sábado, 31 de março de 2012

1º Aniversário do Not a Film Critic - Parte 1


A de Apreciação – Como alguns já deverão ter percebido, o termo “crítica” não é aqui, propriamente, querido. Às vezes fogem-me os dedos e escrevo “crítica” mas prefiro apreciação. “Crítica” parece ser um termo pejorativo, negativo à partida e a minha perspectiva é a de assistir a filmes com uma mente aberta e positiva. Ninguém diz mal de um filme pelo gozo de o fazer (ou pelo menos não o devia fazer) e, ao fim ao cabo, quando acabamos de visualizar um filme o que é que nos é perguntado? Se criticámos um filme ou se o apreciámos?

B de Blogger – Há sete anos já. Tudo começou com um blogue pessoal, entretanto abandonado e o seguimento dos blogues de amigos. Foi uma evolução natural a partir dai. Dos blogues pessoais, passei para o seguimento de outros blogues temáticos, incluindo os de cinema, nos quais, entretanto, já comentava em nome próprio. Depois, um certo dia 31 de Março de 2011 pus mãos à obra e decidi pôr os filmes que eu via mas encontrava pouco por essa web lusa fora, num blogue.

C de Classificação – Provavelmente já deu para perceber que tento ter uma perspectiva positiva quanto ao visionamento de filmes. Isso reflecte-se na classificação actual do Not a Film Critic: Uma estrela = fraco, Duas Estrelas = satisfaz pouco; Três Estrelas = bom; Quatro Estrelas = Muito Bom e Cinco Estrelas = Excelente. Uma curiosidade, o filme mais bem classificado até hoje foi “Confessions” com 5 estrelas e o pior classificado foi “Lawang Sewu Dendam Kuntilanak” ao qual não atribui nenhuma estrela. Com o passar do tempo, a minha opinião sobre determinadas obras amadureceu e talvez atribuísse uma classificação superior a “Sacred”, “Dorm” e “13 Assassins”.

D de Design – E que trabalho me deu. Se fosse hoje, ainda faria um milhão de mudanças no layout, nos menus… Apesar de tudo não quero que o Not a Film Critic se torne uma árvore de Natal, mas é tão difícil… E o que fiz foi feito à custa de tutoriais (alguns bem duvidosos), na Web.

E de Estatísticas – As estatísticas valem o que valem mas é um bom modo de compreender o que os nossos leitores mais procuram no Not a Film Critic e consideram mais interessante. As ferramentas de medição que utilizamos são o Google Analytics e o Blog Tracker. A ferramenta da Google é utilizada desde o início e, poucos meses depois, começámos a utilizar também o Tracker. Este último, já teve alguns problemas incluindo um longo período de manutenção, durante o qual não mediu as visitas do blogue pelo que, se calhar, a sua utilização vai mesmo quedar-se por este ano. Em todo o caso, o cruzamento de dados permitiu chegar a algumas conclusões interessantes. No primeiro lugar do Top 10 de Posts com maior número de visualizações está o filme de culto “Noroi”, seguindo-se “Ip Man”, “Senjakala”, o “Top 5: Monstros do Cinema Asiático”, “Top 5: Filmes para ver no dia de Halloween”, “World Invasion: Battle Los Angeles” (alguém me ajuda a tirar isto do top por favor?), “Dream Home”, “Harry Potter and the Deathly Hallows part II”, “Ju-on – The Grudge” e “Ouija Board”. Está um top, em termos de países de origem, bastante equilibrado e até tem, para minha surpresa, um filme malaio no terceiro posto. No entanto, também entendo que a presença do World Invasion e do feiticeiro Harry Potter resulta do momentum da estreia, enquanto as outras pesquisas no top, resultam de uma procura consistente ao longo do tempo. Embora, “Ouija Board” resulte do engano natural que é pesquisar pela tábua de jogo. Durante este último ano, os termos de pesquisa mais curiosos foram sem dúvida “Como fazer um bongo”, “bonecas de borrar de medo” e “monstros de verdade”. Portanto, se alguém se quiser disponibilizar a responder à primeira questão, encontrar bonecas que metam medo e me souber indicar monstros de verdade, agradeço.

F de FilmPuff – É uma personagem, uma variação de moviebuff, mas podem ler mais sobre isso na Ficha Técnica do Not a Film Critic.


