domingo, 24 de novembro de 2013

"Ong bak 2: The Beginning" (Ong bak 2, 2008)


O Tony Jaa é o mais próximo de uma marca que o cinema tailandês de artes marciais possui. Quando se assiste a um filme deste lutador de Muay Thai já se sabe o que vai acontecer: pancadaria de quebrar ossos, ínfimas sequências de acrobacias fantásticas em slow motion, diálogos pouco a nada elaborados e a inexistência de uma espécie de estória coerente.

Uma dezena de filmes passados, Jaa ainda parece uma criança a quem os pais compraram pela primeira vez uma câmara de filmar e não sabe se agir de um modo natural ou representar (o que quer que isso signifique), em frente à objectiva. Uma inocência que contrasta com o físico invejável de um homem adulto, muito além de algumas horas de trabalho intensivo e da ida ocasional ao ginásio. E se bem que a sua face projecta boa vontade, perante a ameaça o corpo já de si tonificado transfigura-se, avoluma-se e enrijece. À semelhança de um dos seus ídolos, Bruce Li, que de homem franzino a máquina destruidora de homens bastava a ofensa de um vilão. O menino não brinca em serviço.
“Ong bak 2: The Beginning” é uma “falsa” sequela, nada tendo em comum com a película anterior, à excepção do actor principal. Nessa obra, Jaa interpretava um jovem aldeão que parte para a cidade em busca do “ong bak” uma estátua sagrada intimamente ligada à vitalidade da aldeia, roubada por traficantes pouco escrupulosos. “Ong bak 2: the Beginning” ocorre no século XV no momento em que várias facções lutam pelo poder do território. Os pais do jovem príncipe Tien (Tony Jaa) são traídos e assassinados por Rajasena (Sarunyoo Wongkrachang), um nobre sedento de poder, para quem aqueles últimos constituíam apenas um empecilho na sua luta por domínio absoluto. Tien escapa à morte mas vê-se nas mãos de traficantes de escravos que, entre outras coisas, o atiram para um fosso com um crocodilo. Chernang (Sorapong Chatree) o líder de um grupo guerrilheiro compadece-se de Tien e acaba por criá-lo como seu próprio filho. No seio de um grupo de homens perigosos, Tien mune-se das armas necessárias a uma vingança implacável. O tempo é seu amigo.
A mudança radical de perspectiva não oferece nenhuma melhoria face ao “Ong bak” original. A narrativa era simples, mas facilmente se criava empatia com a aldeia em desespero e se torcia pelo único homem responsável pela operação de resgate. Com as mãos na realização, argumento e papel principal, Jaa assume demasiado controlo e dispersa-se daquilo que as audiências querem ver dele: cenas de luta altamente intricadas. Se extraímos um confronto no qual um elefante é um figurante involuntário da acção que Jaa utiliza a seu aproveito para defesa e contra-ataque ao seu oponente. Como o elefante se manteve sereno perante a acção é um mistério. Menos impressionante é o facto de os confrontos de Jaa recorrerem mais à magia do cinema do que à fisicalidade dos seus interpretes. Onde a acção de “Ong bak: The Thai Warrior” era crua e dura, nesta encarnação é mais graciosa e mais dada a proezas impossíveis sem o recurso a artefactos externos. Se considerarmos que a plausibilidade e dureza do primeiro filme que o tornavam original, por oposição ao exército de filmes de artes marciais exportados de Hong Kong foi o que atraiu tantos e tantos cinéfilos por este mundo fora, não deixa de existir um sentimento residual de traição. Também o humor é deixado para trás. Nada há de slapstick que tornava Jaa tão encantador em primeira instância. Um jovem tão ingénuo e predisposto a acreditar na bondade que dos que o rodeavam que tal redundava em ser sucessivamente enganado até que alguém, derretido pelo seu bom coração o auxilia a recuperar o ong bak.  E bem que necessitava dessa dose de simpatia pois sem ela, Jaa não é o que se possa denominar carismático, necessita absolutamente de aulas de representação e também é o que se possa chamar de palmo de cara.

Mas se há acusação que ninguém pode levantar contra “Ong bak 2: The Beginning” é o de que o cenário histórico e natural da Tailândia não é bem utilizado. Existem confrontações nas clareiras das densas florestas, por entre os monumentos e em águas infestadas de crocodilos. Por tudo isto, fica a triste sensação que “Ong bak 2: The Beginning” nunca chegou aos calcanhares daquilo que poderia ter sido não chegando sequer ao patamar da homenagem que o predecessor merecia. Dos fracos não reza a história… Duas estrelas e meia.
Realização: Tony Jaa e Panna Ritikrai
Argumento: Tony Jaa, Panna Ritikrai, Ek Iemchuen e Nothakorn Thaweesuk
Tony Jaa como Tien
Sarunyoo Wongkrachang como Rajasena
Sorapong Chatree como Chernang
Primorata Dejudom como Pim
Nirut Cirichanya como Mestre Bua

