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domingo, 30 de dezembro de 2012
4ª Mostra de Cinema de Hong Kong
Ano novo, nova Mostra de Cinema de Hong Kong. Entre os dias 9 e 13 de Janeiro, os lisboetas terão oportunidade de assistir a alguns exemplos do que melhor se tem feito em Hong Kong, no Cinema City Classic Alvalade. Com géneros como acção, drama, comédia, wuxia, é difícil não encontrar pelo menos um título que seja do vosso agrado. Se bem se recordam foi lá que tive oportunidade de ver o excelente "Echoes of the Rainbow", que conseguiu deixar-me em lágrimas. Para já os títulos que me atraem mais são o aclamado e ultra-premiado "A Simple Life" (2011) e "Overheard 2" da dupla maravilha Alan Mak e Felix Chong ("Infernal Affairs", 2002). Também aconselho "The Detective 2", ainda que inferior ao título original. E se forem fãs da Elanne Kwong e do Aaron Kwok então podem esfregar as mãos de contentes pois que apresentam dois filmes cada.
Preço dos bilhetes: 4€
Descontos: 3,5 € (grupos, parcerias, jovens, seniores)
Voucher para todas as (8) sessões 24 €
(Legendas em português e inglês)
PS: Acham que é boa ideia transmitir sequelas, quando provavelmente a maioria da população não teve oportunidade de visionar antes os originais?
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
“Ayakashi – Samurai Horror Tales: Goblin Cat”, (Ayakashi – Bakeneko, 2006)
“Bakeneko” pode ser entendido de forma literal como Gato Monstro e pertence à classe dos “yokai” ou monstros sobrenaturais do folclore japonês. Ao contrário dos antigos egípcios, que veneravam o gato, personificado pela deusa Bastet, uma entidade feminina associada à protecção do lar e das mulheres expectantes, o "bakeneko" é o oposto, assombrando e ameaçando a paz do lar. Os seus poderes incluem a capacidade de falar, voar, se transfigurar e devorar humanos. Os seus actos devem ser sempre observados com desconfiança pois, o seu feitio é irascível e nem sempre se move por motivos altruístas e de bondade. Depois de traído torna-se vingativo e poderá consumir aquele que o feriu.
Em “Bakeneko”, durante o período Tokugawa (séc. XVII até meio do séc. XIX), uma família comemora o casamento da única filha que irá permitir saldar as dívidas que anos despesismo e irresponsabilidade incorreram sobre o lar. Com os preparativos do evento, eles deixam a casa desprotegida dando espaço a que um curandeiro que esconde mais segredos do que a aparência humilde deixa antever, se introduza na zona servil, junto da crédula Kayo. Introduz-se ele e, algo mais. Assim que a jovem noiva tenta passar o limiar da casa cai fulminada acometida por uma doença súbita. A família vira-se logo para o curandeiro e prende-o mas, após a morte de outro serve a realidade mostra-se bastante mais negra! O estranho desconhecido sugere que estão a ser assombrados por um bakeneko e que para os proteger eles terão de enfrentar os segredos que despertaram a raiva da besta.
“Bakeneko” é o conto pelo qual os fãs de animação e terror aguardavam. Façamos um exercício: visualizem o grande mestre do terror para vós. Não interessa o nome, apenas, aquele, cujas obras, conseguem, instilar em vós o terror. Aquele que, não interessa o tema ou a época, consegue provocar, invariavelmente, um arrepio na espinha e tornar o mundo dos sonhos um pouco mais aterrador. Agora imaginem que é ele quem está por trás de “Bakeneko”. Compreendem agora que estão perante um conto especial?
