domingo, 28 de abril de 2013

"Forbidden Siren" (Sairen, 2006)


Mais uma adaptação desnecessária de um jogo de playstation para a grande tela. Porquê, clamam as audiências internacionais? Não bastava já termos de sofrer com cinco filmes da série "Resident Evil"?
 
“Forbidden Siren” inicia-se com um mistério. Em 1976, os habitantes de uma ilha desapareceram sem deixar rasto, isto é, todos menos um, que é encontrado a falar de modo incoerente. Nos dias de hoje, Shinichi Amamoto (Leo Morimoto) é um jornalista freelancer que viaja com os filhos Yuki (Yui Ichikawa) e Hideo (Jun Nishiyama) para a ilha de modo a que recuperem de um acidente traumático. A viagem é uma má ideia, que a audiência já sabe de antemão dado os acontecimentos passados e devia ser também um sinal para Shinichi visto que os habitantes são tudo menos calorosos. Os personagens dos filmes de mistério, até pelo menos à primeira meia hora de filme, nunca são perspicazes. À frieza da população juntam-se outros indícios ainda mais alarmantes. A casa que irão habitar demonstra vestígios de sangue e a vizinha avisa Yuki de que nunca deverão deixar a casa quando ouvirem a sirene. Esta encontra-se numa torre de metal abandonada numa zona remota da ilha. Depois deixem os factos a torturar o subconsciente de uma adolescente impressionável e eventos graves serão uma inevitabilidade. Yuki tenta ultrapassar a muralha de silêncio tácita entre os habitantes, tornando-se, desde cedo claro que ela é uma estranha e portanto, indigna da sua confiança. Por outro lado, para um pai preocupado, Shinichi encontra-se a leste dos efeitos da curiosidade prodigiosa da filha. Não era suposto irem para a ilha “curar velhas feridas”?
O maior elemento a favor de “Forbidden Siren” (se não jogaram primeiro o jogo) é não se saber exatamente para onde nos querem levar. Por isso, não é como se o elemento mistério não estivesse presente e, em 5 minutos de filme se soubesse antecipadamente o final. A problemática reside no facto de as perguntas persistirem sem resolução. Até onde é que uma pessoa aguenta? Mistério apenas pelo mistério, de nada vale se os argumentistas não começarem a apresentar propostas de solução. O enredo sai cada vez mais embrulhado e onde antes existia ansiedade agora reside frustração. Até pormenores que prometiam, não oferecem a menor hipótese de redenção. “Siren” significa sirene mas também sereia. É o canto da sereia que arrasta as pessoas para a morte?! Potencial desperdiçado. O mesmo também pode ser dito dos actores. Yui Ichikawa é quem tem mais tempo de antena mas entre as suas orelhas proeminentes e os gritos histéricos, agudos, não posso afirmar que me recorde grandemente das capacidades de representação da jovem. Quanto ao pequeno Hideo, ele faz tudo o que lhe é dito para não fazer mas o castigo queda-se por uma leve reprimenda. Deve ser aquele estilo parental modernaço que deixa as crianças ser livres. Isto é, fazer tudo e mais alguma coisa e a culpa nunca é dos pais, porque a criança é um pequeno-adulto capaz de tomar decisões livremente. Pois…
“Forbidden Siren” tem pouco de memorável. A banda-sonora é decente e a representação ainda que não extraordinária também não é horrenda. Os cenários e a caracterização dos personagens a par do argumento constituem as maiores fraquezas do filme. Por comparação, o design do jogo é extremamente profissional, o que leva a pensar que “Forbidden Siren” é desnecessário e um mau cartão-de-visita. Tendo sido desenvolvido para coincidir com o lançamento do segundo jogo da série não consigo imaginar muitas pessoas a ir comprar o jogo depois de ver este filme. Já o contrário parece mais provável. Uma estrela e meia.

Realização: Yukihiko Tsutsumi
Argumento: Naoya Takayama
Yui Ichikawa  como Yuki Amamoto
Leo Morimoto como Shinichi Amamoto
Jun Nishiyama como Hideo Amamoto

Próximo Filme: Série “Whispering Corridors, 1998-2009

domingo, 21 de abril de 2013

"Secret Sunday" (9 Wat, 2010)


Há qualquer coisa de mágico na câmara de Saranyoo Jiralak que se encontra algures entre o naturalismo digno de um National Geographic e o programa de viagens dedicado ao turismo religioso. A sensação permanente de voyeurismo intruso é o que distingue “Secret Sunday” de um documentário. As cenas de jovens citadinos cheios de estilo a irromper por entre os raios de sol que acariciam as paredes de templos milenares trazem a certeza de arte. Estátuas, fotografias, animais, as árvores de uma floresta, até o pneu de um automóvel… Ajudam a contar a viagem de uma vida para um casal e o monge a quem deram relutantemente boleia.

