domingo, 30 de dezembro de 2012

4ª Mostra de Cinema de Hong Kong



Ano novo, nova Mostra de Cinema de Hong Kong. Entre os dias 9 e 13 de Janeiro, os lisboetas terão oportunidade de assistir a alguns exemplos do que melhor se tem feito em Hong Kong, no Cinema City Classic Alvalade. Com géneros como acção, drama, comédia, wuxia, é difícil não encontrar pelo menos um título que seja do vosso agrado. Se bem se recordam foi lá que tive oportunidade de ver o excelente "Echoes of the Rainbow", que conseguiu deixar-me em lágrimas. Para já os títulos que me atraem mais são o aclamado e ultra-premiado "A Simple Life" (2011) e "Overheard 2" da dupla maravilha Alan Mak e Felix Chong ("Infernal Affairs", 2002). Também aconselho "The Detective 2", ainda que inferior ao título original. E se forem fãs da Elanne Kwong e do Aaron Kwok então podem esfregar as mãos de contentes pois que apresentam dois filmes cada.

Preço dos bilhetes: 4€
Descontos: 3,5 € (grupos, parcerias, jovens, seniores)
Voucher para todas as (8) sessões 24 €

(Legendas em português e inglês)

PS: Acham que é boa ideia transmitir sequelas, quando provavelmente a maioria da população não teve oportunidade de visionar antes os originais?

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

“Ayakashi – Samurai Horror Tales: Goblin Cat”, (Ayakashi – Bakeneko, 2006)


“Bakeneko” pode ser entendido de forma literal como Gato Monstro e pertence à classe dos “yokai” ou monstros sobrenaturais do folclore japonês. Ao contrário dos antigos egípcios, que veneravam o gato, personificado pela deusa Bastet, uma entidade feminina associada à protecção do lar e das mulheres expectantes, o "bakeneko" é o oposto, assombrando e ameaçando a paz do lar. Os seus poderes incluem a capacidade de falar, voar, se transfigurar e devorar humanos. Os seus actos devem ser sempre observados com desconfiança pois, o seu feitio é irascível e nem sempre se move por motivos altruístas e de bondade. Depois de traído torna-se vingativo e poderá consumir aquele que o feriu.
Em “Bakeneko”, durante o período Tokugawa (séc. XVII até meio do séc. XIX), uma família comemora o casamento da única filha que irá permitir saldar as dívidas que anos despesismo e irresponsabilidade incorreram sobre o lar. Com os preparativos do evento, eles deixam a casa desprotegida dando espaço a que um curandeiro que esconde mais segredos do que a aparência humilde deixa antever, se introduza na zona servil, junto da crédula Kayo. Introduz-se ele e, algo mais. Assim que a jovem noiva tenta passar o limiar da casa cai fulminada acometida por uma doença súbita. A família vira-se logo para o curandeiro e prende-o mas, após a morte de outro serve a realidade mostra-se bastante mais negra! O estranho desconhecido sugere que estão a ser assombrados por um bakeneko e que para os proteger eles terão de enfrentar os segredos que despertaram a raiva da besta.
“Bakeneko” é o conto pelo qual os fãs de animação e terror aguardavam. Façamos um exercício: visualizem o grande mestre do terror para vós. Não interessa o nome, apenas, aquele, cujas obras, conseguem, instilar em vós o terror. Aquele que, não interessa o tema ou a época, consegue provocar, invariavelmente, um arrepio na espinha e tornar o mundo dos sonhos um pouco mais aterrador. Agora imaginem que é ele quem está por trás de “Bakeneko”. Compreendem agora que estão perante um conto especial?
Inicialmente, a família permanece incrédula face à suspeição de ataque sobrenatural e paira um clima de suspeição sobre o curandeiro. Tudo indica que são um aglomerado normal apesar das complicadas relações entre os membros da família, servos e conselheiros. Eles vão sendo alvo de ataques sucessivos que vão provocando cada vez maior número de vítimas e dá-se uma revolução no seu mundo interior. Ficam nervosos, temerosos, loucos e começam a falar. Começam a questionar comportamentos passados, a desculpar-se de actos ignóbeis e a culpabilizar-se uns aos outros. É isto mesmo que o curandeiro pretende saber: a “katachi” (forma), “makoto” (verdade) e o “kotowari” (razão) para o demónio os atacar e a informação que poderá ajudá-lo a exorcizá-lo. Há um momento de tensão extraordinária quando o curandeiro coloca balanças com guizos para apurar onde se encontra o demónio. Os guizos começam, um a um, a tocar, em todo o redor da sala e as pessoas que lá estão, até ali descrentes da assombração são incapazes de se movimentar, geladas que estão de medo… A estrutura narrativa não é linear e classificação mais aproximada que consigo encontrar para identificar “Bakeneko” é a de um conto detectivesco/thriller sobrenatural de suspense.
A animação de Takashi Hashimoto também é a mais interessante de toda a série. A despeito da impressão de que estamos perante uma série de gatafunhos antiquados, “Bakeneko” apresenta influências tão notórias e tão distantes como gravuras japonesas dos últimos 100 anos arte moderna ocidental, influências religiosas, motivos asiáticos e africanos, em conjunção com as novas técnicas de animação moderna. Esta massa aglomerada, num só bolo, poderia ser apelidada de pesadelo de um unicórnio, visto que as cores, ao invés de remeterem para uma aura de felicidade açucarada gritam desconforto e inspiram o pesadelo sobrenatural.
“Ayakashi – Samurai Horror Tales” é uma obra desigual que vale apenas pelo último conto. A animação intrigante, a narrativa adulta que provocam um misto de tristeza e fascinação face às suas diferentes tonalidades, merecem ser exploradas. Aconselho os fãs a explorar igualmente a série “Mononoke” de 2007, que surgiu como "spin-off" de “Bakeneko”, dando seguimento às aventuras do curandeiro caçador de demónios. Quatro estrelas.

