No Not a Film Critic lá vamos avisando que não existe número suficiente de filmes com bebés assassinos. As poucas experiências já realizadas encontram-se entre o jocoso incapaz de provocar o riso e uma seriedade artificial. As Filipinas, misto de sonho pagão com o mais fervoroso fanatismo religioso, possuem lendas suficientes para satisfazer os amantes de filmes de terror. Depois do Aswang, abordamos o Tiyanak, uma criatura da mitologia filipina que assume a forma e o choro de uma criança atraindo pessoas insuspeitas para a sua morte. Outras variações da lenda descrevem a criatura como um anão ou um pequeno velhote enrugado. De acordo com a população este é o espírito de uma criança cuja mãe faleceu antes de dar à luz, sendo que na versão mais recente, cristã, o Tiyanak é o espírito de um bebé que morreu antes de ser baptizado ou de um feto abortado.
Em “Tiyanaks” um grupo de amigos de escola e a professora Sheila (Rica Peralejo) decidem fazer uma viagem a um local paradisíaco durante o período de férias da semana santa. Cedo os planos começam a correr mal. Eles perdem-se na floresta e a carrinha que os transportava avaria. A somar à sequência de azares, a professora é acossada por uma série de pesadelos que pressagiam um final amargo para a viagem. Será que conseguirão regressar à civilização ou a floresta esconde um mal que não os deixará sair dali com vida?
Sheila é a única adulta em plena utilização das faculdades mentais. O motorista da carrinha mais parece um amador pois tem a seu cargo um grupo de jovens e deixa-se levar para um local que desconhece sem um mapa, sem alternativas e, perante a ausência de indicações toma a atitude menos inteligente possível: recorre à arte do palpite. Quanto à professora Sheila, ela é daquelas que ignoram o tão aclamado instinto feminino, metendo-se, a despeito de todas as reservas e sinais negativos, na boca do lobo. Já os jovens, eles só podem ser acusados de ser jovens, tal como eles são percebidos no cinema. Meio desmiolados, totalmente preocupados com questões frívolas e obcecados com sexo. Tudo actores conhecidos da telenovela local. Há um rapaz, há a rapariga, há um triângulo amoroso. Mas como tantos outros exemplos anteriores nos ensinaram, nada há a temer a esse respeito. Já nem se trata de vos estar a brindar com spoilers. As interacções dos primeiros minutos de filme são inequívocas. Os bons, os amigos brincalhões, os rebeldes… Quem vive e quem morre parece ter sido decidido pela mesma caneta há décadas. “Tiyanaks” é na essência um slasher que segue todas as regras do género e cuja novidade se encontra na escolha do perseguidor. Podem pois esperar todo o tipo de decisões estúpidas por parte dos personagens. Que seria um slasher sem pérolas do género: “vamos separar-nos?”. Os “Tiyanaks” são um elemento novo, quase como um cruzamento entre a criança, uma planta e um animal feroz. Engraçados à vista, nem por isso assustadores…
O aspecto mais negativo de “Tiyanaks” reside na interpretação mais polémica da lenda. Para as Filipinas modernas e cristãs, a proibição do aborto e os problemas morais advindos da religião são ainda mais ou menos consensuais. Como tal, nem sequer existe subtexto quanto ao facto do aborto ser impensável, é explícito. Sobretudo para as sociedades ocidentais, o conteúdo poderá ser, no mínimo questionável e até fazê-las recusar visionar o filme de todo. Quem é que estes pensam que nos vir dizer que o aborto é errado? Quem são estes para utilizar crianças como armas para defender um ponto de vista? (Notem que as sociedades ocidentais têm o mesmo tipo de comportamento indefensável). Assim, a única sugestão que posso apresentar, sem rejeitar pontos de vistas morais e religiosos alheios, que tentem apreciar “Tiyanaks”, concordando ou não com a propaganda (fé se quiserem), apresentada, como produto da História, cultura e religião local. Talvez a mais-valia deste filme se encontre em dar a conhecer ao mundo uma lenda regional, já que do ponto de vista cinéfilo, “Tiyanaks” não tem muito a oferecer. Uma estrela e meia.
Realização: Mark A. Reyes
Argumento: Mark A. Reyes, Fairlane Raymundo, Venjie Pellena e Roselle Y. Monteverde
Rica Peralejo como Sheila
Jennylyn Marcado como Rina
Mark Herras como Christian
J.C. de Vera como Kerwin
Lotlot de Leon como Mildred
T.J. Trinidad como Professor Earl
Nash Aguas como Biboy
Karel Marquez como Cindy
Ryan Yulo como P.J.
Jill Yulo como Hans
Alwyn Uytingco como Bryan
PS: Não encontrei trailer com legendas em inglês. No entanto, o filme encontra-se online, com legendas em inglês.
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