Inicialmente, a família permanece incrédula face à suspeição de ataque sobrenatural e paira um clima de suspeição sobre o curandeiro. Tudo indica que são um aglomerado normal apesar das complicadas relações entre os membros da família, servos e conselheiros. Eles vão sendo alvo de ataques sucessivos que vão provocando cada vez maior número de vítimas e dá-se uma revolução no seu mundo interior. Ficam nervosos, temerosos, loucos e começam a falar. Começam a questionar comportamentos passados, a desculpar-se de actos ignóbeis e a culpabilizar-se uns aos outros. É isto mesmo que o curandeiro pretende saber: a “katachi” (forma), “makoto” (verdade) e o “kotowari” (razão) para o demónio os atacar e a informação que poderá ajudá-lo a exorcizá-lo. Há um momento de tensão extraordinária quando o curandeiro coloca balanças com guizos para apurar onde se encontra o demónio. Os guizos começam, um a um, a tocar, em todo o redor da sala e as pessoas que lá estão, até ali descrentes da assombração são incapazes de se movimentar, geladas que estão de medo… A estrutura narrativa não é linear e classificação mais aproximada que consigo encontrar para identificar “Bakeneko” é a de um conto detectivesco/thriller sobrenatural de suspense.
A animação de Takashi Hashimoto também é a mais interessante de toda a série. A despeito da impressão de que estamos perante uma série de gatafunhos antiquados, “Bakeneko” apresenta influências tão notórias e tão distantes como gravuras japonesas dos últimos 100 anos arte moderna ocidental, influências religiosas, motivos asiáticos e africanos, em conjunção com as novas técnicas de animação moderna. Esta massa aglomerada, num só bolo, poderia ser apelidada de pesadelo de um unicórnio, visto que as cores, ao invés de remeterem para uma aura de felicidade açucarada gritam desconforto e inspiram o pesadelo sobrenatural.
“Ayakashi – Samurai Horror Tales” é uma obra desigual que vale apenas pelo último conto. A animação intrigante, a narrativa adulta que provocam um misto de tristeza e fascinação face às suas diferentes tonalidades, merecem ser exploradas. Aconselho os fãs a explorar igualmente a série “Mononoke” de 2007, que surgiu como "spin-off" de “Bakeneko”, dando seguimento às aventuras do curandeiro caçador de demónios. Quatro estrelas.
Realização: Kenji Nakamura
Argumento: Michiko Yokote
Designer de animação: Takashi Hashimoto
Takahiro Sakurai (Japonês), Andrew Francis (Inglês) voz do Curandeiro
Yukana (Japonês), Kelly Sheridan (Inglês) voz de Kayo
Tetsu Inada (Japonês), Trevor Devall (Inglês) voz de Odajima
PS: O sucesso deste episódio foi de tal modo grande que podem encontrar imensos exemplos de fan art por essa internet fora (sobretudo na deviantart) e até cosplay. Numa nota adicional e já depois de ter escrito esta apreciação chamaram-me a atenção para "Gankutsuou", uma outra série de 2004 que terá inspirado o estilo da animação de "Bakeneko".
Próximo Filme: “Zombie 108”, (Z-108 qi chen, 2012)
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
“Ayakashi – Samurai Horror Tales: Goddess of the Dark Tower”, (Ayakashi – Tenshu Monogatari, 2006)
Basta irem seguindo os links
“Goddess of the Dark Tower” é o segundo capítulo da mini-série de animação “Ayakashi – Samurai Horror Tales” e estende-se por quatro episódios. À semelhança de “Yatsuya Ghost Story”, a primeira estória da série, “Goddess of the Dark Tower” baseia-se numa peça de teatro que foca o amor proibido entre um humano e uma deusa.
Zushonosuke é encarregado pelo tolo Lorde Harima a recuperar Kojiro, um falcão precioso e inadvertidamente cruza-se com a deusa Tomihime por quem se apaixona à primeira vista. Perdidos de amores entregam-se a um amor proibido e perigoso, à medida que a fronteira entre os reinos se esbate e os samurais a mando do Lorde Harima, invadem o castelo dos deuses para recuperar o falcão.
“Goddess of the Dark Tower” apresenta a narrativa mais convencional da série, é apenas a velha estória do amor que encontra bastantes obstáculos mas no final acaba por vencer (será?). Além dos diferentes planos de existência humanidade vs. Espirito não há grandes objecções a que Zushonosuke e que Tomi permaneçam juntos a não ser, talvez de cariz moral. Está bem que ela é uma deusa lindíssima mas ele já tinha uma companheira e é sempre difícil (a população feminina deve concordar comigo) apoiar um traidor. Quais amores, qual quê? Se já estás comprometido não tens nada que invadir seara alheia. Ele também não demonstra grande conflito com o facto de ela e as outras deusas que habitam o castelo, todas belíssimas por sinal, serem comedoras de homens. Não admira que as suas existências não se devam cruzar. Se fosse ele, também não achava grande piada. Eles podiam chatear-se à séria e ela comia-o por vingança. Infelizmente, para os que os rodeiam este é um caso de estar no sítio errado à hora errada. Por causa de um falcão, o castelo é invadido e o confronto entre deusas e o exército samurai é inevitável.