“Secret Sunday” (não me perguntem a razão de ser do nome porque até ao momento ainda não percebi), cujo título na Tailândia é 9 wat, literalmente, nove templos, narra a estória de Nat (James Alexander Mackie) e a sua namorada Phoon (Siraphan Wattanajinda) que se propõem a a percorrer nove templos em sete dias para expurgar o mau karma de Nat a conselho da mãe deste. A senhora, uma budista devota, acredita que o filho está rodeado de energias negativas e que ele deve procurar o caminho da religião para alcançar a salvação. Nat acede a fazer a viagem mais pelo desejo de férias do que por uma crença profunda nas convicções da mãe. Já Phoon questiona mas não recusa a sugestão pois não é ateísta além de que tem as suas próprias preocupações egoístas. O seu caminho cruza-se com o de Sujitto (Pradon Sirakovit) um monge budista que parece saber algo mais sobre o que está a afligir o casal do que eles próprios e que também está ligado ao passado de Nat... Este podia ser o início perfeito de uma viagem de descoberta para um ateu, uma agnóstica e um crente mas 9 wat, a despeito da óbvia ligação religiosa trilha outros trajectos. “Secret Sunday” é um road-movie com um mix de thriller sobrenatural. Phoon é a protagonista e com razão já que à sua presença magnética, se juntam um styling espectacular, nomeadamente o cabelo curto pintado de louro platinado e roupas saídas da última colecção primavera/verão que a fazem sobressair entre a multidão tailandesa. A sua personagem representa a oportunidade perfeita para apresentar a jovem moderna, independente e um pouco promiscua na tela. Phoon representa uma imagem indesejável para a jovem tailandesa tradicional, escapando à caracterização da maioria das personagens femininas que pululam os ecrãs do país, puras, crentes e respeitáveis. No entanto, é deixado para o julgamento do espectador se Phoon surge como uma manobra arriscada de trazer uma personagem um pouco mais colorida para o grande ecrã ou, se o sofrimento da jovem decorre do seu comportamento pouco convencional.
Nat e Sujitto, até ao último quarto de hora de filme praticamente não apresentam qualquer conflito, com a agravante de que Nat nunca demonstra mais do que um feitio irascível e qualidades de boy toy que explicam o inicio da relação e o seu potencial de fim. Nat recusa terminantemente a existência da divindade enquanto o monge aceita cegamente a sua existência, pelo que a sua maneira de ver o mundo nunca é, até ali, questionada. É Phoon quem se apercebe das nuances e sofre por causa disso. Isto não quer dizer que qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade se aperceba de espíritos a olhar por cima do ombro ou de outras coisas que não existem no plano real. Não, isso já faz parte do filme. E também aí se encontram as maiores fraquezas de “Secret Sunday”. A introdução do sobrenatural é absolutamente desnecessária. Muitas das cenas são assustadoras ou quedam-se lá perto mas era perfeitamente plausível que Phoon e Nat fossem atormentados (apenas), devido ao passado e aos segredos que guardam. As suas motivações e medos também podiam ser conduzidos pela fase de vida em que se encontram. Já estão juntos há algum tempo e pode ter chegado a altura de explorar se a sua relação deverá ter continuidade ou se esta união deixou de fazer sentido. Uma road-trip onde uma série de peripécias os leva a questionar o percurso de vida e o futuro que pretendem seguir. Mas considerando o mercado tailandês o elemento terror possui um tal nível de atracção que leva a que sejam produzidos muitos filmes direccionados para esse tipo de público e, com bastante frequência, sejam produzidos muitos que pecam pela falta de qualidade. É por isso, lamentável, que no meio dessa montanha de obras, gemas como esta permaneçam por descobrir. Três estrelas e meia.
Realização: Saranyoo Jiralak
Argumento: Saranyoo Jiralak
James Alexander Mackie como Nat
Siraphan Wattanajinda como Phoon
Pradon Sirakovit como Sujitto


Próximo Filme: "Forbidden Siren" (Sairen, 2006)

PS: Não fui eu que vos disse que este filme está disponível, na integra, no youtube com legendas em inglês.

domingo, 14 de abril de 2013

"Gantz" (Gantz: Zenpen, 2010)



