domingo, 6 de outubro de 2013

"Ghost Child" (Toyol, 2013)


“Ghost Child” é um bom exemplo de como as fronteiras culturais fazem toda a diferença. Esta película originária de Singapura tem como título original “Toyol”, uma palavra nascida de crenças pagãs que tem um significado muito específico e conhecido em países como Malásia, Indonésia ou Singapura. E em países como a Tailândia, Filipinas, Camboja ou China, apenas possui outro nome. Logo, estes povos ao acorrerem às salas de cinema para assistir a “Ghost Child” sabem o que vão ver. Para os restantes, a ignorância não tem de ser um mal maior pois sempre permite que exista alguma aura de mistério no visionamento do filme. O problema é que se não for o nome do filme a revelar uma narrativa pré-inexistente, a audiência fica totalmente às escuras pois, “Ghost Child” não oferece pistas nenhumas para o que se está a passar no ecrã. Sem prestar grande atenção ao título (muitas vezes a tradução para o inglês não é literal e até mesmo enganadora), a muito custo entendi a acção. Apenas quando fui pesquisar informação adicional sobre o filme e regressei a algumas cenas é que o significado se concretizou na plenitude…
“Toyol” é o espírito de uma criança que é invocado através de magia negra e do recurso a um feto humano. O Toyol é utilizado por pessoas pouco escrupulosas para roubar dinheiro e jóias a outrem ou ter boa fortuna no geral. O Toyol é como uma verdadeira criança, devendo ser alimentado, mimado e ver todas as exigências satisfeitas, que podem incluir sacrifícios. Quando ameaçado, ele torna-se vingativo, podendo atacar até a família do seu senhor. Bem vistas as coisas, não parece que a recompensa de ter um Toyol seja grande mas enfim…
Quando o viúvo Choon (Chen Hanwei) salva Na (Carmen Soo) de uns bandidos que a perseguiam parece que encontrou a pessoa certa para voltar a assentar. Na é misteriosa e de origem indonésia o que não agrada à mãe de Choon e a Kim (Jayley Woo), a filha adolescente. Nunca ninguém gosta de ver a senhora da casa, pelo menos na psique delas, substituída. Sobretudo, quando a decisão é extemporânea e elas nem sequer são questionadas se, se sentem confortáveis com o facto de uma estranha, por muito bonita e simpática que possa ser, ir morar com elas. Além disso, existe ainda um grande preconceito em torno das empregadas domésticas de países mais pobres que acabam por se casar com os antigos patrões. Seja por pertencer a povos inferiores, para muitos é essa a ideia que grassa, seja por destruir casamentos existentes, o que infelizmente também sucede. Por isso é natural que quando os colegas de Kim descobrem que a sua madrasta tenha ascendência indonésia, esta se torne o alvo de piadas cruéis. Kim e a avó não ajudam à sua defesa pois a sua recepção fria a Na apenas demonstra como elas são permeáveis ao preconceito e ao desejo egoísta de que Choon permaneça solteiro. Apenas quando as atividades de Na começam a aparentar grande suspeição é que o seu asco se revela justificado. Acções que não são mais do que pequenos nadas, pistas que apontam para ela somente por exclusão de partes e, admita-se, desejo de que Na não seja uma boa pessoa, justificando assim a sua renitência em aceitá-la. A associação ao Toyol é que é fantasista, no mínimo. Mesmo conhecendo o folclore local, uma pessoa terá de ser bastante supersticiosa para chegar a esse ponto.

A personagem de Na é de longe a mais injustiçada. A despeito de uma breve descrição do seu passado, a câmara quase não se interessa por ela. Como se ela não fosse o elemento que provoca o conflicto familiar. Sofre pois de discriminação dupla: é a estranha que veio introduzir-se numa família “feliz”, provocando, a ruptura da sua paz podre mas não tem direito a tempo de antena suficiente. Choon, surge como uma personagem manipulável, sem qualquer controlo sobre o seu destino, comete o pecado de apaixonar-se depois de perder a primeira mulher mas, depois, não é capaz de gerir as pessoas que tem em casa, falhando na defesa da sua opção de vida.
A narrativa de “Ghost Child” é uma teia de sustos desconexos, ideias subdesenvolvidas e associações fantasistas mais rápidas que a velocidade warp. A concretizar-se a premissa da existência de um Toyol, “Ghost Child” não oferece nada de novo pois o tema já foi abordado noutros filmes da região a ser apenas um engodo para o mistério sobrenatural, restam pois as personagens que tendo potencial, são tão pouco exploradas que tão pouco geram afeição. Duas estrelas.

Realização: Gilbert Chan
Argumento: Gilbert Chan e Tan Fong Cheng
Chen Hanwei como Choon
Carmen Soo como Na
Jayley Woo como Kim
Cecilia Heng como mãe de Choon 
Vanessa Lee como Tiffany

Próximo Filme: "My Wife is a Gangster" (Jopog Manura, 2001)

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