domingo, 30 de junho de 2013

"Toilet 105" (Hantu Toilet 105, 2010)



Sou toda por casas-de-banho assombradas. Porque não? Se nos dizemos fãs do género de terror temos de ser destemidos. Mesmo que isso signifique ver películas para adolescentes indonésios com uma visão de comédia e de terror muito próprias. Como seria de esperar os valores estão bastante arreigados à religião pelo que o facto de uma rapariga andar com as pernas nuas é motivo suficiente para a considerar uma vadia.
A sudeste nada de novo, Marsya (Coralie Gerald) muda-se para uma nova escola onde é recebida com muito entusiasmo pelos rapazes e rejeitada pelas miúdas populares residentes que não estão habituadas a que lhes façam frente. A adaptação não é fácil visto que a pobre Marsya é alvo das partidas das rufias, ao mesmo tempo que é cortejada por Okta (Ricky Harun)o fraco galã de serviço anterior namorado de uma das rufias da escola. Como impedir que a nova miúda se tornasse num alvo? A dificultar a adaptação está ainda o facto de Marsya começar a ter todo o tipo de encontros sobrenaturais sempre que vai ao quarto de banho. Com os encontros a intensificar-se e a notícia de que Adelia, uma antiga aluna desapareceu, Marsya decide investigar o caso.
“Toilet 105” devia vir com um aviso: “Se for da opinião que os adolescentes são criaturinhas irritantes não veja este filme”. E na verdade, é um conjunto de estereótipos universais irritantes. A miúda nova é gira, humilde e reúne toda uma série de qualidades; o engatatão de serviço tenta seduzir a novidade da escola; as miúdas populares são giras e más para os colegas e o mundo dos adultos está quase à margem do dos miúdos. Se conseguirem viver com a convencionalidade dos personagens e da narrativa não será uma experiência demasiado penosa. “Toilet 105” não é das piores experiências de terror a sair da Indonésia. Tem a favor o facto de não ter um orçamento tão baixo como outros conterrâneos. E o elenco está claramente vocacionado para uma audiência mais jovem, com actores ainda com bastantes anos de aprendizagem pela frente e humor local. Uma das críticas mais injustas que se podem fazer após o visionamento de um filme de origem geográfica e cultural longínqua é a de que não tem sentido de humor. Quem é o crítico para julgar, sem qualquer tipo de referência anterior o que apela à gargalhada de outros? O espirito da casa-de-banho 105 é um dos pontos fracos da película. A caracterização deixa bastante a desejar. Ainda assim é exibido em qualquer oportunidade. A subtileza não é o forte dos cineastas mas não é como se cabos de arame estivessem visíveis (Karak, 2011). Este também é um daqueles casos em que o título do filme não deixa margem para duvidas: “Toilet 105” não é para ser levado a sério. Desde a “Moaning Myrtle” da saga Harry Potter, que não se encontra espírito capaz de incutir o receio por fantasmas de casa-de-banho. Quem consegue bater uma adolescente choramingas?

Longe de mim implantar ideias erróneas na cabeça dos meus ricos leitores mas fica a sensação que “Toilet 105” surgiu com o intuito de se fazer um filme sobre uma casa-de-banho assombrada e que a estória veio depois. Já agora, alguém é capaz de me explicar porque é que o espírito parece tão interessado em assombrar casas-de-banho de rapazes e de raparigas? Se, como um dos personagens questiona a dada altura, a aparição está ligada ao local onde faleceu, porque é que esta não se queda por um único sítio? Claro que a casa-de-banho traz algumas ideias de assombração interessantes, digamos que um urinol e uma cena à “Ring” (1998) é muito engraçada. Isto, se pretendermos sorrir. Se a ideia for ficarem aterrorizados irão ficar desiludidos. Mas e daí, não teriam escolhido um filme como o nome “Toilet 105”! Uma estrela e meia.

Realização: Hartawan Triguna
Argumento: Ve Handojo e Melody Mucharansyah
Coralie Gerald como Marsya
Ricky Harun como Okta
Aming Sugandhi como Satpam
Indra Birowo como Senhor Wahyu
Suti Karno como Senhora Endang
Leonil Tikoalu como Ical
Rizki Putra como Rio
Navi Rizki como Viola

Próximo Filme: “Blind” (Beul-la-in-deu, 2010)

domingo, 16 de junho de 2013

"Paranormal Activity 2: Tokyo Night" (Paranômaru akutibiti: Dai-2-shô - Tokyo Night, 2010)


No princípio era o verbo, a palavra e depois a rima,
que provocou reacções como se fosse uma enzima.
No princípio era a tesão, a fúria e a sofreguidão,
depois veio a calma, procura do saber e a satisfação.

