domingo, 29 de dezembro de 2013

"My wife is a gangster 2: The Legend Returns" (Jopong manura 2: Dolaon jeonseol, 2003)

A película está disponível online com legendas em inglês

Após o enorme sucesso de “My Wife is a Gangster” uma sequela teria de aparecer mais cedo ou mais tarde. Assim, volvidos dois anos, Eun-jin (Eun-kyung Shin) continua a gangster mais dura e temerária de todos. Após um confronto num telhado Eun-jin sofre uma queda que a deixa sem memória e a arrasta para uma vida muito diferente. Ela trabalha como moça de entregas num restaurante ao mesmo tempo que tenta descobrir a sua verdadeira identidade. Quem não parece muito feliz com essa possibilidade é Jae-chul (Jun-gyu Park) o dono do estabelecimento que vai tentando, sem grande sucesso, introduzir-se no coração e na cama de Eun-jin. Entram uns gangsters que querem arrasar o comércio tradicional para construir um centro comercial no local e revela-se a oportunidade ideal para Eun-jin (re)descobrir a sua vocação. Ele há coisas que nunca se esquecem e ser perito em artes marciais é algo que é capaz de não se perder da noite para o dia.

A estória, não é muito mais que a súmula de uma dezena de filmes anteriores, porque isto de escrever um argumento original dá muito trabalho. E não sucede sem alguns erros essenciais. Para os menos atentos, o titulo “My Wife is a Gangster”, implica que Eun-jin seja casada. No primeiro filme a vítima, perdão, o felizardo era Soo-il (Sang-Myeon Park), um solteirão que não sabia no que se estava a meter quando aceitou participar num casamento arranjado. Na sequela, este papel foi curiosamente eclipsado, não sendo referidas sequer as circunstâncias que ditaram o seu afastamento. O que significa que Eun-jin será divorciada. Cabe então a Jae-chul o papel de “marido”, sendo que as preferências de Eun-jin continuam tão vincadas como antes: “Que ninguém tente um contacto romântico ou o mais certo é levar um tabefe”. E a verdade é que ela não está fadada para muito melhor pois o dono do restaurante é tão pouco atraente quanto o anterior “parceiro” e este revela uma predilecção por tentar o contacto íntimo de cada vez que Eun-jin se encontra adormecida. Porque alguém iria achar semelhante comportamento romântico escapa-me por completo. Felizmente Eun-jin é uma mulher feroz e está mais do que à altura de impor um não, já que a alternativa seria a violação. Ao menos o pobre coitado do filme anterior era marido de Eun-jin, sendo que este se aproveita da amnésia dela para trabalhar a troco de um tecto e porventura ter alguém que o ajude com a filha adolescente. Junte-se pois a exploração laboral à lista de qualidades de Jae-chul.

Eventualmente Eun-jin recupera parte da memória e se é verdade que não há glamour associado à vida do crime, a alternativa, a de ser tratada quase como uma pessoa com uma deficiência mental não é muito melhor. Porquê sujeitar-se ao servilismo quando já foi tanto mais? Se em “My Wife is a Gangster” as personagens já estavam perigosamente perto do caricato, na sequela, isto é por demais evidente. Até Eun-kyung que oferecia ao papel uma dose de realismo credível à gangster dura mas sem noção dos factos da vida parece agora forçada e infeliz na personagem. Com o sucesso do primeiro filme, é como se tivesse entrado em curso um processo de infantilização das personagens e da narrativa até à linearidade. Pois, obviamente, se a narrativa for mais fácil de seguir, as piadas mais básicas e próximas da sexualidade ou do humor de casa de banho as audiências irão com certeza encontrar mais pontos de referência e como tal, afluir às bilheteiras. Ah, a ingenuidade.
As cenas de combate são o mais próximo de resgate de película embora as acrobacias sejam humanamente impossíveis. Aí entra o trabalho de arame que mantém a artificialidade constante do menino. Nem com uma breve aparição de Zhang Ziyi “My Wife is a Gangster” atinge a redenção. Quando muito soa a truque barato para capitalizar no sucesso (na altura em forte ascensão) da actriz chinesa. Boa. Pois precisam de toda a ajuda possível. Duas estrelas.

 Realização: Heong-sun Jeong
Argumento: Hae-cheol Choi e Heong-sun Jeong
Eun-kyung Shin como Eun-jin
Jun-gyu Park como Jae-chul
Se-jin Jang como Sang-eo Baek
Hyeon-kyeong Ryu como Hi-hyun Yun
Hyeon Ju como Gosachae
Mi-ryeong Cho como Eun-bang Geum
Jun-yong Choi como Jun-man
Seung-wook Kim como Wu-bung
Tae-hoon Kim como Tae-kyung
Hyeon-jeong Seo como Hyo-jeong

Próximo Filme: "Deranged" (Yeongasi, 2012)

