domingo, 25 de agosto de 2013

"The Screen at Kamchanod" (Pee chang nang, 2007)


Quando me deparei com a estória de “The Screen at Kamchanod” o meu primeiro pensamento foi: “Tenho de criar a etiqueta factos verídicos”. São tantos os filmes supostamente baseados em acontecimentos reais, que o mero facto de uma estória ter origem no imaginário dos argumentistas já é um evento em si mesmo. Mas vá lá que esta premissa (real?) até parece interessante. No final dos anos 80, foi organizada uma projecção na floresta de Kamchanod. Os projecionistas asseguraram a exibição da obra até ao fim apesar de não haver uma única pessoa na assistência. Reza a lenda que nos últimos minutos de projecção várias pessoas emergiram da floresta e posicionaram-se em frente ao ecrã após o que desapareceram misteriosamente. Já no séc. XXI, o Dr. Yuth (Achita Pramoj Na Ayudhya) reúne uma equipa, na qual se encontra a sua mulher Orn (Pakkaramai Potranan) e um casal de colegas para o ajudar a encontrar a película perdida e recriar a experiência. Eles conseguem, a custo, encontrar o filme a despeito das objecções do único projecionista ainda vivo. Durante a exibição do filme são acossados por forças sobrenaturais que se revelam determinadas em persegui-los muito depois do acontecimento… A partir daqui “The Screen at Kamchanod” conhece uma morte lenta e dolorosa.
 Dr. Yuth assiste a uma cena de "The Unseeable"

Songsak Mongkolthong, um argumentista inexperiente, cujas únicas notas de relevo no currículo foram as de assistente de realização nos filmes “Som and Bank: Bangkok for Sale” (2001) e “Bangkok Dangerous” (1999), dos irmãos Pang, que nem sequer eram do género de terror é o exemplo clássico da dificuldade em sobreviver a uma premissa interessante. E o pior é que Songsak aliava ao potencial da estória uma excelente técnica incluindo o director de fotografia Chitti Urnorakankij, que trabalhou anteriormente em “Love of Siam” (2007) ou “13 Game of Death” (2006).
“The Screen at Kamchanod” é apenas uma sucessão de cenas arrepiantes, sem nada que as cole entre si. Mongkolthong conhece os truques da profissão mas esquece o que mantém o espectador agarrado ao ecrã, a estória! Ele recorre a um dos elementos mais básicos no conto de um conto. Ele recorre à técnica apelidada “McGuffin” pelo realizador americano Hitchcock que consiste no elemento que motiva os personagens. Em “The Screen at Kamchanod” os personagens buscam activamente a película perdida. No entanto, nunca, em momento algum, é explicado o porquê da obsessão com o filme. Não se entende porque pretendem recriar a experiência. Fama? Dinheiro? Uma maior compreensão dos segredos do universo? Prova da existência de fantasmas? Pretendem aliar a película a um fenómeno sobrenatural? O que poderia motivar médicos de profissão a tal pesquisa? Quanto às expectativas da audiência, elas são ignoradas. Em “The Ring” o momento mais aguardado é o da revelação do que contém o vídeo assassino. O que é que lá está que é mortal? Parece quase um pecado. Como se soubéssemos que estávamos a fazer algo de errado mas mantivéssemos os olhos grudados no ecrã num prazer culpado. “The Screen at Kamchanod” é um affair extra-ecrã.

