domingo, 13 de janeiro de 2013

“Zatoichi” (Zatôichi, 2003)



É difícil levar uma pessoa a sério quando a primeira memória que temos dela é de a ver pular e vociferar na série “Takeshi’s Castle”. Em Portugal a série foi transmitida no 3 canal com o nome “Nunca Digas Banzai”. O nome profissional do Takeshi Kitano à época era Beat Takeshi. Repito, como podia uma pessoa levá-lo a sério?

Eis que uma pessoa cresce, torna-se adulta, busca filmes a oriente e descobre que Takeshi reservava o lado sério para as actividades de representação e realização, onde optou por material mais taciturno. “Zatoichi” é uma obra revivalista da série de filmes imortalizada entre os anos 60 e 70 pelo actor Shintaro Katsu. A série tinha como herói Zatoichi, um massagista cego, que escondia uma aptidão para a luta com espada que só revelava quando se encontrava perante situações de injustiça. Kitano recuperou o personagem tomando para si os papéis de realizador, actor e argumentista. Ao invés de tentar emular o Zatoichi mais clássico de Shintaro, Kitano empresta-lhe a sua visão própria, o motivo mais notório, um cabelo curto de um louro platinado contrastante com as longas melenas negras tradicionais.
“Zatoichi” inicia-se com o personagem deambulando por entre uma localidade pobre, na qual os aldeões são explorados até ao último centavo por gangues mafiosos que não hesitam em destruir, pilhar, expropriar e matar para atingir os seus fins. Zatoichi cruza-se com Oume (Michiyo Ohkusu), uma aldeã que luta para sustentar a casa, já que o sobrinho Shinkichi (Taka Gadarukanaru) estoira os escassos recursos no jogo. O massagista cego ajuda-a a carregar um fardo e a mulher deixa o desconhecido pernoitar na sua casa, pela gentileza. Numa localidade acossada Oume confia na bondade do massagista. Ele é um homem de poucas palavras mas rapidamente provoca impressão na comunidade, a habilidade para o jogo e os reflexos de fenomenais de samurai não escapam ao olhar dos vilões que se prestam a dar-lhe uma lição. Mas Zatoichi esconde mais do que a vista alcança. Depois de uma vintena de filmes bem cotados, a última coisa que Kitano necessitava era de copiar o que já existia e foi isso mesmo que evitou. A palavra que melhor descreve o seu Zatoichi é subtileza. Há um afastamento consciente do protagonista da acção. Ele só serve para atar as pontas. A narrativa flui naturalmente sem a influência de Zatoichi, como se por algum motivo predestinado os dados já tivessem sido lançados. Ele só intervém quando parece já não existir resolução para os problemas que o rodeiam. Porque apesar da aparência indiferente ele preocupa-se com os desamparados, a marca de um samurai honrado, com ou sem visão. O samurai Hattori (Tadanobu Asano) é um samurai que aceita um trabalho para pagar os medicamentos da mulher doente. Asano surge também ele comedido no papel de antagonista com uma aura tão dual quanto a de Zatoichi e irá revelar-se o seu adversário. Zatoichi apesar de herói oculta um lado negro, enquanto Hattori, apesar da bondade intrínseca não pode evitar trilhar o caminho que escolheu. Mas assim que são tomadas determinadas decisões não há como lhes escapar.
Os problemas, onde eles existem encontram-se no ritmo lento deliberado e na utilização do computador para recrear os efeitos de sangue. Tendo por base tempos antigos e uma história antiquada salpicos de sangue apenas soam a preguiça. A intenção poderá ter sido, à semelhança do cabelo dourado, conferir um toque de modernismo à partitura. Esse momento está guardado para o momento musical final. É também possivelmente uma estória demasiado clássica. Já a vimos antes em “Seven Samurai” (1954) e “13 Assassins” (1963 e 2011) e em bastantes outros filmes desde então. No entanto, resulta. “Zatoichi” é mais um sinal de que por vezes menos é mais. Quatro estrelas.

Realização: Takeshi Kitano
Argumento: Takeshi Kitano
Michiyo Ohkusu como Oume
Tadanobu Asano como Hattori Gennosuke
Taka Gadarukanaru como Shinkichi
Daigoro Tachibana como Geisha Osei
Yuuko Daike como Geisha Okinu



Próximo Filme: “The Cabin in the Woods”, 2011

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