quinta-feira, 31 de março de 2011

"SANCTUM" 2011


É complicado fazer uma critica sem revelar demasiado sobretudo naqueles filmes que sofrem de sobreexposição. Ainda mais me ajudam quando os trailers são, eles próprios, um spoiler gigante. Pois é. Não sobra nada. Nadinha. O conteúdo está ali todo escarrapachado como se a surpresa não fosse importante. Aparentemente, não é. Já sabemos o que vai acontecer, quando e a quem. Sabemos, logo nos primeiros minutos do filme quem é o herói, a rapariga do filme, o mau da fita e o pessoal "acessório", isto é, actores unidimensionais que surgem com o único propósito de provocar umas gargalhadas ou a próxima morte grotesca. Infelizmente, posso assegurar quem nem uma nem a outra são alcançadas com sucesso.
Mas o que me irrita, mas irrita mesmo, e há uma expressão inglesa espectacular para isto: gets under my skin, são os dois grandes equívocos para quem vai ver o filme e aqui nem sequer estou a incluir o 3D. O primeiro é o James Cameron. Desenganem-se já. Por muito imperfeitos que os filmes dele possam ser, duvido que ele deixasse este filme passar da sala de edição, assim como está acabado. Ele só entrou com o dinheiro e o nome, o que seria, à partida, uma boa razão para se ir ver o filme. Também não é. O segundo grande equívoco é ter ido ver o filme a pensar que ia sentir mais daquela sensação de claustrofobia que senti quando vi o "The Descent" do Neil Marshall (muito obrigada por este filme!) e que já é de 2005. Seria de pensar que teriam aprendido alguma coisa. Parece que não. O realizador, Alister Grierson deve ter pensado que um pouco de tensão aqui e ali em 108 minutos de filme chegariam. Aborrecido. Poderia compensar com os efeitos especiais se eles fossem realmente bons mas, disso não há que chegue e em perfeitas condições. Por vezes, somos brindados com um profundo azul belíssimo, outras parece que os actores estão numa piscina e que a qualquer momento vai ali aparecer um tipo a fazer snorkling. E o 3D? Péssima utilização. Há cenas em que o ecrã está totalmente escuro. Sim, 3D na escuridão. Para isso fecho-me no quarto às escuras. É 3D e ao menos não pago 6€. Noutras alturas o 3D apenas serve para confundir a audiência face à acção. E o som, bem, por vezes, juro-vos que pensei que estava numa casa-de-banho gigante e ia ouvir um autoclismo a ser puxado. Já para não dizer que a voz do nosso jovem herói, (Rhys Wakefield) assim amplificada, bom...

Onde é que eu ia mesmo? Ah, continuidade. Há umas quantas questões que eu gostaria de esclarecer ou pelo menos ser mosquinha e estar na sala quando eles discutiam o guião para perceber o que lhes ia na cabeça. Ora bem, porque é que é importante que a gruta vá ter ligação a algum lado? Vão fazer daquilo um roteiro turístico? Querem encurtar a viagem para algum lado? A dada altura mostram um gráfico feito por computador que mostra o mapa da gruta e onde os heróis se encontram. É demasiado breve e mostrado muito cedo no filme. Quando queremos perceber onde é que eles se encontram e para onde se dirigem nem vê-lo. Mais, quem é que no seu perfeito juízo traz pessoas inexperientes para uma expedição perigosa debaixo de terra? É bastante claro que estes personagens são perigosos para si próprios e para os outros não é? Então, não será de espantar se algo acontecer... Assim de repente também não me parece credível que o grupo de exploradores permaneça na gruta com uma tempestade de proporções épicas a aproximar-se. O filme também é parco no esclarecimento de questões que para a audiência normal seriam importantes. Quando o inevitável acontece, ficamos sem respostas da superfície. Fugiram todos? Chamaram uma equipa de salvamento ou de resgate de cadáveres? Sim? Não? Quando vêm? E há personagens que talvez tenham escapado. Digo talvez, porque a cena é cortada rapidamente e ficamos sem saber se sobreviveram.

