quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

"Ju-on: The Grudge" (Ju-on, 2003)

Já adiei esta apreciação por tempo demais. "Ju-on" é por demais uma referência em qualquer filme de "rapariga assustadora de longos cabelos compridos" para que não explique afinal, a que é que me estou sempre, qual macaca de repetição, a referir. Antes de mais, deverão compreender que “Ju-on” não é um único filme mas um conjunto de películas feitas para a televisão e cinema japoneses, todas realizados por Takashi Shimizu. O título normalmente mais mencionado é “Ju-on: The Curse”(2003), direccionado para o grande ecrã. Foi neste último, que o remake americano “The Grudge” (2004), se baseou. Este é o filme que muitos terão visto antes sequer de terem ouvido falar da versão original e o motivo pelo qual, "Ju-on" é por vezes injustiçado.

Definição de Ju-on:
Ju significa maldição, praga ou coisa maldita
On significa rancor, maus sentimentos, aversão

“Ju-on: The Curse”
Os créditos iniciais anunciam um rancor tão forte que ultrapassa a morte. Esta emoção é dirigida a todos os que entrarem no perímetro de uma casa maldita. Passamos logo à história de Rika, uma voluntária da acção social que é persuadida a ir cuidar de uma velhota em estado catatónico. Quando lá chega parece que passou por ali um tornado: a casa está desarrumada e não deve ser limpa há bastante tempo. Rika entra em acção e começa a limpeza quando começa a ouvir sons estranhos vindos de um dos quartos. Lá encontra um armário fechado com fita-poliéster que começa a retirar…
“Ju-on: The Curse” não é uma história mas antes um conjunto de histórias de seis personagens que por um motivo ou por outro, entram na casa e acabam por conhecer um fim trágico. As personagens não têm necessariamente ligação entre si e o único denominador comum é a casa. O resultado é uma narrativa fragmentada onde a história é o que menos importa e a atmosfera de temor tem o papel principal. Shimizu apresenta um conjunto de técnicas que nunca parecem repetitivas para construir a atmosfera de tensão: breves sequências dos fantasmas, ângulos que permitem ver o fantasma mesmo ao canto do olho, isto é, se estivermos atentos e uma boa utilização espacial que nos permite ver aparições em espelhos, vidros, debaixo dos cobertores, por entre portas, etc. É certo que hoje em dia estes truques estão vulgarizados mas na época foi uma abordagem interessante. Com cada capítulo fechado, vamos passando à personagem seguinte e assim sucessivamente até que todas conhecem o seu destino. Não existe uma preocupação com o desenvolvimento dos personagens. Quando as começamos a compreender e simpatizar com elas a sua história termina. É também complicado estabelecer a cronologia visto que de episódio para episódio há saltos no tempo que dificultam o estabelecimento da acção no passado ou no futuro. Por outro lado, é interessante verificar que no prólogo é projectado um flashback a preto e branco onde vemos resquícios da fúria assassina que dá origem da maldição. Só mais tarde é que se faz uma breve menção a um homicídio na casa, no qual Taeko Saeki matou a mulher Kayako e o filho de ambos, Toshio desaparece. Se Taeko pouco aparece, são Kayako e Toshio que representam a visão assustadora. Toshio aparece branco, pálido como se coberto em pó de talco (talvez) e tem um olhar vazio. Ele prega-nos partidas (lá está a ilusão óptica e os sistemáticos ora surge ora sai de cena), como brinca uma criança mas com uma agenda bem mais aterrorizante. Quanto a Kayako, ela tem uma cena reminiscente de “The Exorcist” (1973) na qual Reagan (Linda Blair) desce as escadas, toda contorcida que é tão simplesmente a cena mais assustadora de todo o filme. Kayako rasteja e contorce-se enquanto desce as escadas para pregar um susto de morte às vítimas que aguardam insuspeitas no fundo das escadas. Este efeito está em parte conseguido devido à capacidade de contorcionismo de Fuji que lhe permitiu efectuar uma série de movimentos menos naturais. Junte-se às imagens assustadoras o silvo de gatos, sons guturais, e som de algo a arranhar, com uma banda-sonora subtil e temos construído um cenário macabro. No fim, há apenas uma certeza: nem debaixo dos cobertores, estamos salvos da maldição. Três estrelas.

