quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ciclo "Ringu" no Scifiworld Portugal


O título chamou a atenção não chamou? Então, vão já a correr para o SciFiworld Portugal, onde poderão, diariamente, revisitar todos os filmes da saga "Ringu". De que estão à espera?

domingo, 24 de junho de 2012

"Tidal Wave" (Haeundae, 2009)


Ah, os grandes filmes-desastre. São a melhor parte do Verão cinematográfico. A maior parte das vezes são bonitos, maus e estúpidos mas também não seria de esperar outra coisa com realizadores como Michael Bay, Jan de Bont e Roland Emmerich. E não há mal algum querer um produto massificado feito de estórias de heroísmo e melodrama, com muitos efeitos especiais, algum sacrifício e, no final, a realização de que a humanidade sairá vencedora. E saímos do cinema satisfeitos. Afinal, vimos os nossos actores preferidos a atravessar uma situação extrema e a escapar sem mazelas.
Neste âmbito, o cinema made in asia não deve ser subestimado: tudo quanto se faz no ocidente é passível de ser replicado e, às vezes, melhorado. Vai daí que, tal como os americanos que são a capital mundial dos tornados transpuseram esta realidade assustadora em “Twister” (1996), o cinema coreano agarrou a obsessão recém-renovada com o oceano, após o grande maremoto de 2004 e realizou “Tidal Wave” (2009). Se perguntam se a dimensão é épica a resposta é um rotundo sim, “Mega maremoto”, para ser mais exacta. Anunciado como o primeiro grande filme-desastrado realizado na Coreia do sul, “Tidal Wave” inicia-se com a tragédia em torno de um navio pesqueiro coreano apanhado na onda gigante de 2004. Apenas um elemento da tripulação não resiste e deixa uma filha, Yeon-heui Gang (Ji-won Ha) órfã. Um dos companheiros sobreviventes, Man-sik Choi (Kyung-gu Sol) jura tomar conta dela e um sentimento mais forte do que a amizade floresce entre ambos. Há ainda Hwi Kim (Joong-hoon Park) que sismólogo com sérias preocupações com a possibilidade de suceder um terramoto seguido de maremoto em território sul-coreano e a sua ex-mulher Yu-jin (Jeong-Hwa Eom) recém-chegada dos EUA e decidida a continuar uma vida com a filha Ji-min (Yoo-jeong Kim) e o novo companheiro. Outro improvável par romântico é Hyeong-shik (Min-gi Lee) oriundo da comunidade piscatória de “Haeundae” e a menina rica Hee-mee (Ye-won Kang).
À boa velha moda dos argumentos dos filmes catástrofes as suas vidas entrecruzam-se e há desencontros até que percebem o que é importante na vida, quando já é tarde demais. Mas não julguem “Tidal Wave” pela mesma bitola por que viram outros filmes do género. É que os coreanos são tão capazes de criar imagens fantásticas e mais, põe as actrizes-modelo americanas, a um canto. Podem até não ter a beleza de uma Megan Fox (embora, a beleza seja o ponto mais discutível de todos), mas batem-na com grande margem nas capacidades dramáticas.  As duas actrizes principais só possuem, dez e vinte anos de experiência em cinema e séries dramáticas… E os actores masculinos não lhes ficam atrás. Por isso, podem esperar, à boa maneira coreana muitas lágrimas, gritos e comédia física. É a plenitude, no domínio do corpo como instrumento do actor. Rir, chorar e até comover conseguem. Lembram-se do último filme-catástrofe em que choraram? Pois. Tenham uns lencinhos renova ao pé de vocês, vão precisar. Durante todo o filme, não vão duvidar por um momento do que o elenco é capaz, antes pelo contrário. Por entre as boas actuações e até excessos dramáticos a grande preocupação é, onde é que o argumentista e realizador queria chegar com tudo isso? É “Tidal Wave” uma comédia ou um drama? Por que “Tidal Wave” é competente em todas as frentes e tenta agradar a todos os gostos e chegando ao final, depois de nos fazer rir ataca-nos com um melodrama megalómano, que se calhar não é o mais apropriado para um serão de família com objectivo único de se entreter. Também não é capaz de ajudar que só passada uma hora de filme é que se apresente o fenómeno e a devastação consequente. Depois de conhecermos tão bem as personagens e desejarmos a sua segurança, as cenas transitam rápidas e furiosas sem dar azo a que percebamos o destino de algumas delas. Merecemos tal tratamento? 
De resto o cinema coreano realista, igual a si próprio. Não há milagres. Por vezes algumas personagens realmente queridas morrem e aquelas que detestamos, (ó cruel destino), sobrevivem. Por que é assim mesmo e os fenómenos naturais não escolhem as suas vítimas. Talvez seja mais uma mensagem subliminar, uma de que há redenção depois de uma tragédia. A vida é uma bênção e foi-nos dada a oportunidade de começar de novo. Por que não voltar a tentar e fazer melhor? Aproveitando o mote e, considerando, que mesmo assim desejávamos que algumas personagens tivessem levado com um autocarro em cima ou uma baleia arrastada pelas águas, “Tidal Wave” é competente em praticamente todas as frentes pelo que uma nova tentativa só pode ter qualidade superior. Três estrelas e meia. 