Realização: Kenji Nakamura
Argumento: Michiko Yokote
Designer de animação: Takashi Hashimoto
Takahiro Sakurai (Japonês), Andrew Francis (Inglês) voz do Curandeiro
Yukana (Japonês), Kelly Sheridan (Inglês) voz de Kayo
Tetsu Inada (Japonês), Trevor Devall (Inglês) voz de Odajima

PS: O sucesso deste episódio foi de tal modo grande que podem encontrar imensos exemplos de fan art por essa internet fora (sobretudo na deviantart) e até cosplay. Numa nota adicional e já depois de ter escrito esta apreciação chamaram-me a atenção para "Gankutsuou", uma outra série de 2004 que terá inspirado o estilo da animação de "Bakeneko".

Próximo Filme: “Zombie 108”, (Z-108 qi chen, 2012)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

“Ayakashi – Samurai Horror Tales: Goddess of the Dark Tower”, (Ayakashi – Tenshu Monogatari, 2006)


Basta irem seguindo os links

“Goddess of the Dark Tower” é o segundo capítulo da mini-série de animação “Ayakashi – Samurai Horror Tales” e estende-se por quatro episódios. À semelhança de “Yatsuya Ghost Story”, a primeira estória da série, “Goddess of the Dark Tower” baseia-se numa peça de teatro que foca o amor proibido entre um humano e uma deusa.

Zushonosuke é encarregado pelo tolo Lorde Harima a recuperar Kojiro, um falcão precioso e inadvertidamente cruza-se com a deusa Tomihime por quem se apaixona à primeira vista. Perdidos de amores entregam-se a um amor proibido e perigoso, à medida que a fronteira entre os reinos se esbate e os samurais a mando do Lorde Harima, invadem o castelo dos deuses para recuperar o falcão.
“Goddess of the Dark Tower” apresenta a narrativa mais convencional da série, é apenas a velha estória do amor que encontra bastantes obstáculos mas no final acaba por vencer (será?). Além dos diferentes planos de existência humanidade vs. Espirito não há grandes objecções a que Zushonosuke e que Tomi permaneçam juntos a não ser, talvez de cariz moral. Está bem que ela é uma deusa lindíssima mas ele já tinha uma companheira e é sempre difícil (a população feminina deve concordar comigo) apoiar um traidor. Quais amores, qual quê? Se já estás comprometido não tens nada que invadir seara alheia. Ele também não demonstra grande conflito com o facto de ela e as outras deusas que habitam o castelo, todas belíssimas por sinal, serem comedoras de homens. Não admira que as suas existências não se devam cruzar. Se fosse ele, também não achava grande piada. Eles podiam chatear-se à séria e ela comia-o por vingança. Infelizmente, para os que os rodeiam este é um caso de estar no sítio errado à hora errada. Por causa de um falcão, o castelo é invadido e o confronto entre deusas e o exército samurai é inevitável.
O samurai, personagem histórica japonesa é fascinante não apenas em termos estéticos mas no que diz respeito ao seu código de conduta. É comovente uma dedicação que até à morte é total e ilimitada. Ao mesmo tempo é desconcertante uma dedicação cega ao serviço de homens que personificam o pior da espécie, sobretudo quando a maldade se alia à tolice.  Por isso, apesar de resultar em imagens incríveis, a morte indiscriminada movida por motivos fúteis é de difícil compreensão. No meio de uma chacina descabida há ideias soltas que fornecem brilho pontual a um episódio, de outro modo, desinteressante. A transformação da deusa, do seu invólucro humano para toda a sua glória divina e as diversas habilidades das deusas para destruir o inimigo comum constituem os momentos altos. Não há limites para o que os deuses podem fazer. De resto, o romance proibido nunca é suficientemente convincente. Abdicar da humanidade ou divindade por um amor rápido e perigoso parece demasiado forçado. Redunda no dramazeco romântico e não no conto de terror que o título pretende fazer crer. É uma entrada que não traz valor acrescentado à série, sendo direccionado para um público mais calmo, fã de romance com alguns salpicos de acção e avesso ao terror. Quando muito contribui para a descida da qualidade média da série. E, até aqui, posso afirmar que estava desiludida com “Samurai Horror Tales”. Teria de esperar por “Goblin Cat” para ficar impressionada… Duas estrelas.
  Realização: Hidehiko Kadota
Argumento: Yuuji Sakamoto
Designer de animação: Yasuhiro Nakura
Hikaru Midorikawa (Japonês) e Kirby Morrow (Inglês) voz de Zoshonosuke Himekawa
Houko Kuwashima (Japonês), Willow Johnson (Inglês) voz de Tomihime
Saeko Chiba (Japonês), Tracey Power (Inglês) voz de Oshizu
Yui Kano (Japonês), Anna Cummer (Inglês) voz de Ominaeshi
Kappei Yamaguchi (Japonês), Alec Willows (Inglês) voz de Kaikaimaru
Masaya Onosaka (Japonês), Samuel Vincent (Inglês) voz de Kikimaru




Próximo Filme: “Ayakashi – Samurai Horror Tales”: Goblin Cat, (Ayakashi – Bake Neko, 2006)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

“Ayakashi – Samurai Horror Tales”: Yotsuya Ghost Story, (Ayakashi – Yotsuya Kaidan, 2006)


