quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Mononoke (2007)


“Mononoke” é uma série de 12 episódios que segue as aventuras do misterioso viajante vendedor de remédios depois de uma primeira aparição em “Bakeneko”, o terceiro capítulo de “Ayakashi – Samurai Horror Tales”. “Mononoke” é um espírito ou espectro que assombra um local específico ou persegue alguém. Alberga intenções malévolas ligadas aos objectos de assombração. Desta feita, a animação está dividida em cinco estórias independentes cuja única ligação é o vendedor nómada (Takahiro Sakurai) com a capacidade esplêndida de surgir sempre no local certo, à hora certa.



Capítulo I (Episódios 1-2)
“Zashiki-warashi” – Shino, uma mulher grávida roga que a deixem pernoitar num albergue a pretexto de que a vida do seu bebé corre perigo. Inicialmente contrariada, a dona do albergue deixa-a entrar e atribui-lhe o quarto mais distante. Cedo Shino começa a ouvir risos de crianças e a encontrar brinquedos espalhados por todo o lado. Só há um pormenor: naquela noite não havia nenhuma criança lá instalada.

Capítulo II (Episódios 3-5)
“Umibozu” – Durante uma viagem de barco o vendedor de remédios e os restantes passageiros são atraídos para o Triângulo do Dragão, um mar que, diz o folclore, estar repleto de espíritos prontos a atrair os navegadores incautos para a morte. Com o barco a ser atacado pelos espíritos inquietos, o vendedor de remédios terá de encontrar entre pessoas tão diferentes como Kayo ex-serva na casa dos Sakai (“Bakeneko” da série “Ayakashi”), dois monges budistas, um samurai, um menestrel ou o ganancioso dono do barco, sobre qual impede a maldição do espectro, antes que sejam todos arrastados para o fundo do mar.

Capitulo III (Episódios 6-7)
“Noppera-bo” – Ochou está prestes a ser executada por ter assassinado toda a família do marido. O abuso de que foi alvo pela nova família não a deixa ver senão a possibilidade de ter sido ela a cometer o acto hediondo apesar de não se recordar de nada. Será que ela foi alvo de um encantamento e o verdadeiro culpado do crime foi um Mononoke?


Capítulo IV (Episódios 8-9)
“Nue” – Três homens disputam a mão da dama Ruri, a única herdeira da escola de incenso Fuenokouji. Ela desafia-os a entrar numa competição de incenso para desempate. Aquele que conseguir identificar o maior número de aromas será o escolhido para a desposar. À medida que a competição se desenrola, os pretendentes começam a revelar as verdadeiras razões por trás da pretensão. É motivo suficiente para despertar o ressentimento de um espírito malévolo?


Capítulo V (Episódios 10-12)
“Bakeneko” – Em jeito de homenagem ao episódio que deu origem à série “Mononoke”, este capítulo junta uma série de desconhecidos num comboio, unidos por um segredo sórdido. Durante a viagem inaugural são encurralados na última carruagem, começando a ser colhidos um a um, pelo Bakeneko. Para não serem a próxima vítima deverão revelar o seu pecado mortal.

Todos os episódios apresentam a animação característica de “Bakeneko” e que constituiu, em grande parte o seu êxito. A animação está repleta de influências num estilo que já tinha apelidado anteriormente de “pesadelo de um unicórnio”. A colocação de cores pode parecer aleatória mas existe, como em tudo o resto um sentido de causalidade. As influências incluem desde a animação japonesa tradicional baseada nos antigos manuscritos do país até motivos externos desde o surrealismo à Art Nouveau, cores com textura misto de técnicas tradicionais e modernas, existindo mesmo, em “Umibozu”, um quadro que é uma inspiração óbvia de “O Beijo” de Klimt. O capítulo menos ousado em termos da utilização da cor é “Nue”, o qual, durante a maior parte da acção sucede em tons de cinzento que, como perceberão mais adiante não está desligado dos acontecimentos. A estética mais singular pertence a “Bakeneko” que ocorre durante os loucos anos vinte. Aí, numa estação de comboios repleta de gente, os ilustradores decidiram retirar tudo o que era acessório e todos os que não intervêm directamente na estória, não são senão, despojados manequins. Também aqui a explosão de cor é mais contida mas, por oposição apresenta algumas das personagens com maior densidade emocional da série. Pergunto-me também, se estas opções ousadas não foram também motivadas para marcar diferenciação do “Bakeneko” de 2006, ocorrido durante o Japão feudal e que tanta admiração causou. Entre as narrativas mais interessantes encontram-se “Noppera-bo” e “Nue”, o primeiro por a acção ocorrer mais num plano pessoal e introspectivo, como numa conversa interior e o segundo, não só por arriscar num estilo de animação diferente dos episódios anteriores como por ser um dos episódios que mais penetram na cultura japonesa e nesse sentido se demonstrar refrescante. “Umibozu” é o episódio mais representativo do “pesadelo do unicórnio” e, mais que não seja, vale pela ilustração. Podíamos ver o filme sem som e sem legendas e sair fascinado do visionamento. Já “Zashiki-warashi” e “Bakeneko” puxam pelos instintos de protecção da mulher, como ser frágil. E se isto já era verdade em “Ayakashi - Samurai Horror Tales”, continua a ser verdade em “Mononoke”, as tragédias que se abatem sobre a mulher têm sempre uma maior proximidade com a realidade que as restantes.
Mas dizia antes que em “Mononoke” nada é obra do acaso e, de facto, a série está pejada de momentos de simbolismo da vida, da morte e dos pecados do homem que levam à sua queda prematura. No entanto, esta moralidade é momentaneamente esquecida quando à representação da mulher diz respeito. A pele alva e comportamento comedido correspondem à pureza de espírito e inocência, enquanto a pele escura e o atrevimento são característicos da insolência que é vista com desaprovação. O vendedor de remédios, a única constante da série, a despeito do mistério que envolve, passado algum tempo torna-se maçador pois não existe evolução da personagem. A audiência é perpetuamente fascinada pelo vendedor de remédios que tem o condão de surgir sempre que há um espirito maléfico presente, pelo seu humor negro e, fundamentalmente, lacónico, mas a série termina como começou. Nada se sabia do vendedor no início e terminamos sem qualquer resolução nesse aspecto. O seu discurso, episódio após episódio é idêntico: forma (katachi), verdade (makoto) e kotowari (razão) e o modo de combate ao mal, aterrador, por vezes, também. Mas a grande lamentação e o maior elogio que se pode fazer a “Mononoke”, foi o facto de Hashimoto (animação) e Nakamura (realizador) não terem brindado o público com mais material original sobre o vendedor de remédios que combate o mal. Um dos melhores mistérios sobrenaturais de animação que já vi. Quatro estrelas.
Realização: Kenji Nakamura, Kouhei Hatano, Masayuki Matsumoto, Nama Uchiyama e Sumio Watanabe
Argumento: Chiaki J. Konaka, Ikuko Takahashi, Manabu Ishikawa e Michiko Yokote
Designer de Animação Takashi Hashimoto


Próximo Filme: Kisaragi (2007)

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