O enfoque de Songsak vai todo para a pesquisa da equipa e para o modo como lidam com o que viram no ecrã. Inicia-se uma descida às trevas do ser humano. Alguns personagens revelam o que escondiam sob a superfície, qual lobo com pele de cordeiro. Outros vão bem fundo, às entranhas, buscar o pior que têm dentro de si e extravasam. O motor da busca, Dr. Yuth é imperscrutável e a influência que exerce sobre os colegas é um verdadeiro mistério. Cedo é evidente que algo vai muito errado no casamento com Orn. Ela demonstra-se submissa, temerosa, enchendo a sala de silêncio até nova indicação de Yuth. Até Roj (Namo Tongkumnerd) o charrado lá do sítio, se revela detestável. Entre o louco e a besta, todos insuportáveis. Eles não existem além da caricatura, descartáveis, não parecem humanos. Como poderia então alguém preocupar-se se eles são enviados para o outro mundo ou não? Duas estrelas.
Realização: Songsak Mongkolthong
Argumento: Songsak Mongkolthong
Achita Pramoj Na Ayudhya como Dr. Yuth
Pakkaramai Potranan como Orn
Namo Tongkumnerd como Roj

NOTA: Aconselhável elevada dose de paciência dada à péssima tradução ou inexistência da mesma em alguns momentos.

Próximo Filme: "Don't Look Behind" (Jangan Pandang Belakang, 2007)

sábado, 17 de agosto de 2013

É um filme de monstros, duh!


Quando já todos deram a sua opinião (ainda que indesejada) sobre “Pacific Rim”, eis que o Not a Film Critic, surge atrasado e fora de contexto na luta pela 34959434879 crítica. Na verdade, o que motivou este arranque tardio, bem depois do tiro de partida foi o aparecimento obsessivo de algumas vozes condescentes: “o filme é mau e nós vamos explicar-vos porquê”. Que interessa que o público até pudesse gostar do filme? Mas é a velha história, o papel do crítico é: “traçar a luz sobre”, “indicar”, “encaminhar”, sem se entusiasmar demasiado com isso. Porém há alturas em que os iluminados, inspirados pela raiva do sucesso ou pelo facto de o seu objecto de ódio de estimação, constituir antes um grande amor, se esquecem de tecer grande luz ele. A conformidade e racionalidade sobrepõe-se à necessidade de informar aqueles que procuram as suas palavras para conduzir (nunca substituir), as suas opções de visionamento. Segue-se pois um período de decomposição à unidade mais mínima, mais miserável, para comprovar, a ele e aos outros por que é que “Pacific Rim” é mau. É o criticocêntrismo, misto de enfoque excessivo na crítica com o cepticismo advindo de já ter visto muitas, demasiadas obras. Curiosamente, num site com nome jocoso de que poucos parecem dar-se conta e tido como respeitável, o “Rotten Tomatoes”, apresenta uma taxa de aprovação de 71%. O horror. O crítico especialista Bob Grimm do conhecidíssimo “Reno News and reviews” diz tudo: “It’s stupid but I liked it”. Façamos um momento de silêncio para apreciar a imensidão destas palavras. Aqui, seguindo as tendências da moda, laivo infeliz de criatividade, vamos realizar o mesmo processo mas de uma perspectiva inversa. O Not a Film Critic vai provar que o “Pacific Rim” é um bom filme e que possui um grau de profundidade aceitável para que não o considerem acéfalo e sim digno do pagamento de um bilhete de cinema. Se não gostam de “Pacific Rim” porque é básico, então vamos procurar argumentos para provar que o filme é profundo e por conseguinte gostarem dele. Segue-se pois um conjunto de palavras previamente estudadas para conferir uma pseudo-intelectualidade ao conteúdo, que o torne pois, credível.

Sinopse: Do misterioso oceano Pacífico começa a emergir um conjunto de monstros que invadem em vagas sucessivas as áreas costeiras, deixando atrás de si um rasto de destruição. Depois de toda a artilharia conhecida falhar, a humanidade junta-se para iniciar o programa Jaeger, que visa criar robots à escala dos atacantes que sejam capazes de os neutralizar. À beira da derrota final o Marechal Petecoast (Idris Elba), convoca os últimos robots operacionais para um ataque derradeiro.

