domingo, 7 de abril de 2013

"Riding Alone for Thousands of Miles" (Qian li zou dan qi, 2005)



Quanto quilómetro é necessário percorrer até se obter perdão? Até onde somos capazes de ir para sermos perdoados? O “para sempre” apenas existe até que uma das partes teimosas em oposição decidir que a dor da inexistência de relacionamento é mais penosa que a existência de uma relação complicada.

Takata (Ken Takakura) é um velho casmurro que apenas põe o orgulho de lado quando a nora Rie (Terajima Shinobu) lhe diz que Kenichi (Kiichi Nakai), o filho dele, se encontra doente. O rancor de muitos anos de desavenças e anos sem qualquer contacto ainda não abandonou Kenichi e este recusa-se a ver o pai que veio de propósito a Tóquio para o ver. Quando Rie diz a Takata que Kenichi sofre de cancro em estado terminal ele agarra-se ao único objecto que tem do filho, um documentário que ele realizou na vila remota de Lijian, na China. Kenichi filmou Li Jiamin, um cantor de ópera local que lhe prometeu que na sua próxima visita lhe cantaria uma obra pela qual tinha especial interesse. Com a vida do filho por um fio, Takata toma a inesperada decisão de viajar pela China rural para encontrar o cantor e filmá-lo a cantar a obra que Kenichi nunca terá oportunidade de assistir em pessoa.
“Riding Alone for Thousands of Miles” é uma desilusão para quem espera um filme grandioso de Zhang Yimou. Na verdade ele tornou-se tão conhecido nos últimos dez anos pelos épicos wuxia como “Hero” (2002) ou “The House of the Flying Daggers (2004) que muitos esqueceram obras como “Raise the Red Lantern” (1991), existindo até casos em que há uma cisão declarada entre os preferem a filmografia de cariz mais espectacular e os que preferem a sua câmara mais comedida. A grandiosidade de “Riding Alone for Thousands of Miles” reside nas paisagens de tirar o fôlego e na representação dos actores que envolve longas sequências de momentos “Lost in Translation”. É que Takata chega a uma altura da viagem em que é acompanhado por um guia que sabe muito pouco japonês para o compreender e todos os outros não o compreendem de todo. Por isso, as cenas alternam entre o falar sem ser compreendido ou apenas em parte e as tentativas de explicação ao estranho senhor japonês que veio à China ver um simples cantor rural. Takata é um homem sem tempo e quanto mais se embrenha na paisagem chinesa mais terá de lidar com pessoas que estranham as suas intenções e que se refugiam nas burocracias para não ferir as leis e sensibilidades locais. E os processos atrasam e Takata, sem conseguir fazer-se entender, tem de recorrer à lisonja e ao suborno para conseguir obter algum tipo de consentimento, que ainda há valores universais.
As expressões de incompreensão, frustração e cansaço constituem os momentos mais realistas da película, os viajantes mais do que todos decerto compreenderão. No entanto, Yimou recusa-se a que a população chinesa se aproveite de Takata. A sua viagem não é de roubo ou decepção, é uma viagem de muitos quilómetros na China e no interior de um homem.
“Riding Alone for Thousands of Miles” é uma estória intimista, simples. A narrativa conta a aventura de um pai que redescobre um modo de se ligar ao filho e que embarca numa viagem que o faz repensar as acções dos dois e, com a maturidade da idade perdoar e ser perdoado. Yimou escapou ao cliché da “mudança nos sentimentos por causa de um evento grave”. A personalidade não muda. Takata continua tão teimoso como nos instantes iniciais da película, os motivos é que se alteraram grandemente. Enquanto há vida não há urgência e agora, que Kenichi está prestes a desaparecer do mundo dos vivos, Takata dedica-se com o mesmo fervor de quem evitou o filho durante anos, a estabelecer um ligação emocional com ele. Mas esta estória não é apenas a de Takata e de Kenichi, é também a estória de um pai e um filho chineses, cujas vidas são tocadas quando o cidadão senior japonês decide visitar uma aldeia remota, aproximando também os dois países. Três estrelas e meia.

Realização: Zhang Yimou
Argumento: Zhang Yimou, Jingzhi Zou e Bin Wang
Ken Takakura como Takata
Kiichi Nakai como Kenichi (voz)
Terajima Shinobu como Rie
Jiamin Li como Li Jiamin
Jiang Wen como Jasmine
Lin Qiu como Lingo
Zhenbo Yang como Yang Yang

Próximo Filme: "Gantz", 2010

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