segunda-feira, 22 de junho de 2020

Suores Frios - "Wolfen"


Já não são muitos os blogues que permanecem activos desde os bons tempos da velha guarda, e é um prazer saber que a Rita está de volta. Ao longo destes quase 10 anos dela no activo, e dos quase 12 anos meus percorremos um caminho parecido, que se cruzou muitas vezes, sempre no underground, quer do cinema asiático, quer do cinema de terror. Mas principalmente do cinema de terror, que sempre me disse muito, e com o qual fui crescendo.
Nasci em 1974, pouco depois da revolução de Abril, e cresci, sobretudo, nos anos 80, a década que normalmente é mais recordada. Foi a década do “ET”, e dos filmes do Spielberg, do melhor período do Carpenter, do “Poltergeist”, dos “Gremlins”, dos “Caça-Fantasmas”, do “Howling”, do “Lobisomem Americano em Londres”, foi a década em que se passou a acção do “Stranger Things”, uma das séries mais adoradas dos últimos anos, provavelmente porque andam por aí muitos tipos como eu. Foi a década do boom dos efeitos especiais, mas não viveu só destes filmes. Também foi uma grande década para o policial, talvez a grande década do policial. Quando observo esta década a quase 30 anos de distância percebo o quanto importante foi para a minha cinefilia, e para a forma como fui evoluindo no mundo do cinema, e o filme policial foi muito importante, tendo chegado mesmo a fazer um ciclo no meu blog sobre o cinema policial dos anos 80. Digo isto porque o filme que escolhi para falar aqui hoje, é um híbrido entre o terror e o filme policial.
Numa altura em que não havia internet, a minha cinefilia vinha, e muito bem, da programação de cinema da RTP e dos videoclubes. Foram as noites de sábado na RTP, com as sessões duplas, que me iniciei no cinema de terror. Já era fã dos filmes de lobisomens, já tinha visto em tenra idade, também na RTP, filmes como “O Uivo da Fera”, “A Companhia dos Lobos”, ou “Um Lobisomem Americano em Londres”, todos eles já do meu top de preferências, quando numa sessão de sábado me deparei com este filme chamado “Wolfen”, que tinha o título em português de “Cidade em Pânico”.
“Wolfen” levou-me até um cinema de terror que até então era novo para mim: o poder da sugestão no terror. O filme era sobre uma série de assassinatos violentos e bizarros, aparentemente feitos por animais. Os animais deveriam ser lobisomens, pela sinopse do filme, pelo cartaz, e pelo pequeno trailer que tinha visto, por isso aguardava o filme com muita expectativa.
Seguimos uma narrativa policial, com um  detective durão muito bem interpretado por Albert Finney a conduzir a história e a investigação. Nunca vemos estes animais assassinos até bem perto do final, até lá vamos seguindo os ataques do ponto de vista dos monstros, sempre na terceira pessoa, isto seis anos antes do famoso “Predador” do John McTiernan ter aperfeiçoado esta técnica. Foram estas sequências de ataques através dos olhos dos assassinos, sem mostrar o mal, mas sabendo que ele podia estar presente, que me marcaram muito e me levaram a escolher este filme para este ciclo da Rita. Afinal, o terror podia ser muito mais do que pregar sustos, mostrar monstros ou corpos a esvaziar em sangue. Também se podia fazer terror sem mostrar nada, ou quase nada, só com movimentos de câmara e a sugestão de que está ali algo atrás dela, que pode ser assustador.
Fiquei de boca aberta no final do filme, apesar de não ter visto nenhum lobisomem. “Wolfen” tornou-se num filme de culto para mim, e só consegui voltar a vê-lo uns bons anos mais tarde, tendo sido dos primeiros filmes que partilhei na internet. Apesar de ser um filme de 1981, nunca saiu no mercado de VHS ou DVD. Mas só vos digo, é cá uma pérola.

Deixo-vos com as imagens que me marcaram:


Francisco Rocha
https://mytwothousandmovies.blogspot.com/

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