A defesa da criatura revelou-se mais difícil que o esperado pois, a cada novo dado, surgiam mais duvidas. Imaginem então, num cenário hipotético (o do filme vá), que as nações costeiras começam a ser atacadas por monstros que saem de uma brecha no Pacífico. Como lá chegaram não se sabe. Como nunca tinha ainda sido detectada ainda menos, mas façamos o esforço de acreditar. Por muito interessante que seja a corporização de um holocausto nuclear num monstro por uma nação traumatizada, à la “Godzilla”, a verdade é que para muitos este filme é ainda apenas sobre um monstro que invade uma cidade e destrói tudo o que lhe aparece à frente. Do mesmo modo “Pacific Rim” identifica um inimigo distante, o alienígena, porque as possibilidades são infinitamente mais interessantes. Além de que não existe o perigo (óbvio?) de o transformar numa metáfora qualquer que ofenda alguma nação do planeta.
Divago. Os monstros crescem em número e poder destrutivo. O poder bélico do Homem não está à altura destes seres. Claro, tantos anos a desenvolver armas químicas e nucleares contra atacantes invisíveis, como poderiam ter algo à altura de um monstro gigante? A ideia brilhante surge na forma de um robot gigante, uma “big, mean, fighting machine”, que consegue distrair, afastar das costas e aniquilar (na melhor das hipóteses), os monstros. O robot é operado por uma dupla que luta corpo-a-corpo com a besta, com a assistência de um centro de apoio distante que lhes fornece instruções de localização e atividade do alvo. Isto levanta logo à partida, uma série de questões. Porque é que o combate não é conduzido à distância? A tecnologia para o efeito já existe. Não me vão dizer que não é possível enviar instruções para a máquina realizar a parte mais simples que é seguir indicações de combate. Mais porque terá o Homem de estar envolvido no processo? Será algum complexo de Super-herói? Recorda-me aquela cena marcante do “Independence Day” (1996), em que os pilotos de aviões vários se sacrificam pela grande causa de combater os alienígenas e mandá-los para seja lá onde for que vieram. Já na altura o envio de aviões sem tripulação era uma impossibilidade… É assim tão insensato deixar a perícia do combate para uma entidade programada para tal? Alguns poderão argumentar que a máquina só iria “agir” dentro do que lhe foi “ensinado”, escapando-lhe a capacidade de improviso. Mesmo que esta se revele estritamente necessária por que não deixar o ónus para uma inteligência artificial? Medo que a máquina se rebelasse contra o criador? Hello?! A humanidade está a ser atacada por monstros gigantes e está a perder. A situação não pode ficar pior do que já está. Mas sim, admitamos que se o Homem tem grande capacidade de improviso, também é verdade que ele tem o talento de tomar decisões irreflectidas nos piores momentos possíveis, com consequências terríveis. O erro humano, esse, é um dado adquirido. Significa morte, a perda do combate, perdas de vidas, danos de milhares, já para não falar da perda irrevogável do robot.

A ligação à máquina é um dos aspectos mais interessantes e polémicos do processo. Por muito que del Toro negue a influência (ele deve julgar que os Geeks são el totós), o anime “Neon Genesis Evangelion” (1995) é estranhamente familiar. Os pilotos estão conectados à máquina mediante um sistema neural que lhes permite, entre outras coisas, aceder às mentes uns dos outros, ver as suas memórias. Eles atingem um nível de sintonia tal, que agem como um só. Isto esclarece, creio eu, leiga nestas coisas de funcionamento do cérebro (e, infelizmente, não tenho aqui um António Damásio ao lado para me explicar), porque é que um dos pilotos comanda as operações. Duas mentes não podem desatar a mandar informações díspares ao mesmo tempo, uma terá forçosamente de liderar. Portanto temos que o Herc Hansen lidera a equipa de pai e filho do robot Stryker Eureka, Yancy Becket a equipa de irmãos do "Gipsy Danger" e assim sucessivamente, numa espécie de mente dominante/mente dominada que, em qualquer dos casos, não abona nada a favor das mentes passivas. Há toda uma série de questões em torno do habitáculo para sobrevivência em ambientes hostis: espaço e oceano. Os robots adaptam-se às duas situações com uma facilidade surpreendente. Não se admirem se no futuro se encontrar um “Pacific Rim 2: Space Invaders” (não me julguem).

