Janghwa, Hongryeon, que se pode traduzir qualquer coisa como "Flor Rosa, Lótus Vermelha", é a estória de duas irmãs que retornam ao lar após receber alta da instituição onde estavam internadas após a morte da mãe, para encontrar a nova madrasta Eun-joo (Jung-ah Yum), já lá a viver. Segue-se uma luta de poder pelo único elemento masculino da família disfuncional. A madrasta recebe Soo-mi (Su-jeong Lim) e Soo-yeon (Geun-young Moon) com deferências exageradas, imediatamente percebidas como falsas e, Soo-mi a mais velha e líder natural apressa-se a deixar claro que despreza as atenções que lhes são dirigidas.
A rejeição do novo elemento da casa, bem patente na personagem de Soo-mi, quando um dos pais volta a casar não é incomum. Na verdade estas relações não são se não um híbrido de simbiose, com a madrasta a desdobrar-se em comportamentos que a fazem parecer melhor do que na realidade é para atingir a harmonia familiar ou, pelo menos, a paz podre, enquanto se esforça para demonstrar ao marido que está a fazer tudo ao seu alcance para criar laços com as filhas de uma relação anterior.
No outro lado do espectro encontra-se Soo-mi que se recusa a reconhecer a nova madrasta, dando-lhe a entender que nunca será aceite. A madrasta nunca poderá substituir a sua mãe e, ter este pensamento sequer, é uma ofensa à sua memória. Soo-mi não se coíbe de deixar bem claro este pensamento à madrasta e ao pai Moo-hyeon (Kap-su Kim), que vê como um homem fraco. Ele devia ter sido capaz de resistir à solidão e à tentação, em honra de um amor anterior, puro e que lhe deu os dois bens mais preciosos que tem. Como pode ele negar o sangue por uma intrusa? Ela é melhor que ele por causa dessa rejeição extemporânea. Mas se Soo-mi sobressai como uma adolescente impulsiva e até malcriada, a madrasta não fica aquém de uma bruxa má. Soo-mi quer o pai só para ela e a irmã e Eun-joo quer que o marido demonstre a sua autoridade e a prefira sobre a filiação. Esta guerra que raramente ultrapassa o campo das palavras extravasa para o mundo físico quando Eun-joo começa a descarrega a sua frustração na frágil Soo-yeon. Quanto mais Soo-mi se recusa a dobrar a língua mais Eun-joo abusa Soo-yeon. Quem quebra primeiro? Quem ganha o controlo da casa e o amor de Moo-hyeon?
“A Tale of Two Sisters” baseia-se numa estória do folclore coreano, durante a dinastia Joseon denominada Janghwa, Hongryeon. O filme é uma adaptação livre pelo que o único perigo é o de reconhecermos notas simbólicos nesta ode à desarmonia familiar, provocada pela chegada de um novo elemento. Jee-woon Kim (“I Saw the Devil”, “Doomsday Book”) demonstra nesta obra um domínio da imagem e da cor apenas semelhante à de um pintor. Jee-won Kim pinta um quadro surrealista que não é perceptível na totalidade numa primeira visualização. Cada momento está carregado de simbolismo e não surge pelo prazer aleatório de se pintar uma imagem “bonita”. Onde se encontra então o factor medo? “A Tale of Two Sisters” é como a Mona Lisa. Um quadro perfeito em termos técnicos que esconde segredos sob a pintura. Além das implicações de uma família à beira da ruptura, onde Jee-woon joga com flasbacks que desorientam tanto a personagem principal como a audiência, o que não seria possível se não fosse suportado por tão espantosa actuação e o factor O, de onryo, faz a sua aparição habitual. Em 2003, o onryo era relativa novidade para o público ocidental e ainda teria um impacto superior. No entanto, “A Tale of Two Sisters” sobrevive de tensão palpável a todo o momento entre os familiares. As acusações que eles desejam fazer a todo o momento, os segredos mal escondidos, o complexo de Édipo, a síndrome de bruxa má mal disfarçado, o abuso de crianças, o desabrochar da sexualidade… “A Tale of Two Sisters” é um compêndio de tudo o que já vimos antes em termos do sobrenatural mas desconstruído de um modo que o onryo é a corporização de problemas mal resolvidos dos vivos. E com isto acabei talvez de fazer a maior revelação do filme. Parece demasiado fácil não é? Se virem “A Tale of Two Sisters” umas cinco vezes sim… “A Tale of Two Sisters” e obra-prima do k-horror não aparecem na mesma frase por acaso. Quatro estrelas.
Realização: Jee-woon Kim
Argumento: Jee-woon Kim
Kap-su Kim como Moo-hyeon Bae
Jung-ah Yum como Eun-joo
Su-jeong Lim como Soo-mi Bae (Janghwa)
Geun-young Moon como Soo-yeon Bae (Hongryeon)
Próximo Filme: "Shaolin Soccer" (Siu lam juk kau, 2001)
Grande filme!
ResponderEliminarCustou-me uma noite de sono. Sinceramente.
Cumps cinéfilos.
Nunca vi este original mas vi o remake americano... e gostei (do remake que dou 6/10 e da protagonista).
ResponderEliminarO filme está absolutamente genial, adorei. Também já escrevi sobre o filme (http://depoisdocinema.blogspot.pt/2011/02/tale-of-two-sisters-2003.html) e concordo maioritariamente com aquilo que dizes!
ResponderEliminarCumprimentos,
Sarah
Grande grande filme. Vi-o não há muito tempo e adorei sinceramente. Toda a ambiência e a imprevisibilidade são por demais cativantes.
ResponderEliminarCumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo