segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Babang Luksa, 2011

Babang Luksa é uma tradição filipina com base na herança católica, na qual os familiares e amigos de um falecido se reúnem o primeiro aniversário após a sua morte para cessar o luto. É uma espécie de formalização do final do período de “pesar”, com o conforto de comida, onde os convivas decidem seguir com as suas vidas a despeito do falecimento de um ente querido. Este ritual abre as hostilidades e é o único momento genuíno em toda a trama.
Close-ups para que vos quero?

Soledad (Ces Quesada) convida Carlo (Luis Alandy) e Ana (Precious Lara Quingaman) para o Babang Luksa da sua filha Beatriz (Arya Valdez). Desde esse momento as vidas de todos ficam marcadas. Por quem ou o quê, não se sabe ao certo mas suspeito que as sombras e close-ups das caras assustadas do elenco signifiquem que existe uma assombração. Outra conclusão perfeitamente lógica é a de que Beatriz não partiu para o outro lado e prefere ficar na terra a atormentar quem lhe foi prestar homenagem. Porque parece que quem nos quer bem é a vítima ideal para estas coisas de assombrações. Pelo menos é essa a opinião de Ana que é a mais acossada pelas manifestações de Beatriz. Aliás, a amiga nem sequer teria qualquer motivo para estar zangada com ela. Alguma vez ela devia ficar chateada por Carlo que lhe foi apresentado por Ana a rejeitar por esta última? Beatriz nem sequer cortou os pulsos por despeito. Sim, ela era uma moça que estava de bem com a vida e que não guardava qualquer rancor da amiga por esta tomar o seu amado…Além disso, Ana deveria descansar como aconselham Soledad e Carlo. Deve ser por causa disso que ela está com uma imaginação demasiado activa. (Quando estou cansada dá-me assim para o sono ou até tonturas, não para ver fantasmas, mas isso sou eu que não percebo destas coisas). Assim ela toma o curso de acção mais sensato: faz uma sessão espírita para pedir à amiga para os deixar em paz. O que podia correr mal?
Um dos pormenores mais fantásticos é o facto de “Babang Luksa” ser uma produção independente. Normalmente uma obra é denominada independente quando não tem um estúdio por trás. Ora se a ausência de recursos é flagrante, o que não é tão imediato é entender como conseguiram atrair uma beauty queen e uma apresentadora de televisão conhecidíssimas para um filme que não ficará na estória do cinema independente, quanto mais filipino. Os críticos de cinema são massacrados por estarem sempre a falar da qualidade dos argumentos e Babang Luksa é um excelente exemplo disso mesmo. É vermo-nos obrigados a ver uma novela com a desculpa que é filme e sentirmo-nos desafiados nas nossas faculdades mentais porque os actores explicam a todo o momento o que se passa no ecrã. “É a Beatriz!”, “Tem de ser a Beatriz”, “Tu não tens culpa nenhuma do que sucedeu à Beatriz”, “Amo-te a ti e não à Beatriz”, “O que posso fazer para acalmar a Beatriz?”, “O que está a suceder?”, “Tem cuidado” e “Não temos a certeza do que se está a passar” repetem-se.
Não fosse a estupefacção por nos proporcionarem momentos destes e ainda somos brindados com cenas do quotidiano de Carlo e Ana. Ele anda muito stressado coitado, pois parece que os números da empresa (vendas?), não são o que deviam, conforme é indicado numa reunião de trabalho onde os colegas ostentam um ar seríssimo e de extrema preocupação. Já ela tem uma chefe horrível que a maltrata mas entretanto Ana demonstra que é uma profissional eficiente numa urgência apesar de perder o doente. Porque é que isso é importante também não sei. Se a ideia é demonstrar que eles são pessoas normais o argumentista, quem quer que seja, falha a partir do momento em que apresenta a hipótese da assombração ao fim dos primeiros cinco minutos de filme. Entre diálogos que não se assemelham de modo remoto à vida real que se tenta emular, problemas de continuidade que produzem a confusão e uma péssima caracterização do “monstro” a única questão que restará é se este filme era a única opção para visionamento nesse dia. A outra opção seria decerto melhor. Meia estrela



O melhor:
Curta duração do filme

O pior:
Argumento, incluindo diálogos saídos de uma novela
Continuidade
Caracterização horrível
Direcção horrenda
Suspense inexistente
O tempo de vida desperdiçado


Realização: Yuan Santiago
Precious Lara Quigaman como Ana
Luis Alandy como Carlo
Angelika Dela Cruz como Idang
Roselle Nava como Cathy
Helga Krapf como Kris
Ces Quesada como Tita Soledad
Joy Viado como Dra. Catacutan
Joshua Ocampo como Miguel
Arya Valdez como Beatriz
Rachael Chezka Marie Decena como Sigbin

Próximo Filme: "Ghost House" (Gwishini sanda, 2004) 

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Eu MONSTRO, Tu MONSTRAS, Nós MONSTRAMOS


A MONSTRA – Festival de Cinema de Animação de Lisboa regressa em 2015, de 12 a 22 de março, para celebrar os seus 15 anos. Nesta edição, o festival irá prestar homenagem ao cinema de animação da América Latina, com uma grande retrospetiva. Ao todo serão exibidos 75 filmes, 6 longas-metragens e 5 sessões de curtas-metragens destes países.