domingo, 22 de dezembro de 2013

TCN Blog Awards 2013 - My Take

Pelo terceiro ano consecutivo o Not a Film Critic esteve representado nos “TCN Blog Awards” (21 de dezembro, Centro Cultural Casapiano), o que é curioso visto que não consigo manter esse compromisso com festivais de cinema. Mas como tenho dito, trabalhar sobre o cinema não é para quem quer, é para quem pode. Um privilégio.
Este ano foi admirável pois não só alguém se lembrou que o Not a Film Critic existia, como se lembrou quatro vezes! As nomeações correspondiam a: “Melhor Reportagem: NAFF – Not a Film Festival” (cuja visita continuo a recomendar vivamente a outros bloggers); “Melhor Blogue Colectivo: Scifiworld PT (a je também escreve no colectivo e, amanhã, poderão contar com novo texto da minha autoria – se é que isso é importante); “Melhor Blog Individual – Not a Film Critic” e “Melhor Blogger – esta que vos escreve). E sou capaz de jurar que quatro pessoas bateram palmas! Estão a ver a cara de surpresa da Anne Hathaway quando ganhou o óscar de melhor actriz secundária em “Les Misérables”? Pois, a minha reacção, quando li as nomeações foi de surpresa verdadeira e sem a humildade mete-nojo (perdoem a tirada maquiavélica, ou então não). Estas somam-se às nomeações anteriores para “Melhor Novo Blogue” (2011) e “Melhor Artigo de Cinema” (2012). Podia tentar encher uma parede de “quases” mas um escritor, seja do que for, com ou sem talento, não se deve apegar demasiado às suas conquistas. O próprio acto de escrever é, em si, masturbatório. Qualquer coisa que permita um prazer maior e partilhado é infinitamente mais saudável e menos egocêntrico. É também por isso que apoio iniciativas como os TCN.
As pessoas por trás do nome ou da alcunha (este ano apresentei-me como Rita Santos mas descansai, que o meu amor pelas PowerPuff Girls é tão grande como antes pelo que tão cedo o FilmPuff não irá caír) têm a oportunidade de se conhecer e surgem novas ideias, novas parcerias, novos projetos de rubrica e de blogue muito interessantes, provando a riqueza inexcedível do meio online. Além disso, os “TCN” começam a tornar-se a sua própria marca. Sem passadeiras vermelhas, com guião, mas ainda com aqueles momentos de improviso que trazem gargalhadas mil (filhos da Rita Marrafa de Carvalho, cutxi cutxi), vídeos com uma montagem fantástica e gags que só podiam vir daquela equipa, os TCN reúnem-se em torno daqueles que são criticados por criticar. É o único dia em que podemos dar e receber palmadinhas nas nossas costas.
Aos vencedores, as minhas felicitações, sendo que entre estas não posso se não, nomear, o Aníbal Santiago que ganhou o prémio de melhor blogger individual que encapsula mais do que qualquer das outras nomeações poderia fazer, o ano fantástico e todo o trabalho que tem realizado. Dormes à noite? Quase que estou tentada a afirmar que é quem mais trabalha em toda a blogosfera em ex-aequo com o Nuno Reis (Antestreia, Sicifiworld PT e sabe-se lá o que mais). E ainda a iniciativa “Um Filme: Uma Mulher” que ganhou o prémio de “Melhor Iniciativa” e engloba duas questões que me são muito queridas: uma mulher ter ganho um prémio num mundo claramente dominado por homens, corrijam-me se estiver enganada, mas acho que apenas duas mulheres foram ao palco individualmente, receber um prémio e a necessidade de se falar de cinema no feminino. Se há poucas mulheres realizadoras, imaginem então a sua presença no género de terror. Na Ásia então…
Para finalizar e, porque não sou de intrigas deixo algumas sugestões para o futuro: uma pausa de 15 minutos para os xixizinhos (como diria o Manuel Reis estou a canalizar o João Baião), porque QUASE TODAS AS PESSOAS DA MINHA FILA a dada altura, tiveram de se levantar para ir tratar do chamado da natureza. Já pensaram o que seria se fosse anunciada a sua categoria, elas ganhassem e estivessem ainda a terminar o serviço?! Ah e já agora, que a pausa permita ir comer uma bucha, para não haver desfalecimentos aquando do anúncio de boas notícias. Quanto aos vídeos, que achei muito bons, (quem fez a selecção de música é um génio!) deixo uma reflexão: se tirarem o som e as legendas, conseguem perceber qual é a categoria e quais são os nomeados? Vou indo que já me alonguei demasiado. Até para o ano.

PS: Não sei como, nem por que arte mágica mas conseguiram que estivessem lá a Edite Estrela e a Lenka do Preço Certo. A sério. Podem acreditar em mim.

domingo, 15 de dezembro de 2013

"V/H/S", 2012


Quem acompanhou o ruído gerado em torno de “V/H/S”, quase poderia pensar que esta antologia de terror trouxe algo de novo ao já testado género. Quase. Outros exemplos podem ser amplamente verificados neste blogue, através da etiqueta criada para o efeito. Quando muito, um estilo amador de câmara no ombro prevalente a todas as curtas e a surpresa por alguém ainda utilizar as bem velhinhas cassetes VHS (Video Home System). O mesmo país que gerou o brilhante “Creepshow” (1982) tem memória curta e é de modas pelo que o mais certo é V/H/S transformar-se noutro milagre da multiplicação de redundâncias à la “Saw” ou “Paranormal Activity”. Podem esperar, no mínimo, por uma terceira e quarta entradas (já existe uma sequela).

“Tape 56”
Um grupo de bandidos que gosta de filmar as façanhas criminosas que incluem o vandalismo e o assédio sexual e disposto a qualquer atividade que lhes dê a ganhar o próximo troco, é agora contratado para entrar numa casa e recuperar uma cassete VHS. Lá encontram um velho morto e em frente um leitor de cassetes. Enquanto o resto do bando se dedica a recolher todas as cassetes que encontra, um deles fica para trás e decide visionar uma delas sozinho…


“Amateur Night”
Shane, Patrick e Clint são três amigos pouco espertos que decidem alugar um quarto de hotel para uma noite de loucuras e filmá-las (claro). O grupo acaba por retornar com duas jovens, Lisa que está demasiado alcoolizada para levar os avanços sexuais de Shane até ao fim e Lily uma estranha rapariga que não faz segredo de admirar Clint. À medida que a noite avança os acontecimentos revelam-se inesperados e perigosos para o grupo de foliões.

“Second Honeymoon”
Sam e Stephanie são um casal que se faz à estrada para uma segunda lua-de-mel. Num parque de atracções Stephanie recebe a previsão astral de que irá brevemente reencontrar um amor perdido. Uma noite, uma estranha bate à porta do motel onde alugaram quarto a pedir boleia. Sam recusa e fecha-a do lado de fora. Nessa noite alguém entra no quarto do jovem casal e além de os roubar, prega-lhes umas partidas muito feias…


“Tuesday, the 17th”
Um grupo de amantes da natureza decide acampar. Apenas Wendy não parece estar muito entusiasmada com a aventura, recordando-se a cada nova atividade que encetam de acidentes ocorridos há algum tempo que vitimaram outros amigos. Então, qual estória saída de um conto de terror Wendy conta-lhes como um assassino matou os seus amigos numa excursão de campismo o ano passado. A ficção torna-se realidade quando alguém começa a persegui-los com intenções malévolas.

“The Sick Thing That Happened to Emily When She Was Younger”
Emily conversa com o namorado James que se encontra noutro país através de webchat. Ela está sozinha e cada vez mais enervada. Barulhos, portas a ranger e a silhueta de uma criança a atravessar corredores levam-na a crer que a casa está assombrada. A somar aos truques de uma mente hiperactiva e assustada juntam-se as memórias de um acontecimento de infância que a deixou traumatizada. À distância James nada pode fazer para a ajudar.

“10/31/98”
Um grupo de amigos veste-se a rigor para uma festa de Halloween. O problema é que não sabem onde é. Sem querer entram numa casa onde pensavam que se ia realizar a festa e exploram-na para encontrar os foliões. Nada os podia preparar para o que iriam encontrar no seu lugar.



domingo, 8 de dezembro de 2013

"King Game" (Osama Game, 2011)


“O rei manda…” É assim que começa, uma sugestão inocente, um grupo de pessoas dispostas a cumprir os desejos. E rapidamente, a convicção, de que não podem deixar de levar o jogo até ao fim. 


Uma turma inteira recebe no telemóvel uma mensagem com uma ordem do rei. As regras são simples. Todos deverão participar. Os visados numa ordem específica têm 24 horas para a cumprir. As pessoas que não a cumprirem serão castigadas. Desistir não é uma opção. A maioria dos alunos acha que é uma brincadeira inofensiva e aguarda ansiosamente pelo dia seguinte para saber se a “ordem” é cumprida. É que, de acordo com o rei, dois estudantes terão de se beijar. Chiemi (Yurina Kumai) fica incomodada desde o início, sobretudo porque o rei incentiva a intimidade entre colegas de turma. Eles cumprem as ordens e o rei revela a sua satisfação mas o jogo ainda agora começou. As ordens tornam-se cada vez mais intrusivas e violentas e o primeiro aluno desiste. A pena? Desaparecer para sempre. E o pior é que nada podem fazer quanto a isso pois o resto da sociedade não dá pela ausência dos alunos. A solução é encontrar o rei. Será que esta turma consegue unir-se para encontrar o vilão por trás das mortes? Ou a desunião vai ditar o encontro da morte?