domingo, 11 de agosto de 2013

Tiyanaks, 2007


No Not a Film Critic lá vamos avisando que não existe número suficiente de filmes com bebés assassinos. As poucas experiências já realizadas encontram-se entre o jocoso incapaz de provocar o riso e uma seriedade artificial. As Filipinas, misto de sonho pagão com o mais fervoroso fanatismo religioso, possuem lendas suficientes para satisfazer os amantes de filmes de terror. Depois do Aswang, abordamos o Tiyanak, uma criatura da mitologia filipina que assume a forma e o choro de uma criança atraindo pessoas insuspeitas para a sua morte. Outras variações da lenda descrevem a criatura como um anão ou um pequeno velhote enrugado. De acordo com a população este é o espírito de uma criança cuja mãe faleceu antes de dar à luz, sendo que na versão mais recente, cristã, o Tiyanak é o espírito de um bebé que morreu antes de ser baptizado ou de um feto abortado.

Em “Tiyanaks” um grupo de amigos de escola e a professora Sheila (Rica Peralejo) decidem fazer uma viagem a um local paradisíaco durante o período de férias da semana santa. Cedo os planos começam a correr mal. Eles perdem-se na floresta e a carrinha que os transportava avaria. A somar à sequência de azares, a professora é acossada por uma série de pesadelos que pressagiam um final amargo para a viagem. Será que conseguirão regressar à civilização ou a floresta esconde um mal que não os deixará sair dali com vida?
Sheila é a única adulta em plena utilização das faculdades mentais. O motorista da carrinha mais parece um amador pois tem a seu cargo um grupo de jovens e deixa-se levar para um local que desconhece sem um mapa, sem alternativas e, perante a ausência de indicações toma a atitude menos inteligente possível: recorre à arte do palpite. Quanto à professora Sheila, ela é daquelas que ignoram o tão aclamado instinto feminino, metendo-se, a despeito de todas as reservas e sinais negativos, na boca do lobo. Já os jovens, eles só podem ser acusados de ser jovens, tal como eles são percebidos no cinema. Meio desmiolados, totalmente preocupados com questões frívolas e obcecados com sexo. Tudo actores conhecidos da telenovela local. Há um rapaz, há a rapariga, há um triângulo amoroso. Mas como tantos outros exemplos anteriores nos ensinaram, nada há a temer a esse respeito. Já nem se trata de vos estar a brindar com spoilers. As interacções dos primeiros minutos de filme são inequívocas. Os bons, os amigos brincalhões, os rebeldes… Quem vive e quem morre parece ter sido decidido pela mesma caneta há décadas. “Tiyanaks” é na essência um slasher que segue todas as regras do género e cuja novidade se encontra na escolha do perseguidor. Podem pois esperar todo o tipo de decisões estúpidas por parte dos personagens. Que seria um slasher sem pérolas do género: “vamos separar-nos?”. Os “Tiyanaks” são um elemento novo, quase como um cruzamento entre a criança, uma planta e um animal feroz. Engraçados à vista, nem por isso assustadores…
O aspecto mais negativo de “Tiyanaks” reside na interpretação mais polémica da lenda. Para as Filipinas modernas e cristãs, a proibição do aborto e os problemas morais advindos da religião são ainda mais ou menos consensuais. Como tal, nem sequer existe subtexto quanto ao facto do aborto ser impensável, é explícito. Sobretudo para as sociedades ocidentais, o conteúdo poderá ser, no mínimo questionável e até fazê-las recusar visionar o filme de todo. Quem é que estes pensam que nos vir dizer que o aborto é errado? Quem são estes para utilizar crianças como armas para defender um ponto de vista? (Notem que as sociedades ocidentais têm o mesmo tipo de comportamento indefensável). Assim, a única sugestão que posso apresentar, sem rejeitar pontos de vistas morais e religiosos alheios, que tentem apreciar “Tiyanaks”, concordando ou não com a propaganda (fé se quiserem), apresentada, como produto da História, cultura e religião local. Talvez a mais-valia deste filme se encontre em dar a conhecer ao mundo uma lenda regional, já que do ponto de vista cinéfilo, “Tiyanaks” não tem muito a oferecer. Uma estrela e meia.
Realização: Mark A. Reyes
Argumento: Mark A. Reyes, Fairlane Raymundo, Venjie Pellena e Roselle Y. Monteverde
Rica Peralejo como Sheila
Jennylyn Marcado como Rina
Mark Herras como Christian
J.C. de Vera como Kerwin
Lotlot de Leon como Mildred
T.J. Trinidad como Professor Earl
Nash Aguas como Biboy
Karel Marquez como Cindy
Ryan Yulo como P.J.
Jill Yulo como Hans
Alwyn Uytingco como Bryan

