Quando me deparei com a estória de “The Screen at Kamchanod” o meu primeiro pensamento foi: “Tenho de criar a etiqueta factos verídicos”. São tantos os filmes supostamente baseados em acontecimentos reais, que o mero facto de uma estória ter origem no imaginário dos argumentistas já é um evento em si mesmo. Mas vá lá que esta premissa (real?) até parece interessante. No final dos anos 80, foi organizada uma projecção na floresta de Kamchanod. Os projecionistas asseguraram a exibição da obra até ao fim apesar de não haver uma única pessoa na assistência. Reza a lenda que nos últimos minutos de projecção várias pessoas emergiram da floresta e posicionaram-se em frente ao ecrã após o que desapareceram misteriosamente. Já no séc. XXI, o Dr. Yuth (Achita Pramoj Na Ayudhya) reúne uma equipa, na qual se encontra a sua mulher Orn (Pakkaramai Potranan) e um casal de colegas para o ajudar a encontrar a película perdida e recriar a experiência. Eles conseguem, a custo, encontrar o filme a despeito das objecções do único projecionista ainda vivo. Durante a exibição do filme são acossados por forças sobrenaturais que se revelam determinadas em persegui-los muito depois do acontecimento… A partir daqui “The Screen at Kamchanod” conhece uma morte lenta e dolorosa.
Dr. Yuth assiste a uma cena de "The Unseeable"
“The Screen at Kamchanod” é apenas uma sucessão de cenas arrepiantes, sem nada que as cole entre si. Mongkolthong conhece os truques da profissão mas esquece o que mantém o espectador agarrado ao ecrã, a estória! Ele recorre a um dos elementos mais básicos no conto de um conto. Ele recorre à técnica apelidada “McGuffin” pelo realizador americano Hitchcock que consiste no elemento que motiva os personagens. Em “The Screen at Kamchanod” os personagens buscam activamente a película perdida. No entanto, nunca, em momento algum, é explicado o porquê da obsessão com o filme. Não se entende porque pretendem recriar a experiência. Fama? Dinheiro? Uma maior compreensão dos segredos do universo? Prova da existência de fantasmas? Pretendem aliar a película a um fenómeno sobrenatural? O que poderia motivar médicos de profissão a tal pesquisa? Quanto às expectativas da audiência, elas são ignoradas. Em “The Ring” o momento mais aguardado é o da revelação do que contém o vídeo assassino. O que é que lá está que é mortal? Parece quase um pecado. Como se soubéssemos que estávamos a fazer algo de errado mas mantivéssemos os olhos grudados no ecrã num prazer culpado. “The Screen at Kamchanod” é um affair extra-ecrã.
O enfoque de Songsak vai todo para a pesquisa da equipa e para o modo como lidam com o que viram no ecrã. Inicia-se uma descida às trevas do ser humano. Alguns personagens revelam o que escondiam sob a superfície, qual lobo com pele de cordeiro. Outros vão bem fundo, às entranhas, buscar o pior que têm dentro de si e extravasam. O motor da busca, Dr. Yuth é imperscrutável e a influência que exerce sobre os colegas é um verdadeiro mistério. Cedo é evidente que algo vai muito errado no casamento com Orn. Ela demonstra-se submissa, temerosa, enchendo a sala de silêncio até nova indicação de Yuth. Até Roj (Namo Tongkumnerd) o charrado lá do sítio, se revela detestável. Entre o louco e a besta, todos insuportáveis. Eles não existem além da caricatura, descartáveis, não parecem humanos. Como poderia então alguém preocupar-se se eles são enviados para o outro mundo ou não? Duas estrelas.
Realização: Songsak Mongkolthong
Argumento: Songsak Mongkolthong
Achita Pramoj Na Ayudhya como Dr. Yuth
Pakkaramai Potranan como Orn
Namo Tongkumnerd como Roj
NOTA: Aconselhável elevada dose de paciência dada à péssima tradução ou inexistência da mesma em alguns momentos.
Próximo Filme: "Don't Look Behind" (Jangan Pandang Belakang, 2007)
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