Comédia coreana que deverá agradar a quem gostou de “American Pie” e “Van Wilder”.
Situado algures entre as piadas nojentas de “Van Wilder” (2002) e com um pouco mais de alma do que o primeiro “American Pie” (1999) que agradaram a multidões de pré-pubesceres convencidos que aprenderam tudo quanto ao sexo dizia respeito, “Sex is zero” é surpreendentemente espirituoso. Apesar de possuir um corpo de actores mais velho que os filmes já mencionados, nem por isso o juízo destes é melhor. Estudar? A preocupação com os estudos está perto de ser a última coisa que os estudantes do campus da Universidade Nacional têm em mente. Numa palavra: sexo. Sexo pela primeira vez, sexo com outro parceiro que não o habitual, sexo com a pessoa que se ama, definição do próprio sexo, inveja do seu próprio sexo, falta de sexo. E para tais preocupações há cenas em suficiente quantidade para agradar a todos os adolescentes obcecados pelo sexo, nomeadamente a cena em que, após uma saída, todos os "jovens" já completamente alcoolizados iniciam as maquinações para acabarem a noite com o seu par de eleição. Mas que seria de uma comédia arriscada sem um par romântico pelo qual torcer? O Jim e Michelle da saga “American Pie” são Eun-sik (Jung Lim Chang) e Eun-hyo (Ji-won Ha). Desta feita, enquanto ele se apaixona à primeira vista por debaixo da saia por Eun-hyo, ela só tem olhos para o garanhão de serviço, Sung-ok (Min-jung) que namora com a mulher com os atributos físicos mais invejados da universidade Ji-won (Jae-yeong Kim). Todos sabem onde é que isto vai dar menos eles. O par amoroso deverá passar pelos gags mais hilariantes e as maiores provações para descobrirem que foram, afinal, feitos um para o outro, como já tivemos oportunidade de observar noutros filmes, uma cem vezes, no mínimo. Para (não) ajudar a que o parzinho se reúna no final da película está o habitual grupo de amigos pouco inteligente que nos proporcionará muitas cenas de sexo, nudez e inúmeros disparates.
Infelizmente, enquanto o Jim de “American Pie” era um tolo adorável, Eun-sik não desperta a mesma simpatia. É mais fácil pensar, por todas as atitudes desastradas, fracassadas e acéfalas que ele é portador de um qualquer tipo de deficiência. Mais velho que os restantes personagens, visto que o seu personagem começa a frequentar a universidade apenas após o cumprimento de serviço militar, ele tem a mentalidade de adolescente de 16 anos mas sem o expediente típico da idade. Ele é apanhado por diversas vezes em posições comprometedoras e chega a uma altura em que não conseguimos acreditar na sua inocência tal o azar em se colocar constantemente nessa posição. A protagonista não é muito melhor. Ji-won Ha que interpretou recentemente o papel de durona em “Sector 7”, não terá culpa do papel que lhe caiu em sorte, mas custa a compreender em que lógica é que um “vamos ficar juntos por que sei que tu nunca me vais abandonar” pode soar agradável a alguém. Excepto a um Eun-sik que coitado, deve bastante à inteligência, embora lhe conceda, toda a compaixão deste mundo e arredores.
“Sex is zero” atinge pelo menos um feito digno de nota que é: copiar alguns gags de filmes anteriores como uma cena muito famosa de “Van Wilder” que envolve esperma – não finjam que não sabem do que estou a falar – e, conseguir com que a piada pareça menos forçada do que no filme que a originou. Depois de uma primeira hora brutal em gargalhadas, eis que “Sex is zero” toma a única decisão que o podia diferenciar dos demais competidores e adquire um tom ultra-dramático à boa maneira sul-coreana. A tragédia desta viragem é que o filme não necessitava dela. O registo engraçado e bem-intencionado sem levantar grandes controvérsias, chegava perfeitamente para 90 minutos de entretenimento bem passados, a ver com os melhores amigos ou o parzinho romântico e muita pipoca. Mas não, o argumentista tinha de demonstrar que o sexo pelo sexo não traz valor algum, quando muito a desgraça e que aqueles que não tiverem relações sexuais com responsabilidade pela saúde e pelos sentimentos poderão pagar cara a negligência. Esta advertência soa tão mais desnecessária dada a idade dos actores. Mas alguém acredita que aqueles actores têm vinte e poucos anos e que estão dependentes dos adultos? Mesmo numa sociedade onde manter a face é o mais importante, qualquer ultraje cometido é sempre mais inócuo devido à sua maturidade. Precisávamos mesmo da lição de moral? Se conseguirem ultrapassar a esquizofrenia da estória, pelo final estaremos de volta às situações hilariantes que nos fizeram rir à gargalhada desde os créditos iniciais com a promessa de sexo, mas muito sexo e ainda assim poder ser visionado por pessoas que não necessariamente de se inserir na categoria de pervertidos. Três estrelas.
Realização: Je-gyun Yun
Argumento: Je-gyun Yun
Jung Lim Chang como Eun-sik
Ji-won Ha como Eun-hyo
Min-jung como Sung-ok
Jae-yeong Kim como Ji-won
Chae-yeong Yu como Yoo-mi
Próximo Filme: "Dredd 3D", 2012
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