PS: Não encontrei trailer com legendas em inglês. No entanto, o filme encontra-se online, com legendas em inglês.

Próximo Filme: “The screen at Kamchanod”, 2007

Cliquem aqui se quiserem ver o Tiyanak. Não cliquem se não gostam de spoilers. E depois não digam que não avisei!

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

"Swing Girls" (Suwingu Gāruzu, 2004)


Um conto de raparigas preguiçosas, rebeldes e em alguns casos delinquentes que se viram para o Swing. Entenda-se do jazz e não do divertimento para adultos. E este é um blogue sério. Não há cá dessas coisas. Excepto aqui e aqui.

“Swing Girls”, supostamente baseada em factos reais (não são sempre?), inicia-se com o desencantamento de uma adolescente Tomoko (Juri Ueno) que descobre durante a escola de Verão o gosto pelo jazz e depois tenta, por meios próprios, prolongar e aperfeiçoar a experiência. Ok, não é assim tão linear: quem não optaria por visitas de estudo com a banda ao invés de aulas de matemática? Pelo caminho, Tomoko recruta amigos como Yoshie (Shihori Kanjiya), Sekiguchi (Yukia Motokariya) e Nakamura (Yuta Hiraoka), todos eles a atravessar a fase do desabrochar na adolescência. Um acto irreflectido de rebelião resulta numa pequena revolução quando a Tomoko que nunca leva nenhum empreendimento até ao fim, percebe que está rodeada de uma dezena de raparigas também elas à espera de algo que as faça romper com o aborrecimento. Assim, as raparigas da recém-formada banda de swing da escola que nem sequer sabiam tocar um instrumento decidem, habilmente empurradas pela líder nata Tomoko, entrar num concurso de bandas escolares. O seu mentor trapalhão é o professor Ozawa (Naoto Takenaka). Se viram “Waterboys”, não estranhem a sensação de déjà vu, Takenaka está mesmo a repetir o papel. Quando já se fez um gazilião de filmes e se interpretou tudo quanto existe, o que é repetir um personagem?