O samurai, personagem histórica japonesa é fascinante não apenas em termos estéticos mas no que diz respeito ao seu código de conduta. É comovente uma dedicação que até à morte é total e ilimitada. Ao mesmo tempo é desconcertante uma dedicação cega ao serviço de homens que personificam o pior da espécie, sobretudo quando a maldade se alia à tolice. Por isso, apesar de resultar em imagens incríveis, a morte indiscriminada movida por motivos fúteis é de difícil compreensão. No meio de uma chacina descabida há ideias soltas que fornecem brilho pontual a um episódio, de outro modo, desinteressante. A transformação da deusa, do seu invólucro humano para toda a sua glória divina e as diversas habilidades das deusas para destruir o inimigo comum constituem os momentos altos. Não há limites para o que os deuses podem fazer. De resto, o romance proibido nunca é suficientemente convincente. Abdicar da humanidade ou divindade por um amor rápido e perigoso parece demasiado forçado. Redunda no dramazeco romântico e não no conto de terror que o título pretende fazer crer. É uma entrada que não traz valor acrescentado à série, sendo direccionado para um público mais calmo, fã de romance com alguns salpicos de acção e avesso ao terror. Quando muito contribui para a descida da qualidade média da série. E, até aqui, posso afirmar que estava desiludida com “Samurai Horror Tales”. Teria de esperar por “Goblin Cat” para ficar impressionada… Duas estrelas.
Realização: Hidehiko Kadota
Argumento: Yuuji Sakamoto
Designer de animação: Yasuhiro Nakura
Hikaru Midorikawa (Japonês) e Kirby Morrow (Inglês) voz de Zoshonosuke Himekawa
Houko Kuwashima (Japonês), Willow Johnson (Inglês) voz de Tomihime
Saeko Chiba (Japonês), Tracey Power (Inglês) voz de Oshizu
Yui Kano (Japonês), Anna Cummer (Inglês) voz de Ominaeshi
Kappei Yamaguchi (Japonês), Alec Willows (Inglês) voz de Kaikaimaru
Masaya Onosaka (Japonês), Samuel Vincent (Inglês) voz de Kikimaru
Próximo Filme: “Ayakashi – Samurai Horror Tales”: Goblin Cat, (Ayakashi – Bake Neko, 2006)
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
“Ayakashi – Samurai Horror Tales”: Yotsuya Ghost Story, (Ayakashi – Yotsuya Kaidan, 2006)
Tamyia Iemon é um ronin, com feitio irascível que mata o sogro após uma zanga. Naosuke é um samurai obcecado por Osode, uma mulher casada. Após esta rejeitar os seus avanços acaba, num acesso de ciúmes por assassinar o marido dela. Os assassinos, na sua vilanagem, decidem fazer um pacto para encobrir o que fizeram. Após a morte do sogro Iemon desinteressa-se da esposa Oiwa e, eventualmente surge uma nova pretendente em Oume, mais bonita e rica. Com a conivência de uma criada e do potencial sogro, Iemon conspira para se livrar do único obstáculo: a esposa. Envenenada pelos conspiradores Oiwa é primeiro desfigurada e, depois de um acesso de loucura, suicida-se. Antes da morte, a promessa de se vingar dos que lhe fizeram mal e todos sabem que não há maior fúria que a de mulher traída. Entretanto Naosuke força Osode a casar-se com ele através da promessa de vingar a morte da sua irmã.