A estória baseia-se num romance de Nobuaki Kanazawa, que foca o jogo do “Rei Manda” levado às consequências mais extremas. Tida como uma brincadeira inocente, faz as delícias dos adolescentes em busca de emoções fortes. O problema que se coloca é quando este surge como agenda escondida de alguém com más intenções. A conformidade e o desejo de agradar aos pares fazem o resto. Os desistentes são vítimas de zombaria e/ou expostos ao ridículo. Ninguém quer parecer um fraco em frente aos amigos ou aqueles a quem pretende impressionar. Em “King’s Game” existe a mentalidade de rebanho e depois, duas ou três ovelhas negras como Chiemi e Nobuaki (Dori Sakurada) que tentam retirar sentido do jogo e tentam identificar o Rei antes que o mal se abata sobre eles. Nem todos reagem como eles, entre o desistir de lutar pela vida e baralhar os dados de modo a que outros tomem o seu lugar, aos poucos vão revelando a sua verdadeira face, confrontados com uma situação de perigo iminente. “King’s Game” perde a parada mal começa o jogo, a narrativa investe nos ídolos que interpretam os papéis principais, diga-se de passagem com sucesso, mas escusa-se a penetrar na psique do rei. Quando os alunos começam a realizar as perguntas importantes já grande parte está condenada. Porque é que alguém faria aquilo? Porquê eles? Porquê naquele momento? Há insinuações de quem poderá ser o rei apenas não creio que as sugestões fossem necessárias. Elas são tão óbvias que é demasiado fácil chegar à conclusão que “aquela” pessoa não pode ser. A maioria das personagens possui atributos que permite a sua distinção. É talvez um pouco enervante que alguns dos alunos apostem em prejudicar o próximo para sua própria protecção sem qualquer transição. De melhores amigos a inimigos em minutos. A gravidade dos acontecimentos implica uma reflexão que o argumento não demonstra ainda que se trate de adolescentes dramáticos eque dão prioridade em primeiro lugar às relações com os pares.

A este filme com uns meros 82 minutos, faltou coragem. O desfecho nada tem de desafiante. “King’s Game” pouco tem de crítica social e muito de atracção. A turma deve ser a mais atraente que já alguma vez vi. Praticamente não há alunos feios. E a liderar este grupo estão duas jovens oriundas de grupos de jpop que certamente não precisavam de puxar dos galões dramáticos pois a sua presença na cena musical japonesa já lhes confere uma legião de fãs à partida. Os argumentistas não souberam trabalhar além de um elenco jovem, bonito e um jogo conhecido um pouco por todo o mundo… Um desperdício. Duas estrelas e meia.

Realização: Norio Tsuruta
Argumento: Nobuaki Kanazawa e Jun’ya Kato
Yurina Kumai como Chiemi
Dori Sakurada como Nobuaki
Airi Suzuki como Maria Iwamura

Próximo Filme: V/H/S, 2012

domingo, 1 de dezembro de 2013

"Kiss me, Kill me" (Kilme, 2009)

Encontram facilmente o filme com legendas em inglês

A ideia da morte paira sobre ela desde que o homem por quem se apaixonou a rejeitou em definitivo. A morte paira sobre ele desde que aceitou um trabalho de assassino profissional. Eles vão encontrar-se quando ela o contrata para acabar com a miséria dela e o improvável acontece. Na morte, descobrem o amor. Ela, apesar de todos os esforços do assassino em mantê-la viva parece destinada a tentar de todas as maneiras possíveis levar até ao fim a missão de uma morte precoce. Quanto a ele, parece quase improvável que uma pessoa tão em controlo da vida profissional (afinal de contas ele mata pessoas!) seja tão desastroso na vida pessoal.

Jin-yeong Seo (Hie-jong Kang) está tão agarrada à morte que, se a inicio a sua casmurrice é digna de pena, torna-se irritante a partir do momento em que descobrimos o motivo por trás da sua decisão. Como pode uma rapariga nova agarrar-se assim à depressão? Já Hyeon-jun (Hyeon-jun Shin) vai além do habitual assassino profissional que descobre possuir sentimentos profundos acerca do seu alvo. Ele é uma personagem extremamente complexa, com motivos muito mais razoáveis para ponderar, ele próprio findar a sua vida. A mãe alcoólica é, de certo modo, uma versão mais velha de Jin-yeong, uma pessoa que desistiu e que é carregada pela vida, matando-se aos poucos mediante a droga da sua escolha, a bebida, que provoca, também ela, o adormecimento da psique de Hyeon-jun. Em última análise, Hyeon-jun escolheu aquela profissão porque tem problemas com a mãe. Ela é o seu modelo. E ele espera, inconscientemente talvez, que o trabalho que desempenha lhe traga a morte visto que ele não é capaz de o fazer. Mas chega de falar da morte, que este filme é sobre a vida.
“Kiss me, Kill me” apresenta personagens não muito simpáticos, apesar de nos fazerem rir entre sketches saídos de uma película puramente cómica. Depois do momento de gargalhada, lembramo-nos que um dos personagens tinha uma corda ao pescoço ou está rodeado de dezenas de latas de álcool vazias.
Duas almas sozinhas encontram-se e vivem felizes para sempre? Vejo pelo menos dois obstáculos: o facto de Jin-yeong não poder ficar sozinha muito tempo sob pena de tentar suicidar-se e esta ter pedido dinheiro a agiotas para encomendar a sua própria morte. Se sobreviver vai ter de pagar a dívida, com juros. Qualquer dos actores principais está à altura da tarefa de nos fazer compreender e apreciar, a seu tempo, personagens pouco acessíveis. E ainda bem que assim é senão, “Kiss me, Kill me” seria um affair bastante tedioso. Os filmes coreanos são conhecidos pelo ritmo vagaroso, mas este é o exemplo perfeito dessa crença. Se a audiência não estiver disposta a aguardar pela recompensa mais vale nem arriscar. A narrativa está ainda pejada de coincidências demasiado convenientes para ser verdade. Como se estivessem a adequar a realidade à ficção e não o contrário. O que podemos extrair destas opções é que “Kiss me, Kill me”, a despeito do enfoque num cenário negro tem alma de comédia romântica. E na verdade, não vejo como podia não apostar naquele ao fim de apenas um quarto de hora de filme. Não queria que a dor levasse a melhor sobre eles. Porque se até aqueles personagens têm hipótese de salvação, significa que há esperança para todos. Três estrelas.