Se há coisa de que podem acusar “Swing Girls” é de ser previsível. As piadas são percepcionadas a quilómetros de distância, mas nunca caiem no erro da rudez ou do impróprio. Shinobu Yaguchi, que também escreveu o argumento de “Waterboys” e Junko Yaguchi têm sensibilidade suficiente para atingir jovens adolescentes sem os tratar como mentecaptos (inserir piada com o Adam Sandler) ou recorrer à vulgaridade fácil (inserir nova piada com o Adam Sandler). Os momentos musicais, (qualquer desculpa é boa para ouvir Glen Miller), têm a benesse de a equipa de actores ter aprendido a tocar instrumentos para desempenhar o papel. Tanto que após o tremendo sucesso de bilheteira fizeram uma digressão mundial onde tocaram os temas do filme. “Swing Girls” também é ajudado pelo facto de os jovens actores serem, na maioria naturais e demonstrarem potencial. Não é por acaso que os quatro jovens actores principais apresentam carreiras tanto prolíficas como premiadas.
“Swing Girls” faz pelo jazz o que “Waterboys”, fez três anos antes pela natação artística. Realizado em 2004, podia ter sido rodado este ano. A alienação da juventude é um dos grandes problemas do século XXI. Há muitas, demasiadas ocupações, no entanto, muitos jovens optam por permanecer em casa a ver televisão ou presos ao computador. Parece não existir paixão. E se existe, ela encontra-se enterrada debaixo de camadas de possibilidades. Há material mais do que suficiente para que todos os anos surja uma película com a mesma temática: rapazes que aprendem a costurar, raparigas que se dedicam ao kickboxing… e pelo caminho aprendem aquilo que adoram fazer na vida. A imaginação é o limite. Três estrelas.

Realização: Shinobi Yaguchi
Argumento: Shinobi Yaguchi e Junko Yaguchi
Juri Ueno como Tomoko
Yuta Hiraoka como Nakamura
Shihori Kanjiya como Yoshie Saito
Yuika Motokariya como Kaori Sekiguchi
Naoto Takenaka como Ozawa

Próximo Filme: “Tiyanaks”, 2007

domingo, 4 de agosto de 2013

3 A.M. 3D (2012)


O que é que faz falta ao cinema de terror asiático? Antologias não são com certeza. Mas perdoe-se 3 A.M. desse pecado e julgue-se pela qualidade. Então o que é que 3 A.M. tem para oferecer? Apenas o artificio para gerar dinheiro mais irritante dos últimos anos? Adivinharam, tecnologia 3D. Acrescenta algo às curtas-metragens? Isso é o que vamos ver a seguir…

“Wig Shop”
May (Focus Jirakul) e Mint (Apinya Sakuljaroensuk) são duas irmãs que, não fosse o facto de pertencerem à mesma família nada teriam em comum. May é calma, modesta e trabalhadora, Mint é a vida da festa, sofisticada e preguiçosa. Rebenta uma discussão séria entre ambas quando Mint leva uns amigos para a loja de perucas dos seus pais e estes se põem a brincar com elas. Conseguirão elas esquecer as divergências quando uma aparente anterior dona do cabelo de uma peruca decide assombrar o grupo de amigos?

“Corpse Bride”
Tod (Tony Rakkaen) é um mortuário novato contratado para velar um jovem casal que faleceu uma semana antes do casamento. Ele deverá efetuar ritos para apaziguar os seus espíritos, não espreitar para dentro dos caixões e não tocar nos pertences do casal até ao seu descanso final. Mas ele não consegue deixar de cometer um erro primordial, ele olha para dentro do caixão da noiva Cherry (Karnklao Duaysianklao). Linda, parece estar viva…

“Overtime”
Karan (Shahkrit Yamnarm) e Tee (Ray MacDonald) são dois chefes brincalhões que adoram pregar partidas aos seus funcionários durante o período da noite. Desta feita Bump (Prachakorn Piyasakulkaew) e Nging (Kanyarin Nithinaparath) são as próximas vítimas mas será que eles não estarão a preparar um contra-ataque.