Cenário: Acordam numa sala com pessoal que não conhecem de lado nenhum e com uma enorme bola preta onde surge uma mensagem que diz que 1) Existem aliens e 2) têm vinte minutos para matar o alien cuja imagem surge no ecrã. A primeira reacção deve ser qualquer coisa entre um: “tenho de largar as drogas!” e beliscar-se para acordar. Mas e se não acordarem e chegarem à conclusão que o cenário é real, que não é uma brincadeira de mau gosto e que se querem permanecer vivos têm de atirar a matar? Que tal isto para programa de diversão nocturna? Kei Kurono (Ninomyia Kazunaru) e Masaru Kato (Kenichi Matsuyama) são dois amigos que morrem atropelados por um comboio após tentar salvar um homem bêbado que caiu nos carris do metro. A bola negra transporta-os para a sala e dá-lhes uma nova oportunidade mas não está longe de ser um pacto com o diabo. A nova vida tem um preço: têm de matar aliens e a cada nova morte recebem pontos. A recompensa por atingir os 100 pontos é a possibilidade de esquecer o que passaram e não mais voltar àquela sala ou ressuscitar um dos muitos que já morreram antes deles a combater as criaturas invasoras. Aparte o segredo da sala que lhes irá, eventualmente, custar a vida (admitamos que os aliens são cada vez mais rápidos, furiosos e maiores), têm uma vida e entes queridos que não querem deixar sozinhos. Kato tem um irmão mais novo que não quer deixar entregue a assistentes sociais e Kei torna-se alvo das cada vez mais óbvias investidas românticas de Tae Kojima (Yuriko Yoshikata).
Assim a meios que a morte pode ser um impedimento no reatar de ligações familiares e românticas. Sobretudo, no que diz respeito a Kato e Kishimoto (Natsuna) que se conhecem na sala do Gantz.
“Gantz” é um dos melhores filmes resultantes de adaptações de anime e mangá, dos últimos anos. Se não conhecerem a mangá ou o anime, como era o meu caso, mesmo assim irão sentir que não estão a perder informação preciosa. “Gantz” tenta apelar ao máximo número de faixas etárias possível, sacrificando pelo caminho, carradas de nudez e de sexo. Também o protagonista deixa de ser um tarado sexual para passar a ser apenas um sujeitinho arrogante, com manias de grandeza a quem é ensinada uma grande lição. É uma adaptação digna de quem conhece bem o público-alvo.
As cenas de acção, nomeadamente, de perseguição e combate aos extra-terrestres são as mais interessantes e, se quisermos dar largas ao pequeno malvado que existe dentro de nós, pode-se sempre fazer apostas sobre quem chegará ao fim de mais uma caçada. As cenas de acção são tão competentes que a série com actores reais chegar ao pequeno ecrã não seria de menosprezar. Imaginem se a cada novo episódio tivessem um grupo de cidadãos “destacados” para matar o alien du jour? Como é óbvio a perfeição não existe e as cenas iniciais começam por ser irritantes já que os escolhidos são tão incompetentes que cometem todos os erros possíveis para se deixar ferir, matar ou negligentes a ponto de deixar colegas morrer. “Gantz” não está isento de dilemas morais. Matar um ser vivo, mesmo que este não pertença ao mundo como o conhecemos apresenta-se um problema para a maioria dos escolhidos. E não é como se tivessem grande alternativa: se quiserem viver têm de matar ou esconder-se bem. Temo que esta última opção não deixe de acarretar um alto grau de risco. Se calhar poderíamos alegar preocupações humanistas e que a morte seria um fim mais digno mas creio que isso não estaria longe da hipocrisia. Além disso, há pais, irmãos, namoradas…quem consegue resistir ao apelo da vida? E depois há os psicopatas e aqueles cuja ilusão de poder os faz regredir aos estádios mais primários da existência humana: vale tudo para não sobreviver. Mas ao invés de se restringir a uma luta selvática pela sobrevivência “Gantz” “agarra” as personagens principais como Kei e Kato, jovens imaturos e que pouco sabem da vida e fá-los crescer, tornar-se os heróis que nunca quiseram ser e reconhecidos por poucos, até há muito provavelmente breve morte. Nesse sentido, “Gantz” não é apenas um filme sci-fi de acção desmiolado. Obrigada, as audiências do século XXI agradecem. Três estrelas e meia.