quarta-feira, 28 de março de 2012

"The Woman in Black", 2012

Há um elemento em “The Woman in Black” que funciona, em simultâneo, a seu favor e desfavor. Ele é Daniel Radcliffe. A grande questão que tem surgido em torno desta película, não é se é boa, ou mesmo sobre a estória, mas se o Radcliffe conseguiu sair da personagem Harry Potter. Muitos trocadilhos foram feitos a este propósito: “será que o Radcliffe conseguiu fazer o Harry Potter descansar em paz?”, “Daniel troca o género fantástico pelo género fantástico?!” ou “Apostado em sair da pele de um jovem feiticeiro torna-se pai”. Por isso, tiremos já esta questão do caminho. Ele fez a transição de personagem com sucesso. Se o seu desempenho foi suficientemente bom, isso é outra questão.“The Woman in Black” foi produzida pela emblemática Hammer Films em parceria com outros estúdios e baseia-se na obra de ficção homónima de 1983, escrita por Susan Hill. A Hammer Films, nascida nos 30, teve a sua época áurea entre os anos 50 e 60, oferecendo a actores como Peter Cushing e Christopher Lee, papéis hoje icónicos. Os seus filmes eram então designados “Hammer Horror”, sinónimo de qualidade. Com a chegada do século XXI, a Hammer Films foi comprada e deu-se a ressurreição embora tenha efectuado algumas escolhas infelizes como “The Resident” (2011). “Let me in” (2010) e “The Woman in Black” (2012), marcam o regresso definitivo da marca britânica Hammer.
Daniel Radcliffe interpreta o jovem advogado Arthur Keeps, cuja carreira entrou em espiral descendente após a morte da mulher durante o parto do seu único filho, Joseph (Misha Handley). O patrão dá-lhe uma última oportunidade de regressar à boa forma e envia-o para Crythin Gifford, uma pequena localidade isolada, na costa este do Reino Unido para pôr em ordem a papelada da falecida Senhora Dradlow. Lá, é recebido com hostilidade pela população que demonstra de modo veemente como a sua presença é indesejada. Com um filho pequeno, Arthur recusa-se a abandonar a terra sem aproveitar aquela poderá ser a última oportunidade de manter o trabalho. E este leva-o a uma mansão rodeada por um imenso pântano e neblina que com a subida da maré fica isolada da população. Cedo começa a ter visões e a ouvir barulhos que indicam que poderá não estar só naquela casa…
“The Woman in Black” está cheia de elementos que já vimos antes noutros filmes: uma mansão isolada, um cemitério, população local hostil, corvos… Os lugares-comuns da câmara também estão presentes, como sombras que surgem no fundo da tela por detrás do herói insuspeito e o seu reflexo ou marca em diferentes superfícies. Não devemos é equivocar-nos acerca do seu significado. A literatura gótica tem quatro ou cinco características que se podem encontrar com pequenas variações, em todas as obras: existe uma vítima indefesa contra um atacante ligado ao sobrenatural ou com poderes demoníacos, a acção passa-se dentro de “muralhas impenetráveis” que podem físicas ou psicológicas, veja-se por exemplo, “Wuthering Heights” da Emily Brontё ou “Rebecca” da Daphne du Maurier, ambos férteis na construção da sensação de isolamento e irremediabilidade de um destino negro. O edifício, uma catedral ou mansão gótica, normalmente abandonada ou com aparência degradada contribui para atmosfera excruciante, como um túmulo. Representa a morte espiritual e se o herói não sair da teia do seu agressor, a eventual morte física. É uma situação desigual pois o atacante conhece ou está ligado espiritualmente ao edifício que utiliza como instrumento de tortura consciente até quebrar o herói. Por fim e o que pode ditar a perda da sua vida, é a atracção-repulsão do herói pelo mistério.
Radcliffe podia ter sido mais do que competente se não tivesse outros argumentos contra si. Contracenar com os veteraníssimos Ciáran Hinds e Janet Mcteer deve ser muito complicado. Na verdade, Radcliffe eclipsa-se cada vez que os estes actores dão um ar da sua graça, em particular, uma Mcteer que interpreta uma personagem trágica. Depois, Radcliffe sofre do mesmo mal que Elijah Wood, a idade não passa por ele. Há-de estar na casa dos 30 e ainda ter a aparência de um adolescente. O filme teria beneficiado de um actor mais velho ou com essa aparência e não é pelos argumentos que tenho visto esgrimir de Radcliffe ser um pai e viúvo muito novo. Estamos na era Eduardina, as pessoas casavam e deixavam descendentes muito novas. O que me conduz à questão da morte das crianças. E sim, em “The Woman em Black” morrem bastantes crianças. Se são sensíveis a esse respeito, não aconselho o filme de todo. A cena inicial, em particular, é a mais marcante. Deixou-me um nó na garganta logo à partida. Mas mais uma vez, estamos no início do século XX, pelo que a medicina era muito pouco avançada e nem sequer teria ainda chegado a uma localidade remota. Não era raro casais terem uma dezena de filhos e menos de metade chegar à idade adulta. Por isso, não, Arthur não é um idiota por não se questionar por que morrem tantas crianças. No máximo é um idiota, por não actuar quando suspeita da verdade que poderá inclusive afectar a sua vida.  Mesmo assim, é um idiota tolhido pela dor. Muita da sua “dormência” deve-se a um luto ainda não finalizado pela morte da mulher. O grande mal reside pois no enredo. Passados 45 minutos é difícil não ter adivinhado a fonte do mistério e a sua resolução. No entanto, estamos até ao final, à espera da grande reviravolta que nunca chega a acontecer. A estória é pois básica, demasiado simples para o que vimos uma centena de vezes antes. Tem elementos do j-horror, mas relances apenas. “The Woman in Black” é na sua essência um drama gótico, com uma visão pessimista do mundo que poderá não corresponder ao ideal de filme das novas gerações mas, fiel à era que se propõe retratar. Três estrelas.

Realização: James Watkins
Argumento: Susan Hill (livro) e Jane Goldman (argumento)
Daniel Radcliffe como Arthur Kipps
Ciáran Hinds como Daily
Janet Mcteer como Senhora Daily
Mary Stockley como Senhora Fisher
Shaun Dooley como Fisher
Misha Handley como Joseph  Kipps

Próximo Filme: "Hong Kong Ghost Stories" (Mag gwai oi ching si, 2011)

domingo, 25 de março de 2012

Pecadilhos das Horas Vagas #2 - “The Killer Shrews”

Sabem aquele filme que sempre que dá na TV não conseguem desligar-se e vêem até ao fim? Aquele filme que todos acham um pouco parvo mas do qual vocês gostam secretamente? Lembram-se daquele velho filme que está gravado em VHS e não conseguem deitar fora? Ou que já viram tanto que a fita até já está meio estragada? Escrevam um texto, não uma crítica, mas uma confissão, sobre um filme da vossa preferência: o vosso guilty pleasure, sem medos ou censura, um “Pecadilho das Horas Vagas". O confessionário é vosso.

Por: Francisco Rocha do My One Thousand Movies


Eu não me lembro bem de quando comecei a ver filmes, mas vou presumir que comecei por volta dos 7 anos, altura em que os meus pais compraram a primeira TV. Estávamos então no início da década de 80, e ver filmes era das coisas que mais me agradava, e sinceramente, naquela altura não havia muito mais para fazer, apenas ver televisão ou brincar na rua. Neste tempo, a televisão tinha uma programação realmente decente, e era possível, por exemplo, ver um filme do Douglas Sirk em horário nobre. Acho que graças à televisão adquiri uma coisa que chamo de sensibilidade cinematográfica, uma espécie de sentido que me faz separar um pouco as águas. Sou uma pessoa que gosto de falar apenas dos filmes que me interessam, os que não me interessam simplesmente ignoro.

Esta tarefa de escolher um “guilty pleasure” não é tarefa fácil.  São 30 anos a ver filmes,  durante muito tempo não tive consciência do que era um Kubrick ou um Tarkovsky, mas tudo isso faz parte da nossa formação cinéfila.  O primeiro filme que vi no cinema foi o “A Fúria do Herói”, (First Blood), mas de maneira nenhuma o podia considerar um “pecado cinéfilo”. Vi muita coisa ao longo da minha vida, mas sobretudo, tudo o que vi foi porque quis.

Primeiro, era para ter escolhido a coleção de filmes da Troma. Depois o filme com o nome mais longo, e mais estúpido que já ouvi até hoje: "The Incredibly Strange Creatures Who Stopped Living and Became Mixed-Up Zombies" (acreditem que o filme é tão mau como o título sugere). Mas acabei por escolher um filme “menor”, mas que inconscientemente me causou umas boas gargalhadas.

“The Killer Shrews” é o seu nome, e foi realizado por um senhor chamado Ray Kellogg, em 1959.  Felizmente, este senhor só realizou quatro filmes na sua carreira, mas na sua última obra ainda dividiu a cadeira de realizador com John Wayne, em “Os Boinas Verdes”.

O filme conta-nos a história de um cientista, numa ilha remota, que tenta descobrir a cura para a fome mundial, tentando criar uma máquina para reduzir o tamanho das pessoas. Se forem menores as pessoas vão comer menos, se comerem menos haverá menos fome (ideia brilhante, como é que ainda não se pensou nisto no mundo real). Durante a operação algo corre mal, e em vez de diminuir ele acaba por arranjar maneira de aumentar o tamanho de umas criaturas... Quando eu vi as primeiras imagens do filme, pensei que "shrews" fossem cães da pradaria, ou alguma coisa a ver com cães normais. Depois de fazer uma pesquisa no google, descobri que "Shrews" não eram mais do que uns pequenos ratos, também conhecidos por musaranhos. Ou seja, os produtores do filme utilizaram cães para simular ratos gigantes. Ainda tentaram disfarçar a coisa, cobrindo os cães com umas vestimentas para que parecessem ratos gigantes. Mas sem sucesso.