Da Weasel in Iniciação A Uma Vida Banal - O Manual 

Perdoem-me se comparo o “Paranormal Activity” a qualquer sensação parecida com prazer e bem-estar (na verdade não peço, não).  Se os da Weasel podem ir beber ao Evangelho de São João, não me parece desproporcional utilizar tais termos para o mais recente fenómeno do cinema de terror. Ele era o “melhor filme de terror da década”, ele era “arrepiante”, ele era a frescura por oposição aos anos de desgaste do subgénero torture porn, ingenuamente conduzida pelos criadores de “Saw” e o Eli Roth. E se acredito fortemente, que o sucesso de “Paranormal Activity” se deveu em parte a reboque do facto de as pessoas estarem sequiosas por uma nova experiência de terror, isto não o torna menos eficaz. A estória de um casal simpático acossado por forças invisíveis, que podia ser nosso vizinho, bebe-se de um trago ao contrário do sadismo exagerado de assassinos temíveis e sociedades secretas que engenham armas de tortura inacreditáveis. Isto, sem mencionar a “nova vaga” do cinema de terror francês (que já é nova há muitos anos) e o cinema japonês que já por aí anda há bastante tempo, sem lhe atribuir nomes sexy.
Eis pois, que o “Paranormal Activity” (2007) tem sucesso e logo surge a sequela japonesa não oficial, “Paranormal Activity: Tokyo Night” (2010). Não fosse estranha a mera colocação da hipótese de realização de uma sequela japonesa, que o percurso costuma ser inverso, Japão/EUA -, temos ainda produção e argumento em tudo similares, ou como diria a minha avozinha, “De boas intenções está o Inferno cheio”.
A pobre Haruka (Noriko Aoyama) regressa a Tóquio depois de umas férias nos EUA, onde teve um acidente de viação que a deixou com as pernas partidas. Sobre para o irmão mais novo Koichi (Aoi Nakamura) que está completamente obcecado com a mais recente aquisição para realizar filmagens tomar conta da convalescente. Assim que se instala para o caminho da recuperação Haruka começa a dar por objectos fora do lugar, barulhos estranhos, o sentimento de que não está só… E quer a sorte que os irmãos habitem um dos países com mais videovigilância do mundo. Estão a ver o mito do japonês com a máquina fotográfica?
Ora, se o ponto de partida é inteligente (o acidente de viação de Haruka tem muito que se lhe diga) é o desenvolvimento que fracassa. Sucede a mesma sequência de acontecimentos que vitimizam Katie e Micah do filme original. Numa análise fria Tokyo Night seria uma versão superior se fosse o primeiro filme na ordem cronológica já que o cineasta Toshikazu Nagae opta por livrar-se dos planos que minavam o ritmo de “Paranormal Activity”, e em que não acontecia nada, sem eliminar a tensão remanescente. Concebem a ironia de um filme japonês tomar a decisão de eliminar excedentes em prol do ritmo? Também a dupla de protagonistas é forte tendo bastante experiência em cinema e televisão e emulam com facilidade a naturalidade dos actores da película americana. Esta coisa de contracenar como se não o estivesse a fazer é o maior achado de sempre. Outro aspecto de nota é os personagens principais serem irmãos. Relembra-me de certo modo do “Jeepers Creepers” (2001) de cujo choque (o Darry não!), até hoje, ainda não recuperei. O foco no ângulo amoroso sobre o de laços familiares acaba por se tornar um elemento de falsidade no cinema. Desde quando é que vemos primos em 2º grau? Ou um tio e sobrinho afastados, por exemplo? Um pormenor técnico remotamente interessante é o recurso ao splitscreen (divisão do ecrã), que por momentos dá a ilusão de sermos voyeurs de uma experiência a decorrer em tempo real. De resto não há um elemento dissonante, um grito de desafio aos antecessores “Paranormal Activity” e “Paranormal Activity 2”, algo que chegue ao âmago das audiências e explique porque é que esta versão era necessária e acrescenta algo sobre o anterior. Ok, o destinatário principal é a população japonesa mas faziam alguma coisa diferente não? É mais do mesmo que conduziu à saturação de sagas anteriores, como o “Sexta-feira 13”, “Halloween”, “Nightmare in Elm Street”, “Saw”, etc, cujo sucesso inicial redunda sempre num remastigar orgíaco cíclico do pecado original. E a audiência? Amorfa, cansada, que procura algo mais do que a satisfação de encontrar o que reconhece de aventuras anteriores. No princípio era o hype. O fim? Só Deus sabe como termina. Duas estrelas e meia.