Ainda no segmento televisão (devo estar para apanhar alguma doença), virei todas as atenções para uma série de animação de terror. Isto é, antes da inevitável apreciação ao “Hobbit”. Bem, ainda não decidi se a faço ou não mas parece que é o que todos vão fazer por estes dias. Não sei se não acaba por se tornar redundante. É o grande acontecimento cinematográfico do ano mas há mais cinema. Mas ainda sou capaz de dar uma de Maria-vai-com-as-outras, e vou atrás. Não se preocupem, que trarei o meu habitual charme e poder de observação brilhante como expectável, (FilmPuff Maria, mais humildade, MAIS humildade). Divago. Depois de uma série televisiva de terror sul-coreana longe de estelar, viro-me ainda mais a oriente, no Japão, onde “Yotsuya Kaidan”, uma das estórias mais adaptadas para cinema e televisão é a primeira da antologia “Ayakashi” e aborda os temas imortais do amor, traição e vingança. A narrativa original, escrita no séc. XIX por Nanboku Tsuruya IV para uma peça de teatro kabuki, é uma das estórias de fantasmas mais famosas de sempre. É exemplificativo de como uma estória, não baseada em factos verídicos por via da repetição se torna parte da identidade nacional.
Tamyia Iemon é um ronin, com feitio irascível que mata o sogro após uma zanga. Naosuke é um samurai obcecado por Osode, uma mulher casada. Após esta rejeitar os seus avanços acaba, num acesso de ciúmes por assassinar o marido dela. Os assassinos, na sua vilanagem, decidem fazer um pacto para encobrir o que fizeram. Após a morte do sogro Iemon desinteressa-se da esposa Oiwa e, eventualmente surge uma nova pretendente em Oume, mais bonita e rica. Com a conivência de uma criada e do potencial sogro, Iemon conspira para se livrar do único obstáculo: a esposa. Envenenada pelos conspiradores Oiwa é primeiro desfigurada e, depois de um acesso de loucura, suicida-se. Antes da morte, a promessa de se vingar dos que lhe fizeram mal e todos sabem que não há maior fúria que a de mulher traída. Entretanto Naosuke força Osode a casar-se com ele através da promessa de vingar a morte da sua irmã.
Nanboku surge como parte integrante da estória, o velho contador de estórias, um pouco como o avozinho que conta um conto ao neto, com a excepção que “Yotsuya Kaidan” não é aconselhável a menores de 16. No entanto é mais um brilhante exemplo da empresa Toei, por trás de grandes êxitos da animação em Portugal como “Dragon Ball”, “One Piece”, “Digimon” e muitas séries e filmes de que nunca ouvimos falar e só podemos lamentar nunca terem cá chegado. A Toei não merece uma busca menos que intensiva e tem material suficiente para ocupar os próximos anos em sessões contínuas. A exemplo da qualidade da animação, os personagens chegam a ser mais humanos que os actores reais. Cada olhar, cada expressão tem um significado e assenta na perfeição na narrativa. Façam o teste. Assistam a “Yotsuya Kaidan” sem som durante uns minutos. Através da paralinguagem conseguem decifrar as emoções das personagens e, por conseguinte uma interpretação da narrativa de modo geral. É um dos maiores elogios que se podem fazer a um criador de animação.
Deverão desvalorizar os créditos iniciais que reúnem a utilização de instrumentos tradicionais com o moderno rap. É um anacronismo já que contrasta com as estórias clássicas que se seguem. De resto, a narrativa de “Yotsuya Kaidan” pode soar familiar e antiquada mas é adulta, com temas com os quais os mais velhos se podem identificar e assistir sem sentimento de culpa associado estarem a ver um filme de animação. Poderão encontrar alguns problemas em identificar-se com o facto de uma das personagens ser forçada a contrair matrimónio para ter alguém que vingue a sua irmã e a necessidade imperiosa de manter a face a tudo custo mas este já não é “defeito” da estória, antes uma questão cultural. Normal, portanto. Se quisermos simplificar, o conto recorre a temas que remontam à verdade universal de que o Homem, máquina fantástica como é, é imprevisível e não se lhe pode atribuir demasiada confiança sob pena de uma promessa de sofrimento atroz. Três estrelas e meia.
Realização: Tetsuo Imazawa
Argumento: Chiaki J. Konaka
Designer de animação: Yoshitaka Amano
Hiroaki Hirata (Japonês) e Brian Dobson (inglês) voz de Iemon Tamiya
Mami Koyama (Japonês), Nicole Oliver (inglês) voz de Oiwa Tamiya
Yuko Nagashima (Japonês), Rebecca Shoichet (inglês) voz de Osode Yotsuya
Keiichi Sonobe (Japonês), Samuel Vincent (inglês) voz de Gonbei Naosuke
Ryou Hirohashi (Japonês), Lalainia Lindbjerg (inglês) voz de Oume Ito
Wataru Takagi (Japonês), Michael Adamthwaite (inglês) voz de Yomoshichi Sato


PS: Deixo link para a versão disponível no youtube com dobragem em inglês. Com certeza haverá sempre algo de "lost in translation" e nunca alcança o nível de qualidade do original, mas não deixa de ser um brinde de Natal.