Eu já tenho visto cães fazerem bons papéis no cinema, mas não é este o caso. Dado o orçamento que deve ter sido minúsculo estes devem ter sido os cães-actores mais acessíveis. Em determinados momentos do filme, até se ouvem os ratos-assassinos a...ladrar.

Depois de verem este filme, se cruzarem na rua com um cão mascarado, não desatem a gritar: "Socorro! Um Musaranho Assassino!".

* Filme Integral

Página no IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0052969/

Um grande obrigado Francisco! Este rato-cão / musaranho foi um excelente momento de entretenimento.

quarta-feira, 21 de março de 2012

"Tumbok", 2011

As superstições são parte integrante das nossas vidas e podem afectá-las em diversos graus. Podemos afirmar que não acreditamos nessas coisas, no entanto, não deixamos de entrar num novo ano com o pé direito e recusamo-nos a passar por debaixo de escadas. Alguns, levam-nas mais a sério e há países em que o número 13 foi erradicado das moradas e de serviços públicos. Até o facto de a garrafa de champanhe não se partir no batismo de um barco é considerado aziago. “Tumbok” é um dos maiores pesadelos dos supersticiosos tornado realidade. Reza a crença local que uma casa localizada no extremo de uma intersecção de ruas em T é o ponto focal de azar. De acordo com a corrente feng shui, uma intersecção em T é aziaga pois o Chi, a energia universal, flui muito rapidamente dos vários extremos para a casa ou pessoas no caminho, afectando negativamente a energia desse local. E pronto aqui termina a minha primeira tentativa como consultora habitacional de feng shui.
Grace (Christine Reyes) e Ronnie (Carlo Aquino) são um casal recém-casado cujas vidas parecem ser finalmente bafejadas pela sorte. Após a morte do pai de Ronnie, o jovem casal descobre que este possuía um apartamento em Manila. Por coincidência ou talvez não, foi para lá que Ronnie foi transferido por via de uma promoção dentro da força policial. Mas logo que chegam as coisas começam a correr mal. O casal é confrontado com Mark, o administrador demasiado simpático do prédio e um edifício praticamente vazio. Parece um negócio demasiado bom para ser verdade. E é. Entre os poucos vizinhos, encontram-se um grupo de estudantes barulhentos, um casal que se envolve em frequentes disputas domésticas e uma criança que vê coisas que não existem.Grace fica todo o dia em casa a efectuar as mudanças enquanto Ronnie vai trabalhar. Ela começa quase de imediato a ter visitas inesperadas. Durante o dia é assolada pela sensação de que não se encontra sozinha e durante a noite sonha que é molestada. Ela está assustada mas nega a impressão inicial a bem de uma vida melhor. Grace aguenta o que pode mas depressa o ambiente se torna opressivo. Ela prefere voltar a uma vida sem perspectivas no campo a permanecer naquele polo do mal. Ronnie pelo contrário torna-se inflexível e recusa-se a desistir da vida em Manila, afectado que está pela pressão do novo trabalho e sem dinheiro na conta. Será que estão a ser atingidos pelas más energias da intersecção em T? Ou não passará de uma obra do acaso e logo virá a mudança.
“Tumbok” é uma boa ideia com uma dupla de actores minimamente competente. Se não se deixarem levar no engodo de uma Christina Reyes em calções e com a roupa bem colada ao corpo, atente-se à sua vulnerabilidade e presença envolvente. A câmara enamora-se de Christine. Não é de admirar que Reyes seja uma das maiores sex symbol filipinas. Carto Aquino é a metade menos credível do casal. Só passada boa metade da película é que se descobre um passado negro na história de vida de Ronnie que poderá ter algo que ver com a má sorte que se abateu sobre o casal. Quando todos os sinais não apontam, GRITAM, que o melhor que ambos devem fazer é empacotar os haveres e voltar à aldeia Ronnie continua a negar-se a regressar. Pois, que o mais importante é o trabalho e não a sanidade mental e bem-estar físico da jovem mulher. Se os problemas financeiros são o motivo principal para não saírem dali não é como se não tivessem alternativas. Ronnie e Grace podiam vender ou alugar o apartamento. Enquanto não juntassem dinheiro Ronnie podia ir viver para um quarto enquanto Grace regressava para casa dos pais a titulo temporário. Mas pronto, o argumento não é meu. É suposto transmitir um momento de grandes contrariedades e dificuldades de cariz monetário que os forcem a permanecer num prédio com bad juju (leia-se azar). O prédio, esse sim, é a grande estrela da película com a sua fachada degradada imponente. As pessoas, os sons, o ruído, o mundo, tudo conflui para o prédio. A outra personagem digna de nota é a enorme escadaria, a qual é convenientemente secundarizada com um elevador sempre avariado. É o único toque de excelência na realização de Topel Lee por que o resto… Quem não o viu antes? Cenas no banheiro? Soa o alarme de fantasmas. Vultos a atravessar corredores? Soa novo alarme. Aumento súbito de volume do som? Es-pí-ri-tos! Agora, eis o que me aborrece deveras, por que é que tem de existir sempre uma espírita ou mulher supersticiosa para avisar os heróis sobre o mal que impende sobre eles? Haverá truque mais gasto? É que é a melhor amiga bonitinha ou a velhota estranha. E já agora há algum motivo para o Ronnie sacar do distintivo a toda a hora? Algo complexo de autoridade? Being a cop will get you places! Hmmmm… “Tumbok” consegue ser ligeiramente assustador vagamente original mas acredito que tenha superior impacto para o ocidental do que para o cidadão filipino acostumado a tais superstições. Topel Lee tem no currículo suficientes incursões no cinema de terror para fazer muito melhor. Não é nenhum Chito Roño ou um Yam Laranas. Temos pena. Duas estrelas e meia.
Realização: Topel Lee
Argumento: Topel Lee
Cristine Reyes como Grace
Carlo Aquino como Ronnie
Ryan Eigenmann como Mark
Ara Mina as Rita
LJ Moreno como Lumen

Próximo Filme: Pecadilhos das Horas Vagas #2

domingo, 18 de março de 2012

Cineuphórica pela animação!