Nanboku surge como parte integrante da estória, o velho contador de estórias, um pouco como o avozinho que conta um conto ao neto, com a excepção que “Yotsuya Kaidan” não é aconselhável a menores de 16. No entanto é mais um brilhante exemplo da empresa Toei, por trás de grandes êxitos da animação em Portugal como “Dragon Ball”, “One Piece”, “Digimon” e muitas séries e filmes de que nunca ouvimos falar e só podemos lamentar nunca terem cá chegado. A Toei não merece uma busca menos que intensiva e tem material suficiente para ocupar os próximos anos em sessões contínuas. A exemplo da qualidade da animação, os personagens chegam a ser mais humanos que os actores reais. Cada olhar, cada expressão tem um significado e assenta na perfeição na narrativa. Façam o teste. Assistam a “Yotsuya Kaidan” sem som durante uns minutos. Através da paralinguagem conseguem decifrar as emoções das personagens e, por conseguinte uma interpretação da narrativa de modo geral. É um dos maiores elogios que se podem fazer a um criador de animação.
Deverão desvalorizar os créditos iniciais que reúnem a utilização de instrumentos tradicionais com o moderno rap. É um anacronismo já que contrasta com as estórias clássicas que se seguem. De resto, a narrativa de “Yotsuya Kaidan” pode soar familiar e antiquada mas é adulta, com temas com os quais os mais velhos se podem identificar e assistir sem sentimento de culpa associado estarem a ver um filme de animação. Poderão encontrar alguns problemas em identificar-se com o facto de uma das personagens ser forçada a contrair matrimónio para ter alguém que vingue a sua irmã e a necessidade imperiosa de manter a face a tudo custo mas este já não é “defeito” da estória, antes uma questão cultural. Normal, portanto. Se quisermos simplificar, o conto recorre a temas que remontam à verdade universal de que o Homem, máquina fantástica como é, é imprevisível e não se lhe pode atribuir demasiada confiança sob pena de uma promessa de sofrimento atroz. Três estrelas e meia.
Realização: Tetsuo Imazawa
Argumento: Chiaki J. Konaka
Designer de animação: Yoshitaka Amano
Hiroaki Hirata (Japonês) e Brian Dobson (inglês) voz de Iemon Tamiya
Mami Koyama (Japonês), Nicole Oliver (inglês) voz de Oiwa Tamiya
Yuko Nagashima (Japonês), Rebecca Shoichet (inglês) voz de Osode Yotsuya
Keiichi Sonobe (Japonês), Samuel Vincent (inglês) voz de Gonbei Naosuke
Ryou Hirohashi (Japonês), Lalainia Lindbjerg (inglês) voz de Oume Ito
Wataru Takagi (Japonês), Michael Adamthwaite (inglês) voz de Yomoshichi Sato
PS: Deixo link para a versão disponível no youtube com dobragem em inglês. Com certeza haverá sempre algo de "lost in translation" e nunca alcança o nível de qualidade do original, mas não deixa de ser um brinde de Natal.
Próximo Filme: “Ayakashi – Samurai Horror Tales”: Goddess of the Dark Tower, (Ayakashi – Tenshu Monogatari, 2006)
domingo, 16 de dezembro de 2012
TCN Blog Awards 2012
Mais um ano, mais uma cerimónia de entrega dos TCN Blog Awards, prémios destinados a distinguir o que de melhor se faz na blogosfera de cinema nacional. E, pessoalmente, o 2.º ano consecutivo em que o Not a Film Critic esteve nomeado. O ano 2012 brindou-nos com uma imagem mais madura, um crescente à-vontade do apresentador de serviço, o Manuel Reis está como peixe na água, momentos de humor cada vez mais e melhor pensados e até tivemos direito a alguns VIPs. Pronto, a Daniela Ruah recusou o convite mas o dia irá chegar! A cerimónia teve alguns problemas, não posso mentir, mas que evento não os tem? Nesse sentido, sugiro que procurem as curtas-metragens "Assim-assim" do Sérgio Graciano e "Black Mask" do Filipe Coutinho , também ele blogger (Cinema is my Life). Mais do que focar-nos nos problemas acho que devemos concentrar-nos na descontracção em admiti-los e a promessa de que para o ano se tentará fazer ainda melhor (Carlos Reis). Quanto aos premiados foi uma tarde de grandes surpresas, sendo que categorias que podíamos pensar à partida, estarem "ganhas", acabaram por revelar talentos menos conhecidos. Apesar das reservas que alguns terão demonstrado, não me poderia sentir