Para comemorar os seus 15 anos, a MONSTRA vai lançar durante o festival um dvd que compila 15 filmes de animação para os mais novos. Ainda no âmbito destas celebrações, João Garção Borges, realizador do extinto programa da RTP2, Onda Curta, irá programar uma sessão dedicada aos melhores filmes apresentados na MONSTRA e neste programa televisivo. O programa de documentários da Monstra, Dokanim, irá apresentar filmes do Festival DokLeipzig que refletem os 15 anos da Monstra. Ainda para celebrar estes 15 anos, haverá uma sessão dos melhoresvideoclips feitos em cinema de animação e outra de cinema de animação experimental. Já na FNAC Chiado e Fábrica Braço de Prata, serão exibidos os 15 cartazes da Monstra, desde o nascimento do festival, em 2000. [Comunicado de imprensa]

Leram tudo até aqui? Lindos meninos. Se bem que esta pessoa não tem por hábito fazer copy & paste de comunicados de imprensa com mais de uma página. Ler a meios que cansa e, por muito interessante que o programa seja (e é!), mais vale ir directa ao assunto.

Em tempos que já lá vão (fins de novembro do ano passado e até meados de janeiro de 2015), fiz uma maratona de cinema de animação. Estava a meios que imbuída ainda de um espírito, quiçá natalício, que me incitou a ver Hayao Miyazaki, Satoshi Kon, Mamoru Hosoda e Isao Takahata de enfiada. Juro que não me estou a armar numa daquelas pessoazinhas arrogantes que se põe a citar nomes para se mostrarem imensamente cultas, até porque alguns, tive mesmo de os ir pesquisar, que tenho memória de peixe e esqueço os nomes dos realizadores mas quero, não… Insisto, que vão pesquisar as obras destes senhores e as visionem. Divago. Digamos que se quisessem uma lista de essenciais de animação japonesa, eu, que posso ou nada sei a respeito das idiossincrasias do género, recomendaria fortemente estes quatro senhores, sendo que, voilá, a MONSTRA, dedica a dois deles, precisamente uma secção. Ou melhor, ao cinema de animação japonês, homenageando Takahata e exibindo ainda a última longa-metragem concretizada de Miyazaki “Wind Rises”. Do primeiro serão exibidos: “The Tales of the Princess Kaguya” – baseado na fantástica lenda do Cortador de Bambu que ela própria já merece a vossa curiosidade –, “Pom Poko”, Only Yesterday” e “My Neighbors the Yamadas”. E qual cereja no topo do bolo figurativo, o documentário “The Kingdom of Dreams and Madness” que foca o trabalho destes dois senhores. E porque me alongo sugiro mesmo a consulta do website da MONSTRA claro!

Conclusão: esta pessoa vai tentar estar lá. E você?

PS: A não ser que sejam visitantes de outro país. Então que sejam muito bem-vindos a este blogue e… Roam-se de inveja.

PS 2: Diz que também uma secção de animação de terror. Calo-me já, já.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

"Sleepwalker 3D" (Meng you 3D, 2011)


Os sonhos são uns sacanas. Uma pessoa trabalha como uma escrava, tendo por vezes apenas por miragem o sonho de um banho quente e de uma refeição consistente, o mínimo que pode desejar é um sonho reconfortante certo? Nada disso. Os sonhos são a porcaria da recompensa mais inconsistente e desconfortante de todas. Diz que é o espelho do subconsciente, aquele bocadinho de matéria que jaz dormente que surge para nos dizer: “há questões dolorosas, mal resolvidas, que convém explorar neste preciso período em que estás especialmente cansado e angustiado”.
A vida de Yi (Angelica Lee) revolve à volta deste ciclo pernicioso. Ela tenta apanhar os cacos da sua existência após a morte da filha e falha todos os dias. À noite é assaltada por sonhos nos quais uma criança é enterrada num bosque. De manhã, acorda como se tivesse estado acordada durante toda a noite e com as mãos cheias de terra. Com o desaparecimento do ex-marido, Yi começa a temer que tenha tido algo a ver com o caso. Entretanto, Peggy (Charlie Young) está a enfrentar um pesadelo que Yi conhece demasiado bem, o filho desapareceu e com o tempo a passar a esperança torna-se ténue. Com o apoio da detective Au (Huo Sien), Yi compromete-se a dar apoio à investigação. Se os seus sonhos tiverem uma pista para o paradeiro da criança ela irá auxiliá-la ainda que isso possa significar que é culpada do rapto e possivelmente homicídio.

