domingo, 3 de maio de 2015

"The Second Sight" (Chit sam phat 3D, 2013)


A criatividade morreu e tudo o que restou foram as sobras de “The Eye”, “Shutter” e “The Sixth Sense” misturados com uma novela de horário nobre no tão temido 3D.

Em miúdo Jate (Nawat Kulrattanarak) sabia quando coisas más iriam suceder. Isso envolvia o karma que significa na sua versão mais simplista “colher o que se semeia” e terminava com mortos e feridos ao seu redor. Por isso, o passo seguinte natural foi tornar-se advogado e defender criminosos empedernidos. Não é como se isto lhe provocasse um dilema moral por aí além já que o Karma se encarrega de punir os malfeitores quando Jate os defende com sucesso (o que sucede com frequência). Para completar a vida perfeita de Jate, ele tem Jum uma namorada gira que passa o dia sentada ao piano do seu apartamento ultra moderno a compor canções.  Após safar da prisão mais um óbvio culpado tem um acidente numa ponte a caminho de casa. Fazendo uso das suas capacidades para prever o futuro ele consegue evitar o despiste e acaba por tornar-se cliente de Kaew (Virapond Jirawetsuntorakul), a causadora do acidente que causa várias mortes. Ele apercebe-se desde muito cedo, que a adolescente problemática tem espíritos vingativos atrás dela que a irão tentar matar à primeira oportunidade e não larga o seu leito no hospital. Entretanto, Jum (Yayaying Rhatha Phongam) começa a suspeitar que o interesse de Jate por Kaew é mais romântico do que profissional.
Um conselho: abordem “The Second Sight” com leveza de espírito e expectativas muito, muito baixas. No livro de terror para iniciados “The Second Sight” pode parecer apelativo mas acreditem que é apenas fogo-de-vista. Os actores são retirados a papel químico de personagens de uma novela. O protagonista encarna o advogado bem-sucedido e rico, modelo de homem ideal por quem toda a mulher anda embeiçada. A namorada é muito bonita mas pouco consciente dos seus encantos e tem uma atitude geral humilde, temendo que o homem lhe seja “roubado” a qualquer momento por uma cabra sofisticada e superior a ela em todos os aspectos. Depois existe a miúda mimada e sem escrúpulos que está habituada a ter tudo aquilo que deseja e que tudo lhe seja entregue de bandeja. Temos triângulo amoroso. Posto isto, entre as cinco pessoas alocadas ao argumento de “The Second Sight” não parece existir uma única ideia original. Num brainstorming devem ter surgido referências a filmes como “Shutter”, “The Coffin” e sucedâneos e o seu tremendo sucesso ditou a inserção nada subtil e muito forçada num argumento que já ao início não demonstrava potencial. Ao projecto foram ainda adicionados efeitos digitais que podiam ter criados por estudantes em estágio para conclusão do curso e, porque o menor factor de atracção não são os actores, um conjunto de homens e mulheres bem-parecidos que não têm de saber representar, embora se conseguirem seja um dado positivo.

Na sua maior parte “The Second Sight” não é muito simpático no retrato da mulher. Elas são apresentadas como donzelas indefesas sendo que Jate lá vai aparecendo para as salvar dos espíritos inquietos e delas próprias. Note-se o absurdo de cenas como aquela em que Jate avisa uma colega mais segura da sua sexualidade para se cobrir e vir trabalhar no dia seguinte com uma camisola de gola alta. Claro que ela acede às indicações do colega sensato e galã. Isto, quando ele não está salvar Kaew de uma cama de hospital com vontade própria ou Jum dos fantasmas que habitam a sua banheira. Nem podia ser de outro modo, já que ele tem uma segunda visão que lhe permite ver além do plano dos vivos. Só que ao invés de esta visão se revelar uma maldição tem sido até à data uma dádiva. Ele faz pleno uso das suas capacidades para atingir o sucesso. Até admira que não esteja num cargo público. Pelo meio lá vai ajudando algumas pessoas fazendo recurso do dom e... às vezes ignora a sua aflicção (veja-se o polícia acossado por cobras). O que nos demonstra que o caminho de Jate até chegar àquele ponto foi sinuoso e, quiçá, não tão orientado para o altruísmo como podia. Empatia não faz afinal parte do vocabulário de Jate e adivinhem, o passado virá para apanhá-lo. Karma. Outro ponto estranho é o facto de aqueles que o rodeiam não se aperceberem que Jate tem tendência a olhar e conversar para o vazio o que devia ser um alerta quanto à sua sanidade mental. Coisa pouca. A reviravolta só não é tão previsível quanto podia porque a montagem é tão má que aos últimos dez minutos mal conseguimos perceber o que se está a passar, o que convenhamos, até dava jeito. Diz que é um filme de terror. Quem sou eu para discordar? Uma estrela e meia.

O melhor:
- Tem piada?

O pior:
- Efeitos especiais
- Argumento, representação…


Realização: Pornchai Hongrattanaporn
Argumento: Sukkosin Akkarapath, Pornchai Hongrattanaporn, Kiatkamon Iamphungporn,
Nattapot Potchumnean e Chanintorn Ulit
Nawat Kulrattanarak como Jet
Yayaying Rhatha Phongam como Joom
Virapond Jirawetsuntorakul como Kaew
Anon Saisangcharn como Inspector
Klaokaew Sinteppadon como Gift
Prakasit Bowsuwan como Niwat

Próximo Filme: "The Inugami Family" (Inugami-ke no ichizoku, 1976)

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