domingo, 11 de março de 2012

"Doll Master" (Inhyeongsa, 2004)

 
Comecemos por esclarecer uma questão. Quando se assiste a um filme de terror, é suposto que este assuste. Sobressaltos, arrepios, tapar a cara com as mãos e espreitar por entre as frestas… Bem, queremos tudo aquilo a que temos direito (ou o nosso dinheiro pagou). Por isso, é no mínimo frustrante que tenhamos de aguardar, digamos, 45 minutos para termos direito a algo que se assemelhe ao de leve a terror. Ainda mais, quando esse filme tem o bonito nome de “Doll Master”. Bonecas. Aterradoras e assassinas como convém. Quem estiver à espera de um novo Chucky coreano prepare-se para ficar desiludido. O único laivo de inteligência em “Doll Master” é a escolha da temática. O medo de bonecos, ventríloquos, mais ou menos animados, de cera, plástico, etc, ou a automatonofobia é bastante comum. Recordo-me do momento em que finalmente decidi ver “Doll Master”. A primeira imagem que surgiu no meu cérebro foi a de uma amiga que tinha um medo irracional das bonecas de porcelana com olhos de vidro. Ela dizia-me sempre que “não gostava de olhar para elas por que as sentia a olhar para ela de volta”. Como se elas tivessem alma e estivessem, calmamente, a avaliar a dela. Já sentem arrepios? Deduzo pois, que o argumentista não tenha efectuado uma pesquisa demasiado árdua, sobre esta fobia tão interessante. O melhor que conseguiu cozinhar foi uma estória pateta. 
Os créditos iniciais demonstram um artista que no seu enlevo por uma jovem mulher, criou uma boneca em tamanho real à sua semelhança. Mais ninguém acha isto esquisito? Entretanto, um dia a sua musa surge morta, assassinada. Logo o artista, um homem estranho e um forasteiro é acusado pela população da vila de ter cometido o acto. Ele é sumariamente acusado e condenado à morte. Diz que desde então, a boneca é avistada sobre o seu túmulo, como que a velar por ele. Mas nesta estória dos tempos modernos, é Galateia que persegue o Pigmalião. Uma Galateia capaz de cometer homicídio por ele...
Muitos anos passam e cinco estranhos são convidados para servir de modelo a uma criadora de bonecas. Como não podia deixar de ser, o atelier encontra-se num casarão no meio da floresta. Nada de suspeito, portanto. O grupo compreende Hae-mi (Yu-mi Kim) uma escultora, Tae-seong (Hyeong-tak Shim) um modelo masculino e Yeong-ha (Ji-young Ok) uma jovem com uma relação pouco saudável com o seu boneco Damian. Mais alguém encontra aqui uma coincidência engraçada com o nome Damien de “The Omen” (1976)? A terminar o grupo estão Sun-Young (Ka-young Lee) uma jovem desmiolada e o fotógrafo Jeong-ki (Hyeong-jun Lim) com um autocolante na testa onde se pode ler “predador sexual” (esta última parte inventei).
Os primeiros momentos do encontro são passados a explorar a mansão e a conhecerem-se melhor. Muito ao estilo de “The Haunting” (1999). Depois são apresentados à criadora de bonecas, a senhora Im (Bo-young Kim), uma mulher meio estranha, confinada a uma cadeira de rodas. Se até aqui, ainda não tivessem soado alertas, agora são sirenes. Entretanto, Hae-mi também encontra por lá a cirandar uma tal de Mi-na (Eun-kyeong Lim), uma moça com um vestido encarnado infantil. Ela parece deslocada do cenário e recorda a protagonista de algo bem longínquo, nos confins da memória, que não se sabe até à reviravolta final, o que é.
“Doll Master” torna-se consistentemente mais surreal e mais complicado a cada nova cena. Por quanto o final fosse previsível a um quarto de hora do visionamento, estão sempre a surgir novas complicações dispensáveis para a conclusão da película. Ou como se costuma dizer, para disfarçar a ausência de uma estória sólida. Hae-mi é uma das mais infelizes heroínas que já tive oportunidade de ver em cena. Quando os companheiros começam a perecer, ela entra num “choque histérico” que lhe tolda o raciocínio e lhe reduz em muito a capacidade de reacção. A sua contraparte, Tae-seong é pouco menos apelativa. É demasiado fácil compreender que a sua agenda nada tem que ver com uma carreira de modelo. No campo das actuações só Mi-na pontua. Excelente no papel de uma boneca viva que alterna entre o diabólico e o inocente. De facto, foi criada uma boneca articulada, tendo como modelo a actriz. A semelhança entre as duas é extraordinária. E devia ter sido ela a obter o maior tempo de ecrã. Se provas faltassem, veja-se que a boneca com o nome da personagem "Mi-na", esgotou pouco depois da estreia do filme. As bonecas articuladas de “Doll Master” fizeram ressurgir o interesse de colecionadores. Notem bem como foram feitas para excêntricos, as bonecas têm direito a nome, data e local de nascimento, acessórios e casas como se de pessoas verdadeiras se tratassem. 
“Doll Master” apenas tem uma morte particularmente macabra e logo de uma das personagens mais cómicas em todo o filme. É pouco, muito pouco e tardio. Convenhamos que ter bonecas em tamanho real, penduradas de candeeiros e na cabeceira da cama seja um bocadinho perturbador. Mas não se entusiasmem, que o clímax é… anti-climático. Tanta espera/desespera, por nada. No preciso momento em que algo importante sucede a uma das personagens, o realizador corta a cena. Não há goodies para ninguém. Yong-ki Jeong deve ter medo de realizar um verdadeiro filme de terror e adiou ou cortou tudo o que podia tornar “Doll Master” aterrador. O que não falta em “Doll Master” são preliminares, pena que a conclusão seja tudo menos excitante. Uma estrela e meia. 
Realização: Yong-ki Jeong
Argumento: Yong-ki Jeong
Yu-mi Kim como Hae-mi
Eun-kyeong Lim como Mi-na
Hyeong-tak Shim como Tae-seong
Ji-young Ok como Yeong-ha
Hyeong-jun Lim como Jeong-ki
Ka-young Lee como Sun-Young
Ho-jin Chun como Choi Jin-wan (curador)
Bo-young Kim como Senhora Im (a artista)


Próximo Filme: "Troll Hunter" (Trolljegeren, 2010)

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