mais em paz com os resultados. O júri (mix academia + voto público), não será perfeito mas foi o melhor dadas as circunstâncias. Margem de manobra há sempre e, se poderem e quiserem, sugiro que apresentem as vossas sugestões no Cinema Notebook. Quanto aos vencedores destaco a Inês Moreira Santos que ganhou o prémio de Melhor Novo Blogue e ao Nuno Reis que continua a ser, para mim, a pessoa que mais trabalha para a blogosfera. Tipo, já recebias por isso não?! Mas se o Nuno Reis é a pessoa que mais trabalha na blogosfera o Aníbal Santiago é o mais prolífico e um grande favorito desde a primeira vez que me cruzei com o Rick's Cinema. Vê uma quantidade infindável de filmes, dos mais diversos estilos e, algures, encontra sempre a capacidade de discernimento necessária para uma reflexão séria sobre a obra - o número de nomeações atesta (se tal fosse necessário), a qualidade. Por fim, o anuncio de que possivelmente, os Prémios poderão ser organizados noutra cidade do país em 2013. Um desafio importante e interessante para espalhar ainda mais os TCN e estar mais perto de outros bloggers, que o país não é apenas Lisboa. Vamos ver como corre. Acima tudo, quis aqui deixar uma mensagem positiva, porque, para muitos de nós, isto de escrever cinema é um hobby. Não recebemos nada por isso, dedicamos horas de trabalho onde poderíamos estar a descansar ou a socializar mais e, se for preciso, ainda somos criticados por isso. Por isso, se os TCN são uma iniciativa pouco visível noutros meios, acabam por ser um modo de reconhecer e valorizar esse trabalho, proporcionar momentos de humor e um bom momento de convívio entre pessoas que de outro modo não teriam oportunidade de trocar palavras além comentários do blogue e redes sociais. Para o ano há mais. Obrigada!
PS: O poster foi criado por este senhor.
domingo, 9 de dezembro de 2012
"City Horror - Song of the Dead"
O terceiro capítulo da série sul-coreana realizada para televisão tenta
demarcar-se das estórias anteriores através de um regresso ao passado. Enfase,
no tentar por que, para todos os efeitos, um filme sobre espíritos continua a
ser um filme sobre uma assombração, seja ontem ou hoje. Algures no ano 500, a
General Bai Lan conduziu o seu exército contra uma pesada derrota face a Sun
Law. A sua fama de impiedosa e o medo de que pudesse regressar além campa faz
com que uma bruxa lance um feitiço sobre ela. Nos tempos actuais, Wai Lai e o
produtor Wing encontram num antigo estúdio a melhor opção para as suas
carreiras deslocar. Entre os velhos papéis do local, Wing encontra uma canção
inacabada e decide completá-la. Entretanto, Wai começa a ter visões de uma
mulher de vermelho e procura o apoio de Wing mas ele está demasiado envolvido
com o seu mundo interior, como se estivesse possuído. Qual a ligação entre a
aparição e a canção misteriosa? Se a conexão entre estórias não fosse por
demais óbvia… Mas esse ainda é o menor entre os problemas (demasiados), que “Song
of the Dead” apresenta.
A canção dos mortos surge do nada e para lá regressa. Qual é o
significado da canção? Por que é tão especial que se torna a ponte entre o
passado e o presente? Além disso, alguém me consegue explicar, se Bai Lan é que
foi amaldiçoada e viu o seu espírito prisioneiro, o que faz um dos seus
soldados nos dias de hoje? Isto, só em termos de argumento, já que no que se
refere à sonoplastia e cenografia, “Song of the Dead” fica uns bons furos
abaixo de um trabalho aceitável efetuado por alunos do 3º ano do curso de
cinema. Parece que o orçamento explodiu nas cenas de batalha e respectivos
figurinos, o que fez com que as cenas, na atualidade e no próprio estúdio
sofressem bastante. É de aplaudir a utilização em determinados momentos da luz
e da sombra para esconder a escassez de meios. Nem o elenco completa o cenário,
passeiam-se pelo ecrã como sombras, como se fossem artigo secundário de um
evento principal que nos escapa a todos. Recordam-se daquele ditado do senhor Wilde no
qual ele dizia: “falem bem, falem mal, mas falem de mim”? Quer-me
parecer, volvida uma década que não há memória desta canção dos mortos. Uma
estrela.