Realização:  Je-gyun Yun
Argumento:  Je-gyun Yun
Ji-won Ha como Yeon-heui Gang
Kyung-gu Sol como Man-sik Choi
Joong-hoon Park como Hwi Kim
Jeong-Hwa Eom como Yu-jin
Ye-won Kang como Hee-mee
Min-gi Lee como Hyeong-shik
Yoo-jeong Kim como Mi-jin

Próximo Filme: "The Raid - Redemption" (Serbuan maut),2011

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Pecadilhos das Horas Vagas #6 "Teenage Mutant Ninja Turtles"

Sabem aquele filme que sempre que dá na TV não conseguem desligar-se e vêem até ao fim? Aquele filme que todos acham um pouco parvo mas do qual vocês gostam secretamente? Lembram-se daquele velho filme que está gravado em VHS e não conseguem deitar fora? Ou que já viram tanto que a fita até já está meio estragada? Escrevam um texto, não uma crítica, mas uma confissão, sobre um filme da vossa preferência: o vosso guilty pleasure, sem medos ou censura, um “Pecadilho das Horas Vagas. O confessionário é vosso.

Por: Loot do Alternative Prison


É-me complicado pensar num guilty pleasure, certamente que haverão inúmeros filmes que adoro e são arrasados pela crítica, filmes considerados vergonhosos, mas, não sinto particular constrangimento em revelar que os vejo. Mais facilmente confessava aqui umas canções que mais depressa ouço escondido do que filmes.
Após alguma ponderação e porque alguém uma vez me disse que este se enquadrava como um guilty pleasure, vou escolher as “Teenage Mutante Ninja Turtles” de 1990. É verdade que qualquer uma das sequelas é pior e eu vejo-as na mesma, mas vamos começar pelo primeiro.
As tartarugas ninja foram um dos meus maiores vícios em criança, conheci-as com os desenhos animados e era uma das brincadeiras favoritas na primária. Certo dia alguém começou a falar do filme, a contar uma história que diferia da que eu conhecia, fiquei muito curioso. Na altura nunca tinha ido ao Cinema, desconhecia de todo a experiência. Acabei por ver este em casa, mas quando a sequela estreou cá no Cacém (quando ainda havia Cinema), não perdi a oportunidade e pedi aos meus pais para ir. Foi o meu primeiro filme no Cinema e na altura foi espectacular, tinha 7 anos. Caramba até Pizza fui procurar de propósito por causa destes répteis, pois nunca tinha provado tal iguaria.

O filme, viria a saber mais tarde, é bastante mais fiél à BD do que os desenhos animados que assistia. Nomeadamente na personagem do Raphael que se tornaria a minha predilecta. Toda a raiva e solidão características da sua personalidade foram removidas na animação ficando apenas aquele seu humor mais ácido.
Hoje em dia pode ser estranho para muitos ver quatro marmanjos vestidos de tartarugas gigantes, mas para mim continua a ser uma diversão enorme assistir à dinâmica de Raphael, Leonardo, Donatello, Michael Angelo e Splinter, que neste primeiro filme travam conhecimento com April O’Neil e o psicopata do Casey Jones. Todos unidos contra o Shredder, um ninja tenebroso capaz de abrir qualquer lata de conserva.  A última vez que o revi acabei por reconhecer um certo Sam Rockwell a passear por lá que hoje em dia dispensa apresentações.
Seja considerado um bom filme ou não, uma coisa é certa, tenho praticamente a certeza que vai ser bem melhor que esse tal reboot que o senhor Michael Bay quer fazer.

