domingo, 17 de maio de 2015

"The Inugami Family" (Inugami-ke no ichizoku, 1976)


Confesso que não consegui encontrar o trailer do filme de 1976. Fiquem com o trailer do remake de 2008.

Sentados em torno do patriarca às portas da morte, nada faria imaginar as intrigas que assolam o clã. Para os seus momentos finais, mandou juntar as filhas Matsuko (Mieko Tkaamine), Takeko (Miki Sanjo) e Umeko (Mitsuko Kasabue), os respectivos maridos, os seus herdeiros Sukekiyo (Teruhiko Aoi), Suketako (Takeo Chii) e a irmã Sayoko (Akira Kawaguchi) e Suketomo (Hisashi Kawaguchi). Ao grupo junta-se ainda Tamayo Nonomiya (Yoko Shimada) uma jovem por quem o velho criou afecto em final de vida. Terá sido a primeira vez em muitos anos que a família se reuniu. Transpira um desconforto e desconfiança mútuos ocultos sob a aparência do decoro. Apenas têm de aguardar uns momentos mais pela morte de Sahei e logo conhecerão os termos do testamento. O anúncio é chocante para todos. Sahei (Rentaro Mikuni) voltou a ter a última palavra. A fortuna reverte na totalidade para Tamayo se esta aceder a contrair matrimónio com qualquer um dos netos de Sahei.
A fúria e surpresa tomam conta dos presentes. Depois de tantos anos de submissão forçada as irmãs, em especial a calculadora Matsuko, sentem que o mínimo que mereciam era o dinheiro que as manteve prisioneiras na mansão de Sahei e afastou as suas mães biológicas. À intrusa Tamayo acorrem com a ameaça e a lisonja tão inata à família. Ela terá de tomar uma decisão na competição para descortinar quem ganha o prémio. Qual dos filhos pródigos irá assegurar a fortuna de um ramo da família? O previdente advogado que acompanhou os últimos desejos de Sahei teme o pior e manda chamar o detective Kosuke Kindaichi para com o tacto e discrição assegurar que nada de mal ocorre durante a transição. Quando o contractante de Kindaichi é envenenado e vários membros da família começam a surgir assassinados de forma macabra, Kindaichi junta-se às autoridades para descobrir a identidade do assassino e impedir o surgimento de novas vítimas.

O Clã Inugami ou uma família perigosa para pertencer
“The Inugami Family” foi realizado em 1976 e parece tão antiquado e tão moderno quanto um policial de ficção histórica consegue ser pois que a história é universal e tão antiga quanto o próprio tempo. Apenas se nota como é datada, por via dos métodos de investigação policial e a perda de fulgor da figura do detective a favor das forças policiais por oposição à actual obsessão com os avanços tecnológicos disponiveis no século XXI, que se constata por uma oferta excepcional de séries como “CSI”, “Criminal Minds”, “Fringe”, entre muitas outras. Agatha Christie seria a influência óbvia para os amantes do personagem do detective que serpenteia por entre a intriga deixando os suspeitos falar até deixarem escapar informação que eventualmente os condena à prisão. Desvelado e com uma higiene um pouco duvidosa, Kindaichi dá mais ares de Columbo do que Poirot. E também não tem a sua competência. Ele falha numa questão substancial que é prevenir a ocorrência de crimes mas não é como se ele não fizesse mais do que a polícia toda junta. No entanto, os assassinatos não ficam a dever nada ao às novas séries. As mortes engenhosas e cuidadosamente encenadas para representar os emblemas da família: o crisântemo, o koto (harpa japonesa) e o machado são intrigantes o suficiente para atrair e reter o interesse. E uma estória que agarra aquele que a visiona não sai, em definitivo, de moda.

Sem alguma vez surgir no ecrã a interagir com outros personagens, Sahei é uma presença constante. O fantasma da sua presença continua a afectar as filhas ilegítimas mesmo após a sua morte. Elas tiveram uma infância infeliz mas isso não as tornou melhores, apenas maquiavélicas e resilientes… como o pai. O único amor que lhes resta é direccionado para os filhos e até isso alguém lhes quer roubar. Veja-se a exemplo o dilema de Matsuko que quer defender o seu filho que usa uma máscara de latex para esconder a deformidade provocada pela guerra e cuja identidade é questionada a todo o momento pelo resto da família ou Takeko que após um acontecimento que altera toda a sua percepção do mundo deseja quebrar um pacto antigo terrível e revelar a verdade.
Kon Ichikawa conduz as hostilidades com o à-vontade de quem aprecia o conto que tenta emular no cinema e “The Inugami Family” resulta num affair assombroso, tanto pela própria estória como pelo cuidado na direcção. O elenco é sólido e a câmara retira o melhor partido das actrizes veteranas. Ichikawa não foge aos temas negros e retrata-os com igual gravidade. Desde o close-up ao jogo de sombras, o lado negro de cada um dos personagens emerge naturalmente. A estória é pois um híbrido quando podia ser somente um policial para agradar a fãs do género. Quatro estrelas.


O melhor:
- A estória é tão rica que sobra bastante para debater após o seu visionamento
- Elenco
- Passa com honras ao teste do tempo

O pior:

- Efeitos especiais

Realização: Kon Ichikawa
Argumento: Norio Nagata, Shin'ya Hidaka, Kon Ichikawa e Seishi Yokomizo (livro)
Kôji Ishizaka como Kôsuke Kindaichi
Yôko Shimada como Tamayo Nonomiya
Teruhiko Aoi como Sukekiyo Inugami 
Mieko Takamine como Matsuko Inugami
Mitsuko Kusabue como Umeko Inugami
Miki Sanjô como Takeko Inugami
Akira Kawaguchi como Sayoko Inugami
Ryôko Sakaguchi como Haru
Takeo Chii como Suketake Inugami
Hisashi Kawaguchi como Suketomo Inugami
Akiji Kobayashi como Kôkichi Inugami
Minoru Terada como Saruzô
Kazunaga Tsuji como Detective Inoue

Próximo Filme: Ex Machina, 2015

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