domingo, 19 de julho de 2015

"The Girl who leapt trough time" (Toki o kakeru shôjo, 2006)



"O tempo não espera por ninguém".

O Verão de uma vida. Amigos que ficam para sempre guardados nas mais doces memórias. Aqueles momentos que são mais vezes resgatados ao baú das recordações na mente, quando se refere a palavra “felicidade”. Ser jovem e despreocupado… pela última vez.

Makoto Konno (Riisa Naka) vive o sonho de qualquer adolescente. Passou um Verão fantástico a jogar baseball com os melhores amigos: o sempre bem-disposto Kosuke Tsuda (Mitsutaka Itakura) e o misterioso Chiaki Mamiya (Takuya Ishida). Por ela duraria para sempre mas o que é bom tem curta duração. A maria-rapaz descobre ao recomeçar as aulas que continua tão desatenta e tão desastrada como sempre. Por algum motivo as pessoas se referem aos anos da adolescência como embaraçosos. Ela não consegue corresponder à pressão de um teste surpresa e comete a proeza de provocar um incêndio durante uma aula de cozinha. Depois, já na descontracção misturada com a irritação daquele dia para esquecer, perde os travões da bicicleta durante uma descida ingreme e atravessa-se na frente de um comboio que a mata. Bem, mais ou menos. Nesse mesmo dia, Makoto entrou numa sala e, para não variar, a moça desastrada cai em cima de qualquer coisa que despoleta um processo insólito. Qual “Groundhog Day” (1993), ela vê-se a repetir aquele mesmo dia e a verificar que pode alterar os acontecimentos de modo a lhe serem benéficos. A única pessoa em quem confidencia esta descoberta é Kazuko (Sachie Hara) a tia que trabalha num museu como restauradora de quadros reservando ainda alguma juventude sonhadora e com certeza não a julgará pelas inúmeras indiscrições resultantes da sua imaturidade. Com o advento e percepção de tão grande poder seria expectável que Makoto o utilizasse para o bem comum, certo? Nada podia estar mais longe do pensamento da adolescente. A cultura popular e, em particular o cinema, desde heróis da banda-desenhada às forças policiais, não consegue exaltar com mais convicção do que aquela que já transmite que, quem se encontra numa posição de poder o deve utilizar de forma ponderada, comedida e até com alguma humildade para o bem de todos. O problema nesta linha de raciocínio é que pressupõe que qualquer herói, participante e relutante em igual medida, possui uma visão do todo, integrada. A realidade dita o oposto. Muitas vezes, mais do que seria desejável, o poder cai em mãos indesejadas que não vêem além dos seus próprios desejos fúteis e também destruidores. Makoto adquire um poder que nunca desejou e dedica-se com um toque de ingenuidade, sem egoísmo e com alguma ausência de experiências transformadoras, a melhorar aos poucos a sua própria vida. Melhores notas nos testes? Um pouco mais de tempo de diversão? Evitamento de tarefas aborrecidas? Ela satisfaz todos os caprichos. Quando descobre que uma colega nutre sentimentos por Kosuke, o que poderá ditar o afastamento do amigo do grupo, tudo o que ela terá de fazer é evitar o acontecimento. Se lhe é sugerido que Chiaki poderá estar apaixonado por ela própria, consegue adiar o confronto. Antecipar e prolongar o prazer e adiar o sofrimento é possível. Eis que a realidade a atinge dura como a reprimenda de um pai zangado. As suas acções têm consequências. E a despeito de conseguir melhorar a experiência dela enquanto amiga, filha ou estudante, qual efeito borboleta, os outros à sua volta sofrem pelas falhas que ela não cometeu. Ela tem de tomar a decisão de arcar com as consequências e sofrer ou, acolher a ideia de que terá de crescer e aprender a enfrentar as situações complicadas que daí advirão. “The Girl Who Leapt Trough Time” é sobre a jornada de uma rapariga banal e de um momento extraordinário na sua existência e que ressoa com pessoas de qualquer idade: uma criança porque gosta do cinema de animação, um adolescente porque se revê nas dores de crescimento ou até um adulto pela doce melancolia.

A animação não é a mais luxuriante que já se viu no cinema do género japonês ainda que a estória, brilhante, seja baseada na obra de Yasukata Tsutsui que escreveu o fenómeno “Paprika” (2006). Tanto a animação como o piano que pautua a banda-sonora, servem de complemento à estória, não se pretendendo substituir a ela como tantas vezes acaba por suceder. No entanto, existem alguns momentos fantásticos, seja nos momentos de quietude como o enfoque num “simples” crepúsculo ou uma Makoto numa corrida alucinada a não conseguir chegar a tempo – imagem forte de um ecrã a avançar cidade adentro, com a rapariga a ficar para trás. Escapa-se-lhe o tempo. Essa frase, descartada no início e inúmeras vezes repetida, ganha maior projecção até ao total (re)conhecimento por altura dos créditos. Vejam o quanto antes, afinal, “o tempo não espera por ninguém”. Quatro estrelas e meia.