Realização: Shinsuke Kato
Argumento: Yosuke Watanabe e Hiroyia Oku (autor da banda-desenhada)
Ninomyia Kazunari como Kei Kurono
Kenichi Matsuyama como Masaru Kato
Yuriko Yoshikata como Tae Kojima
Natsuna como Megumi Kishimoto
Taguchi Tomorowo como Suzuki Yoshikazu
Kensuke Chisaka como Ayumu Kato


Próximo Filme: "Secret Sunday" (9 wat, 2008)

domingo, 7 de abril de 2013

"Riding Alone for Thousands of Miles" (Qian li zou dan qi, 2005)



Quanto quilómetro é necessário percorrer até se obter perdão? Até onde somos capazes de ir para sermos perdoados? O “para sempre” apenas existe até que uma das partes teimosas em oposição decidir que a dor da inexistência de relacionamento é mais penosa que a existência de uma relação complicada.

Takata (Ken Takakura) é um velho casmurro que apenas põe o orgulho de lado quando a nora Rie (Terajima Shinobu) lhe diz que Kenichi (Kiichi Nakai), o filho dele, se encontra doente. O rancor de muitos anos de desavenças e anos sem qualquer contacto ainda não abandonou Kenichi e este recusa-se a ver o pai que veio de propósito a Tóquio para o ver. Quando Rie diz a Takata que Kenichi sofre de cancro em estado terminal ele agarra-se ao único objecto que tem do filho, um documentário que ele realizou na vila remota de Lijian, na China. Kenichi filmou Li Jiamin, um cantor de ópera local que lhe prometeu que na sua próxima visita lhe cantaria uma obra pela qual tinha especial interesse. Com a vida do filho por um fio, Takata toma a inesperada decisão de viajar pela China rural para encontrar o cantor e filmá-lo a cantar a obra que Kenichi nunca terá oportunidade de assistir em pessoa.
“Riding Alone for Thousands of Miles” é uma desilusão para quem espera um filme grandioso de Zhang Yimou. Na verdade ele tornou-se tão conhecido nos últimos dez anos pelos épicos wuxia como “Hero” (2002) ou “The House of the Flying Daggers (2004) que muitos esqueceram obras como “Raise the Red Lantern” (1991), existindo até casos em que há uma cisão declarada entre os preferem a filmografia de cariz mais espectacular e os que preferem a sua câmara mais comedida. A grandiosidade de “Riding Alone for Thousands of Miles” reside nas paisagens de tirar o fôlego e na representação dos actores que envolve longas sequências de momentos “Lost in Translation”. É que Takata chega a uma altura da viagem em que é acompanhado por um guia que sabe muito pouco japonês para o compreender e todos os outros não o compreendem de todo. Por isso, as cenas alternam entre o falar sem ser compreendido ou apenas em parte e as tentativas de explicação ao estranho senhor japonês que veio à China ver um simples cantor rural. Takata é um homem sem tempo e quanto mais se embrenha na paisagem chinesa mais terá de lidar com pessoas que estranham as suas intenções e que se refugiam nas burocracias para não ferir as leis e sensibilidades locais. E os processos atrasam e Takata, sem conseguir fazer-se entender, tem de recorrer à lisonja e ao suborno para conseguir obter algum tipo de consentimento, que ainda há valores universais.
As expressões de incompreensão, frustração e cansaço constituem os momentos mais realistas da película, os viajantes mais do que todos decerto compreenderão. No entanto, Yimou recusa-se a que a população chinesa se aproveite de Takata. A sua viagem não é de roubo ou decepção, é uma viagem de muitos quilómetros na China e no interior de um homem.
“Riding Alone for Thousands of Miles” é uma estória intimista, simples. A narrativa conta a aventura de um pai que redescobre um modo de se ligar ao filho e que embarca numa viagem que o faz repensar as acções dos dois e, com a maturidade da idade perdoar e ser perdoado. Yimou escapou ao cliché da “mudança nos sentimentos por causa de um evento grave”. A personalidade não muda. Takata continua tão teimoso como nos instantes iniciais da película, os motivos é que se alteraram grandemente. Enquanto há vida não há urgência e agora, que Kenichi está prestes a desaparecer do mundo dos vivos, Takata dedica-se com o mesmo fervor de quem evitou o filho durante anos, a estabelecer um ligação emocional com ele. Mas esta estória não é apenas a de Takata e de Kenichi, é também a estória de um pai e um filho chineses, cujas vidas são tocadas quando o cidadão senior japonês decide visitar uma aldeia remota, aproximando também os dois países. Três estrelas e meia.

Realização: Zhang Yimou
Argumento: Zhang Yimou, Jingzhi Zou e Bin Wang
Ken Takakura como Takata
Kiichi Nakai como Kenichi (voz)
Terajima Shinobu como Rie
Jiamin Li como Li Jiamin
Jiang Wen como Jasmine
Lin Qiu como Lingo
Zhenbo Yang como Yang Yang

Próximo Filme: "Gantz", 2010

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