Realização: Gyu Hwan Lee
Argumento: Alex Garland, Carlos Ezquerra e John Wagner
Ri-su Ha, Hyun-jin Kim, Tae-hwa Seo e Ga-yeon Kim
Próximo Filme: “The Good, the Bad, The Weird” (Joheunnom nabbeunnom isanghannom, 2008)
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
"City Horror - The Evil Spirit" (2002)
Sabem aqueles acontecimentos que são tão traumáticos, tão dolorosos que só queremos fugir e nunca mais olhar para trás? Mas, qual pesadelo, regressa para nos assombrar? Cha é uma rapariga do campo que fugiu para a grande cidade, onde consegue vingar na sétima arte. A pretexto de mais um trabalho Cha é reconduzida para a terra natal. Muitos dos que conheceu já faleceram, outros tantos parecem levar vidas estagnadas. Um pé à frente do outro para sobreviver, que a vida ali não tem grandes alegrias. As perspectivas são nulas e nem todos podem ir para a cidade como a pequena misse citadina…
E enquanto ela e a sua equipa vai perturbando as aparentes águas calmas do local, ela recorda uma menina que teve uma morte prematura. Onde as outras crianças da aldeia viam uma garota estranha ela via uma potencial amiga, de quem tinha pena por ter perdido a mãe. Até que um dia tudo se desmoronou, um erro desfez sonhos e eles afastaram-se, perderam-se numa vida que podia ter sido de sucessos. Agora que Cha regressou, Yah desperta de um sono atormentado. Finalmente, todos pagarão pelo mal que lhe fizeram.
Espirito maléfico? É curioso como tudo o que não é “natural”, é logo automaticamente rotulado de maléfico. É quase facto universal que raparigas com cabelo negro e descabeladas não são sintoma de boas coisas por vir. Mas vamos lá analisar por um momento as meninas. Quase todas tiveram mortas horríveis e a grande maioria nem sequer foi especialmente bem tratada em vida. Por que não haveriam de retornar para se vingar dos vivos? É suposto que vão para o céu e perdoem os que as magoaram e até lhes causaram, por vezes, a morte? A piedade é para os vivos. E não conhecendo fronteiras na morte, tenham medo. Tenham muito, muito medo. O resto é a estória habitual com um final igualmente previsível. Se bem que, terei ali visto laivos de “Shutter” (2004)? Juro que se mais algum episódio da série tiver “inspirado” outras obras, ganharei um novo respeito sobre a série.
“The Evil Spirit” não se afasta um milímetro dos temas recorrentes do cinema sul-coreano. O cenário é o microcosmos habitual, aldeia/vila/localidade mais ou menos isolada, na qual a população local vive embrenhada na sua própria realidade e não possui capacidade psicológica acolher outras realidades, chegando até a repudiar qualquer tipo de influência exterior. Possuem pois, regras implícitas auto-impostas que às vezes se substituem à própria lei, deixando margem para que cometam os actos mais obscenos sem medo de punição. Subjacente, está ainda o binómio homem/mulher que só parece funcionar quando o género masculino tem o ascendente sobre o feminino. Se ela não for subjugada pelo homem é considerada louca. Se ela for independente e liberal, parece sempre existir algum tipo de crítica ao seu estilo de vida. E claro, numa micro-sociedade tão opressora como pode a mulher não se rebelar, mesmo que só além do corpo, no meio metafisico, o único local onde parece ser consensual que ela é mais forte? Do género: “vêm como nós até consideramos o sexo feminino poderoso?” Sim, mas tiveram de o transformar num ser maléfico. Ao menos os que forçam a mulher a fazer coisas que não quer, assumem aquilo que são. Hipócritas!
Para mal da audiência “The Evil Spirit” nunca é mais do que os temas que lhe estão subjacentes, nunca é mais do que a historieta de terror que não funciona assim tão bem por que, pronto, a pequena vilã é adorável e, não estão mesmo á espera que tenhamos medo quando se vê uma actriz obviamente pendurada por cabos? Duas estrelas.
Actores: Kei Yung Lee e Kai Wing Cho
Próximo Filme: "A Designar (Porque a sério, isto está mesmo difícil de adquirir filmes"