Próximo Filme: “Ayakashi – Samurai Horror Tales”: Goddess of the Dark Tower, (Ayakashi – Tenshu Monogatari, 2006)

domingo, 16 de dezembro de 2012

TCN Blog Awards 2012


Mais um ano, mais uma cerimónia de entrega dos TCN Blog Awards, prémios destinados a distinguir o que de melhor se faz na blogosfera de cinema nacional. E, pessoalmente, o 2.º ano consecutivo em que o Not a Film Critic esteve nomeado. O ano 2012 brindou-nos com uma imagem mais madura, um crescente à-vontade do apresentador de serviço, o Manuel Reis está como peixe na água, momentos de humor cada vez mais e melhor pensados e até tivemos direito a alguns VIPs. Pronto, a Daniela Ruah recusou o convite mas o dia irá chegar! A cerimónia teve alguns problemas, não posso mentir, mas que evento não os tem? Nesse sentido, sugiro que procurem as curtas-metragens "Assim-assim" do Sérgio Graciano e "Black Mask" do Filipe Coutinho , também ele blogger (Cinema is my Life). Mais do que focar-nos nos problemas acho que devemos concentrar-nos na descontracção em admiti-los e a promessa de que para o ano se tentará fazer ainda melhor (Carlos Reis). Quanto aos premiados foi uma tarde de grandes surpresas, sendo que categorias que podíamos pensar à partida, estarem "ganhas", acabaram por revelar talentos menos conhecidos. Apesar das reservas que alguns terão demonstrado, não me poderia sentir mais em paz com os resultados. O júri (mix academia + voto público), não será perfeito mas foi o melhor dadas as circunstâncias. Margem de manobra há sempre e, se poderem e quiserem, sugiro que apresentem as vossas sugestões no Cinema Notebook. Quanto aos vencedores destaco a Inês Moreira Santos que ganhou o prémio de Melhor Novo Blogue e ao Nuno Reis que continua a ser, para mim, a pessoa que mais trabalha para a blogosfera. Tipo, já recebias por isso não?! Mas se o Nuno Reis é a pessoa que mais trabalha na blogosfera o Aníbal Santiago é o mais prolífico e um grande favorito desde a primeira vez que me cruzei com o Rick's Cinema. Vê uma quantidade infindável de filmes, dos mais diversos estilos e, algures, encontra sempre a capacidade de discernimento necessária para uma reflexão séria sobre a obra - o número de nomeações atesta (se tal fosse necessário), a qualidade. Por fim, o anuncio de que possivelmente, os Prémios poderão ser organizados noutra cidade do país em 2013. Um desafio importante e interessante para espalhar ainda mais os TCN e estar mais perto de outros bloggers, que o país não é apenas Lisboa. Vamos ver como corre. Acima tudo, quis aqui deixar uma mensagem positiva, porque, para muitos de nós, isto de escrever cinema é um hobby. Não recebemos nada por isso, dedicamos horas de trabalho onde poderíamos estar a descansar ou a socializar mais e, se for preciso, ainda somos criticados por isso. Por isso, se os TCN são uma iniciativa pouco visível noutros meios, acabam por ser um modo de reconhecer e valorizar esse trabalho, proporcionar momentos de humor e um bom momento de convívio entre pessoas que de outro modo não teriam oportunidade de trocar palavras além comentários do blogue e redes sociais. Para o ano há mais. Obrigada!

PS: O poster foi criado por este senhor.

domingo, 9 de dezembro de 2012

"City Horror - Song of the Dead"


O terceiro capítulo da série sul-coreana realizada para televisão tenta demarcar-se das estórias anteriores através de um regresso ao passado. Enfase, no tentar por que, para todos os efeitos, um filme sobre espíritos continua a ser um filme sobre uma assombração, seja ontem ou hoje. Algures no ano 500, a General Bai Lan conduziu o seu exército contra uma pesada derrota face a Sun Law. A sua fama de impiedosa e o medo de que pudesse regressar além campa faz com que uma bruxa lance um feitiço sobre ela. Nos tempos actuais, Wai Lai e o produtor Wing encontram num antigo estúdio a melhor opção para as suas carreiras deslocar. Entre os velhos papéis do local, Wing encontra uma canção inacabada e decide completá-la. Entretanto, Wai começa a ter visões de uma mulher de vermelho e procura o apoio de Wing mas ele está demasiado envolvido com o seu mundo interior, como se estivesse possuído. Qual a ligação entre a aparição e a canção misteriosa? Se a conexão entre estórias não fosse por demais óbvia… Mas esse ainda é o menor entre os problemas (demasiados), que “Song of the Dead” apresenta.
A canção dos mortos surge do nada e para lá regressa. Qual é o significado da canção? Por que é tão especial que se torna a ponte entre o passado e o presente? Além disso, alguém me consegue explicar, se Bai Lan é que foi amaldiçoada e viu o seu espírito prisioneiro, o que faz um dos seus soldados nos dias de hoje? Isto, só em termos de argumento, já que no que se refere à sonoplastia e cenografia, “Song of the Dead” fica uns bons furos abaixo de um trabalho aceitável efetuado por alunos do 3º ano do curso de cinema. Parece que o orçamento explodiu nas cenas de batalha e respectivos figurinos, o que fez com que as cenas, na atualidade e no próprio estúdio sofressem bastante. É de aplaudir a utilização em determinados momentos da luz e da sombra para esconder a escassez de meios. Nem o elenco completa o cenário, passeiam-se pelo ecrã como sombras, como se fossem artigo secundário de um evento principal que nos escapa a todos.  Recordam-se daquele ditado do senhor Wilde no qual ele dizia: “falem bem, falem mal, mas falem de mim”? Quer-me parecer, volvida uma década que não há memória desta canção dos mortos. Uma estrela.


