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domingo, 12 de novembro de 2017

"Deep Trap" (Ham-jeong, 2015)


So-yeon (Kim Min-Kyung) e Joon-sik (Jo Han-seon) são um casal que sofre ainda bastante devido com um aborto espontâneo sofrido anos antes. Joon-sik fechou-se sobre si próprio e passa os dias num martírio diário entre o trabalho e o álcool, deixando So-yeon sozinha. Além do sentimento de abandono, So-yeon ressente-se com a falta de intimidade. Desde o acontecimento traumático que Joon-sik desenvolveu impotência e não dá mostras de a conseguir curar sem apoio. Determinada a salvar a relação ferida e gerar o tão desejado rebento So-yeon decide marcar um dia de férias numa ilha remota de descanso e romance. Lá, encontram um restaurante que é gerido por Seong-cheol, um Ma Dong-seok num papel sinistro e a sua bonita irmã muda Min-hee (Ah jin). Após uma noite de bebidas estranhas e comida gostosa, Seong-cheol faz a proposta indecente a Joon-sik: dormir com Min-hee e recuperar a pujança para ter um filho com So-yeon. Entre os quatro é gerada uma dinâmica desconfortável que é aparente a todos quanto a ela assistem mas, sobretudo para So-yeon e, pela sua parte, quase omissa para um Joon-sik semi-alcoólico.

“Deep Trap” é bastante explícito quanto ao que pretende. O cenário isolado, o par de personagens estranhas que não inspiram total confiança, a série de coincidências que leva a que o casal fique preso no local e propostas inconcebíveis são a mera antecipação do que tantas vezes se viu antes no cinema do género. O filme apresenta algumas cenas de sexo que deixam pouco à imaginação e uma cena de violação brutal a que poderá ser difícil assistir. De igual modo, à boa maneira coreana, há duas ou três sequências de extrema violência e que parecem contrastar com o dramazinho romântico sobre um casal que tenta ultrapassar e reacender a chama da paixão que os minutos iniciais aparentavam prometer. O quarteto de protagonistas, liderado pelo experiente Ma Dong-seok que mais uma vez rouba o protagonismo (vide “Train to Busan”, 2016) e é um dos parcos motivo para que “Deep Trap” não caia na penúria total. Ma Dong-seok encontra nuance suficiente no personagem amoral para ainda assim, encarnar o bronco ignorante que pode ser desculpado pela educação que teve e pouca exposição às boas regras de civilidade. Quase podia ser uma boa pessoa se ao menos tivesse tido acesso às oportunidades que outros têm… isto se conseguirem ignorar os maus-tratos a Min-hee.
O que não será de digestão fácil serão algumas das acções dos personagens. Para sociedades mais liberais comportamentos onde o bem-estar e segurança própria são relegados para segundo lugar em favor de agradar ao “Homem” ou a flor delicada que sofre estoica em silêncio, não são fáceis de entender. No entanto, são elementos indeléveis de culturas patriarcais, como a sul-coreana. Onde os países tendencialmente ocidentais verão fraqueza, os orientais poderão encontrar heroísmo. Mas temo informar que se mantém o padrão tantas vezes visto e iguais vezes criticados em filmes coreanos e japoneses. A síndrome de petrificação e de colagem ao chão continua viva. Onde em situações limite a reacção rápida é essencial, os personagens continuam imóveis, chocados com os acontecimentos. Um exemplo paradigmático sucede quando dois homens combatem corpo a corpo e a mulher de um deles permanece imóvel, sabendo bem que o companheiro poderá perder a luta. É um pressuposto que em filmes de assassinos psicopatas e, como a boa tradição de filmes como um “Friday the 13th” (1980) e suas iterações demonstraram, os personagens devem ter uma boa dose de tontice para que sejam apanhados pelo papão. Gostava contudo, de ver a parte do contrato em que diz que os personagens não devem correr e tropeçar bastante ou mais simplesmente ficar colados ao chão enquanto uma figura malévola se dirige a eles para lhes fazer coisas muito más. Por estes motivos “Deep Trap” torna-se um exercício de concentração para não carregar no botão de stop e para o filme quando os personagens agem de forma tão, mas tão, frustrante, que ficamos a pensar que se o assassino os apanhar não se perde nada ou pior, torcer que o assassino os apanhe para limpar o mundo (do cinema) de tamanha estupidez. “Deep Trap” tem zero de factor surpresa. Um casal de betinhos da cidade fica preso no covil do inimigo e sofre horrores a tentar escapar. Been there done that… and better. Próximo. Duas estrelas.

Realização: Hyeong-jin Kwon   
Ji An como Min-hee 
Sun-Jo Han como Joon-sik
Dong-seok Ma como Seong-cheol
Min-Kyeong Kim como So-yeon

Próximo Filme: "Better Watch Out", 2016

domingo, 16 de março de 2014

"Epitaph" (Gidam, 2007)


Um médico recupera, nostálgico, memórias de quando era apenas um interno no hospital coreano de Ahn Seng que se encontra agora em ruínas, durante a ocupação japonesa dos anos 40.

A estória, contada de modo episódico, revolve, primeiro, em torno de Jung Nam (Goo Jin), um estudante de medicina que fica fascinado pelo cadáver de uma mulher encontrada morta num lago gelado. Como em breve ficará a saber, ela tem uma ligação mais próxima dele do que suspeitava. Porque passadas dezenas, para não dizer centenas de filmes coreanos se torna difícil explicar o que é “normal”, Jung Nam desenvolve uma paixão com contornos de necrofilia pela jovem misteriosa. Em outra instância Asako (Ju-yeon Ko) é internada após um grave acidente rodoviário que vitimou a sua mãe. Acossada por estranhos sonhos e visões, Asako luta por recordar os eventos que levaram ao trágico acidente. Culpa de sobrevivente? Ou o subconsciente de Asako esconde um segredo bem mais terrível? Um soldado japonês é encontrado brutalmente assassino o casal de médicos Dong-won (Tae-woo Kim) e In-young (Bo-kyung Kim) desconfiam que este é o resultado do trabalho de assassino em série. O clima de desconfiança aumenta no hospital, quando Dong-won encontra provas que o levam a suspeitar que alguém de dentro do hospital e, em particular, a sua mulher poderão ter cometido o crime. E aqui têm, mais um filme em que os argumentistas consideraram que a linearidade era o maior dos seus problemas e vai daí desdobram uma estória em três. Isso, ou tinham material mais do que suficiente para três curtas e como pensaram que não teriam outra hipótese para criar, optaram por apresentar as ideias que tinham em carteira de uma só vez.

A complexidade da narrativa torna difícil a identificação dos personagens que transitam entre estórias, para se tornarem meros actores secundários e identificar pontos em comum. A morte, o cenário e quatro dias de vida no hospital são as poucas peças do puzzle que nos são facultadas mas até estas são certezas ambíguas pois analepses e prolepses e a entrada no mundo do sonho são uma constante. De tal modo, que por vezes se torna complicado discernir em que plano se encontram os personagens. Em comum, amores de perdição. “O amor é o beijo da morte”. O argumento alterna entre complexos de édipo, amores proibidos e a incapacidade de ultrapassar a perda da pessoa amada do modo mais belo possível. A imagem é tão cuidada, que a brutalidade se torna inócua. Que é que os cineastas fazem de nós se o sangue se transforma numa visão bonita? Descubra o pequeno mórbido que existe dentro de si! Por outro lado, ao glamorizar a morte, perde-se o elemento de terror. Se a dupla de realizadoras pretendia evidenciar a harmonia do amor com a morte, o marketing que enfatiza os elementos de terror contrasta com o espírito do que pretendiam transmitir.