Realização: Jong-hyeon Yang
Argumento: Jong-hyeon Yang
Hyeon-jun Shin como Hyeon-jun
Hie-jong Kang como Jin-yeong Seo
Hye-ok Kim como Yeo-kyeong Yun
Cheol-min Park como Man-su Lee
Seong-mo Jeong como Geum-su Na
Woo-chang Shim como Sang-bok Ahn

Próximo Filme: "King's Game" (Osama gemu, 2011)

domingo, 24 de novembro de 2013

"Ong bak 2: The Beginning" (Ong bak 2, 2008)


O Tony Jaa é o mais próximo de uma marca que o cinema tailandês de artes marciais possui. Quando se assiste a um filme deste lutador de Muay Thai já se sabe o que vai acontecer: pancadaria de quebrar ossos, ínfimas sequências de acrobacias fantásticas em slow motion, diálogos pouco a nada elaborados e a inexistência de uma espécie de estória coerente.

Uma dezena de filmes passados, Jaa ainda parece uma criança a quem os pais compraram pela primeira vez uma câmara de filmar e não sabe se agir de um modo natural ou representar (o que quer que isso signifique), em frente à objectiva. Uma inocência que contrasta com o físico invejável de um homem adulto, muito além de algumas horas de trabalho intensivo e da ida ocasional ao ginásio. E se bem que a sua face projecta boa vontade, perante a ameaça o corpo já de si tonificado transfigura-se, avoluma-se e enrijece. À semelhança de um dos seus ídolos, Bruce Li, que de homem franzino a máquina destruidora de homens bastava a ofensa de um vilão. O menino não brinca em serviço.
“Ong bak 2: The Beginning” é uma “falsa” sequela, nada tendo em comum com a película anterior, à excepção do actor principal. Nessa obra, Jaa interpretava um jovem aldeão que parte para a cidade em busca do “ong bak” uma estátua sagrada intimamente ligada à vitalidade da aldeia, roubada por traficantes pouco escrupulosos. “Ong bak 2: the Beginning” ocorre no século XV no momento em que várias facções lutam pelo poder do território. Os pais do jovem príncipe Tien (Tony Jaa) são traídos e assassinados por Rajasena (Sarunyoo Wongkrachang), um nobre sedento de poder, para quem aqueles últimos constituíam apenas um empecilho na sua luta por domínio absoluto. Tien escapa à morte mas vê-se nas mãos de traficantes de escravos que, entre outras coisas, o atiram para um fosso com um crocodilo. Chernang (Sorapong Chatree) o líder de um grupo guerrilheiro compadece-se de Tien e acaba por criá-lo como seu próprio filho. No seio de um grupo de homens perigosos, Tien mune-se das armas necessárias a uma vingança implacável. O tempo é seu amigo.
A mudança radical de perspectiva não oferece nenhuma melhoria face ao “Ong bak” original. A narrativa era simples, mas facilmente se criava empatia com a aldeia em desespero e se torcia pelo único homem responsável pela operação de resgate. Com as mãos na realização, argumento e papel principal, Jaa assume demasiado controlo e dispersa-se daquilo que as audiências querem ver dele: cenas de luta altamente intricadas. Se extraímos um confronto no qual um elefante é um figurante involuntário da acção que Jaa utiliza a seu aproveito para defesa e contra-ataque ao seu oponente. Como o elefante se manteve sereno perante a acção é um mistério. Menos impressionante é o facto de os confrontos de Jaa recorrerem mais à magia do cinema do que à fisicalidade dos seus interpretes. Onde a acção de “Ong bak: The Thai Warrior” era crua e dura, nesta encarnação é mais graciosa e mais dada a proezas impossíveis sem o recurso a artefactos externos. Se considerarmos que a plausibilidade e dureza do primeiro filme que o tornavam original, por oposição ao exército de filmes de artes marciais exportados de Hong Kong foi o que atraiu tantos e tantos cinéfilos por este mundo fora, não deixa de existir um sentimento residual de traição. Também o humor é deixado para trás. Nada há de slapstick que tornava Jaa tão encantador em primeira instância. Um jovem tão ingénuo e predisposto a acreditar na bondade que dos que o rodeavam que tal redundava em ser sucessivamente enganado até que alguém, derretido pelo seu bom coração o auxilia a recuperar o ong bak.  E bem que necessitava dessa dose de simpatia pois sem ela, Jaa não é o que se possa denominar carismático, necessita absolutamente de aulas de representação e também é o que se possa chamar de palmo de cara.

Mas se há acusação que ninguém pode levantar contra “Ong bak 2: The Beginning” é o de que o cenário histórico e natural da Tailândia não é bem utilizado. Existem confrontações nas clareiras das densas florestas, por entre os monumentos e em águas infestadas de crocodilos. Por tudo isto, fica a triste sensação que “Ong bak 2: The Beginning” nunca chegou aos calcanhares daquilo que poderia ter sido não chegando sequer ao patamar da homenagem que o predecessor merecia. Dos fracos não reza a história… Duas estrelas e meia.
Realização: Tony Jaa e Panna Ritikrai
Argumento: Tony Jaa, Panna Ritikrai, Ek Iemchuen e Nothakorn Thaweesuk
Tony Jaa como Tien
Sarunyoo Wongkrachang como Rajasena
Sorapong Chatree como Chernang
Primorata Dejudom como Pim
Nirut Cirichanya como Mestre Bua

Próximo Filme: "Kiss me, Kill me" (Kilme, 2009)

PS: O Tony Jaa e o seu físico impressionante.

domingo, 17 de novembro de 2013

"Phone" (Pon, 2002)


Ji-won (Ji-won Ha), uma jornalista destemida tem vindo a receber telefonemas ameaçadores desde que escreveu uma série de artigos baseados na investigação de um caso de pedofilia. O casal Ho-jeong (Yu-mi Kim) e Chang-hoon (Woo-jae Choi) de quem é amiga íntima decidem fazer o papel de bons samaritanos e oferecem-lhe estadia numa das suas casas, onde será difícil aos bandidos encontrá-la. Entretanto, Yeong-ju (Seo-woo Eun), a jovem filha do casal atende o telefone de Ji-won por ocasião de uma das chamadas misteriosas e inicia a demonstrar sinais de possessão. Ji-won é forçada a recorrer à sua mente inquiridora, à medida que os telefonemas se intensificam e a música “Moonlight Sonata” começa a ecoar insistentemente na sua cabeça.