Próximo Filme: "Kiss me, Kill me" (Kilme, 2009)

PS: O Tony Jaa e o seu físico impressionante.

domingo, 17 de novembro de 2013

"Phone" (Pon, 2002)


Ji-won (Ji-won Ha), uma jornalista destemida tem vindo a receber telefonemas ameaçadores desde que escreveu uma série de artigos baseados na investigação de um caso de pedofilia. O casal Ho-jeong (Yu-mi Kim) e Chang-hoon (Woo-jae Choi) de quem é amiga íntima decidem fazer o papel de bons samaritanos e oferecem-lhe estadia numa das suas casas, onde será difícil aos bandidos encontrá-la. Entretanto, Yeong-ju (Seo-woo Eun), a jovem filha do casal atende o telefone de Ji-won por ocasião de uma das chamadas misteriosas e inicia a demonstrar sinais de possessão. Ji-won é forçada a recorrer à sua mente inquiridora, à medida que os telefonemas se intensificam e a música “Moonlight Sonata” começa a ecoar insistentemente na sua cabeça.

Costuma-se dizer, ou pelo menos foi a informação que me venderam, que o mais difícil em cinema é trabalhar com crianças e animais. Quando uma ideia assim tão louca resulta o produto final pode ser surpreendente. A Aniston e o Owen Wilson que me perdoem mas por algum motivo a película é “Marley e eu” e não os “Grogan e o cão”. Em “Phone”, uma miniatura feminina ainda nem chegada à puberdade rouba o filme das mãos de Ji-won Ha, aquela que é uma das actrizes mais populares da Coreia do sul dos dias de hoje. Deve doer.
E os cineastas não tiveram grandes contemplações para com o “selo” da Disney. A pequena Seo-woo comporta-se como uma adulta sem espaço para subtilezas. Ela irradia ódio, histerismo, sedução, maquiavelismo em doses iguais, brutais. O desempenho faz crer que as emoções que exalta nas cenas com Yu-mi Kim e Woo-jae Choi são mais do que mero fingimento. Ela conhece as emoções com que está a trabalhar, emula mais do que a insinuação e ultrapassa-os em profundidade. É boa demais para uma actriz com menos de dez anos de idade e que praticamente não possui experiência. Quando ela não se encontra a trabalhar o ecrã, “Phone” é apenas mais um numa longa sucessão de hair movies, se bem que, com a vantagem da antiguidade que ainda o torna, ligeiramente superior a muitos que se lhe seguiram. Ji-won interpreta uma jornalista, como convém porque à protagonista cabe sempre a ingrata tarefa de investigar uma série de acontecimentos grotescos. Mais alguém se recordou de imediato do “Ring” (1998)? Há lugar a telefones assombrados um elemento também não inteiramente estranho já que “Phone” foi o instigador original da série de filmes “One Missed Call”. Uma música associada a sarilhos? Conhecida ou pelo menos vagamente reconhecível que é para garantir que ninguém do público esquece. Céus, não sei se alguma vez o vi no cinema… À excepção de “Cello” (2005) talvez. E os elevadores, não sei o que se passa com os elevadores asiáticos mas são todos arrepiantes. As luzes apagam-se ou piscam e invariavelmente o número de ocupantes aumenta (lamento dizê-lo), de modo não tradicional. Novo flashback, desta feita apenas uns meses antes, para o filme dos irmãos Pang “The Eye”. Que aconteceu à música de elevador horrível e aos vizinhos desagradáveis com quem nunca ocorre um desbloquear de conversa excepto pelo final da viagem, assim que já não são necessários dos países ocidentais?
“Phone” é tão aborrecido como os restantes hair movies ou tão divertido como os seus congéneres. É uma questão de perspectiva na verdade. O cliente de um restaurante tendo perante si toda uma variedade de pratos só realiza o pedido do costume se ainda não está cansado de pedir sempre o mesmo. Pois “Phone” não engana ninguém, os créditos iniciais são prova disto mesmo. Apresenta exactamente aquilo que este tipo de cliente espera, com uma ou outra variação: maior ou menor quantidade, se calhar uma disposição dos ingredientes diferente mas a essência é a mesma. No máximo “Phone” é um caso de estilo mais interessante do que a substância e nesse caso como fã assumida do género nada tenho a apontar. Três estrelas.
Realização: Byeong-ki Ahn
Argumento: Byeong-ki Ahn
Ji-won Ha como Ji-won
Yu-mi Kim como Ho-jeong
Woo-jae Choi como Chang-hoon
Seo-woo Eun como Yeong-ju
Ji-yeon Choi como Jin-hie