Realização: Toshikazu Nagae
Argumento: Toshikazu Nagae e Oren Peli
Noriko Aoyama como Haruka
Aoi Nakamura como Koichi

Próximo Filme: “Toilet 105”, 2010

segunda-feira, 10 de junho de 2013

NAFF - Not a Film Festival: Not a Scary Session - Parte 3

Chegados ao epílogo dos comentários à Not a Scary Session do Not a Film Festival, chega pois a parte mais difícil que é a da despedida. Por aqui vê-se, assumidamente, pouco cinema português e com grandes intervalos de distância. Parte preconceito, que entretanto se tem vindo a desvanecer, parte hábito. É um mea culpa, mas pelo qual assumo total responsabilidade. E a sensação com que fiquei, depois de uma mera sessão de cinema é de que estou a perder imenso e que tenho de me redimir pois, mesmo as curta-metragens menos sólidas demonstram uma técnica, um desejo de aprender e uma vontade de vencer admiráveis. Atestam também aquilo que já se sabe em alguns meios mas alguns parecem não querer acreditar, o cinema nacional está bom e recomenda-se.

“Projecto V”

Sinopse: “Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte.” - Sigmund Freud. Quando um predador é movido por sentimentos de vingança, o que poderá a presa fazer dentro de quatro paredes? Deverá aceitar o seu fim?”
Antes de virem para aqui dizer que a je é muito má deixem-me que vos lembre vingança é um dos temas mais explorados em cinema. É extremamente difícil ser original no que a este tema diz respeito. Posto isto, podia-me lembrar para assim de repente de uma centena de referências cinematográficas onde “Projecto V” pode ter ido beber. Se é que não foi mesmo… Logo à primeira e sem ler o titulo, “V”… de Vingança, certo? Pondo de lado o título óbvio, viram o “Buried”? O protagonista está encurralado sem qualquer hipótese de escapatória e é atormentado por uma voz que não consegue identificar. Já se fez tudo isso antes e melhor. E a jovem protagonista precisava de mais uns minutos até ficar no ponto rebuçado: o choro, seguido de histerismo e desespero, passa-se à velocidade da luz. Pouco credível. Uns minutos mais e… Também a câmara é pouco intrusiva, como se existisse medo de penetrar a intimidade da actriz. Mas ela é uma vítima, o espaço íntimo já foi violado, pelo que é de estranhar o receio de aproximação ao corpo de delito. Uma estrela e meia.

Realização: Bernardo Gomes de Almeida
Duração: 11 minutos


“Som do Silêncio”

A Fernanda Serrano desperta emoções estranhas na minha pessoa. Quero gostar dela terrivelmente mas não consigo. E o facto de dar a cara pelo tipo de livros popularuchos que só as donas de casa com pouco que fazer lêem não a ajuda. Mas depois temos 11 minutos onde a Fernanda demonstra que sem falar consegue dizer muito e tudo fica bem no meu mundinho. O “Som do Silêncio” tem uma ideia profundamente provocadora, a de uma realidade onde as pessoas não podem falar (não, em público, pelo menos). Censura sobre a forma de lei. Umas linhas não se podem sobrepor a uma necessidade humana. Ou podem? É um problema de equilibrismo, aquele que opõe a lei à razão. A resposta de Joana ao problema é apenas um tipo de clausura diferente. O cenário é o museu de arte antiga. Local bem a propósito. Durante séculos afim e, ainda hoje, em algumas regiões do globo tentam calar a arte. Três estrelas.

Realização: Paulo Grade e João Lourenço
Duração: 11 minutos

“Utopia”

“Utopia” é difícil de definir. Mas como diria Joana Maria Sousa, que este simpaticamente à conversa com Not a Film Critic nem podia ser de outro modo. Ela é adepta das sessões de cinema partilhadas, com finais em aberto, que geram discussão e especulação. A sua fantasia envolve duas jovens acossadas. Será uma delas a própria Joana. O perseguidor é desconhecido mas hipóteses não escasseiam. As jovens são vítimas dos seus próprios sonhos, são o reflexo de uma vida anterior, um alter-ego? É possível efetuar a distinção mediante o recurso de filtros. A decisão por uma das realidades reside na mente de quem a vê. Duas estrelas e meia.