Por fim, o que mais me agasta nisto tudo são os actores. Em que é que eles estavam a pensar? É fácil desgostar do Frank (Richard Roxburgh) mas, isso até compreendo, é um homem endurecido pela vida, que já viu de tudo e, ou muito estou equívocada ou é essa a intenção. Agora o jovem Josh é que é a grande incógnita. Quiseram pôr um belo jovem, musculado para pôr os membros do sexo feminino a suspirar mas creio que conseguiram o efeito contrário. Pensem comigo se isto faz sentido: ele não gosta de grutas nem nunca gostou. No entanto, cede a quaisquer vontades do pai. É assim tão dificil dizer ao pai que não quer descer até uma gruta, escalar e nadar debaixo de água? Um bocadinho de falta de personalidade não? É bonzinho que dói e com daddy issues. As raparigas mais cedo saem do cinema com vontade de lhe arranjar uma mãe do que ter sonhos eróticos com ele. Mas, na cena em que, realmente, tem de soltar a única lágrima que lhe é exigida no drama familiar enfiado à pressa no guião, ele só faz umas caretas e tem de ser o Richard Roxburgh a mostrar-lhe como se faz. Dá vontade de lhe dar uns açoites. E mais uma vez isto nada tem de erótico, ou bom, ou  interessante. Até tenho medo de dizer entretenimento. Er... uma estrela em cinco.


Próximo filme: "Dream Home" (Wai dor lei ah yut ho)

"Confessions" (Kokuhaku) 2010


Há umas noites escuras atrás tive o prazer de ver o filme japonês "Kokuhaku", "Confessions" em inglês. Digo a palavra prazer, (passe a redundância), com prazer. Há bastante tempo que nenhum filme me provocava tanta curiosidade, pela positiva. Foi realizado por Tetsuya Nakashima que também escreveu o guião em colaboração com Kanae Minato e bem recente, 2010.
Se eu quisesse simplificar diria que é apenas mais uma história de vingança mas esta não é apenas mais uma história e muito menos linear. Por algum motivo, este filme foi a proposta do Japão para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, ainda que não tenha chegado à lista final. Mais, se me for permitida a provocação, a audiência japonesa demonstrou bom-senso ao aliar o consenso crítico na qualidade do filme com a adesão em massa ao cinema.

Mas dizia eu que este não é um filme normal. O executor da vingança não é um homem mas uma mulher, imprevísivel e requintada na missão auto-imposta. Portanto, se estão à espera de um filme de acção cheio de sangue e pistoladas esta não é a melhor proposta.
O filme começa com um sermão da professora Moriguchi (Takako Matso), perante uma turma desatenta e indisciplinada. Primeira surpresa do filme: esta professora fria e controlada é uma mãe em profundo sofrimento, movida por um intenso desejo de vingança face à morte da filha de quatro anos às mãos de dois dos seus alunos! Matso, faz um papel brilhante ao desempenhar uma mulher cujo mundo rui com a morte do único ser que dava sentido à sua vida. Quando a filha desaparece, ela leva consigo qualquer tipo de ética ou moral que a professora Moriguchi pudesse ter. E quando a vemos nas cenas iniciais, diriamos que sim, que a professora Moriguchi seria extremamente devotada e uma peça essencial na educação e crescimento das crianças, pelo que o abalo traz consequências ainda mais devastadoras. A segunda grande surpresa desta película é o ciclo contínuo de humanização/desumanização dos personagens. Quando pensamos que já conseguimos rotular um personagem logo surge outra revelação que nos faz mudar de ideias. E assim será até ao final. O filme, acaba não sei se, intencionalmente, ou não por brincar com as nossas noções de bem e de mal e com a nossa necessidade de classificar tudo e todos em câmaras estanques.
Se conseguirem ultrapassar a primeira meia hora de filme, lenta em andamento mas rica na revelação de informação que se tornará vital para desembarçar o novelo, este pertencerá, garanto, ao vosso top 10 de 2011 (arrisco-me a pensar na quantidade monstruosa de sequelas que aí vêm).
Ao contrário de algumas críticas que tenho lido por aí, gosto da narrativa fragmentada, a acção é apresentada de um modo que nos obriga a prestar atenção, a montar as peças do puzzle e como diria um certo Mies van der Rohe "Deus está nos Detalhes", neste caso, o Diabo (passe a piada parva). O filme faz lembrar vagamente o inovador "Memento" do Christopher Nolan, que fez inaugurar o cinema contado por flashbacks e inversões de narrativa.
A única crítica de relevo é a banda sonora. Trechos de meia hora com o mesmo som, tornam-se fastidiosos e damos por nós a pensar quão irritante é o som e a desviar a atenção da narrativa. No entanto, é um mal menor.
Adicionalmente, para quem necessitar de um rótulo a apresentar aos amigos, a classificação é difícil. Há quem a enquadre no J-horror e também no drama, eu entendi a peça como um thriller psicológico.
Muito depois do filme terminar ficamos a pensar no que vimos. E se ainda não tiverem percebido, o que duvido, gostei muito do filme, está bem lá em cima,  no meu top 5. "Confessions" faz-me acreditar que ainda há criatividade no cinema, ainda que seja para os lados longínquos do oriente. Aceito-a de bom grado e ficarei atenta. Cinco estrelas em cinco!

Próximo filme: "Sanctum"
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