Passado dia 14 de Março, tive oportunidade de assistir à cerimónia de entrega dos prémios Cineuphoria, destinados a reconhecer a produção cinematográfica estreada no ano anterior em Portugal quer em salas de cinema, televisão, internet ou festivais de cinema, e devidamente publicados no CinEuphoria (…)
A iniciativa, organizada em colaboração com o Portugal Fantástico foi uma celebração da produção nacional com a exibição de curtas-metragens portuguesas: “Bats in the Belfry”, “Conto do Vento”, “A Cova”, “Faminto”, “O Vôo da Papoila”, “S.C.U.M” e “Shadows”.
Foi uma excelente oportunidade de conhecer a ficção nacional e foi curioso notar como a maioria das curtas apostaram em estórias fantásticas e/ou de acção. Mas foram as curtas de animação que roubaram o espectáculo.


“Bats in the Belfry” (2010)

“Bats in the Belfry” é uma curiosa expressão inglesa que significa alguém que é um pouco tonto ou não está bom da cabeça. Bats são morcegos e belfry é o campanário. Por isso, se alguém tem morceguinhos no campanário é porque não bate bem da cuca, coitado. Ricos morceguinhos teve o João Alves que fez tudo o que era humanamente possível nesta curta-metragem: realização, produção, argumento, voz, música e montagem.

Bats in the Belfry  narra a história de Deadeye Jack que após uma frustrada  tentativa de assalto durante o dia, tenta retomá-lo usando a noite como cobertura mas ao surpreender os donos do dinheiro, Jack interrompe uma refeição da qual se arrisca a tornar-se o prato principal.

Deadeye Jack é o tipo loner dos westerns spaghetti que só quer estar na dele. Dar um golpe de vez em quando para o gastar em bebida e mulheres. Cada um com os seus vícios e ele não deve nada a ninguém. No fundo, é um tipo simples que só quer ser deixado em paz. Apenas não tem nada de deadeye, quando saca da pistola é mortal. Até que durante um golpe se depara com vampiros. Sim, vampiros no velho faroeste. Depois de alienígenas em westerns e zombies no século XXI, não é como se fosse um absurdo. “Bats in the Belfry” tem reunido entretanto, uma série de prémios incluindo o de melhor curta de terror portuguesa no MOTELx 2010, melhor animação de 2010 do Shortcutz Lisboa e o melhor jovem realizador de 2011 do Fantasporto. Até faz parte da selecção oficial do "A Night of Horror International Film Festival" na Austrália, quase nos antípodas de Portugal! A geração dos anos 90 que cresceu com “Samurai Jack” e Dexter’s Lab” encontrará nestas as séries as referências essenciais para esta obra de João Alves. Um docinho para os mais saudosos, uma curiosidade para os novos fãs. "Bats in the Belfry” é uma obra inteligente, que junta comédia e terror aproveitando a obsessão actual com tudo o que é fantástico: mortos-vivos, vampiros, monstros... A ver!

Realização: João Alves
Argumento: João Alves
João Alves como Deadeye Jack (voz)
Rita Soares como Mulher (voz)


“Conto do Vento” (2010)

Desde que estreou no Festival Avanca 2010, nunca mais parou. Bóreas acolheu o “Conto do Vento” nos seus braços de titã e levou-o, com o vento, por esse mundo fora, colhendo prémios. Na Grécia, recebeu o  Prémio Animação do Naoussa International Film Festival 2011, na Albânia, recebeu a distinção de "Melhor Filme de Animação" do Festival Internacional de Cinema de Tirana e no Brasil, foi eleito o melhor filme da Mostra Ibero-Americana do Festival Visões Periféricas e continua a arrecadá-los por onde passa.

É uma fábula sobre uma menina e a sua mãe numa sociedade preconceituosa, algures no interior norte de uma aldeia portuguesa.

“Conto do Vento” é uma realização conjunta de Cláudio Jordão e Nelson Martins que também escreveu o argumento. É uma estória sobre pessoas singulares numa sociedade preconceituosa, um misto de fé com ignorância. Quando surgem pessoas que ameaçam o status quo o grupo tenta reprimi-las. Isto acaba por suceder com consequências devastadoras. A menina, que ouvia o vento e o sentia, una com a natureza, acaba por conhecer a maldade do ser humano. Como o bom selvagem de Rousseau, a humanidade corrompe-a para, em última análise, a tornar igual a eles. De notar, o recurso à animação 3D que faz de o “Conto do Vento” uma grande trip visual, que não será adequada para o espectador com maior sensibilidade, nomeadamente, quem sofre de vertigens. A narração de Maria D’Aires, a sobreposição da voz da menina com a mãe, da inocência com a experiência, palavras transportadas pelo vento está fantástica. E é uma das grandes forças da produção apoiando, as imagens já de si poderosas. O “Conto do Vento” é uma criação portuguesa imprescindível.

Realização: Cláudio Jordão e Nelson Martins
Argumento: Nelson Martins
Maria D'aires (voz)

Se “Bats in the Belfry” é o melhor das referências estrangeiras, em língua inglesa, a pensar num público universal e feito sem praticamente sem apoios, o “Conto do Vento” é o melhor do Portugal ancestral, de interior e tradicional, pensado como reflexão do que é ser português, falado na língua de Camões e com o financiamento do ICA/Ministério da Cultura e da RTP. São diferentes modos de pensar animação. Ambos possuem os seus méritos ou não tivessem tido o acolhimento do público e de júris a nível internacional. No entanto, urge pensar o cinema com uma perspectiva artística e de mercado. Não é “Bats in the Belfry”, um produto tão meritório por si próprio, que mereça o escrutínio das entidades públicas cujo projecto de existência é precisamente o de apoiar a cultura nacional? É apenas o Portugal tradicional, supersticioso e às vezes comezinho, o único que pretendemos mostrar lá fora?


Próximo Filme: "Tumbok, 2011"

quarta-feira, 14 de março de 2012

"Troll Hunter" (Trolljegeren, 2010)

ATENÇÃO, trailer com spoilers!


Quando o género found footage definha em termos criativos e já não há paciência para fantasmas, monstros, bruxas e demónios eis que surge uma nova esperança sob a forma de um troll. Não é uma comédia nem é anedota. "Troll Hunter” é um filme sobre trolls feios, brutos e maus. 