“Epitaph” (2007) é um híbrido de obras como “A Tale of Two Sisters” e antologias de terror que o antecederam com um sentido estético e cultural da Coreia do Sul e do Japão profusamente desenvolvido. Onde, as relações coreanas e japoneses costumam ser ignoradas ou de um ponto de vista que beneficia grandemente o lado coreano, em “Epitaph”, a coexistência não deixa, apesar do momento histórico, de ser pacífica como até existe um casal nipo-coreano. O amor vence todas as barreiras à excepção da morte. Já como obra de terror original, “Epitaph” não vence a barreira do tempo. Duas estrelas e meia.

O melhor:
- Em termos de imagem, “obra de arte” não parece uma expressão demasiado exagerada para descrever o que vemos no ecrã
- Desempenho de Ju-yeon Ko
- Cenário e época pouco explorados no cinema de terror

O pior:
- A complexidade e repetições da estória
- Parece bastante longo para 100 minutos


Realização: Beom-sik Jung e Sik Jung
Argumento: Beom-sik Jung e Sik Jung
Goo Jin como Jung-Nam Park
Ju-yeon Ko como Asako
Tae-woo Kim como Dong-won
Bo-kyung Kim como In-young
Mu-song Jeon como Jung-Nam Park

Próximo Filme: "Kung Fu Hustle" (Kung Fu, 2004)

domingo, 17 de novembro de 2013

"Phone" (Pon, 2002)


Ji-won (Ji-won Ha), uma jornalista destemida tem vindo a receber telefonemas ameaçadores desde que escreveu uma série de artigos baseados na investigação de um caso de pedofilia. O casal Ho-jeong (Yu-mi Kim) e Chang-hoon (Woo-jae Choi) de quem é amiga íntima decidem fazer o papel de bons samaritanos e oferecem-lhe estadia numa das suas casas, onde será difícil aos bandidos encontrá-la. Entretanto, Yeong-ju (Seo-woo Eun), a jovem filha do casal atende o telefone de Ji-won por ocasião de uma das chamadas misteriosas e inicia a demonstrar sinais de possessão. Ji-won é forçada a recorrer à sua mente inquiridora, à medida que os telefonemas se intensificam e a música “Moonlight Sonata” começa a ecoar insistentemente na sua cabeça.

Costuma-se dizer, ou pelo menos foi a informação que me venderam, que o mais difícil em cinema é trabalhar com crianças e animais. Quando uma ideia assim tão louca resulta o produto final pode ser surpreendente. A Aniston e o Owen Wilson que me perdoem mas por algum motivo a película é “Marley e eu” e não os “Grogan e o cão”. Em “Phone”, uma miniatura feminina ainda nem chegada à puberdade rouba o filme das mãos de Ji-won Ha, aquela que é uma das actrizes mais populares da Coreia do sul dos dias de hoje. Deve doer.
E os cineastas não tiveram grandes contemplações para com o “selo” da Disney. A pequena Seo-woo comporta-se como uma adulta sem espaço para subtilezas. Ela irradia ódio, histerismo, sedução, maquiavelismo em doses iguais, brutais. O desempenho faz crer que as emoções que exalta nas cenas com Yu-mi Kim e Woo-jae Choi são mais do que mero fingimento. Ela conhece as emoções com que está a trabalhar, emula mais do que a insinuação e ultrapassa-os em profundidade. É boa demais para uma actriz com menos de dez anos de idade e que praticamente não possui experiência. Quando ela não se encontra a trabalhar o ecrã, “Phone” é apenas mais um numa longa sucessão de hair movies, se bem que, com a vantagem da antiguidade que ainda o torna, ligeiramente superior a muitos que se lhe seguiram. Ji-won interpreta uma jornalista, como convém porque à protagonista cabe sempre a ingrata tarefa de investigar uma série de acontecimentos grotescos. Mais alguém se recordou de imediato do “Ring” (1998)? Há lugar a telefones assombrados um elemento também não inteiramente estranho já que “Phone” foi o instigador original da série de filmes “One Missed Call”. Uma música associada a sarilhos? Conhecida ou pelo menos vagamente reconhecível que é para garantir que ninguém do público esquece. Céus, não sei se alguma vez o vi no cinema… À excepção de “Cello” (2005) talvez. E os elevadores, não sei o que se passa com os elevadores asiáticos mas são todos arrepiantes. As luzes apagam-se ou piscam e invariavelmente o número de ocupantes aumenta (lamento dizê-lo), de modo não tradicional. Novo flashback, desta feita apenas uns meses antes, para o filme dos irmãos Pang “The Eye”. Que aconteceu à música de elevador horrível e aos vizinhos desagradáveis com quem nunca ocorre um desbloquear de conversa excepto pelo final da viagem, assim que já não são necessários dos países ocidentais?
“Phone” é tão aborrecido como os restantes hair movies ou tão divertido como os seus congéneres. É uma questão de perspectiva na verdade. O cliente de um restaurante tendo perante si toda uma variedade de pratos só realiza o pedido do costume se ainda não está cansado de pedir sempre o mesmo. Pois “Phone” não engana ninguém, os créditos iniciais são prova disto mesmo. Apresenta exactamente aquilo que este tipo de cliente espera, com uma ou outra variação: maior ou menor quantidade, se calhar uma disposição dos ingredientes diferente mas a essência é a mesma. No máximo “Phone” é um caso de estilo mais interessante do que a substância e nesse caso como fã assumida do género nada tenho a apontar. Três estrelas.
Realização: Byeong-ki Ahn
Argumento: Byeong-ki Ahn
Ji-won Ha como Ji-won
Yu-mi Kim como Ho-jeong
Woo-jae Choi como Chang-hoon
Seo-woo Eun como Yeong-ju
Ji-yeon Choi como Jin-hie


Próximo Filme: “Ong-bak 2” (2008)

domingo, 5 de maio de 2013

TOP Saga “Whispering Corridors” (1998-2009)


Trailer de "Whispering Corridors" (1998)

Duas belas tardes, nos idos de março (notem bem a referência cinematográfica, hã?), muni-me das armas essenciais de qualquer cinéfilo que se preze: chocolate, uma manta, lencinhos renova, que isto nunca se sabe quando a lágrima se forma ao canto do olho e decidi-me a visionar a saga de terror coreano “Whispering Corridors”.

“Whispering Corridors” é um dos primeiros clássicos do final dos anos 90 que contribuíram para a insanidade temporária ao redor do j-horror e k-horror. A saga gerou cinco filmes, o último dos quais estreou apenas há alguns anos (2009) e, provavelmente encerrou um dos capítulos mais famosos do cinema de terror sul-coreano. Impressões: as estudantes de liceu são bastante desenvolvidas em termos de físico (ou isso ou já contratavam actrizes mais novas para os papéis, só um pensamento), contem com uma percentagem de 0,00000000000123% de testosterona neste filme, toda a gente a dada altura pensa em matar-se ou chega mesmo a suicidar-se, os colégios femininos são um inferno e os tipos que trataram do marketing dos filmes são uns génios. Se desejam descobrir em que se baseiam estas impressões sigam sem demoras para o TOP Saga “Whispering Corridors” do Not a Film Critic.

1) “Whispering Corridors 2” – Memento Mori (1999): Min-ah é uma colegial demasiado curiosa para seu próprio bem que encontra o diário esquecido de uma colega de turma. Ao invés de o devolver ela dedica-se a explorar cada página que foi decorada como se de um tesouro se tratasse por Shi-eun e Hyo-shin de quem corre o rumor de que estão envolvidas romanticamente. Quando Hyo-shin salta do telhado da escola para a morte, Min-ah e as colegas começam a ser alvo de eventos sobrenaturais cada vez mais aterrorizantes. Conseguirá Min-ah descobrir a ligação entre o diário e o fenómeno antes que seja tarde demais?

