domingo, 14 de abril de 2013

"Gantz" (Gantz: Zenpen, 2010)



Cenário: Acordam numa sala com pessoal que não conhecem de lado nenhum e com uma enorme bola preta onde surge uma mensagem que diz que 1) Existem aliens e 2) têm vinte minutos para matar o alien cuja imagem surge no ecrã. A primeira reacção deve ser qualquer coisa entre um: “tenho de largar as drogas!” e beliscar-se para acordar. Mas e se não acordarem e chegarem à conclusão que o cenário é real, que não é uma brincadeira de mau gosto e que se querem permanecer vivos têm de atirar a matar? Que tal isto para programa de diversão nocturna? Kei Kurono (Ninomyia Kazunaru) e Masaru Kato (Kenichi Matsuyama) são dois amigos que morrem atropelados por um comboio após tentar salvar um homem bêbado que caiu nos carris do metro. A bola negra transporta-os para a sala e dá-lhes uma nova oportunidade mas não está longe de ser um pacto com o diabo. A nova vida tem um preço: têm de matar aliens e a cada nova morte recebem pontos. A recompensa por atingir os 100 pontos é a possibilidade de esquecer o que passaram e não mais voltar àquela sala ou ressuscitar um dos muitos que já morreram antes deles a combater as criaturas invasoras. Aparte o segredo da sala que lhes irá, eventualmente, custar a vida (admitamos que os aliens são cada vez mais rápidos, furiosos e maiores), têm uma vida e entes queridos que não querem deixar sozinhos. Kato tem um irmão mais novo que não quer deixar entregue a assistentes sociais e Kei torna-se alvo das cada vez mais óbvias investidas românticas de Tae Kojima (Yuriko Yoshikata).
Assim a meios que a morte pode ser um impedimento no reatar de ligações familiares e românticas. Sobretudo, no que diz respeito a Kato e Kishimoto (Natsuna) que se conhecem na sala do Gantz.
“Gantz” é um dos melhores filmes resultantes de adaptações de anime e mangá, dos últimos anos. Se não conhecerem a mangá ou o anime, como era o meu caso, mesmo assim irão sentir que não estão a perder informação preciosa. “Gantz” tenta apelar ao máximo número de faixas etárias possível, sacrificando pelo caminho, carradas de nudez e de sexo. Também o protagonista deixa de ser um tarado sexual para passar a ser apenas um sujeitinho arrogante, com manias de grandeza a quem é ensinada uma grande lição. É uma adaptação digna de quem conhece bem o público-alvo.
As cenas de acção, nomeadamente, de perseguição e combate aos extra-terrestres são as mais interessantes e, se quisermos dar largas ao pequeno malvado que existe dentro de nós, pode-se sempre fazer apostas sobre quem chegará ao fim de mais uma caçada. As cenas de acção são tão competentes que a série com actores reais chegar ao pequeno ecrã não seria de menosprezar. Imaginem se a cada novo episódio tivessem um grupo de cidadãos “destacados” para matar o alien du jour? Como é óbvio a perfeição não existe e as cenas iniciais começam por ser irritantes já que os escolhidos são tão incompetentes que cometem todos os erros possíveis para se deixar ferir, matar ou negligentes a ponto de deixar colegas morrer. “Gantz” não está isento de dilemas morais. Matar um ser vivo, mesmo que este não pertença ao mundo como o conhecemos apresenta-se um problema para a maioria dos escolhidos. E não é como se tivessem grande alternativa: se quiserem viver têm de matar ou esconder-se bem. Temo que esta última opção não deixe de acarretar um alto grau de risco. Se calhar poderíamos alegar preocupações humanistas e que a morte seria um fim mais digno mas creio que isso não estaria longe da hipocrisia. Além disso, há pais, irmãos, namoradas…quem consegue resistir ao apelo da vida? E depois há os psicopatas e aqueles cuja ilusão de poder os faz regredir aos estádios mais primários da existência humana: vale tudo para não sobreviver. Mas ao invés de se restringir a uma luta selvática pela sobrevivência “Gantz” “agarra” as personagens principais como Kei e Kato, jovens imaturos e que pouco sabem da vida e fá-los crescer, tornar-se os heróis que nunca quiseram ser e reconhecidos por poucos, até há muito provavelmente breve morte. Nesse sentido, “Gantz” não é apenas um filme sci-fi de acção desmiolado. Obrigada, as audiências do século XXI agradecem. Três estrelas e meia.


Realização: Shinsuke Kato
Argumento: Yosuke Watanabe e Hiroyia Oku (autor da banda-desenhada)
Ninomyia Kazunari como Kei Kurono
Kenichi Matsuyama como Masaru Kato
Yuriko Yoshikata como Tae Kojima
Natsuna como Megumi Kishimoto
Taguchi Tomorowo como Suzuki Yoshikazu
Kensuke Chisaka como Ayumu Kato


Próximo Filme: "Secret Sunday" (9 wat, 2008)

1 comentário:

  1. Tenho os dois primeiros volumes do mangá e até gostei, mas como são tantos, vi logo que ía te rmts episódios e um arrastar da história principal que me ia lixar a carteira. Depois tive conhecimento dos filmes, ainda não os vi, mas lá terá de ser, já agora quero saber o fim :)

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