Realização: Gyu Hwan Lee
Argumento: Alex Garland, Carlos Ezquerra e John Wagner
Ri-su Ha, Hyun-jin Kim, Tae-hwa Seo e Ga-yeon Kim


Próximo Filme: “The Good, the Bad, The Weird” (Joheunnom nabbeunnom isanghannom, 2008)


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

"City Horror - The Evil Spirit" (2002)


Sabem aqueles acontecimentos que são tão traumáticos, tão dolorosos que só queremos fugir e nunca mais olhar para trás? Mas, qual pesadelo, regressa para nos assombrar? Cha é uma rapariga do campo que fugiu para a grande cidade, onde consegue vingar na sétima arte. A pretexto de mais um trabalho Cha é reconduzida para a terra natal. Muitos dos que conheceu já faleceram, outros tantos parecem levar vidas estagnadas. Um pé à frente do outro para sobreviver, que a vida ali não tem grandes alegrias. As perspectivas são nulas e nem todos podem ir para a cidade como a pequena misse citadina…
E enquanto ela e a sua equipa vai perturbando as aparentes águas calmas do local, ela recorda uma menina que teve uma morte prematura. Onde as outras crianças da aldeia viam uma garota estranha ela via uma potencial amiga, de quem tinha pena por ter perdido a mãe. Até que um dia tudo se desmoronou, um erro desfez sonhos e eles afastaram-se, perderam-se numa vida que podia ter sido de sucessos. Agora que Cha regressou, Yah desperta de um sono atormentado. Finalmente, todos pagarão pelo mal que lhe fizeram.
Espirito maléfico? É curioso como tudo o que não é “natural”, é logo automaticamente rotulado de maléfico. É quase facto universal que raparigas com cabelo negro e descabeladas não são sintoma de boas coisas por vir. Mas vamos lá analisar por um momento as meninas. Quase todas tiveram mortas horríveis e a grande maioria nem sequer foi especialmente bem tratada em vida. Por que não haveriam de retornar para se vingar dos vivos? É suposto que vão para o céu e perdoem os que as magoaram e até lhes causaram, por vezes, a morte? A piedade é para os vivos. E não conhecendo fronteiras na morte, tenham medo. Tenham muito, muito medo. O resto é a estória habitual com um final igualmente previsível. Se bem que, terei ali visto laivos de “Shutter” (2004)? Juro que se mais algum episódio da série tiver “inspirado” outras obras, ganharei um novo respeito sobre a série.
“The Evil Spirit” não se afasta um milímetro dos temas recorrentes do cinema sul-coreano. O cenário é o  microcosmos habitual, aldeia/vila/localidade mais ou menos isolada, na qual a população local vive embrenhada na sua própria realidade e não possui capacidade psicológica acolher outras realidades, chegando até a repudiar qualquer tipo de influência exterior. Possuem pois, regras implícitas auto-impostas que às vezes se substituem à própria lei, deixando margem para que cometam os actos mais obscenos sem medo de punição. Subjacente, está ainda o binómio homem/mulher que só parece funcionar quando o género masculino tem o ascendente sobre o feminino. Se ela não for subjugada pelo homem é considerada louca. Se ela for independente e liberal, parece sempre existir algum tipo de crítica ao seu estilo de vida. E claro, numa micro-sociedade tão opressora como pode a mulher não se rebelar, mesmo que só além do corpo, no meio metafisico, o único local onde parece ser consensual que ela é mais forte? Do género: “vêm como nós até consideramos o sexo feminino poderoso?” Sim, mas tiveram de o transformar num ser maléfico. Ao menos os que forçam a mulher a fazer coisas que não quer, assumem aquilo que são. Hipócritas!
Para mal da audiência “The Evil Spirit” nunca é mais do que os temas que lhe estão subjacentes, nunca é mais do que a historieta de terror que não funciona assim tão bem por que, pronto, a pequena vilã é adorável e, não estão mesmo á espera que tenhamos medo quando se vê uma actriz obviamente pendurada por cabos? Duas estrelas.

Actores: Kei Yung Lee e Kai Wing Cho

Próximo Filme: "A Designar (Porque a sério, isto está mesmo difícil de adquirir filmes"

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

“City Horror – Scream” (2002)


Não, o filme anteriormente anunciado (“The Good, The Bad, The Weird”) não se transformou por via mágica numa mini-série de terror. Existiram… Problemas técnicos e fiquemos por aí. Ei, ao menos é made in Coreia. Pronto, pronto, não há modo de mascarar o facto de “Scream”, um episódio feito para televisão ser infinitamente inferior ao western cómico de Jee-woon Kim. A isto, meus amigos, chama-se cativar os leitores para cá voltarem à procura desse filme, fiquem atentos!
“Scream” (nada a ver com o clássico do Wes Craven, atenção) é uma surpresa daquelas de “onde é que já vi isto antes?” mas, ao contrário. Então não é que “The Cut” (2007), do qual já tivemos oportunidade de abordar antes. É que, se fizeram as contas “Scream” tem menos 5 anos que a película feita para tela. Daí resulta que “The Cut” consegue ser menos original do que pensava e que é apenas uma versão polida do que pode ser um potencial episódio de culto. Mais, significa que, em 2002, com “Ju-on – The Grudge” a bombar e “Ringu” com capacidade para queimar os últimos cartuchos “Scream” e a descabelada de serviço ainda conseguiam fazer gelar espinhas.
Meia dúzia de estudantes de medicina é convocada a meio da noite para preparar os cadáveres para a próxima aula de anatomia. Vão dissecar corpos. O que é sempre interessante. Ou melhor, aquela altura em que depois de enterrar a cabeça nos livros e descobrir que têm crânio para decorar tudo e mais alguma coisa no corpo humano, não têm estômago. Fixe. Algures naquela interacção acordam algo que devia ter permanecido adormecido e um dos corpos retorna, (do mundo dos mortos, passe a redundância, sim), para acabar com os estudantes: um a um, como nos filmes. Uma das conclusões imediatas que posso retirar vendo uma “simples” série de televisão coreana é que eles não têm gente feia. Por outro lado, o conceito de estudantes lá é um bocado estranho. Grande parte dos actores não passa por ter idade para frequentar a faculdade de medicina. Por outro, para potenciais médicos ou investigadores na área da medicina, não são especialmente perceptivos ou inquisitivos. São meras criativas passivas. As mortes também não particularmente brilhantes. Ocorrem fora de cena. Ora, onde um bom realizador criaria suspense para que o que sucede fora do alcance do olhar esteja repleto de suspense, “Scream” é básico, morno, desinteressante. E na verdade, nem os nomes das personagens se sabe por altura dos créditos, tal foi a experiência. E os gritos?! Creio que para um episódio com o nome “Scream” das primeiras coisas que se fazem no casting é pôr os actores a gritar. Digamos que essa parte lhes deve ter passado ao lado.
Sabem aquelas noites frias em que só apetece ficar debaixo de um cobertor e consumir doses massivas de televisão? É isso e ser um fã do género terror pouco exigente. Serve e pouco mais. Duas estrelas.