A Escandinávia alberga um folclore tão rico que dá para alimentar filmes durante algumas décadas. Nenhuma criatura possui tanta magia e ao mesmo tempo foi tão pouco explorada, fora do seu lar, como o troll, essa besta primitiva milenar que habita cavernas, montanhas ou florestas de vegetação alta. Ele só pensa em comer, defecar e dormir. Nestes aspectos, não é muito diferente das outras criaturas do reino animal. Nisto, entra a mitologia, o troll caça durante a noite e dorme durante o dia num qualquer buraco obscuro. Os raios de sol não podem entrar em contacto com a sua pele, caso contrário, transforma-se em pedra. É por isso que as crianças não têm o que temer durante o dia e não se devem aventurar fora de casa após o crepúsculo. A pouca razão do troll possui vai para a sua aversão aos cristãos. O simples farejar de um põe-no doido, fora de si. A crença cristã está além da sua compreensão. É natural que a uma criatura egoísta e, ocasionalmente, devoradora de homens, o sacrífico e a compaixão façam confusão.
A narrativa inicia-se com o aparecimento de um número invulgar de ursos mortos. Um grupo de estudantes universitários suspeita de caça ilegal e decide realizar um documentário sobre o sucedido. A equipa, liderada pelo inquisitivo Thomas (Glenn Erland Tosterud) depressa tropeça numa estória mais interessante do que à partida se podia esperar. Se os ursos estão a ser atacados por um urso de outra espécie, maior, por que é que as feridas contradizem a teoria? Se os animais são o alvo de caçadores ilegais, por que é que estes não levam troféus? E mais estranho ainda, por que andam agentes governamentais a rondar os locais dos ataques? O documentário conhece grandes desenvolvimentos quando os estudantes começam a seguir uma carrinha peculiar que surge com frequência, junto dos cenários de crime. Quando finalmente se acercam do condutor as suas convicções são abaladas. Ele é Hans (Otto Jespersen), um caçador de trolls. Eles existem na Noruega e são eles os autores dos ataques recentes. Os estudantes dividem-se entre a incredulidade e o gracejo. Não deve existir muito mais naquela estória do que uma explicação racional. Um urso perdido com certeza anda a provocar todos aqueles estragos. Provavelmente será melhor regressar à universidade com o pouco crédito que ainda têm, antes de se tornarem a anedota do campus. Então, o excêntrico convida-os para uma caçada de trolls. Apenas Thomas acredita que vale a pena continuar a seguir Hans.
Por estapafúrdia que a ideia da existência de um troll da Noruega seja, esta imagem não é mais irrealista que um pocong indonésio ou um pontianak malaio. Cada região, sua superstição. E “Troll Hunter” é tratado com um cuidado tal, seja pela adaptação do folclore escandinavo e uma atenção aos pormenores elevada, que a narrativa se distancia do absurdo e surge com um mínimo de credibilidade. O caçador é um homem de meia-idade experiente, que vive como um nómada. O seu dever é assegurar que as pessoas desconheçam a existência dos trolls. Por que não? Eles já cá andam há tanto tempo quanto o ser humano e são tão estúpidos que, mantidos à distância, dificilmente causarão algum problema. Mas ele está tão saturado e é tão solitário que estar rodeado de jovens entusiastas é um mal menor. A sua frieza é calculada, um mero artifício para esconder a satisfação de ser seguido, admirado até. Admiramo-lo pois claro. Como não admirar quem vive da caça de uma besta gigante, sem ninguém para o apoiar, sem saber se irá regressar? “Troll Hunter” é humor, sátira e terror num só pacote. Øvredal oferece-nos todas as emoções do terror de uma caçada inesperada, como se de um qualquer animal selvagem e perigoso se tratasse, com a dose certa de humor de casa de banho. Isto, enquanto ridiculariza os crédulos, que acreditam nas estórias que o Governo lhes conta. É o desejo de segurança, de conforto e ignorância consentida que lhe dá, ao Governo, a liberdade de fazer o que ele quiser com a sua liberdade. Podiam ser trolls, podia ser outra coisa qualquer. Em simultâneo, a narrativa não possui grandes soluções. É mais um conjunto de buracos que deixamos passar, por tão entretidos que estamos. Uma linha de alta tensão em círculo? Quem se importa com isso? E como dizia o Mike Soonian do “All Things Horror”, no outro dia, os trolls terão sido criados em imagem gerada por computador, mas fariam um Jim Henson orgulhoso. Não posso concordar mais. Já estou à espera de um found footage sobre fadas. Três estrelas e meia.


Realização: André Ovredal
Argumento: André Ovredal e Havard S. Johansen
Otto Jespersen como Hans (caçador de trolls)
Glen Erland Tosterud como Thomas
Johanna Morck como Johanna
Thomas Alf Larsen como Kalle

Próximo Filme: "Tumbok", 2011

domingo, 11 de março de 2012

"Doll Master" (Inhyeongsa, 2004)

