domingo, 9 de março de 2014

"Sawako Decides" (Kawa no Soko kara Konnichiwa, 2009)


Antes de “Mitsuko Delivers”(2011) houve “Sawako Decides” (2010), apenas um exemplo numa linha de filmes de Yuya Ishii, sobre mulheres pragmáticas com grandes decisões a tomar nas suas vidas. Uma das primeiras ideias que sobressaem aquando do visionamento de “Sawako Decides” e, para quem está familiarizado com “Mitsuko Delivers”, é que os títulos destas obras podiam ser trocados com facilidade. Enquanto Mitsuko passa uma película inteira a tomar decisões por todos e com implicações nessas mesmas vidas, mesmo quando não lhe é pedida tal ajuda, por entre “cool’s” e “ok’s”, Sawako (Hikari Mitsushima) finalmente apresenta resultados, se calhar, aquilo por que família e amigos esperaram durante 5 anos. Senão, vejamos, Sawako encontra-se no quinto trabalho em part-time em 5 anos, nos quais teve igual número de namorados. A mais recente conquista? Um divorciado com uma filha de 4 anos, que gosta de fazer crochet, recém despedido de um trabalho como designer de brinquedos.
E para fazer Sawako sentir-se ainda melhor, o tio Nobuo (Ryo Iwamatsu) liga-lhe constantemente para regressar à terra natal Kawaminami e tomar conta do negócio da família, já que Tadao (Kotaro Shiga), o pai dela tem uma cirrose em estado terminal. Como ela não tomasse nenhuma decisão, o namorado Kenichi (Endo Masashi) decide que Sawako irá responder ao apelo, independentemente, de quaisquer sentimentos dolorosos associados a esse regresso. Por muito interesseiro ou idiota que o namorado seja, a verdade é que a culpa reside em Sawako, incapaz de se comprometer, nas suas relações, no trabalho. É que ela não se acha nada de especial e, pela maior parte, também não acha ninguém extraordinário, as coisas são o que são e nada se pode fazer contra elas. Se não soubesse, diria que Sawako era portuguesa, tal a atitude de resignação. Tanto que, quando Sawako regressa e todos a acolhem mal, à excepção do tio e um trabalhador (porventura cioso de um trabalho que teme vir a perder), os nervos estão à flor da pele. Como é possível uma pessoa deixar-se espezinhar assim? Que trauma? Que sentimento de culpa?

Algures Sawako foi uma criatura com sonhos, que fugiu da terra natal com o capitão de uma equipa local para a grande cidade, onde a aguardava com toda a certeza a continuidade na fábrica familiar e uma vida rotineira, sem grandes variações ou entusiasmo. Não é imediatamente perceptível, e bem que podemos ficar na ignorância se o que os aldeões sentem é despeito por ter abandonado uma oportunidade segura e ademais a responsabilidade pelo negócio, ou o facto de ela ter tido coragem para largar tudo por uma vida de incerteza. Algo que eles nunca seriam capazes de fazer. Sawako não é capaz de o compreender, pelo menos não no início. O seu destino bem que pode ser aquele que a sua infância augurava, mas tem de ser Sawako a desejá-lo e a lutar por ele. E não os que a rodeiam a forçá-la a isso. Das duas uma, ou todos à sua volta são mestres manipuladores que desejam secretamente que Sawako tome as rédeas da fábrica ou Sawako é afinal, tão teimosa como o pai, do qual se distanciou tantos anos antes e irá tomar uma decisão que afectará toda a sua vida futura, apenas porque pode. A estória é bastante negra e a tempos deprimente. As imagens de uma Sawako no presente a emborcar cervejas encontram paralelo ali mesmo no quarto ao lado, no pai a morrer por causa de um fígado que já não consegue lutar contra os excessos do passado. E se ela é a personagem principal, que dizer do namorado que praticamente a abandona e à própria filha durante parte da película? Em “Sawako Decides” não sucede nada de extraordinário, de facto ficarão surpreendidos com a vulgaridade dos acontecimentos. Mas é esse o fulcro da questão: em que grau é que identificamos com pessoas e situações quotidianas, a tentar sobreviver. E mais perigosa ainda, a realização de que nem todos são especiais e estão destinados a fazer algo incrível. Quatro estrelas.

O melhor:
- Excelentes interpretações
- A vida real no seu pior melhor
- Momentos cómicos numa estória maioritariamente depressiva
- Argumento


O pior:
- Até os caracóis têm um maior sentido de ritmo,
- A ausência de reacção de Sawako pode ser irritante


Realização: Yuya Ishii
Argumento: Yuya Ishii
Hikari Mitsushima como Sawaka
Endo Masashi como Kenichi Arai
Ryo Iwamatsu como Nobuo
Kotaro Shiga como Tadao
Kira Aihara como Koyako Arai


Próximo Filme: "Epitaph" (Gidam, 2007)

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