quinta-feira, 1 de março de 2012

"Hansel & Gretel" (Henjel gwa Geuretel, 2007)


Era uma vez um rapaz que tinha medo da responsabilidade. Ele tinha tanto medo que preferiu fugir a enfrentá-la. Nisto, um estranho tipo de magia interveio e ele foi parar a uma floresta encantada. Esta esconde um casarão, daqueles que se desejam em sonhos e o conforto e todas as coisas boas que se podem conceber no mundo da imaginação, onde foi recebido por crianças de faces rosadas que a lá permanecer para todo o sempre.
Eun-Soo (Jeong-myeong Cheon), pois que esse é o seu nome, nem por um momento se sente tentado a permanecer. A sua ânsia de escapismo, não é, afinal, assim tão forte, nem as saudades daqueles que deixou para trás tão fracas. Então, decide ir-se embora, voltar ao mundo real e nele, confrontar todos os seus medos. Só que Man-bok (Won-jae Eun), Young-hee (Eun-kyung Shim) e Jung-Soon (Ji-hee Jin), não o querem deixar partir. Eles guardam um segredo terrível, um que prende com amarras, todos aqueles que por ali passem e esmaga todos os que atentarem contra eles. Eun-Soo vê-se assim, obrigado a calcular todos os seus passos com cuidado para não magoar as crianças, nem atrair a sua fúria. Mas ele não deixou um rasto de migalhas desde a casa de gengibre até à estrada para a liberdade. Como regressar?
“Hansel & Gretel” é mais uma incursão no imaginário dos Irmãos Grimm. Esta estória tem passado ao lado de outros grandes clássicos sobre explorados como a Bela Adormecida e mais recentemente, a Branca de Neve. Este filme sul-coreano é uma versão modernizada, na qual, mais depressa se encontram ecos simbólicos da narrativa original do que uma interpretação literal. Apenas a cinematografia parece ter ido buscar inspiração directamente a gravuras antigas, conferindo a esta obra do novo milénio um exterior delicioso. A composição musical de Byung-woo Lee é um regalo para os saudosistas pois parece retirada dos grandes filmes de fantasia dos anos 80. A identidade sul-coreana não se perde nas alusões a um mundo mágico importado da velha Europa. O elenco, das crianças aos adultos, é um portento. E os eventuais contornos dramáticos são uma trademark em si mesma. Este conto negro e belo ao mesmo tempo recebeu por isso, aclamação a nível internacional e no Fantasporto de 2009 chegou mesmo a arrecadar o Grande Prémio da Secção Orient Express. Onde “Hansel & Gretel” se perde é na narrativa. A motivação de Eun-soo é uma incógnita. Ele é apresentado, num primeiro momento como um inconstante que aspira à liberdade por oposição aos constrangimentos que a vida coloca no seu caminho. Mas assim, que surge a oportunidade de fuga perfeita ele não hesita um único momento em rejeitá-la. Ele sabe que a sua vida está com aqueles que umas horas antes desejava desertar. Também se pode alegar que cuidar de crianças representa uma responsabilidade igual àquelas de que foge e que, como tal, ele opta pela realidade que conhece. Esse argumento é fraco. Aliás, as crianças não necessitam de ninguém que cuide delas. Elas sabem governar-se e raciocinar como… se não fossem crianças. Estão apenas carentes de amor, aquilo que todos os confortos deste mundo não conseguem substituir. Eun-soo acaba por depender da sua maturidade para que compreendam que o amor é uma oferta, recíproca, desinteressada e incondicional. Nunca forçado como elas o pretendem, por todos os meios obter. E assim temos uns pequenos monstrinhos alternam entre o demoníaco e o adorável, com Man-bok mais próximo do primeiro extremo e Young-hee no último.
“Hansel & Gretel” é um exemplo clássico da natureza humana. Ao contrário dos contos originais, nos quais os desejos e vontades das criaturas são retratados a preto e branco, num cenário de inúmeras cores, o filme demonstra os diferentes tons do ser humano. Sob a superfície encontra-se todo um passado, mais ou menos trágico, que lança uma nova luz sobre o passado trágico das personagens. Assim, quando chegamos ao último capítulo desta estória de encantar, já os nossos sentimentos sofreram várias revoluções. Queremos um: “E viveram felizes para sempre”. Três Estrelas.

Realização: Pil-sung Yim
Argumento: Pil-sung Yim e Min-sook Kim
Jeong-myeong Cheon como Eun-Soo
Won-jae Eun como Man-bok
Eun-kyung Shim como Young-hee
Ji-hee Jin como Jung-Soon

Próximo Filme: "Phoonk", 2008

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