Obrigada Loot. Este é um pecadilho que também partilho!



domingo, 17 de junho de 2012

"Prometheus", 2012



É muito difícil criar um filme de qualidade tão superior que marque indelevelmente a história do cinema. Ridley Scott já tem dois no currículo, o que é manifestamente mais, do que muitos bons realizadores alguma vez poderão almejar. E "Prometheus" prometia, passe o trocadilho. Os seus esforços mais recentes não refletem as alturas a que é capaz de chegar. E, perdoem-me, a não tão inocente comparação, mas a carreira de Scott pode, em certo grau assemelhar-se à de M. Night Shyamalan. Podemos desgostar da filmografia mais recente, (“G.I Jane”, “Gladiador”), mas ninguém lhe pode retirar o mérito de obras como “Blade Runner” ou “Alien”.
Os últimos anos têm sido parcos em boas ideias a oeste. Talvez seja culpa de um sistema instituído que não permite a muitos jovens argumentistas fazer-se ouvir. Quem sabe? Ou uma necessidade imperiosa de manter margens de lucro que obriga os estúdios a afastarem-se de projetos mais inovadores com medo de se tornarem o próximo “Waterworld” ou “John Carter” e preferem olhar para trás. Remakes, sequelas, prequelas… aí vamos nós! O vácuo criativo tem assim assegurado um revivalismo, que apresenta velhos clássicos a novas gerações, como revelou a primeira tentativa de regresso ao universo “Tron”, “Tron Legacy”. O filme de 1982 não foi um sucesso de bilheteira, mas adquiriu o estatuto de culto graças à VHS. “Tron” não será o melhor filme da década, ou sequer do género mas tem muitas ideias, de argumento e efeitos digitais, à época inovadores. Por isso, se o “Legado” pode ser considerado um tributo inferior ao original para os que viram a obra de 82, ele cumpriu, no entanto, a velha promessa de enfim, valorizar “Tron”, com nova sequela já prevista. No campo das promessas por cumprir, encontra-se, no primeiro lugar da fila o “Blade Runner”, uma obra manifestamente superior que ainda ninguém teve coragem de retomar. Não se deve mexer com os clássicos. Pois não, sobretudo quando os clássicos já são dos melhores filmes de sempre. Mas a avaliar pelo amor do universo de ficção em geral, pelo filme, que o toma como referência, com maior frequência do que o ignora e o amor dos fãs, parece ainda existir mercado. É a velha estória do marketing, se a vaca leiteira ainda tem leite, há que espremê-la toda.
“Alien” é um desses casos e, apesar do sucesso variável, a cada nova encarnação, a franquia parece mais longe de morrer. Afirmo e reafirmo, que “Alien Ressurrection” foi o maio desgosto da série e que “Alien 3” foi um mal necessário.  Eventualmente, algum realizador (saiu a fava ao Fincher), iria ter de fechar o ciclo criado por Scott: Ripley é uma personagem espantosa mas não é invencível. “Alien vs. Predator” é uma aventura completamente diferente, de junção com outro universo, que deve ser considerado apenas pela experiência, para alguns satisfatória, de por fim, juntar dois personagens favoritos do público e pô-los a combater até ao extermínio, sem grandes considerações quanto à mitologia da série.
Ora, se já se matou Ripley uma vez e já se apresentou o Alien ao Predador, o que é que se pode fazer mais? Voltar atrás no tempo, claro. Ridley voltou à menina dos seus olhos e preferiu fazer novas perguntas. Que importa para onde vamos se não sabemos de onde viemos? O Alien é já um caso banal e este argumento vira as atenções para o ser humano. Elisabeth Shaw (Noomi Rapace) é uma mulher obcecada com questões metafísicas. São os seres humanos o resultado de milhares de anos de evolução ou existirá um criador? Serão o produto do engenho de um ser superior? Se sim, qual é a sua agenda. Isto são preocupações de uma personagem que se sente perdida e que mais precisa de um psiquiatra e de colinho de que ter as respostas que procura com tanto ardor. Que fará quando tiver as respostas? Ela continuará viva e o seu pai continuará morto.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