 
Comecemos por esclarecer uma questão. Quando se assiste a um filme de terror, é suposto que este assuste. Sobressaltos, arrepios, tapar a cara com as mãos e espreitar por entre as frestas… Bem, queremos tudo aquilo a que temos direito (ou o nosso dinheiro pagou). Por isso, é no mínimo frustrante que tenhamos de aguardar, digamos, 45 minutos para termos direito a algo que se assemelhe ao de leve a terror. Ainda mais, quando esse filme tem o bonito nome de “Doll Master”. Bonecas. Aterradoras e assassinas como convém. Quem estiver à espera de um novo Chucky coreano prepare-se para ficar desiludido. O único laivo de inteligência em “Doll Master” é a escolha da temática. O medo de bonecos, ventríloquos, mais ou menos animados, de cera, plástico, etc, ou a automatonofobia é bastante comum. Recordo-me do momento em que finalmente decidi ver “Doll Master”. A primeira imagem que surgiu no meu cérebro foi a de uma amiga que tinha um medo irracional das bonecas de porcelana com olhos de vidro. Ela dizia-me sempre que “não gostava de olhar para elas por que as sentia a olhar para ela de volta”. Como se elas tivessem alma e estivessem, calmamente, a avaliar a dela. Já sentem arrepios? Deduzo pois, que o argumentista não tenha efectuado uma pesquisa demasiado árdua, sobre esta fobia tão interessante. O melhor que conseguiu cozinhar foi uma estória pateta. 
Os créditos iniciais demonstram um artista que no seu enlevo por uma jovem mulher, criou uma boneca em tamanho real à sua semelhança. Mais ninguém acha isto esquisito? Entretanto, um dia a sua musa surge morta, assassinada. Logo o artista, um homem estranho e um forasteiro é acusado pela população da vila de ter cometido o acto. Ele é sumariamente acusado e condenado à morte. Diz que desde então, a boneca é avistada sobre o seu túmulo, como que a velar por ele. Mas nesta estória dos tempos modernos, é Galateia que persegue o Pigmalião. Uma Galateia capaz de cometer homicídio por ele...
Muitos anos passam e cinco estranhos são convidados para servir de modelo a uma criadora de bonecas. Como não podia deixar de ser, o atelier encontra-se num casarão no meio da floresta. Nada de suspeito, portanto. O grupo compreende Hae-mi (Yu-mi Kim) uma escultora, Tae-seong (Hyeong-tak Shim) um modelo masculino e Yeong-ha (Ji-young Ok) uma jovem com uma relação pouco saudável com o seu boneco Damian. Mais alguém encontra aqui uma coincidência engraçada com o nome Damien de “The Omen” (1976)? A terminar o grupo estão Sun-Young (Ka-young Lee) uma jovem desmiolada e o fotógrafo Jeong-ki (Hyeong-jun Lim) com um autocolante na testa onde se pode ler “predador sexual” (esta última parte inventei).
Os primeiros momentos do encontro são passados a explorar a mansão e a conhecerem-se melhor. Muito ao estilo de “The Haunting” (1999). Depois são apresentados à criadora de bonecas, a senhora Im (Bo-young Kim), uma mulher meio estranha, confinada a uma cadeira de rodas. Se até aqui, ainda não tivessem soado alertas, agora são sirenes. Entretanto, Hae-mi também encontra por lá a cirandar uma tal de Mi-na (Eun-kyeong Lim), uma moça com um vestido encarnado infantil. Ela parece deslocada do cenário e recorda a protagonista de algo bem longínquo, nos confins da memória, que não se sabe até à reviravolta final, o que é.
“Doll Master” torna-se consistentemente mais surreal e mais complicado a cada nova cena. Por quanto o final fosse previsível a um quarto de hora do visionamento, estão sempre a surgir novas complicações dispensáveis para a conclusão da película. Ou como se costuma dizer, para disfarçar a ausência de uma estória sólida. Hae-mi é uma das mais infelizes heroínas que já tive oportunidade de ver em cena. Quando os companheiros começam a perecer, ela entra num “choque histérico” que lhe tolda o raciocínio e lhe reduz em muito a capacidade de reacção. A sua contraparte, Tae-seong é pouco menos apelativa. É demasiado fácil compreender que a sua agenda nada tem que ver com uma carreira de modelo. No campo das actuações só Mi-na pontua. Excelente no papel de uma boneca viva que alterna entre o diabólico e o inocente. De facto, foi criada uma boneca articulada, tendo como modelo a actriz. A semelhança entre as duas é extraordinária. E devia ter sido ela a obter o maior tempo de ecrã. Se provas faltassem, veja-se que a boneca com o nome da personagem "Mi-na", esgotou pouco depois da estreia do filme. As bonecas articuladas de “Doll Master” fizeram ressurgir o interesse de colecionadores. Notem bem como foram feitas para excêntricos, as bonecas têm direito a nome, data e local de nascimento, acessórios e casas como se de pessoas verdadeiras se tratassem. 
“Doll Master” apenas tem uma morte particularmente macabra e logo de uma das personagens mais cómicas em todo o filme. É pouco, muito pouco e tardio. Convenhamos que ter bonecas em tamanho real, penduradas de candeeiros e na cabeceira da cama seja um bocadinho perturbador. Mas não se entusiasmem, que o clímax é… anti-climático. Tanta espera/desespera, por nada. No preciso momento em que algo importante sucede a uma das personagens, o realizador corta a cena. Não há goodies para ninguém. Yong-ki Jeong deve ter medo de realizar um verdadeiro filme de terror e adiou ou cortou tudo o que podia tornar “Doll Master” aterrador. O que não falta em “Doll Master” são preliminares, pena que a conclusão seja tudo menos excitante. Uma estrela e meia. 
Realização: Yong-ki Jeong
Argumento: Yong-ki Jeong
Yu-mi Kim como Hae-mi
Eun-kyeong Lim como Mi-na
Hyeong-tak Shim como Tae-seong
Ji-young Ok como Yeong-ha
Hyeong-jun Lim como Jeong-ki
Ka-young Lee como Sun-Young
Ho-jin Chun como Choi Jin-wan (curador)
Bo-young Kim como Senhora Im (a artista)


Próximo Filme: "Troll Hunter" (Trolljegeren, 2010)

quarta-feira, 7 de março de 2012

"Haunted Village" (Arang, 2006)

O cinema sul-coreano sempre teve um fraquinho por mistérios. Grandes detectives forjados num cenário de tragédia pessoal desbravam caminho por entre os casos mais difíceis, até à sua resolução. So-young (Yun-ah Song) é uma detective determinada e perspicaz assombrada pelo passado, que a compele a entregar-se de corpo e alma a cada novo caso.

Depois de um período de suspensão por deixar as suas emoções levarem a melhor sobre si, num caso de violação, So-young regressa ao activo para investigar as mortes de uma série de homens que começam a surgir brutalmente assassinados. Todas as vítimas parecem ter ingerido ácido. Mais estranho ainda, todos eles, velhos amigos de infância receberam o mesmo e-mail antes da sua morte. Este contém um link que encaminha os internautas para uma página gerida por uma bela jovem e uma casa de sal. Em conjunto com um novo parceiro Hyun-ki (Dong-wook Lee), So-young faz uma viagem ao meio rural para encontrar a casa de sal e compreender, se existe uma ligação entre os dois eventos. “Arang” é uma sucessão de erros e lugares-comuns. Uma das cenas inicias é a de um casal no dia do seu casamento, rodeado de amigos prestes a tirar a fotografia da praxe. Os meus neurónios efectuaram logo uma ligação directa ao “Shutter” (2004). E sabem que mais? Não está muito longe. Ao longo de “Arang”, temo dizer que esta sensação é recorrente.
A novela detectivesca pode ser recuperada a outros filmes e como não podia deixar de ser, existem elementos sobrenaturais, nomeadamente, a mulher de longos cabelos negros com mau feitio.
“Bestseller” (2010), é uma cópia tirada a papel químico de “Arang” com a vantagem de ser mais eficaz e a desvantagem de ter estreado quatro anos mais tarde. Também a comparação entre as duas actrizes principais é inevitável e nesse campo, “Arang” fica a perder. Não é que Yun-ah Song não seja competente mas o que não faltam nestas produções são actrizes competentes e Jeong-hwa Eom é excelente. Além disso, a imagem da tecnologia como meio portador da morte está por demais desgastado. “Pulse" (2001), “Ring” (1998) e “The Grudge” (2008), pertencem definitivamente ao manual de assombrações do realizador Sang-hoon Ahn.
A dinâmica entre a dupla de detectives é boa, não sendo levado ao extremo o polícia novato vs. Polícia veterano. A sua relação também está no centro da maior reviravolta de todo o filme.
No entanto, apesar da peculiaridade das mortes que dão inicio à trama o caminho para a sua resolução nada tem de extraordinário. A linha de investigação resulta mais de saltos ilógicos que do seguimento de pistas à semelhança de uma verdadeira inquirição policial. Quando So-young decide, realizar uma intervenção cirúrgica de improviso ao cadáver do cão de um dos mortos, é surreal. Desde a justificação desta acção ao modo como a própria cirurgia é realizada, é tudo demasiado fantástico para ser verdade. Tipo, quantos procedimentos de segurança e higiene quebraram logo ali? Uma prova obtida por tais meios alguma vez teria admissibilidade em julgamento? E imagine-se só, eles encontram um vídeo entre o conteúdo do estômago da criatura. Uau. Que poder de dedução extraordinário. Para mais, o vídeo encontra-se em óptimas condições. Os ácidos no estomago do bicho não chegaram a corroer a prova nem nada. Espectacular.
Mas talvez o aspecto mais surpreendente num filme como “Arang” em que existem cenas tais como: “embora autopsiar um cão, sem instrumentos cirúrgicos por que tenho um palpite”, a película mantém a seriedade e prende a atenção do espectador. É interessante seguir So-young perseguir um caso que lhe está tão próximo do coração e vê-la conter-se para não perder a frieza analítica de detective para levar o seu empreendimento até ao fim. Como Ícaro ela quer voar cada vez mais alto, mas com a prudência recém-adquirida de quem não quer perder os ventos favoráveis de Zéfiro e cair do céu. “Arang” tem suficientes argumentos para não se deixar cair na tentação de seguir os truques de uma vintena de filmes que lhe antecederam o que, infelizmente, não acontece. Em última análise, “Arang” acaba por adoptar uma via feminista, da mulher que faz justiça pela mulher que não se pode defender e da mulher que pode ser fraca mas escolhe não ser uma vítima. E o desenlace podia ter sido verdadeiramente especial se o cineasta se tem quedado pelo encerramento do caso de polícia. Não. Por algum motivo, (atenção, spoiler), a assombração não morre com o caso e toma como sua vendetta pessoal as ofensas a So-young, deixando o caminho aberto para a sequela que, até hoje, não se materializou. E como se costuma dizer, de boas intenções está o inferno cheio. Duas estrelas.