O melhor:
- A animação, a narrativa, composição musical.
- Cinematografia
- A voz de Riisa Naka assenta na perfeição na extrovertida Makoto
- Mensagem transgeracional

Realização: Mamoru Hosoda
Argumento: Satoko Okudera e Yasukata Tsutsui (obra)
Riisa Naka como Makoto Konno
Takuya Ishida como Chiaki Mamiya
Mitsutaka Itakura como Kosuke Tsuda
Ayami Kakiuchi como Yuri Hayakawa
Sachie Hara como Kazuko Yoshiyama
Mitsuki Tanimura como Kaho Fujitani
Yuki Sekido como Miyuki Konno (irmã de Makoto)
Utawaka Katsura como pai de Makoto
Midori Ando como mãe de Makoto
Fumihiko Tachiki como Fukushima-sensei
Keiko Yamamoto como Obasan
Shiori Yokohari como Noriko Uesugi
Sonoka Matsuoka como Sekimi Nowake
Takayuki Handa como Kato

Próximo Filme: ?

domingo, 5 de julho de 2015

"Cold Prey" (Fritt Vilt, 2006)


Por mais anos que passem e, por mais dessensibilizados que fiquem, ainda existem slashers que conseguem, se não surpreender, pelo menos não insultar a nossa inteligência.

Um grupo de amantes de desportos radicais decide praticar snowboard nas remotas montanhas norueguesas, onde poderão divertir-se sem ser incomodados. O que poderia correr mal? A lei de Murphy entra em efeito. Morten Tobias (Rolf Larsen) tem um acidente aparatoso e parte a perna como se um galho se tratasse. Nesse momento que daria jeito que a civilização os acudisse, dão por eles a demasiadas horas de uma localidade e sem sinal de rede no telemóvel. Jannicke (Ingrid Berdal), Eirik (Tomas Larsen), Mikal (Endre Midstigen) e Ingunn (Viktoria Winge) vêem-se obrigados a arrastar o amigo até um velho hotel abandonado ali próximo antes que escureça para poderem tentar pedir auxílio pela manhã. Mal sabem eles que estão acompanhados e que o seu anfitrião mal pode esperar por lhes apresentar a sua picareta.

Até aqui nada de novo e… Daí em diante também não. O assassino de serviço é tão parco nas palavras como os que lhe antecederam mas não é adepto de disfarces. Não deve ter visto o “Halloween” (1978) ou qualquer coisa que o valha. A explicação mais simples é, tão-somente, que é indiferente usar um disfarce. A identidade dele não é importante e as suas vítimas ficam aterrorizadas com alguma rapidez. Com temperaturas negativas e sem populações num raio de vários quilómetros não é como se tivessem para onde fugir. De resto, o psicopata faz uso das convenientes ferramentas para a prática de desportos na neve. A necessidade de “fogo-de-artifício” é nula. A maior “novidade” de “Cold Prey” é que, pela primeira vez em muito, muito tempo, os personagens são simpáticos. Não escapam na totalidade aos estereótipos, (achavam que não ia haver pelo menos uma boazona seminua?), mas desta feita não é como instilassem instintos assassinos por parte do público. Podiam ser o vosso grupo de amigos. Outro toque de frescura, a que não é alheia a cultura nórdica é o facto de o líder natural do grupo ser Jannicke. Ao invés da mulher vulnerável que se revela numa altura de grande pressão ela demonstra ser forte e determinada a todo o momento. Não chega aos calcanhares da esquiva e calculista Erin de “You’re Next” (2011) mas faz tudo o que está ao seu alcance para levar a melhor sobre o seu caçador. A seu lado tem Eirik, um namorado que acha que está na altura de tomar o passo seguinte: viver juntos. Na congénere americana o passo seguinte seria evidentemente dormir juntos (revirar de olhos). Os restantes amigos variam entre o comediante e o melhor amigo, mas sem se excederem nos retratos.

“Cold Prey” não é um blockbuster mas é tão eficaz como qualquer produto massificado. Não abusando, porque não pode, nas cenas que evocam a emoção de repugnância, a construção de um ambiente atemorizante é a sua maior força. Sem se aperceberem passará a marca da meia hora com o grupo ainda intacto. “Cold Prey” toma o seu tempo a apresentar as personagens e a situação desconfortável em que se encontram. Isto, acompanhado pelas paisagens ofegantes das montanhas silenciosas da Noruega revisitadas inúmeras vezes para não nos esquecermos que ninguém os pode ajudar. O perigo, real encontra-se dentro das paredes de um hotel isolado e lá fora, no exterior gélido. Onde iam tentar a vossa sorte? Três estrelas.

O melhor:
- Um grupo de personagens com o qual nos conseguimos identificar
- Cinematografia
- Elenco sólido

O pior:
- A identidade do assassino. Anti-climático!
- Não tenta ser original

Realização: Roar Uthaug
Argumento: Thomas Moldestad, Martin Sundland e Roar Uthaug
Ingrid Bolsø Berdal como Jannicke
Rolf Kristian Larsen como Morten Tobias
Tomas Alf Larsen como Eirik
Endre Martin Midtstigen como Mikal
Viktoria Winge como Ingunn
Rune Melby como Fjellmannen
Erik Skjeggedal como Gutten
Tonie Lunde como Mor
Hallvard Holmen como Far

Próximo Filme: "The Girl who Leapt Through Time" (Toki o kakeru shôjo, 2006)
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