"Attack the Block", 2011



Posso dizer que no universo das más traduções de títulos à portuguesa “ETs in da bairro”, está lá bem no topo. Tipo: uau. De modo literal seria algo como “Ataque ao bloco de apartamentos”. Esta foi a maneira de serem engraçadinhos ou espirituosos, se atendermos ao grupo de protagonistas.
Estamos mais que habituados a filmes nos quais os aliens invadem a terra e a humanidade só não é exterminada por um triz. Eles são sempre retratados como seres de suprema inteligência e os seres humanos, são uns pobres desgraçados que têm de utilizar todo o tipo de recursos para sobreviver. Invariavelmente, quem é “invadido” são os norte-americanos, a maior potência mundial nos anos 90 vá, que agora o século XXI é da China e se os invasores forem minimamente inteligentes começam por atacar a nação que pode constituir maior ameaça. Mas vá lá, pela primeira vez, lá se lembraram de criar uns alienígenas que não são a espécie mais brilhante do universo e criar antagonistas à altura: um gangue de adolescentes que até os próprios vizinhos aterrorizam. É caso para dizer “meteram-se com os tipos errados”.

Nascidos e criados num bairro a sul de Londres na Inglaterra e, sem perspectivas de algum dia sair de lá, Moses (John Boyega) e o seu bando atravessam as ruas da cidade nas suas bicicletas, procurando passar um bom bocado e gamar aqueles que cometerem a imprudência de se cruzar com eles.
Não será muito difícil imaginar que eles venham de lares desfeitos e famílias monoparentais que os deixam ao abandono durante dias inteiros, para prejuízo da sua educação e valores fundamentais. Notavelmente, estes jovens conseguem transformar o preconceito da sociedade em compaixão e apoio declarado perante um inimigo temível. Só um inimigo comum poderia unir pessoas tão diferentes com um bando, uma enfermeira, um hipster à procura da próxima broca e o dealer do bloco de apartamentos.
“Attack the block” é a prova de que não é necessário criar grandes cenários para um filme de acção. Dentro do bloco de apartamentos, nas rampas de acesso sinuosas e acessos labirínticos circulam uma série de miúdos com a destreza de um duplo que salta de edifícios ou carros em andamento. Às vezes menos é mais.
Um meteorito cai na terra e o gangue cruza-se com um bicho que não é desta Terra, cedo descobrem que este não é o único e que eles são tudo menos amigáveis. O que começa como diversão de miúdos acaba por se tornar um confronto pela terra. Onde “Attack the Block” sucede é no equilíbrio entre os géneros da comédia e do drama. Mas não é parecido com nada que se tenha visto antes. Nem o grupo de resistentes pertence aos militares como vimos em tantos filmes como “O dia da Independência” nem são um grupo de crianças inocentes como vimos em “Super 8”, acabando por funcionar como uma mescla bem-sucedida e mais realista. A justificação para a “invasão” parece muito mais natural, seguindo as ciências da vida e da natureza e não uma explicação demasiado rebuscada e por isso mais artificial. Os próprios alienígenas têm um design simplista que funciona. Definitivamente não pensem no Alien do H. R. Giger ou num predador. Quanto aos actores há um toque de hiper-realismo nas suas actuações, desde a enfermeira com demasiado trabalho entre mãos que chega a casa a horas ridículas ao gangue de jovens com o dialecto muito próprio de bairro. Destaque-se o jovem John Boyega que demonstra um espectro de emoções acima da média para um estreante no cinema. A personagem mais caricatural é sem dúvida a de Ron, o dealer drogado que é interpretado por Nick Frost. Depois das suas presenças em “Shaun of the Dead” e “Hot Fuzz”, não lhe atribuir um papel cómico seria uma ofensa às suas capacidades como cómico natural. Depois temos Luke Treadaway como Brewis, um dos personagens mais cool e que acabou por sair do filme como um sex symbol em potência, com o seu hipster simpático. De resto, a sucessão louca de acontecimentos apoiado numa fórmula comédia vs. drama e a banda-sonora de Steven Price que compõe o urbe londrina finaliza um dos filmes mais divertidos de 2011. Três estrelas.