2) “Whispering Corridors” (1998): O último ano de secundário inicia-se com uma tragédia. Park, uma professora a quem as alunas chamavam pouco afectuosamente de “Velha Raposa” é encontrada morta por enforcamento, na escola por duas alunas. Jae-yi é a típica rapariga tímida em quem ninguém repara até ao último ano e Ji-oh é a jovem artista cheia de talento que os professores conservadores adoram odiar. Elas encontram numa sala de aulas desactivada o local onde estudar e criar arte sem ninguém as incomodar. Diz-se pela escola que o local é assombrado pelo fantasma de uma antiga aluna que morreu ali 9 anos antes e que esse evento poderá estar relacionado com a morte da professora Park.

3) “Whispering Corridors 4: Voice” (2005): Young-eon passa os dias a treinar canto com a professora ou se deixa ficar até bem tarde de noite, no estúdio da escola. Um dia ela ouve um barulho e ao investigar, acaba por ser assassinada com uma pauta de música. Ela transforma-se num fantasma condenado a vaguear os corredores da escola até conseguir alcançar um qualquer tipo de resolução que lhe permita passar para o outro lado. A sua única esperança é a melhor amiga Sun-min que parece ser capaz de a ouvir do além. Recorrendo às últimas memórias antes da morte e a investigação no mundo dos vivos de Sun-min tentam descobrir quem está por trás da sua morte.

domingo, 31 de março de 2013

"Death Bell 2" (Gosa 2, 2010)



Um dos slogans para este filme podia ser: “adolescentes idiotas continuam sem saber dominar regras básicas de sobrevivência”. Isso, ou então é um universo qualquer em que não vêem filmes de terror. Podiam ver o “The Cabin in the Woods” (2011), por exemplo, a ver se aprendiam algumas coisinhas. Desculpem alguma coisa mas custa-me ver a juventude reduzida a uma cambada de ignorantes sem inteligência ou artificio. Se o futuro se reduz a uma juventude com as capacidades intelectuais equivalente à dos personagens deste filme a Coreia do Sul espera uns próximos anos complicados.
“Death Bell 2: Bloody Camp” trilha o mesmo caminho do antecessor: um slasher onde os alunos de uma escola são carne para canhão, com a promessa de mais sangue e mortes ainda mais elaboradas. A estória deste filme não tem ligação à do filme de 2008, dando apenas uma piscadela de olhos aos eventos anteriores. Tae-yeon (Seung-ah Yoon), a estrela da equipa de natação da escola é encontrada morta na piscina. Suspeitando que a rapariga se atirou da prancha superior, as autoridades declaram a morte acidental. Entretanto, a meia-irmã dela Se-hee (Jiyeon Park), que também frequenta essa escola passa um mau bocado às expensas de Ji-yoon (Ah-jin Choi) e as suas amigas. Após o assassinato da professora de natação, os alunos descobrem que estão encurralados na escola e sem hipótese de ajuda do exterior. A única hipótese de sobrevivência reside em serem capazes de solucionar quem é o assassino e o seu motivo… Como ali parece não haver duas pessoas com mais de dois neurónios entre elas, as mortes sucedem com alguma frequência. Mais por culpa da sua própria inabilidade do que por uma inteligência extraordinária do assassino. Eles dedicam mais tempo às quezílias de miúdos que não têm mais nada que fazer e a tomar atitudes desprovidas de sentido como separar-se e apontar o dedo aos que percepcionam como mais fracos. Do género: “pode ser que o assassino esteja mais interessado em apanhá-lo do que a mim” ou “se o assassino for atrás dela dá-me tempo para fugir”… Não ficam extremamente orgulhosos da humanidade nestas alturas?
“Death Bell 2: Bloody Camp” sofre sobretudo por ser a sequela de um filme francamente superior à maioria dos filmes de terror que andam por aí. Esta sequela é um esforço desleixado. Não aprenderam nada com o primeiro filme que tinha uma estória minimamente compreensível, um par de protagonistas sólidos e com quem se simpatizava com facilidade e encenação das mortes bem construída. Em “Death Bell” sofria-se com antecipação de uma próxima vítima cuja entidade nunca era óbvia. A tensão era crescente e desde que a semente era plantada até ao golpe final era um martírio, não só pelos requintes de malvadez mas pela incapacidade de prever se estudantes e professores seriam capazes de juntar esforços com sucesso para salvar a vítima. “Death Bell 2: Bloody Camp” afasta desde logo a possibilidade de união entre os estudantes, tornando a tarefa de todo em todo mais simples para a mente malévola por detrás dos crimes e menos excitante para os espectadores. O enredo é muito mais intricado e faz ainda menos sentido que o primeiro filme. Só no último quarto de hora é que finalmente se compreendem os porquês da trama. Por essa altura, não só a probabilidade de acreditarmos no que estamos a ver é diminuta como já nem interessa.
Os personagens são em demasia e demasiado desinteressantes, malcriados e insolentes. Jiyeon Park que interpreta a única personagem com quem nos devíamos identificar é terrível no papel de Se-hee. Onde a representação do filme anterior era respeitável, aqui está ao nível de alunos do primeiro ano do curso de representação que foram lá parar por engano. A sua presença não é de todo inocente. Ela é considerada jeitosa na Coreia do sul e é membro do grupo de k-pop T-ara. Se bem se recordam, em “Death Bell”, a companheira de banda Eun-jung Ham era uma personagem-chave. A diferença está em que enquanto esta última é uma boa actriz, Jiyeon, bem… E eu adoro um bom golpe de marketing como o próximo, quando resulta. É um tédio. Um slasher que é um tédio? Sim, leram aqui primeiro. Duas estrelas.
Realização: Seon-dong Yoo
Argumento: Hye-min Park, Jeong-hwa Lee e Gong-ju Lee
Ah-Jin Choi como Ji-yoon
Jeong-eum Hwang como Eun-su Park
Chang-wuk Ji como Soo-il
Su-ro Kim como Seong-sang Cha
Hyeon-sang Kwon como JK
Bo-ra Nam como Hyeon-a
Eun-binPark como Na-rae
Ji-yeon Park como Se-hee
Un-son Ho como Jung-bum
Seung-ah Yoon comoTae-yeon
Shi-yoon Yoon como Kwan-woo

Próximo Filme: "Riding Alone for Thousands of Miles" (Qian li zou dan qi, 2005)

domingo, 10 de março de 2013

"Death Bell" (Gosa, 2008)


Há poucos cenários com maior potencial para o macabro e tenebroso que uma sala de aulas coreana. A ambição desmedida e alta competitividade são lugar-comum neste sistema educacional. É um lugar onde ser bom não chega. Ser bom não é suficiente para receber um elogio. Ser bom é apenas um motivo para se ser encorajado a fazer mais e melhor. O objectivo é ser o melhor da turma e, depois disso, o melhor da escola. A meta: chegar às universidades mais prestigiadas para aceder aos melhores cargos. Menos que isso é um fracasso. Que tal isto para pressão? “Death Bell” inicia-se num desses períodos extenuantes. Os alunos já se encontram na recta final de exames mas existe ainda um último desafio antes das férias de Verão: um grupo de estudantes ingleses vai visitar a escola e dois professores têm a tarefa de preparar os vinte melhores alunos da escola, uma elite excepcional, para impressionar os visitantes. Eis que quando todos já saíram para aproveitar as férias e os escolhidos iniciam mais uma série de exames toca a campainha da escola e a televisão da sala liga-se. Uma das alunas está num tanque que se está a encher rapidamente de água. Nas paredes do tanque uma equação. Uma voz sobrehumana dita as regras: eles terão de resolver a equação ou a rapariga morre. Se tentarem sair da escola morrerão. E com o desaparecimento dos telemóveis e corte de comunicações estão impossibilitados de contactar o exterior… Parece urgente o suficiente?