Realização: Sang-hoon Ahn
Argumento: Sang-hoon Ahn, Seon-ju Jeong, Jeong-seob Lee e Yun-kyung Sin
Yun-ah Song como So-young
Dong-wook Lee como Hyun-ki


Próximo Filme:  "Doll Master" (Inhyeongsa, 2004) 

terça-feira, 6 de março de 2012

Passatempo 31 de Março - T-shirt de Nightmare before Christmas

Depois de uma centena de filmes, uma dezena de votações e a diversificação de conteúdos noutros websites, dos quais tenho muito orgulho e retiro um imenso prazer, o Not a Film Critic faz um ano de existência.

“31 de Março” é a data que deu inicio a tudo isto.

Pensei e repensei sobre o melhor modo de comemorar esta ocasião e cheguei à conclusão que se um ano depois, o Not a Film Critic ainda aqui está, com a regularidade possível, é devido àqueles que o visitam, comentam e o abordam nas redes sociais.
Assim, o Not a Film Critic associou-se à PTMerch para oferecer a um de vós felizardos a t-shirt* de um tipo porreiro. O seu nome é Jack, não é deste mundo, tem voz de tenor e, se calhar, até provoca pesadelos nas criancinhas. É também uma das minhas personagens de animação preferidas. Se querem ganhar esta t-shirt só têm de completar três passos muito simples:

1) Gostar da página de Facebook do Not a Film Critic
2) Gostar da página de Facebook da PTMerch
3) Deixar uma frase ou imagem criativa no post da imagem da t-shirt na página de #FB do Not a Film Critic

Temas à escolha:

Geral: Cinema de Terror ou
Filme: Nightmare before Christmas ou
Personagem: Jack Skellington


Deverão realizar estes passos até 31 de Março às 00:00. No dia seguinte, anunciaremos o vencedor nas nossas páginas de facebook e entraremos em contacto para solicitar dados de envio. O vencedor será escolhido em conjunto pelo Not a Film Critic e a PTMerch. Podem escrever um poema, uma frase, prosa, ou até criar uma imagem (desenho, fotografia) … o que preferirem, sobre um dos temas à escolha, ganha quem demonstrar maior criatividade!

Nota: Se optarem por uma imagem e não a conseguirem colocar  no mural do Not a Film Critic, ponham-na no vosso mural, identifiquem a imagem através da tag ou coloquem o nosso nome no título da mesma. Se persistirem dificuldades, mandem-nos um e-mail para filmpuff[at]sapo.pt.

*Modelo em preto. Tamanho Large.

Têm ainda 25 dias para participar. Deixem-se inspirar e boa sorte!

domingo, 4 de março de 2012

"Phoonk", 2008





"No, no, no, no, don't Phoonk with my heart". Entra uma bela Indiana a cantar, de olhos negro de khol e um sari colorido. Junta-se a ela um belo espécimen do sexo masculino com os seus melhores passos de dança. E em breve, sabe-se lá de onde, entra uma centena de bailarinos a cantar e a rodopiar nas suas vestes ricas, igualmente coloridas. O par canta e esgrime argumentos até à inevitável reconciliação. O momento musical termina com o casal a aproximar-se com uma sugestão de um beijo…

Admitam lá que foi este o cenário que idealizaram após a sugestão de um filme made in India? “Phoonk” não podia estar mais longe do filme típico de Bollywood e menos perto das películas ocidentais. Rajeev (Sudeep) é um homem de posses que vive uma existência pacata com a sua mulher, mãe e os dois filhos do casal. Ele é o chefe inflexível de uma empresa de construção. Quando os seus trabalhadores descobrem uma estátua do deus Ganesh no seu mais recente local de escavação, ele recusa-se a deixar os trabalhadores construir um santuário. Para ele, tempo é dinheiro e a religião, um absurdo. Nem a sensatez dos seus sócios mais chegados consegue chegar a ele. Esta atitude choca a sua mãe, mulher e criada, todas elas profundamente devotas e tementes aos deuses. Rajeev gosta de pensar em si próprio como um homem mais liberal que a maioria. Ela condena as superstições comummente aceites mas, a despeito das suas próprias convicções, deixa o seu lar ser palco das deferências aos deuses. Também desvaloriza os avisos dos seus empreiteiros relativamente a um casal em quem Rajeev depõe toda a sua confiança. Sobretudo Madhu (Aswini Kalsekar),  a mulher do casal é alvo de desconforto, com os seus maneirismos e olhares estranhos. Quando Rajeev é confrontado com provas irrefutáveis de desfalque por parte do casal, ele perde a calma e humilha-os em público. A bruxa não perdoa a perda de face e jura vingança. A partir desse momento, a paz familiar de Rajeev passa a ser abalada. O principal alvo é a sua filha Raksha (Ahsaas Channa), que começa a manifestar um comportamento muito distante da sua disposição doce. Segue-se uma luta de convicções: o mal que os afecta tem a sua fonte em superstições absurdas, como diz Rajeev, ou tudo tem uma explicação racional? Entram em campo médicos e psiquiatras, espíritas e xamans na batalha pela saúde de Raksha e o bem-estar de toda a família.
“Phoonk” peca por se afastar demasiado do que á a India e aspirar à comparação com o ser ocidental. A identidade indiana seria a maior força de “Phoonk” se ao menos este estivesse imbuído de todo o misticismo da religião Hindu. Eles tinham toda uma história e a facilidade do quotidiano mas preferiram quedar-se por manifestações fracas de devoção. Esta vale por si mesma e nunca são explicadas as suas graças para que tantos milhões a sigam de olhos fechados. No outro lado da barricada encontra-se Rajeev, ateísta que contrasta em absoluto com uma mãe crente. Tal como não se explicam os contornos da religiosidade das personagens, ainda que a India e o hinduísmo estejam intimamente interligados, também não se entende a aversão de Rajeev à religião. Perdeu a fé? Nunca a teve de todo? Este background era essencial para a trama ganhar contornos de urgência. Se o objectivo dos cineastas era levar-nos a questionar as nossas próprias crenças, elas não podem pois, ser tratadas com superficialidade. Num filme sobre possessão, valha-nos ao menos, uma causa para esta acontecer. Em “Phoonk” a raiz do mal é uma vingança consumada mediante magia negra. Ao contrário dos outros filmes de possessão que estreiam aos magotes, “The Exorcism of Emily Rose” (2005), etc. A vítima não é uma jovem inocente escolhida mais ou menos aleatoriamente entre os biliões que habitam este planeta. Não. Rasha é um alvo, selecionado precisamente pela ofensa do seu pai. A pequena actriz encarna uma vítima de possessão que alterna entre o “possuído para totós” e um cansaço demasiado genuíno para uma pessoa tão jovem. Mas não há duvida que se inicialmente o seu desempenho era conducente a algumas gargalhadas, à medida que a película avança para a recta final, Raksha é uma menina esgotada por quem não conseguimos não ter dó. O problema que mais aflige “Phoonk” é a duração descabida, mais do que planos escusados de brinquedos e o exagero de alguns actores.  Muito depois dos requintes de malvadez, há um enfoque desnecessário no melodrama familiar. “Phoonk” nunca chega a provocar o terror dos seus congéneres ocidentais no género da possessão. “Phoonk” não funciona como produto de exportação mas a nível interno revelou-se um grande êxito, tendo já uma terceira sequela a caminho. Lamento que com tão rica matéria-prima consubstanciada no hinduísmo que poderia suplantar em originalidade as habituais alusões à religião católica, os cineastas se tenham quedado por registo seguro. Assim, “Phoonk” passa despercebido. Pode ser concebido como um mal menor. Duas estrelas.