Costuma-se dizer, ou pelo menos foi a informação que me venderam, que o mais difícil em cinema é trabalhar com crianças e animais. Quando uma ideia assim tão louca resulta o produto final pode ser surpreendente. A Aniston e o Owen Wilson que me perdoem mas por algum motivo a película é “Marley e eu” e não os “Grogan e o cão”. Em “Phone”, uma miniatura feminina ainda nem chegada à puberdade rouba o filme das mãos de Ji-won Ha, aquela que é uma das actrizes mais populares da Coreia do sul dos dias de hoje. Deve doer.
E os cineastas não tiveram grandes contemplações para com o “selo” da Disney. A pequena Seo-woo comporta-se como uma adulta sem espaço para subtilezas. Ela irradia ódio, histerismo, sedução, maquiavelismo em doses iguais, brutais. O desempenho faz crer que as emoções que exalta nas cenas com Yu-mi Kim e Woo-jae Choi são mais do que mero fingimento. Ela conhece as emoções com que está a trabalhar, emula mais do que a insinuação e ultrapassa-os em profundidade. É boa demais para uma actriz com menos de dez anos de idade e que praticamente não possui experiência. Quando ela não se encontra a trabalhar o ecrã, “Phone” é apenas mais um numa longa sucessão de hair movies, se bem que, com a vantagem da antiguidade que ainda o torna, ligeiramente superior a muitos que se lhe seguiram. Ji-won interpreta uma jornalista, como convém porque à protagonista cabe sempre a ingrata tarefa de investigar uma série de acontecimentos grotescos. Mais alguém se recordou de imediato do “Ring” (1998)? Há lugar a telefones assombrados um elemento também não inteiramente estranho já que “Phone” foi o instigador original da série de filmes “One Missed Call”. Uma música associada a sarilhos? Conhecida ou pelo menos vagamente reconhecível que é para garantir que ninguém do público esquece. Céus, não sei se alguma vez o vi no cinema… À excepção de “Cello” (2005) talvez. E os elevadores, não sei o que se passa com os elevadores asiáticos mas são todos arrepiantes. As luzes apagam-se ou piscam e invariavelmente o número de ocupantes aumenta (lamento dizê-lo), de modo não tradicional. Novo flashback, desta feita apenas uns meses antes, para o filme dos irmãos Pang “The Eye”. Que aconteceu à música de elevador horrível e aos vizinhos desagradáveis com quem nunca ocorre um desbloquear de conversa excepto pelo final da viagem, assim que já não são necessários dos países ocidentais?
“Phone” é tão aborrecido como os restantes hair movies ou tão divertido como os seus congéneres. É uma questão de perspectiva na verdade. O cliente de um restaurante tendo perante si toda uma variedade de pratos só realiza o pedido do costume se ainda não está cansado de pedir sempre o mesmo. Pois “Phone” não engana ninguém, os créditos iniciais são prova disto mesmo. Apresenta exactamente aquilo que este tipo de cliente espera, com uma ou outra variação: maior ou menor quantidade, se calhar uma disposição dos ingredientes diferente mas a essência é a mesma. No máximo “Phone” é um caso de estilo mais interessante do que a substância e nesse caso como fã assumida do género nada tenho a apontar. Três estrelas.
Realização: Byeong-ki Ahn
Argumento: Byeong-ki Ahn
Ji-won Ha como Ji-won
Yu-mi Kim como Ho-jeong
Woo-jae Choi como Chang-hoon
Seo-woo Eun como Yeong-ju
Ji-yeon Choi como Jin-hie


Próximo Filme: “Ong-bak 2” (2008)

domingo, 3 de novembro de 2013

"Dark Flight 407 3D", 2012


A ideia de uma centena ou mais de pessoas desconhecidas despenderem várias horas dentro de um passaroco gigante com um mínimo de liberdade de movimentos já é desconfortável. Se a isso juntarmos a possibilidade de uma ave entrar por uma das turbinas do aparelho, de ocorrer uma situação de negligência ou indisposição súbita dos pilotos que estão por trás de uma porta da qual nem um vislumbre ou de um tarado qualquer passar-se a meio da viagem, eis a vontade de viajar parece tornar-se subitamente mais reduzida. Demasiado pode correr mal… No ar, ninguém pode correr, ninguém escapar. Qual caixinha de surpresas, onde qualquer factor levado ao extremo pode gerar uma situação explosiva. Está-se à mercê de quaisquer circunstâncias imprevistas e da capacidade da tripulação e do apoio técnico, distante, produzir soluções. Posto isto, o avião parece o cenário ideal para um thriller de terror, certo?
Regressar ou não regressar ao trabalho, eis a questão.

New (Marsha Wattanapanich) é uma hospedeira de regresso ao trabalho após um acidente terrível que vitimou bastantes pessoas e a conduziu a anos de terapia intensa. Ela sente-se preparada para voar novamente mas, vítima do destino ou uma dose brutal de azar, este avião é demasiado reminiscente daquele que a traumatizou. Os mortos regressaram do além e querem arrastar os passageiros com eles. Será que alguém acreditará nela antes que seja tarde demais?
Ai tanto medo que nós temos. Uhhhhhhhhhh!
Acredito que falecer num acidente do género não seja a experiência mais agradável deste (e do outro) mundo mas, a sobreviver sob a forma espectral, não estou a ver onde é que atrair gente inocente para a morte provocasse algum tipo de alívio ou satisfação, pela condição de espírito. Uns exagerados estes fantasmas. A justificação prende-se com o facto conveniente do avião ter sido construídos com as peças do avião do acidente anterior. Ah e com o desejo de levarem New com eles. Como se atreveu ela a sobreviver? Felizmente, as suas acções extremadas quase são perdoadas pela circunstância de grande parte dos passageiros actuais serem de maus a horríveis. Há a mulher que faz do marido um capacho e utiliza a filha como moeda de troca para os caprichos do momento, a miúda de Hong Kong extremamente sexy porque pelos vistos tem de haver lá alguém com ar de meretriz sem que o público refile, um monge (últimos ritos e coisas do género, dão sempre jeito), o comissário de bordo efeminado, o jovem másculo que há uns anos teve um romance com New e ficou acidentalmente fechado no compartimento de bagagem, uns estrangeiros, um rastafariano... E pouco mais, que o voo 407 vai quase vazio. São mais os lugares vazios que os ocupados. Na Tailândia deve ser difícil arranjar figurantes, não?
E o prémio de melhor cena do filme vai para...

“Flight 407 3D” apresenta dificuldades que custam a aceitar ou o marketing não o apresentasse como o primeiro filme tailandês em três dimensões. Se isso é verdade… Diz que em 2012 estreou “Mae Nak 3D” e não teço mais comentários sobre esse assunto. Marsha Wattanapanich não tem nem o destaque nem o desempenho que merece. A sua personagem é apresentada como a principal mas a espaços é deixada de lado para dar lugar ao impacto da assombração sobre os outros passageiros. E quando surge, ela alterna entre o pensativo e a apatia. Como se ela tivesse desistido antes mesmo de começar. O argumento é tão mau que Marsha faz os possíveis por passar despercebida quando não está a efetuar um desempenho digno de uma daquelas actrizes que são descobertas em centros comerciais. Depois de participar no brilhante “Alone”, “Flight 407 3D” é um erro atroz. A grande mácula deste filme encontra-se precisamente na utilização da tecnologia 3D que não se justifica e apenas serve de engodo para apelar aos mais distraídos. O potencial do cenário é descartado por oposição à crença de que o 3D faz tudo mas não serve de desculpa para uma película sem quaisquer méritos e que sucede no hilário, ao invés do medo que o marketing prometia inspirar. Uma estrela e meia.