Realização: Joana Maria Sousa
Duração: 9 minutos


“Still Room”
Um quarto. Uma mulher inquieta. E uma sucessão de imagens que deviam ter sido antecedidas de um aviso a pessoas com fotossensibilidade e/ou epilépticas. Como trabalho de um artista visual tendo por objectivo a contemplação e discussão funciona. Como estória é fraco. Uma mulher revolve na cama, levanta-se para ir à janela e volta a deitar-se. Crise de insónia contada através da fotografia em sucessão, estática. Não da imagem em movimento. Estrela e meia.
Realização: Mafalda Relvas
Duração: 2 minutos

“O Fim do Homem”
Ou o exemplo clássico da magia da pós-produção. Uma jovem possui um amuleto que poderá salvar a Terra do Apocalipse. Mas enquanto uns lutam para a salvar, as forças do mal não se deterão a nada para obter tal fonte de poder. E sabem que mais? Pode já ser tarde demais.
Enquanto a estória não oferece nada de original, com a ratinho de biblioteca a servir de peça central, capangas à la ninjas e a lutadora das forças do bem de ar andrógino, é o trabalho digital o que mais sobressai numa sessão onde os “efeitos especiais” foram poucos e longínquos. Três estrelas.

Realização: Bruno Telésforo e Luís Lobo
Duração: 9 minutos

Próximo Filme: “Paranormal Activity – Tokyo Night”, 2010

quinta-feira, 6 de junho de 2013

NAFF - Not a Film Festival: Not a Scary Session - Parte 2

Eis que estamos a meio da sessão e eles, os cineastas entram a matar. Desafiam-nos com duelos, tentam-nos a jogar o politicamente correto pela janela e a exercícios de introspecção. Talvez algumas destas curtas nem sejam assustadoras de todo. Umas resultam, outras dão saltos lógicos que desafiam a compreensão - se calhar uma curta-metragem é muito pouco tempo.

“Duel”

Um rapaz, uma rapariga, uma parede e uma lata de spray. Ele é todo ele contestação, ela arde pela paz, amor e todas aquelas causas que a candidatariam, num mundo ideal a santa. Mas como ainda é só beata resta-lhe combater, no mesmo terreno o jovem que guarda tanta agressão dentro dele. E como sabemos tudo isto, se eles não dizem uma única palavra durante os quatro minutos? Diz que o material é bom. Não diria que “Duel” é de um visionário mas é transportável para qualquer sociedade. Três estrelas.

Realização: Philippe Teixeira Tambwe
Duração: 4 minutos


“Brinca com o Fogo”
“A Mãe de César, um adolescente ligado ao activismo político, tem que enfrentar um horrível dilema, quando o filho chega a casa transtornado, vindo de uma manifestação.”
Quem brinca com o fogo queima-se… Ou então tem uma mãe assim, que deixa pecar e absolve. A punição é a possessão de consciência? E se a não tiverem? Seria a intenção desta curta-metragem, a crítica social? E a violência a forma de luta justificada com a anuência de um progenitor? Ou apenas, uma mãe que protege a cria contra tudo e todos, independentemente, deste ter tomado opções erradas? “Brinca com o Fogo” quase que podia ser a antítese de “Duel” que torna a arte a sua arma de arremesso e onde os personagens chamam a si a responsabilidade para os actos que cometem. Em “Brinca com o Fogo” fala-se muito mas o seu significado é mais nevoeiro que outra coisa. Duas estrelas.

Realização: Rui Esperança
Duração: 8 minutos

“De mim”
É “de mim” mas podia ser facilmente denominado “Viagem ao centro do cérebro” do Carlos Melim. A viagem tem tanto de tormento como de fascinante. Carlos Melim é um pensador, um daqueles que mói e remói os acontecimentos de uma vida. As imagens decorrem em sucessão, alternando entre os enquadramentos de uma entidade unívoca mas que nunca é claramente identificável podendo confundir-se com todos os homens e paisagens (posso dizer ofegantes?) – a cinematografia é de todo em todo magnífica. É uma conversa íntima de si para si, enquanto assistimos e nos integramos e convertemos. É um monólogo interior com vista à ascensão a um plano superior. Paz de espírito? Os delírios de Melim podiam ser os nossos. Aí se encontra a força da narrativa. Foi por isso, que enquanto uns encolheram os ombros, outros se arrepiaram. Três estrelas.

