domingo, 18 de novembro de 2012

Red Eagle (2010)


Corria o ano de 1970 quando Mitr Chaibancha galã e estrela máxima do cinema tailandês se preparava para finalizar a película “Golden Eagle” (Insee Thong). A última cena envolvia Mitr saltar para a escada de um helicóptero que depois iria desaparecer poeticamente no horizonte… Mitr falhou o salto, agarrou o degrau o errado e o helicóptero, não se apercebendo do erro aumentou de altitude. A dada altura o actor perdeu as forças e caiu desamparado para a sua morte. A realidade chocou os fãs de ficção.
Red Eagle, traduzindo, Águia Vermelha (fãs do Benfica manifestam-se em 3, 2, 1), pode ser comparado aos heróis ocidentais como Batman. Também ele tem um animal como símbolo e tem sérios problemas do foro psiquiátrico. Esteve na guerra onde o seu esquadrão foi todo dizimado. De regresso à sociedade, onde não se consegue integrar por via do stress pós-traumático, Rom (Ananda Everingham), passa os dias entre a injecção de morfina para travar as dores que sente das sequelas de tantas e tantas lutas em que se envolvam, na tentativa de combater a injustiça. Rom é particularmente feroz na luta contra os políticos corruptos e não perdoa. Ao contrário de outros heróis que combatem os criminosos, sofrendo inúmeras mazelas e perdas em termos pessoais, para os entregar às autoridades, Rom não dá segundas oportunidades. Red Eagle apenas encarna a roupagem típica, ele não é comum. Os seus inimigos, inimigos do povo, têm um final rápido e nada fácil. Eles sofrem indignidades, pelas indignidades que cometeram em vida. Eles não têm direito a perdão. A corrupção está enraizada, é recorrente, é o primeiro recurso e o melhor modo de obter o que a ambição pessoal deseja alcançar, nem que seja tornar-se primeiro-ministro, ainda que custe relações e signifique abdicar dos princípios. Então, como não vêem os outros o que o Red Eagle vê? A corrupção é transversal, mas aos corruptos nada sucede. Logo, terá de existir um sistema concebido para os proteger. O que é que o Red Eagle pode fazer quanto a isso? Matá-los a todos? Ainda que Red Eagle livre o mundo de um monstro, muitos virão tomar-lhe o lugar. A mudança só virá quando os títulos de jornais tratarem uniformemente Red Eagle como o herói para um mundo melhor. Por que não há outra hipótese e a morte dos detractores é o único modo de incutir medo aos seus cúmplices e tornar a população mais desafiadora e inquisidora dos seus actos. Talvez o facto de usar uma máscara, o estilo brutal e o cartão-de-visita o tornem demasiado “herói de banda-desenhada” para ser verdade. É aí que entra Wassana (Yarinda Boonnak), é uma menina rica feita activista que tenta transmitir a mensagem de que populações estão a ser alvo de repressão para a construção de uma central nuclear. Mais, o Governo também se lançou numa campanha de contra-informação e repressão física, fazendo os activistas passar por vilões, uma cambada de vândalos sem causa que o que pretende é desestabilizar o Estado e privar o povo tailandês de energia essencial. Wassana é a ex-noiva desencantada do 1º ministro Direk (Pornwut Sarasin), que foi eleito graças à luta anti-nuclar para logo se retratar assim que chegou ao tão desejado cargo. É tão fácil encontrar paralelos noutros países que é vergonhoso. Cedo, Rom se embrenha nesta luta, muito por culpa da bela Wassana com quem tem um passado e é apenas uma questão de tempo até que entre em rota de colisão com o líder político. Entretanto e à melhor maneira dos comics, surge uma associação criminosa denominada Matulee determinada a eliminá-lo.
Em termos de narrativa, afirmar que a estória de “Red Eagle” se baseia na conjuntura política e em conflitos reais é constatar o óbvio. Infelizmente, a mensagem perde-se na tentativa de tornar “Red Eagle” apelativo a gregos e troianos (estive tentada a dizer israelitas e palestinianos mas por estas alturas achei por bem ficar-me pelo politicamente correcto), perdendo a identidade tailandesa pelo meio. O filme é caótico em termos imagéticos. Entre a utilização excessiva do ecrã verde e product placement é impossível considerar seriamente “Red Eagle”. Outro dos problemas do filme é a edição. Temos 130 minutos de filme mas precisávamos assim tanto deles? Não é uma questão de duração mas de edição. Há bastantes cenas dispensáveis e na transição entre estas há uma variação de qualidade. Diria mesmo que há uma desconexão entre o set de filmagens e a sala de edição. A simplicidade inerente à estética do cinema tailandês choca com o ruído das tonalidades hollywoodescas. “Red Eagle” contém inserção de publicidade descarada, desde cigarros a bebidas energéticas. Mas é nos momentos em que parece que o realizador manteve o controlo da obra nas suas mãos que resultam os momentos mais insólitos como uma luta entre o herói e um assassino enviado para o matar sobre um outdoor de uma companhia de seguros de vida ou quando um gangster prestes a assassinar um polícia tropeça e dá um trambolhão! O filme sofre com este conflito interno. O argumento não sabe para onde quer ir e, em termos de imagem a ideia que fica gravada na mente é exactamente essa, da falta de direcção. Esta questão é ainda mais evidente nos actores, mas sobretudo em Ananda Everingham, um bom actor que não tem oportunidade de demonstrar as suas qualidades, num papel muito pouco esmiuçado. No final, um toque comovente, a merecida homenagem a Mitr Chaibancha, mesmo que o filme não o mereça. Duas estrelas.

Realização: Wisit Sasanatieng
Argumento: Kongkiat Khomsiri e Yosapong Polsap
Ananda Everingham como Rom / Red Eagle
Yarinda Boonnak  como Wassana
Pornwut Sarasin como Direk
Wannasingh Prasertkul como Chart

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