Realização: Joe Cornish
Argumento: Joe Cornish
John Boyega como Moses
Jodie Whittaker como Sam
Luke Treadaway como Brewis
Alex Esmail como Pest
Franz Drameh como Dennis
Leeon Jones como Jerome
Simon Howard como Biggz
Nick Frost como Ron

Próximo Filme: "Prometheus", 2012

domingo, 10 de junho de 2012

Colaborações #2

Em finais de Abril, por ocasião desta notícia, o Nuno Reis do Antestreia lançou um desafio muito pertinente, convidou os bloggers cinéfilos a apresentar as suas propostas de filmes que deveriam ser mostrados nas escolas. As regras, iguais para todos eram as seguintes: apresentar uma lista de 30 filmes, sendo que cada lista de 10 devia corresponder ao 1º ciclo, 2 e 3º ciclos agrupados e ao ensino secundário. Escusado será dizer que por aqui se respondeu ao desafio, no sentido de criar uma proposta o mais objectiva possível e aproximada da realidade. Não tenho ilusões quanto à aplicabilidade da lista na vida real mas, pelo menos, sinto que não fui uma voz passiva no que diz respeito aos conteúdos que devem figurar no Plano Nacional de Cinema. Mais que não seja, as nossas propostas são reveladoras da nossa preocupação com o futuro do cinema em Portugal, seja ele em português ou não e, da necessidade deste estar presente no plano formativo das futuras gerações. Por isso, sugiro a consulta da proposta do Not a Film Critic e dos outros bloggers que responderam ao desafio.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

"The Yellow Sea" (Hwanghae, 2010)



Falar de cinema coreano é fazermos uma associação mental aos nomes óbvios de Ki-duk Kim, Joon-ho Bong, Jee-won Kim e Chan-wook Park. Mas brevemente, mais do que se possa pensar, segundo creio, poderão juntar Hong-jin Na à lista dos melhores realizadores coreanos de sempre. Vou mais longe ainda, Hong-jin Na, com apenas dois filmes no portefólio pode figurar à vontade na lista de melhores realizadores de mistérios/crimes dramáticos ao lado de figuras como Scorsese, Coppola, Hitchcock ou Kurosawa.
Depois da estreia excelente com “The Chaser”, onde um ex-polícia tornado proxeneta enceta uma perseguição letal a um serial killer que escolheu as suas meninas como alvo, Hong-jin troca-nos as voltas e inverte os papéis. Em “The Yellow Sea”, Yun-seok Kim passa de anti-herói a vilão assumido e Jung-woo Ha, o antes vilão brutal torna-se agora um anti-herói.
Desterrado em Yanji, na província de Yabian, um enclave entre a China, Coreia e Rússia onde a maioria da população sobrevive de actividades ilegais e na extrema pobreza, Ga-num (Jung-woo Ha) equilibra o pouco dinheiro que tem entre o táxi e o mah-jong. Com as dívidas a acumular, uma filha pequena e uma mulher que foi para a Coreia do sul vai para seis meses e nunca mais voltou, Ga-num é um homem desesperado. Myun-ga (Yun-seok Kim) precisa de um homem assim e dá-lhe a oportunidade de saldar as suas dívidas. A contrapartida lá está, não é pequena. Jung-woo Ha deverá ir para a Coreia, matar um homem e entregar-lhe o polegar como prova do acto! Ga-num aceita a proposta tendo em vista o final feliz: a reunião com a mulher e uma vida livre de dívidas. Mas o seu percurso será tudo menos fácil. Se os bandidos se dão a grande trabalho para o fazer entrar ilegalmente no país, a partir do momento em que lá está, Ga-num é deixado à sua sorte, com apenas dez dias para cometer o crime. Ah e, já agora, se não fizer aquilo para que foi contratado matam a sua filha e mãe.