A ideia do sonambolismo é tão tentadora quanto atemorizante mas nas mãos dos irmãos Pang é igualmente excitante. A metade dos irmãos Pang conhecida por Oxide recruta caras conhecidas para mais uma aventura a solo: a sua eterna musa Angelica Lee e Decha Srimantra, cinematógrafo que o acompanhou em quase todos os filmes que realizou até ao momento. É uma garantia reconfortante saber que pelo menos uma das actuações será sólida e que nos aguarda um espectáculo visual, o que é mais que a maioria das películas nos oferece. Oxide diverte-se com as possibilidades de “Sleepwalker 3D” mas não existe um verdadeiro foco. O 3D, à semelhança de tantas outras experiências anteriores e já posteriores mais se assemelha a um acessório que nem era necessário, nem acrescenta um contributo válido para a estória e é escasso. Os motivos de interesse são outros, incluindo a técnica simples mas que sempre funciona da imagem a preto e branco com um toque de cor, matizes azuladas e breves animações nas sequências de sonho. Angelica é a melhor das três protagonistas e parece genuinamente afectada pela perda pessoal, a possibilidade de possuir uma faceta negra e… uma peruca terrível. Estou em crer que algumas das suas lágrimas se devem aquela coisa vermelha que lhe colocaram na cabeça no lugar de peruca e ninguém me convence do contrário.
Ela é uma alfaiate com um estilo pessoal alternativo pelo que não é como se o cabelo vermelho fosse uma opção estética fora de série. No entanto, a caracterização distrai em algumas cenas importantes. A sério que não tinham orçamento para dar à belíssima Angelica um penteado decente? A par com o cabelo estão uma série de desempenhos muito abaixo do nível de aceitabilidade para um grupo de teatro amador. As mulheres fazem o que podem com aquilo que têm. Os homens nem sequer tentam. Este é o calcanhar de Aquiles de qualquer dos irmãos Pang. Eles dedicam mais atenção às suas actrizes e, sobretudo, às que interpretam as protagonistas que ao resto da equipa de actores. Os primeiros filmes da sua carreira e o thrillers “The Detective” (2007) e “The Detective 2” (2011) constituem notáveis excepções. A aparente ausência de preocupação com o casting tem sido uma das críticas consistentes para não possuam uma reputação superior à que por ora possuem e as suas obras fiquem sempre aquém do potencial inicial. O segundo grande mal de “Sleepwalker 3D” é os subenredos que acompanham a narrativa principal que todos os juntos, não parecem fazer grande sentido: ex-maridos desaparecidos, irmãs com uma relação complicada, mulheres em coma… Uma grande série de nada, que não leva a nenhum lado em particular. A prova de que não têm relevância para a estória e apenas contribuem para gerar ruído é o habitual, dispensável, irritante e arrogante flashback para explicar os acontecimentos. Uma estrela e meia.

O melhor:
Os passeios nocturnos de Yi
Os sonhos
Cinematografia
Angelica Lee

O pior:
A peruca da Angelica Lee
A identidade do vilão é óbvia.
É mesmo para dormir… sem direito a sonambulismo.
3D, para que serves tu?


Realização: Oxide Pang Chun
Argumento: Oxide Pang Chun e Thomas Pang
Angelica Lee como Yi
Charlie Young como Peggy
Huo Sien como Detective Au
Li Zong Han como Eric

Próximo Filme: Babangluksa, 2011

domingo, 1 de fevereiro de 2015

"Blood Letter" (Thien Menh Anh Hung, 2012)


Depois do massacre da família o jovem Nguyen Vu (Huynh Dong) é deixado num templo. Ele passa os anos seguintes escondido da civilização com um monge que o acolhe como a um filho e o inicia nos caminhos das artes marciais. Um dia o local é invadido por oficiais e Nguyen reconhece num dos homens, um dos mandantes do assassinato da sua família. O monge procede a revelar o trágico passado do clã do filho adoptivo: uma das concubinas do seu avô foi acusada de traição e a inflexível imperatriz Thai Hau (Van Trang), ordenou a morte da família inteira por associação à criminosa. Na sofreguidão de repôr a justiça ele acaba por ir espiar a corte real onde se depara com Hoa Xuan (Midu) que partilha do mesmo desejo de vingança que ele. Ela e a irmã Hoa Ha (Kim Tien) também testemunharam a fúria da imperatriz e tornam-se suas aliadas. Perante o rumor da existência de uma "carta de sangue" que poderá abalar o processo de sucessão real, ele e as irmãs embarcam numa aventura para a encontrar.

