"O tempo não espera por ninguém".
O Verão de uma vida. Amigos que ficam para sempre guardados nas mais doces memórias. Aqueles momentos que são mais vezes resgatados ao baú das recordações na mente, quando se refere a palavra “felicidade”. Ser jovem e despreocupado… pela última vez.
Makoto Konno (Riisa Naka) vive o sonho de qualquer adolescente. Passou um Verão fantástico a jogar baseball com os melhores amigos: o sempre bem-disposto Kosuke Tsuda (Mitsutaka Itakura) e o misterioso Chiaki Mamiya (Takuya Ishida). Por ela duraria para sempre mas o que é bom tem curta duração. A maria-rapaz descobre ao recomeçar as aulas que continua tão desatenta e tão desastrada como sempre. Por algum motivo as pessoas se referem aos anos da adolescência como embaraçosos. Ela não consegue corresponder à pressão de um teste surpresa e comete a proeza de provocar um incêndio durante uma aula de cozinha. Depois, já na descontracção misturada com a irritação daquele dia para esquecer, perde os travões da bicicleta durante uma descida ingreme e atravessa-se na frente de um comboio que a mata. Bem, mais ou menos. Nesse mesmo dia, Makoto entrou numa sala e, para não variar, a moça desastrada cai em cima de qualquer coisa que despoleta um processo insólito. Qual “Groundhog Day” (1993), ela vê-se a repetir aquele mesmo dia e a verificar que pode alterar os acontecimentos de modo a lhe serem benéficos. A única pessoa em quem confidencia esta descoberta é Kazuko (Sachie Hara) a tia que trabalha num museu como restauradora de quadros reservando ainda alguma juventude sonhadora e com certeza não a julgará pelas inúmeras indiscrições resultantes da sua imaturidade. Com o advento e percepção de tão grande poder seria expectável que Makoto o utilizasse para o bem comum, certo? Nada podia estar mais longe do pensamento da adolescente. A cultura popular e, em particular o cinema, desde heróis da banda-desenhada às forças policiais, não consegue exaltar com mais convicção do que aquela que já transmite que, quem se encontra numa posição de poder o deve utilizar de forma ponderada, comedida e até com alguma humildade para o bem de todos. O problema nesta linha de raciocínio é que pressupõe que qualquer herói, participante e relutante em igual medida, possui uma visão do todo, integrada. A realidade dita o oposto. Muitas vezes, mais do que seria desejável, o poder cai em mãos indesejadas que não vêem além dos seus próprios desejos fúteis e também destruidores. Makoto adquire um poder que nunca desejou e dedica-se com um toque de ingenuidade, sem egoísmo e com alguma ausência de experiências transformadoras, a melhorar aos poucos a sua própria vida. Melhores notas nos testes? Um pouco mais de tempo de diversão? Evitamento de tarefas aborrecidas? Ela satisfaz todos os caprichos. Quando descobre que uma colega nutre sentimentos por Kosuke, o que poderá ditar o afastamento do amigo do grupo, tudo o que ela terá de fazer é evitar o acontecimento. Se lhe é sugerido que Chiaki poderá estar apaixonado por ela própria, consegue adiar o confronto. Antecipar e prolongar o prazer e adiar o sofrimento é possível. Eis que a realidade a atinge dura como a reprimenda de um pai zangado. As suas acções têm consequências. E a despeito de conseguir melhorar a experiência dela enquanto amiga, filha ou estudante, qual efeito borboleta, os outros à sua volta sofrem pelas falhas que ela não cometeu. Ela tem de tomar a decisão de arcar com as consequências e sofrer ou, acolher a ideia de que terá de crescer e aprender a enfrentar as situações complicadas que daí advirão. “The Girl Who Leapt Trough Time” é sobre a jornada de uma rapariga banal e de um momento extraordinário na sua existência e que ressoa com pessoas de qualquer idade: uma criança porque gosta do cinema de animação, um adolescente porque se revê nas dores de crescimento ou até um adulto pela doce melancolia.
A animação não é a mais luxuriante que já se viu no cinema do género japonês ainda que a estória, brilhante, seja baseada na obra de Yasukata Tsutsui que escreveu o fenómeno “Paprika” (2006). Tanto a animação como o piano que pautua a banda-sonora, servem de complemento à estória, não se pretendendo substituir a ela como tantas vezes acaba por suceder. No entanto, existem alguns momentos fantásticos, seja nos momentos de quietude como o enfoque num “simples” crepúsculo ou uma Makoto numa corrida alucinada a não conseguir chegar a tempo – imagem forte de um ecrã a avançar cidade adentro, com a rapariga a ficar para trás. Escapa-se-lhe o tempo. Essa frase, descartada no início e inúmeras vezes repetida, ganha maior projecção até ao total (re)conhecimento por altura dos créditos. Vejam o quanto antes, afinal, “o tempo não espera por ninguém”. Quatro estrelas e meia.
O melhor:
- A animação, a narrativa, composição musical.
- Cinematografia
- A voz de Riisa Naka assenta na perfeição na extrovertida Makoto
- Mensagem transgeracional
Realização: Mamoru Hosoda
Argumento: Satoko Okudera e Yasukata Tsutsui (obra)
Riisa Naka como Makoto Konno
Takuya Ishida como Chiaki Mamiya
Mitsutaka Itakura como Kosuke Tsuda
Ayami Kakiuchi como Yuri Hayakawa
Sachie Hara como Kazuko Yoshiyama
Mitsuki Tanimura como Kaho Fujitani
Yuki Sekido como Miyuki Konno (irmã de Makoto)
Utawaka Katsura como pai de Makoto
Midori Ando como mãe de Makoto
Fumihiko Tachiki como Fukushima-sensei
Keiko Yamamoto como Obasan
Shiori Yokohari como Noriko Uesugi
Sonoka Matsuoka como Sekimi Nowake
Takayuki Handa como Kato
Próximo Filme: ?