“Death Bell” segue a tradição de armadilhas extremamente elaboradas à la franchise “Saw”, onde os protagonistas estão bem cientes das consequências do fracasso em concretizar as “instruções”. Há um enorme engenho por trás das mortes e “Death Bell” é um dos poucos filmes de terror que felizmente não cai no habitual truque do fantasma vingador. Há alguém realmente inteligente e maléfico a planear o esquema tenebroso, o que é capaz de ser, a meu ver ainda mais assustador. De facto, toda a encenação por trás das mortes recorda “Bloody Reunion”, um filme bastante superior em termos de enredo mas não menos importante pelo impacto visual. “Death Bell” foi realizado por um homem do mundo dos videoclipes e é para a imagem que ele tem apetência, não nos iludamos. Por que sim, persiste a tradição de personagens idiotas com ideias completamente descabidas: “embora separar-nos?”, melhor ainda, “estamos todos a morrer, embora virar-nos uns contra os outros?” Mas este filme foi criado para servir um público mais jovem. Uma sala de raparigas pré-adultas em uniforme escolar e rapazes capazes de fazer qualquer uma sucumbir ao seu charme masculino contribuem para uma obra que sabe que vive mais da forma que de conteúdo. Entre os principais motivos de atracção para a audiência jovem encontram-se o jovem actor e modelo Kim Bum (eu não disse que quase não há gente feia naquele sítio?) que faz o papel do rebelde Hyeon e a heroína com um bocadinho mais de cérebro que os génios que a rodeiam I-na (Gyu-ri Nam).
Esta última, tão ou mais conhecida pela polémica confrontação pública que opôs a sua agência de entretenimento e os membros da sua ex-banda a ela própria assim como as inúmeras cirurgias plásticas a que se submetem. Ela é o sonho de qualquer cirurgião plástico e um dos principais argumentos a favor da cirurgia estética. Digamos que a vida dela no espectro público foi bastante beneficiada pelas alterações cosméticas a que se submeteu. De destacar ainda a presença da Eun-jung Ham das T-ara num curto mas importante papel. “Death Bell”, com apenas 88 minutos de duração é altamente eficaz a chegar do ponto A ao ponto B. Não se detém em pinceladas dramáticas como tantas vezes sucede no cinema sul-coreano. Apresenta as personagens importantes, quase todas reduzidas ao estereótipo, foca os ataques não mais do que o tempo necessário e concentra-se na resolução da trama. Ora porquanto o como seja extremamente elaborado é o porquê que mais deixa a desejar. Se o motivo está ao alcance de qualquer pessoa com dois neurónios é o quem que mais intriga. A esse respeito, a intransigência da edição será um dos grandes culpados. Há momentos em que as transições de cena são pouco fluídas e apesar de não se perder o sentido, persiste a ideia que um pouco mais de conteúdo teria ajudado a conferir mais sumo à estória. Mas não podemos ser muito esquisitos. Foi uma hora e vinte minutos de diversão que me prometeram e cumpriram. Três estrelas.
Realização: Hong-Seong Yoon
Argumento: Hong-Seong Yoon e Eun-kyeong Kim
Beom-soo Lee como Chang-wook Hwang
Gyu-ri Nam como  I-na
Kim Bum como Hyeon
Yeo-eun Son como Myong-hyo
Eunjung Ham como Ji-won


Próximo Filme: “Clash” (Bay Rong, 2009) 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

"The Wig" (Gabal, 2005)


Mais uma entrada para a molhada da brigada de cabelos negros certo? Errado. “The Wig” é mais uma versão do onryo (fantasma vingativo) que pulula o cinema asiático e muito mais. Quando o reinado de uma entidade de terror que vale por si própria termina, a película necessita de mais em que se apoiar e nesse aspecto “The Wig” tenta escapar à corrente dominante. Mais próximo de “A Tale of Two Sisters” (2003) do que um “Ringu” (1998), “The Wig” foca-se na relação de duas irmãs, enquanto aguardam pela morte de uma delas com cancro em estado terminal. Ji-yeon (Seon yu)é a irmã mais velha que vê a irmã mais nova, a decair a cada novo dia enquanto tenta preparar-se para o inevitável. Como boa irmã, tenta minorar a miséria de Su-yeon (Min-seo Chae), comprando-lhe uma peruca para cobrir a careca provocada pela quimioterapia e cedendo a todo o tipo de indulgências. Ji-yeon sofre com a morte precoce iminente que a roubará de experiências como viver um primeiro amor. Não bastasse o facto de a irmã mais nova estar prestes a falecer e sem nada poder fazer, Su-yeon vive ainda atormentada com o acidente de viação que lhe retirou a voz e um namorado que foi incapaz de lidar com a nova situação. Não fosse o Not a Film Critic um blogue que privilegia o terror e diriam estar perante um dramalhão. Também é. Mas isso não é propriamente novidade. No que dia em que o cinema coreano decidir apostar num cinema mais convencional, sem o habitual enfoque dramático, perde a identidade.
Filmes com objectos inanimados que subitamente adquirem vida são de alto risco. Ou apostam na risada assente na premissa absurda e levam o conceito até às últimas consequências ou são tão sérios que a ideia morre à nascença. “The Wig” encontra-se entre os dois extremos. A peruca nunca se torna um elemento autónomo, apenas o catalisador para o melodrama de terror (ou terror melodramático, este é complicado de classificar)! Lume brando é a expressão que melhor define “The Wig”. Os sustos são espaçados e nem sempre previsíveis.  O drama é uma constante. O que também é uma constante é a interrogação sobre o que se está a passar. Enquanto o estado de Su-yeon é bastante óbvio, a mudez de Ji-yeon é uma enorme fonte de distração. Nos primeiros minutos de filme uma pessoa pensa que os argumentistas são minimalistas, depois vem a possibilidade de Ji-yeon estar em estado de choque com a doença da irmã, seguindo-se a ideia de que afinal ela é uma mulher fria ou, se calhar, sempre foi muda mas… Porque é que não avisaram?! Então, vindo do nada surge um flashback que demonstra um acidente horrendo que explica como é que a irmã mais velha perdeu a fala e, consequentemente o namorado. Claro que depois, qualquer simpatia que se pudesse ter pelo naco de carne asiático é eclipsada. Ah! “Ele é um estupor, como pôde deixá-la naquele estado?” Tudo razões do coração que, bem vistas as coisas, de nada valem. Como reagiriam se a mulher amada perdesse a voz para todo sempre? Se bem que esse nem é o menor dos problemas do homem… Já que Su-yeon surge mais insinuante que nunca e deseja tê-lo, o mais possível. Último desejo de uma mulher moribunda? Ou possessão demoníaca pela cabeleira? Embora, alguém pode censurar uma mulher que sabe que vai morrer muito brevemente de ter uma aventura final?


O trabalho das actrizes é soberbo. Enquanto Ji-yeon fala com recurso ao olhar e à gestualidade, Su-yeon alterna entre uma fragilidade e força renovada que demonstra uma tremenda evolução na personagem. A sua actuação, além caracterização, permite-nos entender com clareza quando ela é a doente terminal e quando é a mulher sedutora com ânsia de prazer. A representação da dupla é negada por um argumento cobarde já que “The Wig” tem pelo menos dois finais. O primeiro incide no fenómeno sobrenatural que ninguém adivinha, já só mais de metade da duração do filme é que surgem as primeiras indicações sobre a peruca “assombrada” e o outro numa explicação racional, ilustrada vezes sem conta. O público, ao contrário, do que devem pensar, não é ignorante e consegue juntar as pistas até à conclusão óbvia. Tudo o mais são artifícios para uma película que já tinha terminado durar, durar, durar. O toque melodramático final, quando chega nada mais é do que uma tremenda irritação. Tanto quiseram fazer que perderam a beleza da simplicidade que lhe estava subjacente: duas irmãs e o seu modo de lidar com uma tragédia. Três estrelas.
Realização: Shin-yeon Won
Argumento: Sung-won Cho, Hyun-jung Do e Shin-yeon Won
Min-seo Chae como Su-hyeon
Seon yu como Ji-yeon

Próximo Filme: Casshern, 2004 

domingo, 9 de dezembro de 2012

"City Horror - Song of the Dead"


O terceiro capítulo da série sul-coreana realizada para televisão tenta demarcar-se das estórias anteriores através de um regresso ao passado. Enfase, no tentar por que, para todos os efeitos, um filme sobre espíritos continua a ser um filme sobre uma assombração, seja ontem ou hoje. Algures no ano 500, a General Bai Lan conduziu o seu exército contra uma pesada derrota face a Sun Law. A sua fama de impiedosa e o medo de que pudesse regressar além campa faz com que uma bruxa lance um feitiço sobre ela. Nos tempos actuais, Wai Lai e o produtor Wing encontram num antigo estúdio a melhor opção para as suas carreiras deslocar. Entre os velhos papéis do local, Wing encontra uma canção inacabada e decide completá-la. Entretanto, Wai começa a ter visões de uma mulher de vermelho e procura o apoio de Wing mas ele está demasiado envolvido com o seu mundo interior, como se estivesse possuído. Qual a ligação entre a aparição e a canção misteriosa? Se a conexão entre estórias não fosse por demais óbvia… Mas esse ainda é o menor entre os problemas (demasiados), que “Song of the Dead” apresenta.
A canção dos mortos surge do nada e para lá regressa. Qual é o significado da canção? Por que é tão especial que se torna a ponte entre o passado e o presente? Além disso, alguém me consegue explicar, se Bai Lan é que foi amaldiçoada e viu o seu espírito prisioneiro, o que faz um dos seus soldados nos dias de hoje? Isto, só em termos de argumento, já que no que se refere à sonoplastia e cenografia, “Song of the Dead” fica uns bons furos abaixo de um trabalho aceitável efetuado por alunos do 3º ano do curso de cinema. Parece que o orçamento explodiu nas cenas de batalha e respectivos figurinos, o que fez com que as cenas, na atualidade e no próprio estúdio sofressem bastante. É de aplaudir a utilização em determinados momentos da luz e da sombra para esconder a escassez de meios. Nem o elenco completa o cenário, passeiam-se pelo ecrã como sombras, como se fossem artigo secundário de um evento principal que nos escapa a todos.  Recordam-se daquele ditado do senhor Wilde no qual ele dizia: “falem bem, falem mal, mas falem de mim”? Quer-me parecer, volvida uma década que não há memória desta canção dos mortos. Uma estrela.


Realização: Gyu Hwan Lee
Argumento: Alex Garland, Carlos Ezquerra e John Wagner
Ri-su Ha, Hyun-jin Kim, Tae-hwa Seo e Ga-yeon Kim


Próximo Filme: “The Good, the Bad, The Weird” (Joheunnom nabbeunnom isanghannom, 2008)


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

"City Horror - The Evil Spirit" (2002)


Sabem aqueles acontecimentos que são tão traumáticos, tão dolorosos que só queremos fugir e nunca mais olhar para trás? Mas, qual pesadelo, regressa para nos assombrar? Cha é uma rapariga do campo que fugiu para a grande cidade, onde consegue vingar na sétima arte. A pretexto de mais um trabalho Cha é reconduzida para a terra natal. Muitos dos que conheceu já faleceram, outros tantos parecem levar vidas estagnadas. Um pé à frente do outro para sobreviver, que a vida ali não tem grandes alegrias. As perspectivas são nulas e nem todos podem ir para a cidade como a pequena misse citadina…
E enquanto ela e a sua equipa vai perturbando as aparentes águas calmas do local, ela recorda uma menina que teve uma morte prematura. Onde as outras crianças da aldeia viam uma garota estranha ela via uma potencial amiga, de quem tinha pena por ter perdido a mãe. Até que um dia tudo se desmoronou, um erro desfez sonhos e eles afastaram-se, perderam-se numa vida que podia ter sido de sucessos. Agora que Cha regressou, Yah desperta de um sono atormentado. Finalmente, todos pagarão pelo mal que lhe fizeram.
Espirito maléfico? É curioso como tudo o que não é “natural”, é logo automaticamente rotulado de maléfico. É quase facto universal que raparigas com cabelo negro e descabeladas não são sintoma de boas coisas por vir. Mas vamos lá analisar por um momento as meninas. Quase todas tiveram mortas horríveis e a grande maioria nem sequer foi especialmente bem tratada em vida. Por que não haveriam de retornar para se vingar dos vivos? É suposto que vão para o céu e perdoem os que as magoaram e até lhes causaram, por vezes, a morte? A piedade é para os vivos. E não conhecendo fronteiras na morte, tenham medo. Tenham muito, muito medo. O resto é a estória habitual com um final igualmente previsível. Se bem que, terei ali visto laivos de “Shutter” (2004)? Juro que se mais algum episódio da série tiver “inspirado” outras obras, ganharei um novo respeito sobre a série.
“The Evil Spirit” não se afasta um milímetro dos temas recorrentes do cinema sul-coreano. O cenário é o  microcosmos habitual, aldeia/vila/localidade mais ou menos isolada, na qual a população local vive embrenhada na sua própria realidade e não possui capacidade psicológica acolher outras realidades, chegando até a repudiar qualquer tipo de influência exterior. Possuem pois, regras implícitas auto-impostas que às vezes se substituem à própria lei, deixando margem para que cometam os actos mais obscenos sem medo de punição. Subjacente, está ainda o binómio homem/mulher que só parece funcionar quando o género masculino tem o ascendente sobre o feminino. Se ela não for subjugada pelo homem é considerada louca. Se ela for independente e liberal, parece sempre existir algum tipo de crítica ao seu estilo de vida. E claro, numa micro-sociedade tão opressora como pode a mulher não se rebelar, mesmo que só além do corpo, no meio metafisico, o único local onde parece ser consensual que ela é mais forte? Do género: “vêm como nós até consideramos o sexo feminino poderoso?” Sim, mas tiveram de o transformar num ser maléfico. Ao menos os que forçam a mulher a fazer coisas que não quer, assumem aquilo que são. Hipócritas!
Para mal da audiência “The Evil Spirit” nunca é mais do que os temas que lhe estão subjacentes, nunca é mais do que a historieta de terror que não funciona assim tão bem por que, pronto, a pequena vilã é adorável e, não estão mesmo á espera que tenhamos medo quando se vê uma actriz obviamente pendurada por cabos? Duas estrelas.