Realização: Ram Gopal Varma
Argumento: Milind Gadagkar, Sandeep Nath e Prashant Pandey
Sudeep como Rajeev
Amruta Khanvilkar como Arati
Ahsaas Channa como Raksha
Ganesh Yadav como Vinay Dev
Aswini Kalsekar como Madhu


Próximo filme: "Haunted Village" (Arang, 2006)

quinta-feira, 1 de março de 2012

"Hansel & Gretel" (Henjel gwa Geuretel, 2007)


Era uma vez um rapaz que tinha medo da responsabilidade. Ele tinha tanto medo que preferiu fugir a enfrentá-la. Nisto, um estranho tipo de magia interveio e ele foi parar a uma floresta encantada. Esta esconde um casarão, daqueles que se desejam em sonhos e o conforto e todas as coisas boas que se podem conceber no mundo da imaginação, onde foi recebido por crianças de faces rosadas que a lá permanecer para todo o sempre.
Eun-Soo (Jeong-myeong Cheon), pois que esse é o seu nome, nem por um momento se sente tentado a permanecer. A sua ânsia de escapismo, não é, afinal, assim tão forte, nem as saudades daqueles que deixou para trás tão fracas. Então, decide ir-se embora, voltar ao mundo real e nele, confrontar todos os seus medos. Só que Man-bok (Won-jae Eun), Young-hee (Eun-kyung Shim) e Jung-Soon (Ji-hee Jin), não o querem deixar partir. Eles guardam um segredo terrível, um que prende com amarras, todos aqueles que por ali passem e esmaga todos os que atentarem contra eles. Eun-Soo vê-se assim, obrigado a calcular todos os seus passos com cuidado para não magoar as crianças, nem atrair a sua fúria. Mas ele não deixou um rasto de migalhas desde a casa de gengibre até à estrada para a liberdade. Como regressar?
“Hansel & Gretel” é mais uma incursão no imaginário dos Irmãos Grimm. Esta estória tem passado ao lado de outros grandes clássicos sobre explorados como a Bela Adormecida e mais recentemente, a Branca de Neve. Este filme sul-coreano é uma versão modernizada, na qual, mais depressa se encontram ecos simbólicos da narrativa original do que uma interpretação literal. Apenas a cinematografia parece ter ido buscar inspiração directamente a gravuras antigas, conferindo a esta obra do novo milénio um exterior delicioso. A composição musical de Byung-woo Lee é um regalo para os saudosistas pois parece retirada dos grandes filmes de fantasia dos anos 80. A identidade sul-coreana não se perde nas alusões a um mundo mágico importado da velha Europa. O elenco, das crianças aos adultos, é um portento. E os eventuais contornos dramáticos são uma trademark em si mesma. Este conto negro e belo ao mesmo tempo recebeu por isso, aclamação a nível internacional e no Fantasporto de 2009 chegou mesmo a arrecadar o Grande Prémio da Secção Orient Express. Onde “Hansel & Gretel” se perde é na narrativa. A motivação de Eun-soo é uma incógnita. Ele é apresentado, num primeiro momento como um inconstante que aspira à liberdade por oposição aos constrangimentos que a vida coloca no seu caminho. Mas assim, que surge a oportunidade de fuga perfeita ele não hesita um único momento em rejeitá-la. Ele sabe que a sua vida está com aqueles que umas horas antes desejava desertar. Também se pode alegar que cuidar de crianças representa uma responsabilidade igual àquelas de que foge e que, como tal, ele opta pela realidade que conhece. Esse argumento é fraco. Aliás, as crianças não necessitam de ninguém que cuide delas. Elas sabem governar-se e raciocinar como… se não fossem crianças. Estão apenas carentes de amor, aquilo que todos os confortos deste mundo não conseguem substituir. Eun-soo acaba por depender da sua maturidade para que compreendam que o amor é uma oferta, recíproca, desinteressada e incondicional. Nunca forçado como elas o pretendem, por todos os meios obter. E assim temos uns pequenos monstrinhos alternam entre o demoníaco e o adorável, com Man-bok mais próximo do primeiro extremo e Young-hee no último.
“Hansel & Gretel” é um exemplo clássico da natureza humana. Ao contrário dos contos originais, nos quais os desejos e vontades das criaturas são retratados a preto e branco, num cenário de inúmeras cores, o filme demonstra os diferentes tons do ser humano. Sob a superfície encontra-se todo um passado, mais ou menos trágico, que lança uma nova luz sobre o passado trágico das personagens. Assim, quando chegamos ao último capítulo desta estória de encantar, já os nossos sentimentos sofreram várias revoluções. Queremos um: “E viveram felizes para sempre”. Três Estrelas.

Realização: Pil-sung Yim
Argumento: Pil-sung Yim e Min-sook Kim
Jeong-myeong Cheon como Eun-Soo
Won-jae Eun como Man-bok
Eun-kyung Shim como Young-hee
Ji-hee Jin como Jung-Soon

Próximo Filme: "Phoonk", 2008

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