quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

"The Wig" (Gabal, 2005)


Mais uma entrada para a molhada da brigada de cabelos negros certo? Errado. “The Wig” é mais uma versão do onryo (fantasma vingativo) que pulula o cinema asiático e muito mais. Quando o reinado de uma entidade de terror que vale por si própria termina, a película necessita de mais em que se apoiar e nesse aspecto “The Wig” tenta escapar à corrente dominante. Mais próximo de “A Tale of Two Sisters” (2003) do que um “Ringu” (1998), “The Wig” foca-se na relação de duas irmãs, enquanto aguardam pela morte de uma delas com cancro em estado terminal. Ji-yeon (Seon yu)é a irmã mais velha que vê a irmã mais nova, a decair a cada novo dia enquanto tenta preparar-se para o inevitável. Como boa irmã, tenta minorar a miséria de Su-yeon (Min-seo Chae), comprando-lhe uma peruca para cobrir a careca provocada pela quimioterapia e cedendo a todo o tipo de indulgências. Ji-yeon sofre com a morte precoce iminente que a roubará de experiências como viver um primeiro amor. Não bastasse o facto de a irmã mais nova estar prestes a falecer e sem nada poder fazer, Su-yeon vive ainda atormentada com o acidente de viação que lhe retirou a voz e um namorado que foi incapaz de lidar com a nova situação. Não fosse o Not a Film Critic um blogue que privilegia o terror e diriam estar perante um dramalhão. Também é. Mas isso não é propriamente novidade. No que dia em que o cinema coreano decidir apostar num cinema mais convencional, sem o habitual enfoque dramático, perde a identidade.
Filmes com objectos inanimados que subitamente adquirem vida são de alto risco. Ou apostam na risada assente na premissa absurda e levam o conceito até às últimas consequências ou são tão sérios que a ideia morre à nascença. “The Wig” encontra-se entre os dois extremos. A peruca nunca se torna um elemento autónomo, apenas o catalisador para o melodrama de terror (ou terror melodramático, este é complicado de classificar)! Lume brando é a expressão que melhor define “The Wig”. Os sustos são espaçados e nem sempre previsíveis.  O drama é uma constante. O que também é uma constante é a interrogação sobre o que se está a passar. Enquanto o estado de Su-yeon é bastante óbvio, a mudez de Ji-yeon é uma enorme fonte de distração. Nos primeiros minutos de filme uma pessoa pensa que os argumentistas são minimalistas, depois vem a possibilidade de Ji-yeon estar em estado de choque com a doença da irmã, seguindo-se a ideia de que afinal ela é uma mulher fria ou, se calhar, sempre foi muda mas… Porque é que não avisaram?! Então, vindo do nada surge um flashback que demonstra um acidente horrendo que explica como é que a irmã mais velha perdeu a fala e, consequentemente o namorado. Claro que depois, qualquer simpatia que se pudesse ter pelo naco de carne asiático é eclipsada. Ah! “Ele é um estupor, como pôde deixá-la naquele estado?” Tudo razões do coração que, bem vistas as coisas, de nada valem. Como reagiriam se a mulher amada perdesse a voz para todo sempre? Se bem que esse nem é o menor dos problemas do homem… Já que Su-yeon surge mais insinuante que nunca e deseja tê-lo, o mais possível. Último desejo de uma mulher moribunda? Ou possessão demoníaca pela cabeleira? Embora, alguém pode censurar uma mulher que sabe que vai morrer muito brevemente de ter uma aventura final?


O trabalho das actrizes é soberbo. Enquanto Ji-yeon fala com recurso ao olhar e à gestualidade, Su-yeon alterna entre uma fragilidade e força renovada que demonstra uma tremenda evolução na personagem. A sua actuação, além caracterização, permite-nos entender com clareza quando ela é a doente terminal e quando é a mulher sedutora com ânsia de prazer. A representação da dupla é negada por um argumento cobarde já que “The Wig” tem pelo menos dois finais. O primeiro incide no fenómeno sobrenatural que ninguém adivinha, já só mais de metade da duração do filme é que surgem as primeiras indicações sobre a peruca “assombrada” e o outro numa explicação racional, ilustrada vezes sem conta. O público, ao contrário, do que devem pensar, não é ignorante e consegue juntar as pistas até à conclusão óbvia. Tudo o mais são artifícios para uma película que já tinha terminado durar, durar, durar. O toque melodramático final, quando chega nada mais é do que uma tremenda irritação. Tanto quiseram fazer que perderam a beleza da simplicidade que lhe estava subjacente: duas irmãs e o seu modo de lidar com uma tragédia. Três estrelas.
Realização: Shin-yeon Won
Argumento: Sung-won Cho, Hyun-jung Do e Shin-yeon Won
Min-seo Chae como Su-hyeon
Seon yu como Ji-yeon

Próximo Filme: Casshern, 2004 

1 comentário:

  1. Adorei este filme. Antes de o ver achava, sinceramente, que a premissa poderia roçar o ridículo, mas gostei mesmo imenso. Apanhei com cada susto ! Excelente resenha ;)

    Sarah
    http://depoisdocinema.blogspot.pt

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