Actores: Kei Yung Lee e Kai Wing Cho

Próximo Filme: "A Designar (Porque a sério, isto está mesmo difícil de adquirir filmes"

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

“City Horror – Scream” (2002)


Não, o filme anteriormente anunciado (“The Good, The Bad, The Weird”) não se transformou por via mágica numa mini-série de terror. Existiram… Problemas técnicos e fiquemos por aí. Ei, ao menos é made in Coreia. Pronto, pronto, não há modo de mascarar o facto de “Scream”, um episódio feito para televisão ser infinitamente inferior ao western cómico de Jee-woon Kim. A isto, meus amigos, chama-se cativar os leitores para cá voltarem à procura desse filme, fiquem atentos!
“Scream” (nada a ver com o clássico do Wes Craven, atenção) é uma surpresa daquelas de “onde é que já vi isto antes?” mas, ao contrário. Então não é que “The Cut” (2007), do qual já tivemos oportunidade de abordar antes. É que, se fizeram as contas “Scream” tem menos 5 anos que a película feita para tela. Daí resulta que “The Cut” consegue ser menos original do que pensava e que é apenas uma versão polida do que pode ser um potencial episódio de culto. Mais, significa que, em 2002, com “Ju-on – The Grudge” a bombar e “Ringu” com capacidade para queimar os últimos cartuchos “Scream” e a descabelada de serviço ainda conseguiam fazer gelar espinhas.
Meia dúzia de estudantes de medicina é convocada a meio da noite para preparar os cadáveres para a próxima aula de anatomia. Vão dissecar corpos. O que é sempre interessante. Ou melhor, aquela altura em que depois de enterrar a cabeça nos livros e descobrir que têm crânio para decorar tudo e mais alguma coisa no corpo humano, não têm estômago. Fixe. Algures naquela interacção acordam algo que devia ter permanecido adormecido e um dos corpos retorna, (do mundo dos mortos, passe a redundância, sim), para acabar com os estudantes: um a um, como nos filmes. Uma das conclusões imediatas que posso retirar vendo uma “simples” série de televisão coreana é que eles não têm gente feia. Por outro lado, o conceito de estudantes lá é um bocado estranho. Grande parte dos actores não passa por ter idade para frequentar a faculdade de medicina. Por outro, para potenciais médicos ou investigadores na área da medicina, não são especialmente perceptivos ou inquisitivos. São meras criativas passivas. As mortes também não particularmente brilhantes. Ocorrem fora de cena. Ora, onde um bom realizador criaria suspense para que o que sucede fora do alcance do olhar esteja repleto de suspense, “Scream” é básico, morno, desinteressante. E na verdade, nem os nomes das personagens se sabe por altura dos créditos, tal foi a experiência. E os gritos?! Creio que para um episódio com o nome “Scream” das primeiras coisas que se fazem no casting é pôr os actores a gritar. Digamos que essa parte lhes deve ter passado ao lado.
Sabem aquelas noites frias em que só apetece ficar debaixo de um cobertor e consumir doses massivas de televisão? É isso e ser um fã do género terror pouco exigente. Serve e pouco mais. Duas estrelas.


Argumento: Gyun-huan Lee
Jae-huan Na, Ho-kyung Go, Chae-yeon Kim, Gee-hyun Kim, Hyun-gyun Lee, Tai-woong Lyu, Yong-woo Park, Soo-yung Song


Próximo Filme: “The Good, the Bad, The Weird” (Joheunnom nabbeunnom isanghannom, 2008) Será que é desta?

domingo, 4 de novembro de 2012

"The Red Shoes" (Bunhongsin, 2005)



Do conto-de-fadas moderno fazem parte itens como a casa grande, as aulas de ballet e um roupeiro cheio de sapatos. De preferência um armário só para sapatos, onde estes possam ser ostentados e adorados, além de calçados. Ao melhor preço que o gosto pode alcançar. Acima de tudo bens, visíveis e passíveis de apreciados e invejados pelos outros. O prazer de saber que os outros anseiam pelas nossas possessões é pouco superior ao de nos sabermos donos e senhores daquilo que detemos. Do sonho apenas se excluem maridos infiéis, filhas desobedientes e a sensação de que somos apenas um bocado de carne andante, que apenas serve para cumprir um desígnio superior… de outra pessoa.
Sun-Jae (Hye Soo Kim), tem um brutal acordar para a realidade quando encontra o marido com outra mulher e, ofensa maior, que calça os seus belos saltos altos durante o acto sexual. Sun-Jae abdica do sonho que era na verdade um pesadelo mas, só ela não o queria ver e foi a última a compreendê-lo com toda a dor que isso implica. Ela muda-se com Tae-su (Yeon-ah Park), a filha menor, para um apartamento decrépito. Lá, tenta manter pequenas lembranças da vida de luxo anterior, como o expositor dos seus belos sapatos, ao mesmo tempo que recupera forças para iniciar um negócio por conta própria. A filha, essa, rebela-se. O pai que era incapaz de lhe dizer a palavra “não” e gostava de a ver dançar era muito melhor.
Por entre a recém-descoberta vida de mãe solteira e o interesse súbito de In-cheol (Seong-su Kim), o designer de interiores que escolheu para decorar o escritório, Sun-Jae encontra um par de sapatos cor-de-rosa intenso. E estão ali, no meio de uma carruagem do metro, abandonados. Como é possível? Ela arrisca. Assentam na perfeição. Como se tivessem desenhados para os seus pés. E finos, requintados. Logo ela, que nunca admitiria ter encontrado os sapatos. Ela é o tipo de mulher a quem se oferecem sapatos. Caros. Sun-jae sente-se desde logo assombrada e encantada. Pois que eles têm memória e, rapidamente, Sun-jae alterna os momentos de realidade com a ficção do novo par de sapatos que encontrou. Mas os saltos de princesa cor-de-rosa também encantam a outrem. Os seus sapatos atraem o olhar lascivo dos homens e a inveja das mulheres e, não tarda, também a morte.
“The Red Shoes” baseia-se no conto de Hans Christian Andersen “Os sapatinhos vermelhos”, no qual, o sueco relata a estória da queda de uma menina pobre que se deslumbrou e descurou os seus deveres por causa de um par de sapatos vermelhos recém-adquiridos. Perante a sua crescente vaidade e desleixo pelos outros, os sapatos foram amaldiçoados e ela condenada a dançar para todo o sempre até que, cheia de dores implorou a um carrasco que lhe amputasse os pés. Ela viveu o remanescente dos seus dias aleijada mas feliz com a nova descoberta de piedade e amor pelo próprio. Quanto a mim esta é uma moral um bocado psicopata, não que a minha opinião venha ao caso, embora, tal conto mais depressa inspire o temor nos jovens do que os incite a uma reflexão sobre os efeitos do seu comportamento sobre os outros. Ainda que narrativa da película seja uma adaptação tão livre do conto que poucos a associem a Anderson, a fotografia é excepcional e evoca o conto de fadas. Valha-nos a imagem, bela e assombrosa, como as estórias de Anderson. Bela e arrepiante, nomeadamente nos momentos em que o sangue corrompe superfícies alvas e limpas, trazendo poluição ao perfeito mundo minimalista que poucos segundos antes ali tivera lugar. Estas cenas são tão mais evidenciadas pela ausência de figurantes. Todos os espaços públicos estão desertos. Apenas quando a personagem principal está em cena, o mundo parece um pouco mais povoado mas mesmo assim são poucas as ocasiões para tal. Sun-jae vive numa bolha com a filha. Quando corpos estranhos se tentam introduzir nela acabam por sofrer as consequências fatais. Mas até no número de mortes “The Red Shoes” é minimalista. Curiosamente é a narrativa que se encontra pejada de ideias, demasiadas, cuja existência, perante um desenlace tão óbvio, é muito duvidosa. Optaram por esta opção ao invés de se manterem na linha minimalista que antes tinha sido demonstrada. Face a opções tão idiotas só posso concluir com o velho princípio KISS - Keep It Simple Stupid! Duas estrelas e meia.