Realização: Isara Nadee
Argumento: Kongkiat Khomsiri, Chanin Panthong, Nattamol Peanthanom e Nattapot Potchumnean
Marsha Wattanapanich como New
Peter Knight como Bank
Paramej Noiam como Jamras
Patcharee Tubthong como Gift
Anchalee Hassadeevichit como Phen
Thiti Vechabul como Prince
Namo Tongkumnerd como Wave
Sisangian Sihalath como Ann
Jonathan Samson como John
Kristen Evelyn Rossi como Michelle´

Próximo Filme: "Phone" (Pon, 2002)

domingo, 27 de outubro de 2013

"8 Immortals Restaurant: The Untold Story" (Bat sin fan dim ji yan yuk, 1993)


Wong Chi Hang está bem dentro do negócio do restaurante. É ele que prepara os bolinhos de carne que fazem as delícias dos clientes. A preparação do porco não é complicada desde de que se disponha de força e de facas bem fiadas. A prática, essa, ele já tem. Ele esventra o animal e retira-lhe os miúdos. Com o focinho decepado e o corpo despojado de órgãos pode então fazer um corte longitudinal profundo desde a traqueia até ao ânus. A seguir vem o trabalho mais difícil. Tem de cortar através de osso para o cortar em dois. Conseguido isto, torna-se mais fácil desmembrar e separar as peças de carne para os diversos pratos a confeccionar. A frieza com que realiza estes actos apenas reforça a ideia de que provocá-lo pode constituir o maior e último erro que cometemos em vida.


 A sua personalidade sociopata pode ser identificada na sequência inicial, onde Wong reconhecido como aldrabão por um parceiro de jogo, solta a fúria da pior maneira, assassinando-o de forma brutal. Depois de provocar um incêndio para apagar os indícios do crime, evade-se de Hong Kong por Macau, assumindo uma nova entidade. A estória avança até 1986, com a ilha em polvorosa após a descoberta de membros humanos numa praia. Após a realização de diversas diligências a polícia chega à conclusão que os restos humanos pertencerão à mãe do antigo dono do restaurante “Oito Imortais” que é dado como desaparecido juntamente com a mulher e os cinco filhos. Com sucessivas pistas a apontarem a ligação do restaurante ao crime e o comportamento cada vez mais bizarro de Wong, nada podia preparar a força policial para uma estória com contornos tão perversos. “8 Immortals Restaurant” interessa-se mais pelos crimes que a investigação policial, sendo sobre esta que recaem os momentos de alívio cómico. Excentricidade dos cineastas, um momento de revelação de restos humanos, acaba por ser uma das oportunidades para injectar um pouco de humor num instante de tensão.

O argumento baseia-se em crimes reais que chocaram Macau durante os anos 80, pelos requintes de malvadez com que Wong Chi Hang assassinou duas famílias desconsagrou os seus cadáveres. E na maior parte, estes factos são apresentados tal como sucederam. A película introduz elementos muito interessantes que têm vindo a ser propagandeados atualmente sob a forma de “inédito”, nomeadamente, uma narrativa conduzida em grande parte pelo ponto de vista do assassino com todos os detalhes grotescos que isso implica. Pertence à “Categoria III”, um sistema de rating vigente em Hong Kong que postula que apenas pessoas com 18 anos de idade ou superior podem visionar, alugar ou assistir em sala de cinema aos filmes com essa classificação. Conhecido pela violência extrema e cenas de sexo explícitas, é um género muito procurado e ao qual, os cineastas locais não procuram fugir pois, sobretudo em casos onde o orçamento é reduzido e a qualidade bastante baixa, pode servir de chamariz. “8 Immortals Restaurant” é conhecido como um dos exemplos superiores desta classificação mas não poupa o espectador.  Anthony Wong apresenta um desempenho assombroso. O seu Wong Chi Hang é vil, é asqueroso, é aterrador. Tido pelo público como um homem simpático e acessível, que também encarna ocasionalmente em cinema, ele transfigura-se totalmente nesta personagem. Sem próteses ou qualquer outro acrescento para modificar as suas feições, a sua entrega é de tal modo impressionante que a sua fisionomia se altera para a de um homem desagradável e perigoso. As cenas em que Wong esquarteja as suas vítimas, seja um porco ou um ser humano, são arrepiantes. Atentem sobretudo à cena em que Wong elimina uma família inteira. Há algo de tão perigosamente amoral naquele personagem que corremos o risco de confundir a ficção com o real. E sem restrições de classificação, pouco ou nada é deixado para imaginação. Mesmo filmes que se afirmam de “extremos” e “irreverentes” não são capazes de gerar imagens tão provocantes ou obscenamente repulsivas como este. Para o aficcionado de terror “8 Immortals Restaurant – The Untold Story” é a prova de fogo. Ideal para apaixonados por estórias verídicas e viciados em desafiar os seus limites de tolerância. Três estrelas e meia.

Realização: Danny Lee e Herman Yau
Argumento: Wing-kin Lau e Kam-Fai Law
Anthony Wong como como Wong Chi Hang
Danny Lee como Chefe Lee
Emily Kwan como Bo
Julie Lee como Pearl
Fui-On Shing como Cheng Poon
Parkman Wong como Bull

Próximo Filme: 407 Dark Flight 3D, 2012

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Not a Film Critic está nomeado para os TCN Awards 2013

Olá, eu sou a Rita, tenho mais de uma vintena de anos (não vou dizer quantos tenho, era só o que faltava), e sou viciada em filmes de terror. Sim, eu gosto do género de terror, o mais subestimado, pisado e desvalorizado e sou maior de idade. Não. Tanto quanto sei, sou uma pessoa perfeitamente funcional e não sonho com esganar, estropiar, mutilar, desfazer, despedaçar, esmagar, abater, decepar ou trucidar pessoas. Não durmo com um facalhão ao lado da cama ou uma pistola debaixo da almofada e não, não guardo um álbum de recortes dos maiores serial killers de sempre. Não tenho por hábito jogar GTA e nunca achei que o Marilyn Manson fosse aquela cena. Não tenho ilusões quanto a “Amyityville” ter alguma vez sido assombrada, não me parece que os mortos retornem à “vida” sobre o estado de zombies e apenas joguei o jogo do copo uma vez. Só a vida real me dá pesadelos. Acredito que a imaginação faz o papel de preenchimento da ausência de emoções fortes, que nos fornece explicações para o que a nossa mente racional não tem em crer ou aceitar. O pocong, o vampiro, o zombie, o kuntilanak, o fantasma, o aswang, o onryo, o tiyanak, o demónio, o alienígena, o kaiju e o mutante são uma constante do meu quotidiano. Já perdi a conta aos filmes que vi, aos filmes que recomendei e não vejo a hora de parar. O Not a Film Critic é o espaço onde o terror tem a devida atenção. É a minha segunda casa. Sejam muito bem-vindos.