Argumento: Gyun-huan Lee
Jae-huan Na, Ho-kyung Go, Chae-yeon Kim, Gee-hyun Kim, Hyun-gyun Lee, Tai-woong Lyu, Yong-woo Park, Soo-yung Song


Próximo Filme: “The Good, the Bad, The Weird” (Joheunnom nabbeunnom isanghannom, 2008) Será que é desta?

domingo, 25 de novembro de 2012

“Flashpoint” (Dou fo sin, 2007)



Diz que as coisas boas vêm aos pares. É mentira. Tudo é melhor em trios. Nunca foi tão evidente num filme. Um dos melhores trios do cinema de acção constituído por o realizador Wilson Yip, o argumentista Kam-yeun Szeto e o actor Donnie Yen, ainda que não no melhor registo daquilo que já demonstraram (“Kill Zone, 2005), conheceu o seu fim este ano com a morte precoce de Szeto vítima de cancro do pulmão. Morrer antes do 50, é um atentado contra a humanidade. Quantas mais estórias de acção não ficaram por escrever? “Flashpoint” é mais uma entrada na longa série de filmes baseados em Hong Kong, no perigo mundo das tríades e polícias infiltrados. “Infernal Affairs” (2002) vem rapidamente à mente e o seu remake “The Departed” (2006) também, mas a nova reencarnação não tenta sequer chegar aos calcanhares destas obras. É antes mais um motivo para ver Donnie Yen a arregaçar as mangas e espancar o mauzão mais mau de todos. E a malta aplaude por que enfim, apesar de o actor ter um sorriso pepsodent e um abdómen híper desenvolvido, falta-lhe a altura e outros encantos para ser considerado um sex symbol. Louis Koo está muito melhor entregue nesse papel. Não. O que a malta quer é ver Donnie Yen dar pancada, minutos ínfimos para deixar a assistência tão cansada como se ela própria tivesse acabado de completar uma aula de pump no ginásio. A dada altura ele até tira o casaco de cabedal, depois de uma longa sequência, para demonstrar que o vilão vai dar um pouco mais trabalho do que os outros estão a ver?
Donnie Yen é Jun Ma o típico polícia que não acata ordens de ninguém e cuja população terá sérias duvidas se o remédio não será pior que o mal. Por onde passa deixa um rasto de feridos. Brutalidade policial? Pfff, não o façam mas é perder tempo. O tempo que não está nas ruas é tempo para mais um criminoso cometer um crime (e ele não custar centenas se não, milhares, ao erário público). Louis Koo é Wilson, um polícia que já se cruzou antes com o caminho do crime e graças a esse passado, conseguiu tornar-se com sucesso no capanga de serviço de uma nova tríade de irmãos vietnamitas que querem entrar no “mercado”. Não que eles precisem de um capanga, talvez mais um condutor de serviço. Eles dominam Artes Marciais Mistas ou (MMA) e destroem todos os que se atrevem a cruzar-se no seu caminho. O chefe é Tony (Collin Chou) que decide entrar em guerra aberta com uma tríade local. Collin Chou é mais conhecido como o Seraph de “Matrix Reloaded” (2003) mas a carreira nunca deslocou a ocidente, onde também Donnie Yen pode relatar uma experiência similar. Está relegado para papéis que envolvem toda a sua destreza física no cinema de acção de Hong Kong, não que isso seja mau e segundos planos para os “Infernal Affairs” deste mundo. Repito, não é como isso também fosse mau. Tudo parece correr bem até que Tony, o irmão com maior número de neurónios, junta as peças e descobre o segredo de Wilson. Jun Ma terá de utilizar toda a sua destreza física, já que não é a carta mais inteligente do baralho para conseguir salvar Wilson de um final trágico.
Uma dos pormenores refrescantes que, de resto, já vimos antes é a irmandade policial. Normalmente há sempre um sargento maldisposto, uma outra dupla de detectives que tem animosidade para com os heróis, no caso estamos perante uma equipa unida, disposta a dobrar as regras para deixar o caminho livre para o senhor que resolve os problemas onde eles existirem, Jun Ma. São precisos pelo menos 50 minutos até que a acção a sério tenha lugar e quando vem é rápida e furiosa, empacotado em estilos combinados de artes marciais: kung fu, muay thai, jiu jitsu, boxe… É só pensar num estilo que provavelmente algum dos elementos dessa forma de luta terão sido inseridos. O que me leva à questão premente. A extraordinária exibição física demonstrada pelos actores/lutadores fazem de “Flashpoint” um bom filme? Não mas tem elementos bastante bons, desde a coreografia das sequência sde acção às perseguições de carros e o desempenho de Koo. Mas lá está, se vão ver um filme cujo trailer promete cenas fantásticas de luta, tudo o que disse antes são apenas balelas. Redunda nas vossas expectativas.  Duas estrelas e meia.
Realização: Wilson Yip
Argumento: Kam-yuen Szeto e Lik-kei Tang
Donnie Yen como Jun Ma
Louis Koo como Wilson
Collin Chou como Tony
Ray Lui como Archer
Fan Bingbing como Judy
Yu Xing como Tiger