Nada é o que parece e Ga-num é rapidamente traído e descartado num país desconhecido. Ga-num é um peão no meio de um jogo perigoso entre Tae-won, o gangster local já estabelecido e um Myun-ga em ascensão que não se coíbe de fazer trabalhos sujos. “The Yellow Sea” é, em tudo visceral, nas lutas corpo-a-corpo, no sexo, nas magníficas sequências de perseguição, nos acidentes rodoviários… E Hong-jin Na obriga o seu personagem a sofrer em todos os aspectos. Note-se a solidão de um imigrante ilegal num país onde mal domina a língua, contido num silêncio forçado já que não tem ninguém com quem falar, nem mesmo existe quem o queira ouvir. É um imigrante chinês de origem coreana, que veio da pobreza e lá pertence. Ga-num não tem lugar numa cidade cosmopolita como Seul. Ele é um intruso, nem sequer é lixo, ele não é ninguém. Mas nesta estória de sobrevivência Ga-num cresce e o homem desajeitado desaparece. Ele arranja recursos e recorre à violência se necessário para lutar contra o destino que lhe querem atribuir e atravessar o mar amarelo. Daí a divisão em quatro capítulos: “taxista”, “o crime”, “Joseonjok” e “mar amarelo”. O enredo é extremamente intrincado e complicado de seguir e se “The Chaser” já tinha uma visão negra da sociedade e do crime, “The Yellow Sea” consegue acentuá-la ainda mais. A cinematografia acompanha esta visão desesperada ultraviolenta. Quanto à força policial, esta é ainda mais ineficiente do que no filme de estreia de Hong-jin, seguindo no entanto, a tradição do cinema coreano de ridicularizar as forças policiais do país. Qualquer thriller dramático que se preze tem um órgão policial cuja ineficácia é tão flagrante que os criminosos circulam livremente, cabendo pois aos heróis a reposição de um certo sentido de justiça ou a condução de uma vingança brutal. Contudo, é nas personagens que “The Yellow Sea” revela a qualidade superior. A Jung-woo Ha é permitido brilhar como o estrangeiro solitário na viagem mais importante da sua vida.

Gu-nam viveu preso durante toda a sua vida e quando é perseguido num país estranho pelo que fez e pelo que não fez, liberta-se das amarras e decide que não pretende mais viver enclausurado. A liberdade é a única coisa que lhe resta, visto que lhe tiraram a família, a terra e que não tenha mais para o que regressar se não as dividas e os bandidas que o atormentam com regularidade. Um homem que nunca fez grande coisa por ele e pelos seus, desperta do coma emocional e decide lutar contra as circunstâncias. Esta realização pode já ter vindo tarde. Se retirarmos todas as reviravoltas do argumento e traições esta é a estória de um homem que só quer regressar a casa. E uau, como é difícil. Quatro estrelas.

Realização:  Hong-jin Na
Argumento:  Hong-jin Na
Jung-Woo Ha como Gu-nam
Yun-seok Kim como Myun-ga
Cho Seong-Ha como Tae-won Kim

Próximo Filme: "Attack the Block", 2011

domingo, 3 de junho de 2012

"Haunted Changi", 2010



Nos anos 30 foi construído um grande edifício em Changi, na Singapura. Na altura, Singapura estava tomada pelos britânicos que consideraram a colina o local ideal para construir um comando militar central. Com a agressão Japonesa, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, o quartel foi desmantelado e acabou por se tornar um hospital de campanha, com muitos militares e civis a serem lá tratados. Diz que não foi só isso que por lá se passou e que muitas pessoas acabaram por ser torturadas e até alvo de experimentação por parte do povo invasor. Após a saída do exército japonês, Changi voltou a tornar-se um hospital e depois quartel militar após o que foi finalmente fechado e deixado ao abandono.
Ultimamente, o hospital no topo da colina, qual filme ou banda-desenhada, recorde-se por exemplo o asilo de Arkham no universo do Batman, tem sido palco de vandalismo por parte de arruaceiros e mendigos, provocando uma maior degradação no já envelhecido edifício.
Com uma estória tão rica e lendas sobre bunkers subterrâneos e câmaras de tortura escondidas, que os locais sabem na ponta da língua como se de uma qualquer coscuvilhice se tratasse Changi é o perfeito cenário para um filme de terror.