Votações no Cinema Notebook, barra lateral. Convido a conhecerem todas as categorias e os outros nomeados, que de resto, estão amplamente divulgados no Blogue de Votações. A hashtag do evento é #tcn2013. Obrigada.

Nomeação Melhor Reportagem: NAFF - Not a Film Festival


Nomeação Blogue Colectivo: Scifiworld PT

Nomeação Melhor Blogue Individual: Not a Film Critic
Nomeação Blogger do Ano: Rita Santos aka FilmPuff Maria


Independentemente de resultados, uma garantia: o Not a Film Critic vai manter a regularidade e os temas que sempre o marcaram. #tcn2013

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

"Chaw" (Chawu, 2009)


É quase um ritual, quando se abordam filmes de monstros, mencionar o “Alien” (1979) e o “Predator” (1987). São clássicos e são, simplesmente o padrão de excelência para qualquer tipo com pretensões de cineasta que queria assustar o pessoal com uns fatos de borracha. A malta nova, se calhar, já está tão dessensibilizada que não encontra o factor M (Medo), nestas películas. Mas a verdade é que criar um filme com uma besta atemorizante, hoje em dia, é ingrato. É já se viu tudo e de todas as maneiras. Aqueles filmes constituem um marco, no que diz respeito aos alienígenas e, no campo dos animais temos tamanha variedade desde o tubarão (“Jaws”, 1975) passando por ovelhas (“Black Sheep”, 2006) até ao coelho (“Monty Python and the Holy Grail”, 1975). Parece que o desafio sempre foi o modo como as captar. Ora, estamos perante um jogo de vislumbres ora mostram-no assim que podem e do modo ostensivo possível. Os filmes que optam pela revelação célere tendem a optar pelo género da comédia negra e tentam dela capitalizar ao máximo. “Chaw”… é como um adolescente. A princípio sabe o que quer mas passado algum tempo confessa-se indeciso e, no fim, chega à conclusão que é uma criança grande e ainda lhe falta algo para a atingir a maturidade.

Depois de uma sequência inicial brutal (adorava deixar-vos aqui um spoiler mas tenho de me manter firme e rejeitar o engodo), que decidiram que “Chaw” seria uma comédia e, como tal, teriam de estupidificar o argumento e respectivos personagens. Os momentos de humor acabam por resultar na maior parte mas não deixa de ficar a sensação, durante bastante tempo de que algo não está certo. A mudança de rumo do horror à comédia é tão radical que uma pessoa não pode deixar de se interrogar o que poderia ter acontecido tivesse o material seguido noutra direcção.

Sammaeri é uma pequena agrícola onde o acontecimento mais excitante é a feira de produtos orgânicos. Isto é, até serem encontrados os corpos trucidados de alguns aldeões. Decididos a parar com a carnificina um grupo de cidadãos, polícias e mercenários junta-se para caçar a besta responsável pelo evento. Entre estes encontram-se Il-man Chun (Hang-seon Jang) que tem desejos de vingança por a neta ter sido uma vítima do que acredita ser um javali gigante, Kang-soo Kim (Tae-woong Uhm) um polícia de Seul “promovido” para ali e Man-bae Baek (Je-moon Yoon) que sonha com a glória da caça. Nenhuma das personagens é memorável, ainda que o elenco seja sólido. Temo que seja a velha armadilha dos personagens descartáveis. Talvez por isso, não sejam abençoados com inteligência acima da média ou se detenham no ecrã por tempo suficiente para que se crie uma afinidade. E a polícia coreana demonstra ad nauseam a sua completa impreparação e incapacidade para lidar com situações de emergência, aqui para boa conveniência do argumento. Que faria se fossem voluntários? Para os mais atentos “Chaw” tem uma estória muito similar a filmes como “Jaws”, sendo que existem as primeiras mortes, desvalorização ou, se preferirem, descrença dos responsáveis da localidade devido a época importante para a sua sobrevivência económica, a constatação do óbvio à medida que a contagem de mortos aumenta, a contratação de especialistas para resolver o problema que falham redondamente e, mais para o fim, o bom herói relutante apanha os cacos. Os políticos só vêem cifrões à frente, os polícias são uns incompetentes e o herói nunca tem um pingo de vaidade. Tão, refrescante… Quanto à ameaça propriamente dita e, nos intermeios de comédia com terror, o “monstro” não se revela poderoso o suficiente para entrar nos pesadelos do homem comum. Além de que enquanto, a memória colectiva da cena em que javalis comedores-de-homens atacam um homem em “Hannibal” (2001), não se esvanecer o “monstro” de "Chaw" parecerá sempre por comparação um marco menor. Mas lá está, a besta é grande, o número de vítimas é significativo e são jogados todos os lugares-comum que resultaram anteriormente. Veredicto: Se apreciam filmes com bestas assassinas, "Chaw" acerta nas notas todas mas não o vejam com esperanças de grande originalidade. Duas estrelas e meia.

Realização: Jeong-won Shin
Argumento: Jeong-won Shin e Yong-Cheol Kim
Tae-woong Uhm como Agente Kim
Yoo-mi Jung como Soo-ryun
Hang-seon Jang como Il-man Chun
 Je-moon Yoon como Man-bae Baek
Hyuk-kwon Park como Detective Shin
Gi-cheon Kim como Chefe dos aldeões
Sang-hee Lee como Chefe da Polícia
Seo-hee Go como “mãe” de Deok-gu
Hye-jin Park como mãe do agente Kim
Yeon-hwa Heo como Mi-young
Yoon-min Jung como Agente Park

Próximo Filme: "Bun Man: The Untold Story" (Bat sin fan dim ji yan yuk, 1993)

domingo, 20 de outubro de 2013

"Dead Sushi" (Deddo Sushi, 2010)


Noboro Iguchi, realizador de títulos tão improváveis e absurdos como “RoboGeisha” (2009), regressa com “Dead Sushi” uma séria concorrente ao lugar cimeiro de um Top 5 de Objectos Inanimados com Institutos Assassinos do Cinema. 

Keiko (Rina Takeda) é uma jovem aprendiz de chefe e karateca que foge da disciplina imposta pelo próprio pai, um chef especialista em sushi ultra-rígido, para se tornar servente numa estalagem. Lá, é alvo das constantes humilhações do chefe e do pessoal negligente até que perante o ataque de sushi assassino (sim, leram bem), Keiko se torna única pessoa capaz de deter a ameaça. Um ex-cientista de uma farmacêutica pouco escrupulosa deseja vingar-se do tratamento de que foi alvo e cria um vírus zombie que infecta o sushi servido aos convivas na estalagem. O sushi torna-se, (naturalmente?), uma criatura mutante com o intento de devorar todos quantos se encontram à sua frente. Por entre mortos e feridos alguém há-de escapar. Certo?