Realização: Carlos Melim
Duração: 5 minutos


“Analepsis”
É sempre preocupante quando a técnica é a personagem principal. Analepsis é um recurso que permite contar uma estória de modo não linear. Sublinho o auxiliar a contar uma estória e não substituir-se à mesma. Dois polícias vão no carro, são chamados para uma ocorrência. Uma rapariga é atacada em casa. Os polícias chegam e investigam. Ah e parece que um deles não é parte inocente no evento. Podiam ter um elenco só de clones do Isaac Alfaiate que isso não a iria tornar mais interessante. Incapaz de provocar mais que a indiferença. Curiosamente é a curta que inicia o ciclo de violência sobre a mulher até ao final da sessão. Mesmo que essa violência seja provocada pela própria. Uma estrela e meia.


Realização: Rodrigo Duvens Pinto e Ricardo Mourão
Duração: 5 minutos


PS: A fotografia minha gente. Já viram do que são capazes alguns destes "meninos"?

Próximo Filme: NAFF – Not a Film Festival: Not a Scary Session – Parte 3

domingo, 2 de junho de 2013

NAFF - Not a Film Festival: Not a Scary Session - Parte 1


Eles dizem que não é um festival de cinema. Eu acho que estão a enganar-nos.

O Not a Film Critic esteve presente na “Not a Scary Session” de dia 31 de Maio, no auditório Carlos Paredes para uma mini-maratona de curtas-metragens que “não metem medo ao diabo”. E se a sessão sofreu um atraso que fez com que a audiência apenas deixasse o auditório muito depois da hora que os pediatras aconselham a que as criancinhas estejam na cama a dormir, mal se deu pelo tocar das 12 badaladas. Aqui fica a primeira parte de uma viagem pelo jovem talento do cinema nacional.

“O Troco”
Alguém disse micronarrativa? É cool e tem mais piada que 90% das propostas de agências de “criatividade”. Mas é uma curta? Desbastem uns segundos a mais de “O Troco” e têm um anúncio ao chocolate Mars. Soraia, embora? Duas estrelas e meia.

Realização: Soraia Ferreira
Duração: 3 minutos

“Walkie - Talkie”
Luís e Mário são dois seguranças de um estúdio de televisão que preferem ficar a jogar Mario Bros a fazer a ronda no estúdio de Televisão onde trabalham. Numa noite alucinada, (demasiado jogo dá nisto), Luís e Mário acabam engolidos pelo aspirador do Velho homem das limpezas conjuntamente com a barata gigante e faladora Kedixktem. “Walkie & Talkie” parece o sonho cor-de-rosa da malta que desejava nunca ter saído dos 80’s, que jura a pés juntos que o Super Mário é e será para todo o sempre, o melhor jogo para consola alguma vez criado e que ligava às 3 da manhã para as televendas quando ainda não existia TV por cabo porque não tinha nada para fazer. “Walkie-talkie” também não fica a dever nada à experimentação com drogas alucinogénias, que o roubam de qualquer sentido mas, foi ou não, a maior trip da sessão? Três estrelas e meia.

Realização: João Lourenço
Duração: 9 minutos

“Cool”
A sinopse desta curta diz qualquer coisa como: Zé Barata, agente especial da União Nacional de Cervejas, recorda os tempos de novato, nomeadamente o duelo com Jorge, o Terrível, no dia em que passa o testemunho ao irmão mais novo, Chico Barata. Esta curta que tem feito as rondas dos festivais só tem um problema: tenta ser fixe. E não é preciso. Bastaria a Zé contar a estória do seu encontro com Jorge, o Terrível, (Joaquim Nicolau na sua melhor imitação de Clint Eastwood). A sua interpretação de agente Smith versão hipster em contraste com o “Saloon”, onde os putos jogam matraquilhos e os velhos que jogam à sueca onde uma má cartada poderá significar desatar aos tiros (num sentido metafórico vá), tem tanto de anacrónico como de bom: a cerveja e a guitarra portuguesa não enganam, estamos mesmo em território nacional. Façam-me só um favor: dêem um chapéu de cowboy ao Joaquim Nicolau e ficamos com um “Matrix Western em português”. Três estrelas.

Realização: João Garcia, João Rodrigues e Francisco Manuel Sousa
Duração: 10 minutos


Próxima Publicação: NAFF – Not a Film Festival: Not a Scary Session – Parte 2

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