Próximo Filme: “The Good, the Bad, The Weird” (Joheunnom nabbeunnom isanghannom, 2008)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

"Sleep Tight" (Mientras Duermes, 2011)


“Sleep Tight” é uma das boas razões pelas quais quase que, de cada vez que vejo um filme espanhol digo para mim própria que tenho de começar a ver mais filmes daquele país. Isso e chorar baba e ranho devido à minha imbecilidade (ninguém vê). A película é do Jaume Balagueró ou JB como carinhosamente lhe chamo. Para fãs de [REC], “Sleep Tight” é uma surpresa agradável. Agora aqueles que detestaram aquele filme de zombies, possessos ou lá o que é, têm aqui a oportunidade ideal de encontrar um motivo para seguir com atenção a carreira do JB. “Darkness” (2002) não deve constar do currículo do senhor. É o chamado erro de julgamento se bem que, entretanto, o senhor já encontrou o norte e as coordenadas trouxeram-no de volta ao bom caminho do suspense/terror. Mauzinho mesmo é o título (já lá vamos).
César (Luis Tosar) é o homem dos sete ofícios no prédio onde trabalha, em Barcelona. Também ninguém lhe presta grande atenção, a maioria dos inquilinos nem sequer se deve lembrar do seu nome. Se calhar deviam, visto que ele possui as chaves de todos quantos habitam naquele sítio. César é metido consigo próprio e, à primeira vista, digno de simpatia. Tem uma mãe doente e, a bem dizer, podia ser inofensivo. Podia. Pois que ele está obcecado com a inquilina Clara (Marta Etura), uma jovem atrevida sempre com um sorriso estampado no rosto. César começa por enviar-lhe cartas anónimas, depois passa às mensagens até que já tem os movimentos de entrada e saída de Clara bem estudados. Não chega. Ele quer um pouco mais de proximidade e usa das chaves tão importantes que lhe foram concedidas. Durante a noite, enquanto Clara dorme, César aguarda-a ali, bem perto de si… Debaixo da cama dela. No que é que ele está a pensar? Pode perder o emprego. Pode ser preso por perseguição. Os motivos dele nunca são suficientemente claros. Predador sexual?! Claro. Mas há algo mais que isso. Ele alterna entre o desejo de possessão de uma mulher que nunca olharia para ele num mundo normal e o ódio pela pêga que o cumprimenta com um sorriso insolente para no momento a seguir ir-se deitar com outro. Ele destila um ódio apenas visível quando começa a deixar pequenas “prendas” atrás de si, tornando a vida de Clara cada vez mais insuportável.
Como pano de fundo para uma psique distorcida está uma mãe envelhecida e inválida, condenada a ouvir os esquemas do filho. Querem decadência melhor do que a de assistir ao apodrecimento moral de um filho?
A surpresa maior de “Sleep Tight” é a actuação de Tosar. Mesmo durante os actos mais atrozes, o seu porteiro arrepiante nunca chega a ser totalmente detestável. Há qualquer coisa de charmoso neste César. Como não simpatizar com um homem tão infeliz que chega a atentar contra a sua própria vida? Como não detestar quem encontra uma réstia de esperança quando os outros estão tão ou mais infelizes que ele? É ou não é o monstro perfeito? Se até na hora de o julgar a audiência é assaltada por dúvidas. Será o ódio a emoção mais correcta? A acompanhar o desempenho poderoso de Tosar está uma maquilhagem que sucede em torná-lo feio, como a personalidade, lá está.
“Sleep Tight” é um registo muito mais subtil para Balagueró. A câmara frenética e o histerismo dos actores de [REC], contrastam com as sequências que tomam o seu tempo até existir um evento significativo e a ingenuidade, quase inocência dos personagens que rodeiam o porteiro do inferno, quanto às verdadeiras intenções de César. Existe uma vizinha, miúda de escola, certamente destinada a tornar-se rufia que vê mas não compreende o que ele faz. Azar o dela que utiliza deste conhecimento como um segredinho sujo que sabe que não devia ter, poder sobre a última pessoa de quem o devia ter retirado. O segredo de Balagueró está, sobretudo na utilização do espaço. Já em [REC], demonstrara uma sensibilidade extrema sobre o espaço da acção. Sempre dentro de um edifício, sempre sufocante. O titulo inglês da película é que não reflecte o verdadeiro sentimento da invasão da privacidade que Balagueró explora durante os 100 minutos de duração. Mais adequado seria “While you sleep”, ou “Enquanto Dormes”. Porque é aí, no conforto do lar, durante um sono reparador, descansado, sob os nossos cobertores, o nosso sítio mais seguro que César penetra sem pedir permissão. Três estrelas e meia.

Realização: Jaume Balaguero
Argumento: Alberto Marini
Luis Tosar como César
Clara como Marta Etura
Petra Martinez como Senhora Verónica


Próximo Filme: “Flashpoint” (Dou Fo Sin, 2007)

domingo, 18 de novembro de 2012

Red Eagle (2010)