Entre as cenas memoráveis encontram-se a da assistente irritante que é “trincada” por um destes zombies, aquela em que duas jovens se tornam a mesa e o prato principal da comida que serviam, ou quando um dos atacados é alvo de uma “plástica” facial extrema… Mas a piada não fica por aí já que a personagem principal é uma karateca que foge do mundo altamente competitivo e exigente dos chefes de sushi para combater os rolos assassinos, tendo por sidekick um chef com fobia de facas. Quem é que inventa cenários destes?
“Dead Sushi” enquadra-se na categoria sobejamente conhecida de “estes japoneses devem estar loucos”. Há os filmes “normais”, i.e., que podiam ser criados em qualquer parte do mundo e depois há os outros, os criados pelos nipónicos que se baseiam nas premissas mais extraordinárias e, estranhamente funcionam. A palavra de ordem é: “não há limites”. A improbabilidade e impossibilidade presente nestas películas surge em grande quantidade e em rápida sucessão formando uma relativa coesão. Se a audiência estiver predisposta a aceitar tudo quanto sucede no ecrã, “Dead Sushi”, “Tokyo Gore Police”, “Meatball Machine”, entre muitos outros, funcionam como um novo subgénero de cinema que apresenta rasgos de genialidade. Regra geral, as personagens são do sexo feminino e existe tanto de acção como de comédia, de preferência em conjunto. Adicionem uma pitada de terror et voilá. Características: os close-ups de seios e roupa interior feminina são um must. Cenas como uma protagonista perder um botão da blusa ou cair e ficar com as cuecas expostas não serão novidade. De notar que o aparecimento de personagens mutiladas, com um ou mais membros mecânicos tais como metralhadoras ou lâminas não deve ser inesperado. A contagem de mortos não deve ficar abaixo de uma dezena. De preferência, acompanhados de salpicos de sangue, esguichos de sangue, banhos de sangue ou todas as opções anteriores. Neste aspecto, o Robert Rodriguez com os seus esforços grindhouse, vêm à mente como o equivalente de Hollywood mais aproximado. A compor o ramalhete, estão slogans tão exagerados como o próprio filme: “O Sushi contra-ataca” ou “Acção Quente do Wasabi”. Pensem em “Dead Sushi” como uma reinterpretação de um “Airplane” (1980), ou um "The Naked Gun” (1988) com bolinha vermelha.
“Dead Sushi” pode ser um gosto adquirido, mas não me parece que quem não apreciasse sushi anteriormente se vá tornar fã. Aliás, se forem um dos infelizes comtemplados com fobia a sushi esta é a pior alternativa possível a não ser que estejam a considerar submeter-se a terapia a longo prazo. Duas estrelas e meia.

Realização: Noboro Iguchi
Argumento: Noboro Iguchi, Makiko Iguchi e Jun Tsugita
Rina Takeda como Keiko
Shigeru Matsuzaki como chef
Kentaro Shimazu como Yamada
Takamasa Suga como Nosaka
Takashi Nishina como Senhor Hanamaki
Asami como Yumi Hanamaki
Yui Murata como Misse Enomoto

Próximo Filme: "Chaw" (Chau, 2009)

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Pocong Rumah Angker, 2010

Sugestão: Saltem o trailer e passem directamente à visualização com legendas em inglês no youtube

Se não existir mais nenhuma característica redentora da generalidade do cinema de terror indonésio, que ao menos se aprecie a inocência. Quando se valorizam as narrativas ultra-complexas que redundam em estórias absurdas (ainda que tenhamos relutância admiti-lo), há que dar espaço às falsas narrativas que não são mais que uma sucessão de eventos repetidos, num movimento circular com enfoque nos corpos dos intervenientes, no gag que puxa a gargalhada e enfim, no terror.
Zak e Pung são dois rapazes desmiolados que decidem realizar filmagens durante a noite (óbvio!) na casa assombrada local para o jornal da escola. Haverá algo mais emocionante que uma casa assombrada? (Não respondam). Estes estarolas, com pouco ou nenhum jeito para seduzir o género feminino conseguem atrair as colegas de turma Joanna e Debbie para o seu projecto e não tarda, todos se vêem alvo de manifestações sobrenaturais. Pocong Rumah Angker não deixa nada para a imaginação e significa literalmente, pocong (fantasma enrolado num sudário) numa casa assombrada. Por isso, não é de estranhar que ao fim de segundos tenhamos a primeira aparição que surge sob a forma de uma bailarina de Jaipong, de um pocong e ainda anciões versados na arte de combater as trevas. Para aqueles lados há imensos peritos em combater aparições inesperadas. Não se preocupem. “O que foi retirado deve ser devolvido” e só assim terá “descanso eterno” e coisas que tais. Mais fácil de falar do que fazer com uma trupe que tem como cabecilha Zak, que desconfio, empresta mais de si ao papel do que conseguiu descarnar a sua personagem. Pocong Rumah Angker é “Zakocêntrico”, disso não restam dúvidas. A personagem confunde-se com o actor com o mesmo nome e aproveita para qualquer oportunidade para improvisar dando lugar a cenas involuntariamente engraçadas pois, enquanto Zak dispara falas de cabeça, os restantes actores tentam desesperadamente manter-se nas personagens. Não faço ideia o que passou pela cabeça do realizador, se deu instruções para os actores seguirem o “show de Zak” ou se acreditou na magia em directo e deixou a película rolar. Uma aposta arriscada se querem que vos diga pois com 77 minutos de duração, não há muito sumo para se espremer. Surpreendente é o número de piadas sexuais e alusões homoeróticas, para bem da comédia claro, num país que se crê muito conservador. Existe de tudo, desde piadas com testículos e erecções à possibilidade de ósculos entre homens e partilha de cama… Enfim, tudo o que se podia esperar do cinema coreano e das comédias sexuais americanas, à la “American Pie” (1999), que se encontram atualmente num estado comatoso.
Diz que Pocong Rumah Angker é de terror e é aí que os problemas se agravam. Desde o início que a assombração é posta a descoberto e, além de uma ocasional aparição não se pode dizer que os fantasmas sejam muito assustadores. A maquilhagem horrenda assemelha-se a um disfarce de Halloween que correu mal. Já para não mencionar o styling exactamente igual ao de filmes anteriores. Ora, onde é que já vimos mulheres de cabelos desgrenhados com aparência atemorizante? A verdadeira tragédia reside no não aproveitamento da única ideia criativa que poderia elevar Pocong Rumah Angker a um patamar superior. Por momentos, há um laivo de reflexão, de tragédia escondida que poderia impactar em definitivo os nossos tontos personagens e depois, demasiado rápido, desaparece, para dar lugar aos pocong, aos kuntilanak (espíritos), às casas assombradas, num eterno movimento circular. Que ninguém diga que os espectadores não gostam de previsibilidade. Uma estrela e meia.

Realização: Koya Pagayo
Argumento: Ery Sofid
Zaky Zimah como Zaky
Donita como Joanna
Pamella Bowie como Debbie
Krisna Patra como Ipung
Radith

Próximo Filme: “Dead Sushi” (Deddo Sushi, 2012)
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