Realização: Young-gyun Kim
Argumento: Young-gyun Kim, Sang-ryeol Man e Hans Christian Andersen (conto)
Hye-soo Kim como Sun-jae
Seong-su Kim como In-cheol
Yeon-ah Park como Tae-su

Próximo Filme: "Art of the Devil 3" (Long khong 2, 2008)

domingo, 9 de setembro de 2012

"A Tale of Two Sisters" (Janghwa, Hongryeon, 2003)



Janghwa, Hongryeon, que se pode traduzir qualquer coisa como "Flor Rosa, Lótus Vermelha", é a estória de duas irmãs que retornam ao lar após receber alta da instituição onde estavam internadas após a morte da mãe, para encontrar a nova madrasta Eun-joo (Jung-ah Yum), já lá a viver. Segue-se uma luta de poder pelo único elemento masculino da família disfuncional. A madrasta recebe Soo-mi (Su-jeong Lim) e Soo-yeon (Geun-young Moon) com deferências exageradas, imediatamente percebidas como falsas e, Soo-mi a mais velha e líder natural apressa-se a deixar claro que despreza as atenções que lhes são dirigidas.
A rejeição do novo elemento da casa, bem patente na personagem de Soo-mi, quando um dos pais volta a casar não é incomum. Na verdade estas relações não são se não um híbrido de simbiose, com a madrasta a desdobrar-se em comportamentos que a fazem parecer melhor do que na realidade é para atingir a harmonia familiar ou, pelo menos, a paz podre, enquanto se esforça para demonstrar ao marido que está a fazer tudo ao seu alcance para criar laços com as filhas de uma relação anterior.
No outro lado do espectro encontra-se Soo-mi que se recusa a reconhecer a nova madrasta, dando-lhe a entender que nunca será aceite. A madrasta nunca poderá substituir a sua mãe e, ter este pensamento sequer, é uma ofensa à sua memória. Soo-mi não se coíbe de deixar bem claro este pensamento à madrasta e ao pai Moo-hyeon (Kap-su Kim), que vê como um homem fraco. Ele devia ter sido capaz de resistir à solidão e à tentação, em honra de um amor anterior, puro e que lhe deu os dois bens mais preciosos que tem. Como pode ele negar o sangue por uma intrusa? Ela é melhor que ele por causa dessa rejeição extemporânea. Mas se Soo-mi sobressai como uma adolescente impulsiva e até malcriada, a madrasta não fica aquém de uma bruxa má. Soo-mi quer o pai só para ela e a irmã e Eun-joo quer que o marido demonstre a sua autoridade e a prefira sobre a filiação. Esta guerra que raramente ultrapassa o campo das palavras extravasa para o mundo físico quando Eun-joo começa a descarrega a sua frustração na frágil Soo-yeon. Quanto mais Soo-mi se recusa a dobrar a língua mais Eun-joo abusa Soo-yeon. Quem quebra primeiro? Quem ganha o controlo da casa e o amor de Moo-hyeon?
“A Tale of Two Sisters” baseia-se numa estória do folclore coreano, durante a dinastia Joseon denominada Janghwa, Hongryeon. O filme é uma adaptação livre pelo que o único perigo é o de reconhecermos notas simbólicos nesta ode à desarmonia familiar, provocada pela chegada de um novo elemento. Jee-woon Kim (“I Saw the Devil”, “Doomsday Book”) demonstra nesta obra um domínio da imagem e da cor apenas semelhante à de um pintor. Jee-won Kim pinta um quadro surrealista que não é perceptível na totalidade numa primeira visualização. Cada momento está carregado de simbolismo e não surge pelo prazer aleatório de se pintar uma imagem “bonita”. Onde se encontra então o factor medo? “A Tale of Two Sisters” é como a Mona Lisa. Um quadro perfeito em termos técnicos que esconde segredos sob a pintura. Além das implicações de uma família à beira da ruptura, onde Jee-woon joga com flasbacks que desorientam tanto a personagem principal como a audiência, o que não seria possível se não fosse suportado por tão espantosa actuação e o factor O, de onryo, faz a sua aparição habitual. Em 2003, o onryo era relativa novidade para o público ocidental e ainda teria um impacto superior. No entanto, “A Tale of Two Sisters” sobrevive de tensão palpável a todo o momento entre os familiares. As acusações que eles desejam fazer a todo o momento, os segredos mal escondidos, o complexo de Édipo, a síndrome de bruxa má mal disfarçado, o abuso de crianças, o desabrochar da sexualidade… “A Tale of Two Sisters” é um compêndio de tudo o que já vimos antes em termos do sobrenatural mas desconstruído de um modo que o onryo é a corporização de problemas mal resolvidos dos vivos. E com isto acabei talvez de fazer a maior revelação do filme. Parece demasiado fácil não é? Se virem “A Tale of Two Sisters” umas cinco vezes sim… “A Tale of Two Sisters” e obra-prima do k-horror não aparecem na mesma frase por acaso. Quatro estrelas.
Realização:  Jee-woon Kim
Argumento:  Jee-woon Kim
Kap-su Kim como Moo-hyeon Bae
Jung-ah Yum como Eun-joo
Su-jeong Lim como Soo-mi Bae (Janghwa)
Geun-young Moon como Soo-yeon Bae (Hongryeon)

Próximo Filme: "Shaolin Soccer" (Siu lam juk kau, 2001)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"Loner" (Woetoli, 2008)

(Pssst... Filme todo. Aproveitem enquanto é tempo)

Quem quis matar a sede por filmes de terror coreanos em 2008 não teve grandes opções. Houve o brilhante “The Chaser” mas esse é mais rapidamente contemplado na categoria de thriller de acção que em K-horror. “Loner” não vai buscar inspiração muito longe. A Coreia do Sul tem sido apontada, de modo sistemático, como um dos países com a taxa de suicídio mais elevada do mundo senão mesmo a maior. De facto, o suicídio é tão prevalente que os casos ocorridos entre personalidades de sucesso transversalmente aos diferentes sectores de actividade, incluindo, pessoas da indústria do entretenimento e, de quem, se poderia dizer, que tudo tinham para serem felizes são usuais. Neste cenário negro Jae-shik Park ataca o problema do ponto de vista da adolescência, problemática e complexa, susceptível à menor provocação. Após o suicídio da melhor amiga Ha-jeong (Da-in Lee), incapaz de lidar com a extrema crueldade dos rufias da escola, Soo-na (Eun-ah Ko) fecha-se no quarto e isola-se do mundo. À medida que a sanidade mental de Soo-na parece deterior-se o tio Se-jin (Yu-seok Jeong) pede ajuda a Yoo-mi (Min-seo Chae), a sua nova namorada que é psicóloga, para ajudar Soo-na a lidar com a perda e regressar à vida social, antes que esta possa também atentar contra a sua vida.

Se há coisa de que não podem acusar Jae-shik Park é de previsibilidade mas, pelo contrário, o seu argumento dispara, sem contemplações, em todos os sentidos. Em 117 minutos, Park consegue fazer-nos acreditar numa aparição fantasmagórica, numa exploração dramática da síndrome Hikikomori (reclusão em casa), num mistério de suspense e um drama familiar. E como parece que Park tem dificuldade em efectuar escolhas ele opta por todos estes subenredos.
Creio que a audiência não terá um problema com reviravoltas, isso é o mais sucede nos filmes de terror, excepto talvez se for uma produção independente, aí talvez já possamos ansiar por um pouco mais originalidade. Aliás, em termos pessoais (sim, eu tenho opinião), tenho vindo a apreciar o facto de qualquer filme possuir um twist. E se tal não suceder, quase (!) fico desapontada. O que muitos argumentistas parecem não compreender é que a simplicidade pode ser a sua maior vantagem. Nem todos podem aspirar a ser o novo “Oldboy”. “Loner” é apresentado como um filme de terror a não perder quando, retirando, alguns momentos de sobressalto, não é mais que um grande aborrecimento.  Não. “Loner” é um embuste com um grande segredo de família no núcleo que, quando exposto faz de personagens de si já pouco simpáticas, patéticas ou detestáveis. Queiram os bons costumes e uma ânsia de ocultar tudo o que possa culminar numa exibição pública embaraçosa, que se varram os segredos para debaixo do tapete e, desse clima de secretismo, resultem gerações inteiras perturbadas. Deixemos temáticas como o suicídio e a síndrome Hikikomori que tão actuais estão na sociedade e deixemos de lado as virtudes da reflexão social em nome de uma estória bem mais familiar.
Apesar do empenho dos actores, que não é pequeno, já que gritam, choram, esperneiam e recolhem-se dentro de si mesmos a cada momento, “Loner” não podia ser menos excitante. Além disso, tem a desvantagem de suceder a filmes como “Cello” (2005) ou “Cinderella” (2006), que trilharam o mesmo território antes e com resultados igualmente díspares. Tivera mais concorrência nesse ano e talvez nem tivesse ouvido falar de “Loner”, que não é um dos melhores filmes de terror a sair da Coreia do Sul mas, porventura, dos mais deprimentes. Duas estrelas.

