Trailer cheio de spoilers. Ver por vossa conta e risco.
Um sucesso estrondoso, na sua nativa Taiwan, “The Tag Along” baseia-se numa história afamada, de final dos anos 90, que se tornou um mito urbano. Segundo reza a história, uma família, assistiu após o funeral de um familiar, a um vídeo no qual viu uma menina de vermelho a seguir o falecido quando este integrava um grupo de caminhantes em passeio por uma montanha. Daí até aos avistamentos se multiplicarem foi um instante, sendo um dos visionamentos mais recentes, se deu quando uma idosa se perdeu numa montanha, tendo sido encontrada cinco dias depois com vida, a contar uma estória delirante sobre uma menina vestida de vermelho.
Em “The Tag Along”, acompanhamos o dia-a-dia de Wei (River Huang) é um agene imobiliário que trabalha duramente para poder casar e constituir família com Yi-chun (Wei-Ning Hsu). Eles são um casal há vários anos, mas chegaram a um ponto crítico da relação. Wei deseja ter uma família tradicional, enquanto Yi-chun parece estar contente com a relação e que esta se mantenha nos termos habituais. Nem o casamento nem a maternidade fazem parte dos seus planos e Shu-Fang (Yin-Shang Liu), a avó de Wei também é fonte de discórdia. Acolher a familiar do namorado seráum obstáculo ao desejo de estilo de vida independente que Yi-chun almeja. O delicado balanço destas relações é colocado em causa quando a avó de Wei desaparece, num paralelismo demasiado evidente com uma lenda local.
“The Tag Along” é um exercício interessante de contenção no retrato da vida “real” dos personagens e de fogo-de-artifício no que respeita à suposta assombração. É-nos permitido perscrutar um pouco mais do que uma espreitadela sobre a vida dos personagens, através da repetição. A avó de Wei de fazer todo o tipo de tarefas que permitam um maior grau de conforto ao neto. Ela acorda-o e prepara-lhe o pequeno-almoço e preocupa-se com ele pois só o quer ver feliz. Sabe que parte da felicidade está em constituir família com Yi-chun. Tenta para isso, provocar oportunidades para os juntar a despeito as reticências desta. Wei tem um horário vai além do que lhe é pedido para conseguir reunir condições para realizar o seu ideário de vida perfeita. Yi-chun é DJ numa rádio e encontra-se com o namorado no final dos turnos que acabou de fazer. Nada de muito excitante para uma classe média tradicional. Estes pedaços de vida são interessantes o para compreender os personagens e criar um elo emocional suficientemente forte para sentirmos a sua falta, quando o meio sobrenatural se introduz nas suas vidas. O elo mais fraco do trio já mencionado ainda assim é capaz de ser o actor River Huang. Wei-Ning Hsu interpreta uma avó capaz de captar a simpatia das avozinhas por esse mundo fora. Já Yin-Shang Liu representa a força vital do filme com um desempenho com camadas suficientes para demonstrar que a sua personagem pode ser mulher forte, independente, feminista e ter os receios de quem já sofreu no passado. A sua personagem perde-se depois no primitivismo do status quo societal tão certo quanto dois mais dois darem a soma de quatro. Sempre, muito bem coadjuvados com uma cinematografia eficaz e incomum entre os seus congéneres. Mas falava de repetições: quando a assombração assola existem variações suficientes no comportamento padrão dos personagens para perceber que algo está errado.
O mal de “The Tag Along” está em que o prelúdio para algo maior é a melhor parte do filme. O primeiro acto que corresponde ao desaparecimento e o segundo que diz respeito à investigação são mais interessantes que o último acto de conflito aberto. A película degenera num melodrama sacarino e efeitos gerados por computador de bradar aos céus. Alguém acha sinceramente que o “Alien” teria metade do encanto se têm mostrado o monstro num CGI manhoso? Porquê é a palavra operativa. Não havia necessidade de abalar o que até ali fora construído, em atmosfera opressiva e mistério de investigação, com efeitos "especiais" para agradar a ensejos de blockbuster. “The Tag Along” tentou, em contraciclo com o recente terror asiático, ser vagamente interessante e, em certa medida, conseguiu.
Realização: Wei-Hao Cheng
Argumento: Shih-Keng Chien
Wei-Ning Hsu como Shen Yi-ChunArgumento: Shih-Keng Chien
River Huang como Ho Chih-Wei
Yin-Shang Liu como Ho Wen Shu-Fang
Po-Chou Chang como Tio Kun
Ming-Hua Pai como Tia Shui
Próximo Filme: "Tale of Tales" (Il racconto dei racconti, 2015)