Aviso: O trailer tem spoilers
Chin Siu-ho é um actor acabado que decidiu alugar um apartamento para pôr termo à vida de modo tranquilo. O seu plano é prejudicado quando se apercebe que o apartamento já tem a sua própria assombração e esta tem um plano muito próprio sobre o que fazer com ele. Yau (Anthony Chan) é o dono do restaurante do rés-do-chão cuja fachada descontraída (ele anda a passear pelos corredores de robe), esconde um caçador de vampiros retirado mas ainda atento a manifestações sobrenaturais. A tia Mui (Nina Paw) é uma costureira e boa samaritana, que passados tantos anos de matrimónio continua ainda profundamente apaixonada por Tung (Richard Ng). A sua morte vai obrigá-la a tomar uma decisão que vai contra todos os princípios por que sempre se regeu. Gau (Chung Fat) é um perito no oculto que a despeito dos anos de experiência decidiu enveredar pelo caminho das artes negras de modo subreptício. Yeung Fang (Kara Hui) é uma vizinha que poderia passar por um fantasma pois vagueia pelo prédio destroçada por uma dor invisível. O seu filho albino Pak (Morris Ho) entra e sai dos vários apartamentos com a aquiescência dos vizinhos que o reconhecem já como parte integral da vida do prédio.
“Rigor Mortis” é uma homenagem aos filmes de fantasia e comédia sobre vampiros saltitantes produzidos em Hong Kong nos anos 80. Juno Mak, se calhar mais conhecido no ocidente pela interpretação arrepiante em “Revenge: A Love Story” estreia-se como realizador e ó, se impressiona. Ele terá aproveitado todos os bons contactos e as excelentes críticas advindas de “Revenge: A Love Story” do qual também foi argumentista e captou grandes artistas dos filmes que homenageia (Chin Shiu-ho e Richard Ng) e ainda lendas como Nina Paw e Kara Hui, esta última se calhar injustamente mais conhecida pela habilidade no Kung Fu do que pelas fortes qualidades dramáticas. Os aspectos técnicos de “Rigor Mortis” são qualquer coisa de fantástico. A fotografia é belíssima, os efeitos digitais idem, a banda-sonora pejada de notas dissonantes (ainda que exageradas uns quantos decibéis) demonstram a inquietação que perpassam aqueles corredores e a câmara e actores parecem unidos no objectivo de comum de fazer daquele prédio um local perturbador. A luz é inexistente. Apenas existem as paredes e as estórias que lá se passam. Qualquer alusão ao mundo lá fora não é mais do que uma memória dolorosa: divórcios, morte, abuso... Ficar ali é a escolha de um falso conforto. Daí os filtros azuis e cinzentos. Mas a “vida” ali assenta num equilíbrio instável. A quebra da falsa ilusão de segurança pode advir da fonte mais improvável. Quando a violência ocorre, quase sempre é sem censura. Ainda assim é mais comedido que outros filmes que têm saído de Hong Kong nos últimos anos como o “Tales from the Dark –Part 1” (2013). As imagens digitais mais parecem composições de artistas que forem eles próprios influenciados pela vaga de filmes tailandeses à semelhança de “Body #19”. Filmes esses que não se transcendendo na qualidade do storytelling ficam na retina pelas imagens fabulosas que geram. Estas similitudes também não são alheias ao facto de Takashi Shimizu (“Ju-on”, 2000) ser produtor do filme. Atente-se às duas irmãs capazes de rivalizar com as gémeas assustadoras de “The Shining” (1980).
O Este encontra o Oeste |
O melhor:
- Recuperação dosubgénero esquecido do “Vampiro Saltitante”.
- Fotografia, efeitos gerados por computador
- Interpretação fabulosa de Nina Paw
- O realizador é inexperiente? Não dei por nada.
O pior:
- Ritmo lento
- Desfecho
- Estória demora a arrancar
- Cenas de artes marciais poderão parecer desenquadradas do filme que vinham a acompanhar
Realização: Juno Mak
Argumento: Lai-yin Leung e Philip Yung
Chin Siu-ho como Chin Siu-ho
Anthony Chan como Yau
Kara Hui como Yeung Feng
Nina Paw como Tia Mei
Ricard Ng como Tio Tung
Morris Ho como Pak
Chung Fat como Gau
Próximo Filme: NAFF 2014 (vários)