Aos primeiros segundos de filme, a estória aponta para um filme de vingança: entre mortos e feridos, Nguyen desmonta a cabala arquitectada contra a sua família e desmascara perante o mundo os malfeitores que entretanto destruiu com o domínio total e completo das artes marciais, qual filme de acção série B. Ao fim de uns minutos, a euforia acalma consideravelmente. Uma pessoa percebe que a mestria da arte da arte do combate não é a maior quando o melhor que o personagem principal é capaz de fazer é o kamehameha do “Dragon Ball”, num efeito digital embaraçoso. Isto não abona muito a favor de Johnny Tri Nguyen, o coreógrafo de acção de serviço, que aliado a uma edição tosca e uma câmara desinteressada fazem suspeitar que as cenas de combate não constituem de todo os melhores atributos de “Blood Letter”. O que a câmara procura isso sim é uma quantidade obscena de paisagens montanhosas, vegetação luxuriante e lagos de águas límpidas, cristalinas. Cenário remanescente de um filme wuxia qual “Crouching Tiger, Hidden Dragon” de início do milénio. Isto é fantástico mas um cinéfilo procura a paixão da estória e não apenas um postal animado de um país que de outra forma podia conhecer, através de publicidade institucional do Organismo Oficial de Promoção do Turismo: “Descubra as paisagens virgens do Vietname”. Pois que surge então uma rapariga bonita e afinal, “Blood Letter” inicia a trilhar os caminhos do romance. O herói descobre o sentimento mais precioso de todos e deverá querer tornar-se um homem melhor, acima do desejo de satisfação pessoal, que inclui o abandono completo do sentimento destrutivo da vingança.

“Blood Letter” é uma película muito interessante quando analisada do ponto de vista do cinema vietnamita, ainda pouco prolifico e amplamente influenciado pelo rumo político do país que dita até onde é que a inspiração dos cineastas poderá ir. Surge pois uma estória fantasiosa onde o herói não sobressai nem impressiona. A palavra que melhor o descreve é banal. O argumento é um mix dos filmes wuxia com filmes de série B e soma os defeitos de uns e de outros: peca por excesso de considerações filosóficas ou falas atiradas para o ar, sem convicção e desconexas de verdadeiras emoções. O actor principal sofre de uma mortal ausência de carisma e não consegue carregar o filme nos seus ombros. No início, Nguyen é ingénuo e altruísta como sempre convém. Depois torna-se um tolo apaixonado e pelo fim, pouco ajudado por uma edição desleixada, parece adquirir uma sabedoria que deve ter brotado do solo. Acordou um dia e teve uma epifania sobre o perdão e o que será melhor para o povo vietnamita. Desde quando é que ele, uma pessoa que sempre viveu num templo, nos confins da civilização e sem qualquer contacto social tem poder para decidir sobre os destinos dos outros? Se no papel a mudança já é demasiado brusca e despropositada, o facto de o actor não possuir a experiência necessária para a transmitir mata qualquer hipótese de aproximação ao seu dilema. De igual modo a sua amada no ecrã, a despeito de possuir um pouco mais de energia, age na maior parte do tempo como uma adolescente com a birra porque os pais não lhe compraram uns ténis caros. E assim por diante, incluindo vilões caracterizados com maquilhagem apatetada e esgares exagerados. Fica a ideia que “Blood Letter” foi realizado apenas com o intuito de ser bom o suficiente e nunca teve a excelência como alvo. Feito o balanço, nem é bom para figurar numa lista pessoal, quanto mais de melhor do ano. Duas estrelas

O melhor:
- Postal da beleza natural vietnamita
- Guarda-roupa

O pior:
- A representação
- Edição tosca. Sensação de frequente ausência de continuidade
- Já era altura de os vilões não terem maquilhagem exagerada para demonstrar que são os maus da fita!

Realização: Victor Vu
Argumento: Victor Vu
Huynh Dong como Nguyen Vu
Midu como Hoa Xuan
Khuong Ngoc como Tran Tong Quan
Minh Thuan como Su Phu
Kim Hien como Hoa Ha
Van Trang como Thai Hau

Próximo Filme: "Sleepwalker 3D" (Meng you 3D, 2011)


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