afinal, o que é que está a acontecer mesmo? “O Zach está com uma depressão porque vê a sua namorada morta? Os mortos voltaram à vida? Desde que não interfira com as nossas vidas”. Talvez a ideia mais poderosa seja essa: a de que o Homem é um ser fundamentalmente egoísta e que aceita quase tudo desde que não mexam com a sua comodidade. Ninguém deseja ser um herói, tirando a dada altura Kyle, mas até este é motivado pelas suas próprias razões lunáticas.
Dane DeHaan, aka sósia do Leonardo DiCaprio continua a dar ares de cochorrinho abandonado mas sem enjoar. A sua personagem é a que apresenta maior densidade emocional: tristeza profunda, descrença, alegria, luxúria, está lá tudo. Já Aubrey Plaza nasceu para ser uma zombie. Há qualquer coisa de pouco convencional nesta actriz que lhe dá um certo sentido de perigo e a torna perfeita para os papéis que, regra geral, não funcionam em mulheres glamorosas que necessitam, no mínimo, de um nariz prostético para se parecerem com algo que não elas próprias. Eles estão rodeados por um grupo de actores com décadas de experiência entre si que interpretam personagens unidimensionais é certo, mas nunca surge a sensação de que alguém está a remar contra a maré. Eles acreditam e fazem crer nas parvoíces que saem da boca daqueles personagens.

Quem espera os comos e os porquês de um apocalipse zombie irá sair muito desiludido de um visionamento de “Life After Beth”. Da herança de sangue e terror resta muito pouco. Promete apenas gargalhadas descomprometidas. Há algum problema com isso? Três estrelas.

Realização: Jeff Baena
Argumento: Jeff Baena
Aubrey Plaza como Beth Slocum
Dane DeHaan como Zach Orfman
John C. Reilly como Maury Slocum
Molly Shannon como Geenie Slocum
Mathew Gray Grubler como Kyle Orfman
Cheryl Hines como Judy Orfman
Paul Reiser como Noah Orfman

Próximo Filme: Kuntilanak, 2006

domingo, 14 de setembro de 2014

"71 into the fire" (Pohwasogeuro, 2010)


Todos os países padecem de momentos menos felizes, uma espécie de loucura colectiva que leva a que irmãos combatam entre si, traumatizando gerações inteiras. No meio destes eventos surgem histórias de coragem, façanhas enaltecidas pelos que foram favorecidos por elas e cujos pormenores negativos são propositadamente obscurecidos de modo a alimentar um sentimento patriótico nas gerações futuras. “71 into the Fire” é baseado numa estória verídica que decorreu durante o conflito coreano (1950-1953), na qual 71 estudantes com pouca ou nenhuma formação militar aguentaram durante 11 horas, uma escola em Pohang, ponto estratégico fulcral para os invasores norte-coreanos da companhia 766.

A narrativa apresenta Seung-hyeon Choi como Jang-beom Oh, um estafeta aterrorizado que é colocado na posição ingrata de líder dos estudantes que são largados numa pequena escola para raparigas em Pohang. Depois de falhar espetacularmente num primeiro confronto com o inimigo, ele recebe o voto de confiança do Capitão Seok-dae Kang (Seung-woo Kim) para guardar a escola que, à partida não deverá constituir um alvo importante para o exército norte-coreano. As circunstâncias mudam e os 71 jovens mal preparados e com poucas munições encontram-se perante um exército arrogante, numa manifestação de força e sem qualquer apoio daqueles que os destacaram para a posição. “71 into the Fire” foca-se mais na batalha interior de Jang-beom se erguer à altura da situação como convém e inspirar os camaradas para a batalha das suas vidas. Desde o início a sua liderança é questionada pelo delinquente Gap-jo Koo (Sang-woo Kwon) e os que este recruta para o seu "lado". Para ele não existe um verdadeiro sentido de causa, o mundo é um lugar aterrador, onde é cada um por si. Não existe lugar para heroísmo ou sentimentalismo. Se calhar é o personagem mais realista em toda a película. Mas felizmente, a história faz-nos recordar que há lugar a milagres quando as pessoas se juntam para combater as forças do mal (o que quer que elas sejam). Gap-jo Koo cai na armadilha de se aproximar dos camaradas que atravessam a mesma situação e nos momentos críticos, revela-se o anti-herói que os setenta companheiros de desventura merecem e a bomba de oxigénio perfeita para Jang-beom descobrir a força que lhe faltava para os liderar.

Se a primeira metade do filme se arrasta, são os últimos momentos antes do embate que melhor demonstram o que aqueles jovens deverão ter sentido antes do embate. Num momento eram crianças, no outro os seus olhos assustados mostravam-nos como Homens. A reconstituição histórica sofreu uma influência óbvia de filmes mais realistas como “Saving Private Ryan”(1998) o que certamente o eleva acima do mero instrumento de propaganda baseado em factos reais. O elenco é também competente sendo que o mais conhecido será o cantor pop T.O.P. (Seung-hyeon Choi) que no papel de um introvertido e pouco confiante líder não compromete, demonstrando até que com tempo e experiência terá muito mais a dar no campo da 7ª Arte. Uma jogada de mestre, pois atrai as fãs do “cantactor” sem alienar quem procura um filme mais sério. O final é o standard do género com explosões, discursos inflamados e acrobacias de cortar a respiração. O prazer adiado por vezes sabe melhor e no caso em questão, fora ele mais tardio e “71 into the Fire” perdia o motivo de interesse. De facto, as tácticas para ganhar tempo e o confronto directo só pecam por escassez. “71 into the Fire” não é original mas cumpre a promessa de uma estória empolgante que poderá agradar quer a sul-coreanos quer a um público internacional. Três estrelas.

Realização: John H. Lee
Argumento: Man-hee Lee, Dong-woo Kim e John H. Lee
Seung-hyeon Choi como Jeong-beom Oh
Sang-woo Kwon como Gep-jo Koo
Seung-woo Kim como Seuk-dae Kang
Seung-won Cha como Moo-rang Park

Próximo Filme: "Life After Beth" (2014)
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...