quinta-feira, 31 de março de 2011
"Confessions" (Kokuhaku) 2010
Há umas noites escuras atrás tive o prazer de ver o filme japonês "Kokuhaku", "Confessions" em inglês. Digo a palavra prazer, (passe a redundância), com prazer. Há bastante tempo que nenhum filme me provocava tanta curiosidade, pela positiva. Foi realizado por Tetsuya Nakashima que também escreveu o guião em colaboração com Kanae Minato e bem recente, 2010.
Se eu quisesse simplificar diria que é apenas mais uma história de vingança mas esta não é apenas mais uma história e muito menos linear. Por algum motivo, este filme foi a proposta do Japão para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, ainda que não tenha chegado à lista final. Mais, se me for permitida a provocação, a audiência japonesa demonstrou bom-senso ao aliar o consenso crítico na qualidade do filme com a adesão em massa ao cinema.
Mas dizia eu que este não é um filme normal. O executor da vingança não é um homem mas uma mulher, imprevísivel e requintada na missão auto-imposta. Portanto, se estão à espera de um filme de acção cheio de sangue e pistoladas esta não é a melhor proposta.
O filme começa com um sermão da professora Moriguchi (Takako Matso), perante uma turma desatenta e indisciplinada. Primeira surpresa do filme: esta professora fria e controlada é uma mãe em profundo sofrimento, movida por um intenso desejo de vingança face à morte da filha de quatro anos às mãos de dois dos seus alunos! Matso, faz um papel brilhante ao desempenhar uma mulher cujo mundo rui com a morte do único ser que dava sentido à sua vida. Quando a filha desaparece, ela leva consigo qualquer tipo de ética ou moral que a professora Moriguchi pudesse ter. E quando a vemos nas cenas iniciais, diriamos que sim, que a professora Moriguchi seria extremamente devotada e uma peça essencial na educação e crescimento das crianças, pelo que o abalo traz consequências ainda mais devastadoras. A segunda grande surpresa desta película é o ciclo contínuo de humanização/desumanização dos personagens. Quando pensamos que já conseguimos rotular um personagem logo surge outra revelação que nos faz mudar de ideias. E assim será até ao final. O filme, acaba não sei se, intencionalmente, ou não por brincar com as nossas noções de bem e de mal e com a nossa necessidade de classificar tudo e todos em câmaras estanques.
Se conseguirem ultrapassar a primeira meia hora de filme, lenta em andamento mas rica na revelação de informação que se tornará vital para desembarçar o novelo, este pertencerá, garanto, ao vosso top 10 de 2011 (arrisco-me a pensar na quantidade monstruosa de sequelas que aí vêm).
Ao contrário de algumas críticas que tenho lido por aí, gosto da narrativa fragmentada, a acção é apresentada de um modo que nos obriga a prestar atenção, a montar as peças do puzzle e como diria um certo Mies van der Rohe "Deus está nos Detalhes", neste caso, o Diabo (passe a piada parva). O filme faz lembrar vagamente o inovador "Memento" do Christopher Nolan, que fez inaugurar o cinema contado por flashbacks e inversões de narrativa.
A única crítica de relevo é a banda sonora. Trechos de meia hora com o mesmo som, tornam-se fastidiosos e damos por nós a pensar quão irritante é o som e a desviar a atenção da narrativa. No entanto, é um mal menor.
Adicionalmente, para quem necessitar de um rótulo a apresentar aos amigos, a classificação é difícil. Há quem a enquadre no J-horror e também no drama, eu entendi a peça como um thriller psicológico.
Muito depois do filme terminar ficamos a pensar no que vimos. E se ainda não tiverem percebido, o que duvido, gostei muito do filme, está bem lá em cima, no meu top 5. "Confessions" faz-me acreditar que ainda há criatividade no cinema, ainda que seja para os lados longínquos do oriente. Aceito-a de bom grado e ficarei atenta. Cinco estrelas em cinco!
Próximo filme: "Sanctum"
Publicado por
Rita Santos
à(s)
02:16
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Absurdamente genial este filme. Fiquei WTF com as revelações e o enrendo. Pra mim, está entre um dos melhores filmes da última década.
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