Realização: Takashi Shimizu
Argumento: Takashi Shimizu
Megumi Okina como Rika Nishina
Misaki Itô como Hitomi Tokunaga
Yuya Ozeki como Toshio
Takako Fuji como Kayako
Misa Uehara como Izumi Tôyama
Próximo Filme: "Tucker & Dale vs. Evil", 2010

PS: Se quiserem conhecer a cronologia da série “Ju-on”, leiam abaixo.


Cronologia da série:
Em 1998, Takashi Shimizu junta-se ao colectivo de realizadores Kyoshi Kurosawa e Tetsu Maeda na antologia de terror para TV “School Ghost Stories G”, no original, Gakkô no kaidan G. Shimizu dá o seu contributo com as curtas-metragens “Katasumi” e “4444444444”. São estas duas curtas-metragens, com pouco mais de 10 minutos juntas que constituem a base para a futura série de filmes “Ju-on”. Aí aparecem já alguns actores e personagens emblemáticas do franchise como Takako Fuji que desempenha o papel de Kayako. O sucesso destas curtas levou Shimizu a escrever e realizar dois filmes directos para vídeo em 2000. Os filmes tiveram os nomes de “Ju-on: The Curse” ou Ju-on e “Ju-on: The Curse 2” ou Ju-on 2. O seu grande sucesso deu origem a duas películas feitas para cinema em 2002 e 2003, desta feita com um novo nome “Ju-on: The Grudge” e “Ju-on: The Grudge 2”. É no primeiro filme que surge pela primeira vez nos créditos a popular frase: “no Japão quando uma pessoa morre vítima de uma raiva extrema, essa emoção subsiste e pode deixar uma marca nesse lugar. A morte torna-se parte do local, mantando todos aqueles em que toca”. O sucesso monstruoso destes filmes um pouco por toda a Ásia, atraiu a atenção da produtora Colombia Pictures que adquiriu os direitos para realização de um novo filme. “The Grudge”, protagonizado pela americana Sarah Michele Gellar é baseado no primeiro “Ju-on: The Grudge” mas representa pela primeira vez uma ruptura com a habitual narrativa fragmentada. O filme facturou mais de 100 milhões de dólares por todo o mundo, superando todas as expectativas e levou a mais duas sequelas, em 2006 e 2009. “Ju-on: The Grudge 2” já representa uma história diferente da sequela do filme japonês e mais americanizada para apelar ao público ocidental. Representou também a última aparição de Takako Fuji como Kayako, que demonstrou o desejo de abandonar uma personagem unidimensional e perseguir outros projectos após protagonizar 7 filmes da série “Ju-on”. O seu papel foi depois retomado por Aiko Horiuchi. Os dois filmes já não captaram o interesse da audiência tendo o terceiro sido lançando, directamente para DVD. Por esta altura, já os filmes “The Ring” (2000) e “The Grudge” (2004) tinham sido copiados e parodiados exaustivamente, o que pode explicar o cansaço e desinteresse da audiência com as novas versões. Em 2009, com o lançamento de “Ju-on: The Grudge 3” e a comemoração do 10º aniversário da série de filmes foram produzidos mais dois filmes que estrearam em simultâneo. Estes contam já com diferentes realizadores e elenco: “Ju-On: White Ghost” e “Ju-on: Black Ghost” revelam que a chama que tanto interesse e controvérsia provocou se perdeu definitivamente. Já não há como explorar uma história repetida até à exaustão. Não confundir “Ju-On: White Ghost” com a proposta coreana “White: The Melody of the Curse” que não tem nenhuma ligação com a produção japonesa. Também procurei um pack com todos os filmes ou pelo menos, os o que foram produzidos originalmente no Japão mas não encontrei. Portanto, fico na dúvida se existe tal pack ou não. Em todo o caso, o que existe está a um preço bastante acessível.

3 comentários:

  1. Nunca vi nem este nem o americano, tenho de colmatar essa falha, já que o original tem mesmo muito bom aspecto :)

    http://onarradorsubjectivo.blogspot.com/

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  2. Passados tantos anos e vendo tantos filmes a replicarem o original será difícil ter o impacto do original. Mais que não seja para se conhecer a origem.

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  3. Apanhei há uns anos este filme, não desgostei, mas não achei nada de genial. Ao menos é bem mais credível que o remake americano, que recai sempre um pouco para a mediocridade.

    cumprimentos,
    cinemaschallenge.blogspot.com

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