Realização:  Jae-shik Park

Argumento:  Jae-shik Park
Eun-ah Ko como Soo-na
Yu-seok Jeong como Se-jin
Min-seo Chae como Yoo-mi
Da-in Lee como Ha-jeong

Próximo Filme: "Waterboys", (Wota Boizu, 2001) 


quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ciclo "Ringu" no Scifiworld Portugal


O título chamou a atenção não chamou? Então, vão já a correr para o SciFiworld Portugal, onde poderão, diariamente, revisitar todos os filmes da saga "Ringu". De que estão à espera?

domingo, 11 de março de 2012

"Doll Master" (Inhyeongsa, 2004)

 
Comecemos por esclarecer uma questão. Quando se assiste a um filme de terror, é suposto que este assuste. Sobressaltos, arrepios, tapar a cara com as mãos e espreitar por entre as frestas… Bem, queremos tudo aquilo a que temos direito (ou o nosso dinheiro pagou). Por isso, é no mínimo frustrante que tenhamos de aguardar, digamos, 45 minutos para termos direito a algo que se assemelhe ao de leve a terror. Ainda mais, quando esse filme tem o bonito nome de “Doll Master”. Bonecas. Aterradoras e assassinas como convém. Quem estiver à espera de um novo Chucky coreano prepare-se para ficar desiludido. O único laivo de inteligência em “Doll Master” é a escolha da temática. O medo de bonecos, ventríloquos, mais ou menos animados, de cera, plástico, etc, ou a automatonofobia é bastante comum. Recordo-me do momento em que finalmente decidi ver “Doll Master”. A primeira imagem que surgiu no meu cérebro foi a de uma amiga que tinha um medo irracional das bonecas de porcelana com olhos de vidro. Ela dizia-me sempre que “não gostava de olhar para elas por que as sentia a olhar para ela de volta”. Como se elas tivessem alma e estivessem, calmamente, a avaliar a dela. Já sentem arrepios? Deduzo pois, que o argumentista não tenha efectuado uma pesquisa demasiado árdua, sobre esta fobia tão interessante. O melhor que conseguiu cozinhar foi uma estória pateta. 
Os créditos iniciais demonstram um artista que no seu enlevo por uma jovem mulher, criou uma boneca em tamanho real à sua semelhança. Mais ninguém acha isto esquisito? Entretanto, um dia a sua musa surge morta, assassinada. Logo o artista, um homem estranho e um forasteiro é acusado pela população da vila de ter cometido o acto. Ele é sumariamente acusado e condenado à morte. Diz que desde então, a boneca é avistada sobre o seu túmulo, como que a velar por ele. Mas nesta estória dos tempos modernos, é Galateia que persegue o Pigmalião. Uma Galateia capaz de cometer homicídio por ele...
Muitos anos passam e cinco estranhos são convidados para servir de modelo a uma criadora de bonecas. Como não podia deixar de ser, o atelier encontra-se num casarão no meio da floresta. Nada de suspeito, portanto. O grupo compreende Hae-mi (Yu-mi Kim) uma escultora, Tae-seong (Hyeong-tak Shim) um modelo masculino e Yeong-ha (Ji-young Ok) uma jovem com uma relação pouco saudável com o seu boneco Damian. Mais alguém encontra aqui uma coincidência engraçada com o nome Damien de “The Omen” (1976)? A terminar o grupo estão Sun-Young (Ka-young Lee) uma jovem desmiolada e o fotógrafo Jeong-ki (Hyeong-jun Lim) com um autocolante na testa onde se pode ler “predador sexual” (esta última parte inventei).
Os primeiros momentos do encontro são passados a explorar a mansão e a conhecerem-se melhor. Muito ao estilo de “The Haunting” (1999). Depois são apresentados à criadora de bonecas, a senhora Im (Bo-young Kim), uma mulher meio estranha, confinada a uma cadeira de rodas. Se até aqui, ainda não tivessem soado alertas, agora são sirenes. Entretanto, Hae-mi também encontra por lá a cirandar uma tal de Mi-na (Eun-kyeong Lim), uma moça com um vestido encarnado infantil. Ela parece deslocada do cenário e recorda a protagonista de algo bem longínquo, nos confins da memória, que não se sabe até à reviravolta final, o que é.
“Doll Master” torna-se consistentemente mais surreal e mais complicado a cada nova cena. Por quanto o final fosse previsível a um quarto de hora do visionamento, estão sempre a surgir novas complicações dispensáveis para a conclusão da película. Ou como se costuma dizer, para disfarçar a ausência de uma estória sólida. Hae-mi é uma das mais infelizes heroínas que já tive oportunidade de ver em cena. Quando os companheiros começam a perecer, ela entra num “choque histérico” que lhe tolda o raciocínio e lhe reduz em muito a capacidade de reacção. A sua contraparte, Tae-seong é pouco menos apelativa. É demasiado fácil compreender que a sua agenda nada tem que ver com uma carreira de modelo. No campo das actuações só Mi-na pontua. Excelente no papel de uma boneca viva que alterna entre o diabólico e o inocente. De facto, foi criada uma boneca articulada, tendo como modelo a actriz. A semelhança entre as duas é extraordinária. E devia ter sido ela a obter o maior tempo de ecrã. Se provas faltassem, veja-se que a boneca com o nome da personagem "Mi-na", esgotou pouco depois da estreia do filme. As bonecas articuladas de “Doll Master” fizeram ressurgir o interesse de colecionadores. Notem bem como foram feitas para excêntricos, as bonecas têm direito a nome, data e local de nascimento, acessórios e casas como se de pessoas verdadeiras se tratassem. 
“Doll Master” apenas tem uma morte particularmente macabra e logo de uma das personagens mais cómicas em todo o filme. É pouco, muito pouco e tardio. Convenhamos que ter bonecas em tamanho real, penduradas de candeeiros e na cabeceira da cama seja um bocadinho perturbador. Mas não se entusiasmem, que o clímax é… anti-climático. Tanta espera/desespera, por nada. No preciso momento em que algo importante sucede a uma das personagens, o realizador corta a cena. Não há goodies para ninguém. Yong-ki Jeong deve ter medo de realizar um verdadeiro filme de terror e adiou ou cortou tudo o que podia tornar “Doll Master” aterrador. O que não falta em “Doll Master” são preliminares, pena que a conclusão seja tudo menos excitante. Uma estrela e meia. 
Realização: Yong-ki Jeong
Argumento: Yong-ki Jeong
Yu-mi Kim como Hae-mi
Eun-kyeong Lim como Mi-na
Hyeong-tak Shim como Tae-seong
Ji-young Ok como Yeong-ha
Hyeong-jun Lim como Jeong-ki
Ka-young Lee como Sun-Young
Ho-jin Chun como Choi Jin-wan (curador)
Bo-young Kim como Senhora Im (a artista)


Próximo Filme: "Troll Hunter" (Trolljegeren, 2010)
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