Uma equipa de jovem cineastas decide realizar um documentário sobre o Hospital pesquisando bibliografia sobre o tema, entrevistando os locais e… visitando as instalações. Eis, onde a ideia corre mal, a “equipa de filmagens vai filmar edifício assombrado e nunca mais retorna. Por tremenda sorte, o equipamento foi encontrado e, o que estamos a ver são as filmagens do que se passou por lá”. Recordam-se disto de um lado qualquer não é? Refresco-vos a memória: “Blair Witch Project”, “Grave Encounters”, “Haunted House Project”… Portanto já estão a ver onde isto vai dar. O problema é que “Haunted Changi”, ao contrário do desastre “Haunted House Project”, tinha potencial. Os actores são naturais e não houve necessidade de inventar estórias visto que estas são parte integrante do imaginário local. É infinitamente mais difícil tentar convencer um público de estórias de assombro quando não há dados factuais. No caso de Changi, não só as estórias existem, como o medo colectivo, transmitido entre gerações perpetuou a noção deste lugar como malévolo. A completar a moldura está o próprio hospital, metade destruído, metade vandalizado, que não convida à visita dos mais sensíveis.
Ora, Changi podia ter dado o documentário perfeito. Infelizmente, Andew Lau e companhia decidiram que ainda fazia falta mais um falso documentário, na paisagem dos filmes de assombrações.  E de facto, “Haunted Changi” começa numa nota intrigante, com a narração do historial do lugar e das entrevistas aos locais, sempre intercalados com fotografias e filmagens do lugar. É, curiosamente, no exterior do cenário dignos dos sonhos molhados dos cineastas de terror, que ocorrem os melhores momentos do filme. Porque, quando eles entram no hospital, não há dados novos que possam recolher verdadeiramente significativos. Só paredes e soalhos sujos e tectos caídos. As paredes não contam uma história melhor que a de arquivos ou da sabedoria popular e ninguém vai afirmar que, por muitos anos que passaram e inúmeros ocupantes, ainda há segredos por desvendar. Como tal, surge o argumento do fantasma, mais fraco, a cada novo filme. Posto isto, noventa por cento é paisagem e dez por cento, explora os nossos medos mais profundos. Medo do escuro? Labirintos intermináveis? Impressão de outra presença na mesma sala? Medo de ver surgir alguma coisa inumana a cada nova esquina que se dobra? Farid, Sheena e Audi são, a maior parte do tempo credíveis, mas não podemos ansiar pelo que não existe. Retirando duas ou três cenas assustadas nada acontece de importante para nos importarmos. Quanto a Andrew ele devia ter um pouco mais de noção. Sendo realizador e exigindo destes uma performance que lhes é por vezes, impossível, comporta-se com todo o exagero teatral que se pede que um actor de cinema reprima. A sua actuação é desfasada, desconcertante e alucinante. Infelizmente, esta é depois acentuada pelo péssimo trabalho de maquilhagem. Dificilmente teriam feito pior e atendendo ao baixo orçamento, é embaraçoso descobrir que a edição e fotografia, duas áreas-chave em qualquer obra são superiores a uma caracterização simples dos actores. Se retirarmos um certo estado melancólico acentuado pela fotografia, à qual a movimentação do sol não é alheia e, que torna o documentário “real”, Changi sofre com inúmeras falhas estruturais e um número desgastado que o público já conhece de cor. Para os cidadãos de Singapura talvez faça sentido, mas perde-se no vasto mercado internacional onde existem alternativas mais bem concretizadas. Duas estrelas.

Realização:  Andrew Lau
Argumento:  Farid Azlam, Sheena Chung e Audi Khalis
Andrew Lau como Andrew
Farid Azlam como Farid
Sheena Chung como Sheena
Audi Khalis como Audi

Próximo Filme:  "The Yellow sea" (Hwanghae, 2010)

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