O fio condutor entre estas curtas-metragens é as três da manhã, o período, no qual sucedem acontecimentos que poderíamos classificar de paranormais. Tradicionalmente, para quem estuda tais eventos, o período entre as três horas da manhã e as quatro considera-se a hora dos mortos. Esta hora está ligada à morte de Jesus Cristo, uma vez que é a hora diametralmente oposta àquela em que o profeta faleceu (três da tarde) e é o período em que será mais fácil estabelecer contacto com o outro mundo. Meninos não tentem isso em casa! Infelizmente para os protagonistas, os contactos com os espíritos no outro lado não são positivos. (Ainda estou para ver um filme em que esses encontros sejam simpáticos). 3 A.M. é um verdadeiro “quem-é-quem” do cinema de terror tailandês. Isara Nadee, realizadora de “Overtime” é dos elementos da equipa de argumentistas “ronin”, notória pelos filmes do gorefest “Art of  the Devil” e ainda do terrível “407 Dark Flight 3D”. Apinya Sakuljaroensuk e Ray MacDonald são presenças recorrentes no cinema local e Shahkrit Yamnarm é a grande estrela do elenco, tendo inclusive contracenado ao lado de Nicolas Cage (sei que hoje em dia não é grande motivo de orgulho), em “Bangkok Dangerous”. Que podia pois correr mal?
A abrir as hostilidades está “Wig Shop” que, para quem viu filmes como o coreano “The Wig” ou o japonês “Exte: Hair Extensions” é um conceito já testado e cansado, para não dizer totalmente exausto. A curta tenta emular em poucos minutos o que os filmes anteriores conseguiram realizar em pleno durante quase duas horas. E se um recorria ao bom velho drama coreano o outro apresentava como grande arma um realizador de peso. “The Wig Shop” vale-se de duas carinhas bonitas que não conseguem salvar um argumento em veloz trajecto descendente.  Ah e alguém reparou na triste ausência de 3D? Não se preocupem que o sua utilização desnecessária ainda agora começou.
Nestes projectos há sempre um momento de insanidade e “Corpse Bride” encarrega-se da bizarria da antologia. “Corpse Bride” é capaz de fazer mais jus ao nome do que a animação de Tim Burton mas é um exemplo clássico de ausência de direcção. Drama? Mistério? Terror? Seria de pensar que com tanta variedade “Corpse Bride” exaltasse algum tipo de entusiasmo mas é tragicamente, o mais aborrecido dos três. Pior ainda, parece uma curta-metragem demasiado longa. Quando os personagens são desprezíveis ou provocam, no mínimo indiferença o que mais desejamos é despachá-los o mais rápido possível e não prolongar a tortura. “Corpse Bride” tem uma reviravolta final mas, por essa altura, já estaremos tão dormentes que não importa. Acabem com a nossa miséria!
“Overtime” é o grande desperdício da antologia. Mesmo que aguentem o visionamento até à última curta-metragem será difícil não ficar com a sensação de que o tom da mesma está totalmente desligado do das anteriores. Curiosamente é o que melhor representa o cinema tailandês. Assim como os sul-coreanos adoram misturar drama e comédia, os tailandeses parecem adorar os seus filmes de terror com um pouco de comédia. Querem melhor exemplo que o estreado este ano “Pee Mak” que se tornou o filme mais rentável da história do cinema tailandês? A grande crítica a “Overtime” é parecer-se mais com um conjunto de gags colados para efeito cómico do que um argumento sólido. No entanto, é a descontração dos actores e o sentimento de que a estória não está a ser levada demasiado a sério que deve conquistar os corações das audiências. Os efeitos digitais são maus? Terríveis, na verdade. Mas questionem-se, onde das películas falharam em assustar uma teve sucesso em divertir. Quem é o vencedor? Duas estrelas.
“Wig Shop”
Realização: Pussanont Tummajira
Focus Jirakul como May
Apinya Sakuljaroensuk como Mint

“Corpse Bride”
Realização: Kirati NakIntanont
Tony Rakkaen como Tod
 Karnklao Duaysianklao como Cherry
Peter Knight como Mike


“Overtime”
Realização: Isara Nadee
Shahkrit Yamnarm como Karan
Ray MacDonald como Tee
Prachakorn Piyasakulkaew como Bump
Kanyarin Nithinaparath como Nging

Próximo Filme: "Swing Girls" (Suwingo Gâruzu, 2004)
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