domingo, 10 de fevereiro de 2013

"The Road", 2011



O cinema filipino percorreu um longo caminho desde o conforto de estórias baseadas no folclore regional ao slasher clássico de terror. O aswang – figura mítica que alberga qualquer coisa entre o vampiro e o zombie, tem sido a escolha segura por muitos anos e, não posso dizer que censure os cineastas. O último filme que por aqui passou do género: “Corazon Ang Unang Aswang” (2012) bateu à data de estreia, “John Carter” e “The Hunger Games”. Por que se haveria de mexer em fórmula que resulta? E depois há pessoas como Yam Laranas, do tipo nervoso, que não se contentam com o fácil e querem, por via do difícil, demonstrar que o cinema de terror filipino não tem de se quedar pelas velhas estórias que agradam a audiências tradicionais. Ele próprio já entrou nesse território com “Patient X” (2008), com resultados mistos. A transição de subgénero parece natural, como se tivesse passado anos a estudar a audiência para ver até onde podia ir e dar o salto final.
“The Road” tem início em 2008, quando três adolescentes se escapam de casa durante a noite para treinar para o teste de condução de um deles. O medo de serem apanhados pelos adultos levam-nos a enveredar por uma estrada escondida. Má opção. A estrada não tem fim e rapidamente começam a ser assombrados por uma série de figuras fantasmagóricas. O pânico instala-se e, eis que está cada um por si (não há nada como testar os laços de amizade como colocá-los perante um perigo mortal). Recuamos dez anos e as duas irmãs Lara (Rhian Ramos) e Joy (Louise de los Reyes) ficam paradas nessa mesma estrada quando o carro fica sem gasolina. Sem outra solução, acabam por pedir ajuda a um transeunte. Repitam comigo: má opção. Passamos a 1988 e um casal com um filho parece lutar pelo prémio de pior família do ano. Chamar-lhes disfuncionais é estar a ser simpático.
“The Road” não oferece nada de novo em termos de conteúdo mas é na forma que antevê o talento do artista. As hostilidades são abertas com o aparente habitual trio de adolescentes irritantes: a miúda certinha que acha que sair a meio da noite é uma imprudência mas vai na mesma, a garota que procura um pouco de aventura na sua vida e o jovem com as hormonas aos saltos que só quer passar uns momentos a sós com a namorada, mas tem que levar com a amiga chata. Trio irritante só de aparência pois que passados uns minutos damos por nós a temer o pior pelos jovens. Realmente cometeram um erro, não pensaram antes de agir mas são bons miúdos e não queremos que lhes aconteça nada. E a sensação de pânico também não é difícil de engolir. São novos, escapuliram-se a meio da noite sem os pais saberem e dão por eles numa estrada desconhecida a ser atacados por uma força obscura. Se bem se recordam, com aquela idade não era preciso muito para as vossas mentes entrarem em estado de sítio… A segunda estória é a mais fraca e existe um erro flagrante quando uma das personagens decida investigar o desaparecimento de duas irmãs ocorrido 12 anos antes. Ora, se a memória não me falha estamos em 2008 e o segmento das jovens sucede em 1998. Escapou-me alguma coisa? O segundo capítulo é também o mais fraco do filme. Se as actrizes até podem ser mais capazes que os miúdos que introduzem a estória, não sabemos por que os papéis delas estão reduzidos a gritos e choro histérico, qual carne para canhão. Onde o prólogo é mistério sobrenatural, este é slasher puro. A última parte é a redenção de “The Road”. O terror dá lugar a um drama familiar tão poderoso que explica de modo convincente os primórdios de um degenerado homicida. A estória tem lacunas quanto baste, nomeadamente em termos temporais. O mesmo personagem rapaz que em 88 tem 12 anos, em 1998 teria 22 certo? Errado, pois foram contratar um jovem com uma aparência tão jovial que parece ter uns 16 no máximo. Agora, imaginem um rapaz de 16 anos a pôr fora de combate uma rapariga da mesma idade e outra mais velha ao mesmo tempo e a arrastá-las para dentro de casa. Não é muito verosímil pois não? O melhor é mesmo a fotografia e Laranas faz questão de juntar mais essa função à de realizador e escritor. E se ele pinta cenários? Ele aproveita todas as oportunidades para mostrar a estrada de diversas perspectivas. Ao nascer do sol, durante o crepúsculo, nas trevas da noite que vai longa... Por entre a folhagem virginal, através do campo de visão dos ocupantes da estrada. Quase tudo é estrada, momentos que alterna com a evolução de uma casa à medida que vai tendo diferentes ocupantes durante duas décadas. Como dissera antes, “The Road” salva-se pela forma e, não só apresenta momentos de grande beleza como apela a diferentes correntes de terror. Tem tudo para agradar a todos, se a narrativa não for um requisito essencial. Duas estrelas e meia.

Realização: Yam Laranas
Argumento: Yam Laranas e Aloy Adlawan
TJ Trinidad como polícia
Carmina Villaroel como Carmela
Rhian Ramos como Lara
Barbie Forteza como Ella
Alden Richards como jovem Luís
Louise de los Reyes como Joy
Lexi Fernandez como Janine
Derick Monasterio como Brian

Próximo Filme: “The Wig” (Gabal, 2005)

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