Próximo Filme: “Ong-bak 2” (2008)

domingo, 3 de novembro de 2013

"Dark Flight 407 3D", 2012


A ideia de uma centena ou mais de pessoas desconhecidas despenderem várias horas dentro de um passaroco gigante com um mínimo de liberdade de movimentos já é desconfortável. Se a isso juntarmos a possibilidade de uma ave entrar por uma das turbinas do aparelho, de ocorrer uma situação de negligência ou indisposição súbita dos pilotos que estão por trás de uma porta da qual nem um vislumbre ou de um tarado qualquer passar-se a meio da viagem, eis a vontade de viajar parece tornar-se subitamente mais reduzida. Demasiado pode correr mal… No ar, ninguém pode correr, ninguém escapar. Qual caixinha de surpresas, onde qualquer factor levado ao extremo pode gerar uma situação explosiva. Está-se à mercê de quaisquer circunstâncias imprevistas e da capacidade da tripulação e do apoio técnico, distante, produzir soluções. Posto isto, o avião parece o cenário ideal para um thriller de terror, certo?
Regressar ou não regressar ao trabalho, eis a questão.

New (Marsha Wattanapanich) é uma hospedeira de regresso ao trabalho após um acidente terrível que vitimou bastantes pessoas e a conduziu a anos de terapia intensa. Ela sente-se preparada para voar novamente mas, vítima do destino ou uma dose brutal de azar, este avião é demasiado reminiscente daquele que a traumatizou. Os mortos regressaram do além e querem arrastar os passageiros com eles. Será que alguém acreditará nela antes que seja tarde demais?
Ai tanto medo que nós temos. Uhhhhhhhhhh!
Acredito que falecer num acidente do género não seja a experiência mais agradável deste (e do outro) mundo mas, a sobreviver sob a forma espectral, não estou a ver onde é que atrair gente inocente para a morte provocasse algum tipo de alívio ou satisfação, pela condição de espírito. Uns exagerados estes fantasmas. A justificação prende-se com o facto conveniente do avião ter sido construídos com as peças do avião do acidente anterior. Ah e com o desejo de levarem New com eles. Como se atreveu ela a sobreviver? Felizmente, as suas acções extremadas quase são perdoadas pela circunstância de grande parte dos passageiros actuais serem de maus a horríveis. Há a mulher que faz do marido um capacho e utiliza a filha como moeda de troca para os caprichos do momento, a miúda de Hong Kong extremamente sexy porque pelos vistos tem de haver lá alguém com ar de meretriz sem que o público refile, um monge (últimos ritos e coisas do género, dão sempre jeito), o comissário de bordo efeminado, o jovem másculo que há uns anos teve um romance com New e ficou acidentalmente fechado no compartimento de bagagem, uns estrangeiros, um rastafariano... E pouco mais, que o voo 407 vai quase vazio. São mais os lugares vazios que os ocupados. Na Tailândia deve ser difícil arranjar figurantes, não?
E o prémio de melhor cena do filme vai para...

“Flight 407 3D” apresenta dificuldades que custam a aceitar ou o marketing não o apresentasse como o primeiro filme tailandês em três dimensões. Se isso é verdade… Diz que em 2012 estreou “Mae Nak 3D” e não teço mais comentários sobre esse assunto. Marsha Wattanapanich não tem nem o destaque nem o desempenho que merece. A sua personagem é apresentada como a principal mas a espaços é deixada de lado para dar lugar ao impacto da assombração sobre os outros passageiros. E quando surge, ela alterna entre o pensativo e a apatia. Como se ela tivesse desistido antes mesmo de começar. O argumento é tão mau que Marsha faz os possíveis por passar despercebida quando não está a efetuar um desempenho digno de uma daquelas actrizes que são descobertas em centros comerciais. Depois de participar no brilhante “Alone”, “Flight 407 3D” é um erro atroz. A grande mácula deste filme encontra-se precisamente na utilização da tecnologia 3D que não se justifica e apenas serve de engodo para apelar aos mais distraídos. O potencial do cenário é descartado por oposição à crença de que o 3D faz tudo mas não serve de desculpa para uma película sem quaisquer méritos e que sucede no hilário, ao invés do medo que o marketing prometia inspirar. Uma estrela e meia.

Realização: Isara Nadee
Argumento: Kongkiat Khomsiri, Chanin Panthong, Nattamol Peanthanom e Nattapot Potchumnean
Marsha Wattanapanich como New
Peter Knight como Bank
Paramej Noiam como Jamras
Patcharee Tubthong como Gift
Anchalee Hassadeevichit como Phen
Thiti Vechabul como Prince
Namo Tongkumnerd como Wave
Sisangian Sihalath como Ann
Jonathan Samson como John
Kristen Evelyn Rossi como Michelle´

Próximo Filme: "Phone" (Pon, 2002)
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