É natural que todas as atenções se virem para um filme quando o marketing faz anunciar um “Blade Runner” moderno. É uma herança muito pesada para honrar quando se trata do FILME para muitos e, invariavelmente, figura dos nos top’s de melhores filmes de sempre ou do género da ficção científica. Se bem que a ideia de um “Blade Runner” moderno se afigura interessante, a incapacidade deste filme em chegar às mesmas alturas não é mais do que uma constatação de uma expectativa prévia, inclusive de quem não é parte imparcial no caso.
“Natural City” desenrola-se no ano 2080, numa altura em que os cyborgs estão ao serviço do ser humano para serviços que variam entre o trabalho mais árduo ao prazer. Para o Homem ainda resta trabalho como o policiamento da população, no qual se incluem R (Ji-tae Yu) e Noma (Chang Yun), por estes dias mais ocupados a combater cyborgs que de algum modo conseguiram escapar à sua programação e viraram "rebeldes" e o tráfico destas entidades. Típico dos humanos: mesmo com tudo controlado não conseguem deixar de ser desconfiados. E é confiança a palavra-chave. A amizade entre os dois homens é abalada pela paixão avassaladora de R pela cyborg bailarina Ria (Rin Seo). Apesar de não ser vista com bons olhos a relação é tolerada, até ao momento em que R se torna trapalhão e começa a deambular dentro e fora da lei, associando-se a personagens duvidosos como o excêntrico Dr. Giro. Ele recorre mesmo ao próprio tráfico que combate, tudo para salvar Ria da morte certa: os seus 3 anos de validade estão quase a terminar. Onde é que já vimos isto? Na sua corrida contra o tempo, R torna-se cada vez mais desesperado e desconectado da realidade, negligenciado os deveres policiais que permitem a Cyper (Doo-hong Joo) um cyborg perigoso, aproximar-se de uma importante base de ADN. Entretanto, o Dr. Giro apresenta-lhe a solução na pele da prostituta Cyon (Jae-un Lee), mas o que terá de fazer para salvar a sua Ria implica ir muito além de uma ofensa menor.
“Natural City” é francamente artificial. Qualquer oportunidade é boa para recorrer ao ecrã verde. As imagens são de tirar o fôlego e com uma qualidade superior até a alguns filmes de grande orçamento americanos, onde se atreveram a ser preguiçosos com a imagem digital. Provavelmente o título do filme advém de uma grande noção de ironia de Byung-shun Min. Mas é nos actores que a sensação de artificialismo é mais evidente. R é frio e quando não o é, limita-se a ser um asno. Infelizmente, sintomas clássicos da paixão, R parece perder todas as faculdades mentais, tomando as decisões mais desafortunadas. Decisões que, como é óbvio, não se limitam ao microcosmos que criou, a bolha de R + Ria onde ele é feliz e, o exterior pode arder à sua volta que ele não será mais indiferente. R passa toda a duração da película num estado depressivo, tem atitudes reprováveis e, não é o facto de estar prestes a perder a amada que o vai tornar mais simpático. Onde o Deckard de Ford era apenas lacónico, R é detestável. E o que ele vê em Ria é um mistério já que ela tem a personalidade de uma planta. Ela passeia pelo ecrã parecendo bonita mas sem contribuir alguma coisa para a sua causa. Se ela desaparecer não fará grande falta ao mundo, entendem? A Rachael da Sean Young era sofisticada, inteligente, respirava sensualidade por todos os poros. A audiência queria que ela sobrevivesse. Quanto a Rin Seo, o seu papel não tem substância suficiente para que possamos afirmá-lo mas, Ji-tae Yu, actor de “Oldboy” e “Into the Mirror” tem capacidade dramática mais do que suficiente para um papel tão inferior.
Salvam-se Cyon (Jae-un Lee) e Noma (Chang Yun) que supostamente servem de apoio à narrativa central. Os restantes cyborgs não possuem emoção, não têm presença humana que justifique a sua continuidade, não são replicantes. Numa análise fria são objectos. É aqui que “Natural City” diverge naturalmente de Blade Runner. Existe uma ausência de humanidade nos personagens humanos e cyborgs que tornam o conflito inócuo. Somos rapidamente confrontados com a inexistência de um cyborg à semelhança de um Roy Batty (“Blade Runner”), não teremos direito a meia dúzia de falas imortais. “Natural City” é fantástico em termos visuais mas, 70% do tempo é um melodrama, à boa moda coreana. Os fãs fervorosos de “Blade Runner” não têm motivos para perder o sono, o trono continua seguro. Mas um sucessor merecia mais. Não acham? Duas estrelas
Realização: Byung-chun Min
Argumento: Byung-chun Min
Ji-tae Yu como R
Jae-un Lee como Cyon
Chang Yun como Noma
Lin Seo como Ria
Eun-pyo Jeong como Croy
Doo-hong Joo como Cyper
PS: O trailer faz um excelente trabalho a esconder os problemas do filme. Parece melhor do que é.
Próximo Filme: "Shall we Dansu?", 1996
Mais uma visita ao blog. Tinha imensa curiosidade com este filme, pois já tinha também lido que seria o "Blade Runner Coreano", li uma critica que lhe favorecia muito, e agora leio a tua fiquei na dúvida..
ResponderEliminarProvavelmente ficará para uma próxima ocasião.
Continua o bom trabalho