Corria o ano de 1970 quando Mitr Chaibancha galã e estrela máxima do cinema tailandês se preparava para finalizar a película “Golden Eagle” (Insee Thong). A última cena envolvia Mitr saltar para a escada de um helicóptero que depois iria desaparecer poeticamente no horizonte… Mitr falhou o salto, agarrou o degrau o errado e o helicóptero, não se apercebendo do erro aumentou de altitude. A dada altura o actor perdeu as forças e caiu desamparado para a sua morte. A realidade chocou os fãs de ficção.
Red Eagle, traduzindo, Águia Vermelha (fãs do Benfica manifestam-se em 3, 2, 1), pode ser comparado aos heróis ocidentais como Batman. Também ele tem um animal como símbolo e tem sérios problemas do foro psiquiátrico. Esteve na guerra onde o seu esquadrão foi todo dizimado. De regresso à sociedade, onde não se consegue integrar por via do stress pós-traumático, Rom (Ananda Everingham), passa os dias entre a injecção de morfina para travar as dores que sente das sequelas de tantas e tantas lutas em que se envolvam, na tentativa de combater a injustiça. Rom é particularmente feroz na luta contra os políticos corruptos e não perdoa. Ao contrário de outros heróis que combatem os criminosos, sofrendo inúmeras mazelas e perdas em termos pessoais, para os entregar às autoridades, Rom não dá segundas oportunidades. Red Eagle apenas encarna a roupagem típica, ele não é comum. Os seus inimigos, inimigos do povo, têm um final rápido e nada fácil. Eles sofrem indignidades, pelas indignidades que cometeram em vida. Eles não têm direito a perdão. A corrupção está enraizada, é recorrente, é o primeiro recurso e o melhor modo de obter o que a ambição pessoal deseja alcançar, nem que seja tornar-se primeiro-ministro, ainda que custe relações e signifique abdicar dos princípios. Então, como não vêem os outros o que o Red Eagle vê? A corrupção é transversal, mas aos corruptos nada sucede. Logo, terá de existir um sistema concebido para os proteger. O que é que o Red Eagle pode fazer quanto a isso? Matá-los a todos? Ainda que Red Eagle livre o mundo de um monstro, muitos virão tomar-lhe o lugar. A mudança só virá quando os títulos de jornais tratarem uniformemente Red Eagle como o herói para um mundo melhor. Por que não há outra hipótese e a morte dos detractores é o único modo de incutir medo aos seus cúmplices e tornar a população mais desafiadora e inquisidora dos seus actos. Talvez o facto de usar uma máscara, o estilo brutal e o cartão-de-visita o tornem demasiado “herói de banda-desenhada” para ser verdade. É aí que entra Wassana (Yarinda Boonnak), é uma menina rica feita activista que tenta transmitir a mensagem de que populações estão a ser alvo de repressão para a construção de uma central nuclear. Mais, o Governo também se lançou numa campanha de contra-informação e repressão física, fazendo os activistas passar por vilões, uma cambada de vândalos sem causa que o que pretende é desestabilizar o Estado e privar o povo tailandês de energia essencial. Wassana é a ex-noiva desencantada do 1º ministro Direk (Pornwut Sarasin), que foi eleito graças à luta anti-nuclar para logo se retratar assim que chegou ao tão desejado cargo. É tão fácil encontrar paralelos noutros países que é vergonhoso. Cedo, Rom se embrenha nesta luta, muito por culpa da bela Wassana com quem tem um passado e é apenas uma questão de tempo até que entre em rota de colisão com o líder político. Entretanto e à melhor maneira dos comics, surge uma associação criminosa denominada Matulee determinada a eliminá-lo.
Em termos de narrativa, afirmar que a estória de “Red Eagle” se baseia na conjuntura política e em conflitos reais é constatar o óbvio. Infelizmente, a mensagem perde-se na tentativa de tornar “Red Eagle” apelativo a gregos e troianos (estive tentada a dizer israelitas e palestinianos mas por estas alturas achei por bem ficar-me pelo politicamente correcto), perdendo a identidade tailandesa pelo meio. O filme é caótico em termos imagéticos. Entre a utilização excessiva do ecrã verde e product placement é impossível considerar seriamente “Red Eagle”. Outro dos problemas do filme é a edição. Temos 130 minutos de filme mas precisávamos assim tanto deles? Não é uma questão de duração mas de edição. Há bastantes cenas dispensáveis e na transição entre estas há uma variação de qualidade. Diria mesmo que há uma desconexão entre o set de filmagens e a sala de edição. A simplicidade inerente à estética do cinema tailandês choca com o ruído das tonalidades hollywoodescas. “Red Eagle” contém inserção de publicidade descarada, desde cigarros a bebidas energéticas. Mas é nos momentos em que parece que o realizador manteve o controlo da obra nas suas mãos que resultam os momentos mais insólitos como uma luta entre o herói e um assassino enviado para o matar sobre um outdoor de uma companhia de seguros de vida ou quando um gangster prestes a assassinar um polícia tropeça e dá um trambolhão! O filme sofre com este conflito interno. O argumento não sabe para onde quer ir e, em termos de imagem a ideia que fica gravada na mente é exactamente essa, da falta de direcção. Esta questão é ainda mais evidente nos actores, mas sobretudo em Ananda Everingham, um bom actor que não tem oportunidade de demonstrar as suas qualidades, num papel muito pouco esmiuçado. No final, um toque comovente, a merecida homenagem a Mitr Chaibancha, mesmo que o filme não o mereça. Duas estrelas.

Realização: Wisit Sasanatieng
Argumento: Kongkiat Khomsiri e Yosapong Polsap
Ananda Everingham como Rom / Red Eagle
Yarinda Boonnak  como Wassana
Pornwut Sarasin como Direk
Wannasingh Prasertkul como Chart

Próximo Filme: A designar

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Roman Polanski: A Film Memoir (2011), Um percurso comentado

Poucas pessoas tiveram uma vida tão fascinante como Roman Polanski. Também poucas podem dizer que atravessaram e sobreviveram a uma Guerra Mundial. E ainda menos podem afirmar que sofreram na pele o efeito das LSD e do fanatismo em torno de Charles Manson por altura do início do fim dos libertinos anos 60.
Roman Polanski no set com Emmanuelle Seigner e Harrison Ford
“A Film Memoir” é um percurso comentado pelo próprio durante o período de clausura imposto pelas autoridades suíças, quando o passado regressa para o atormentar: o caso de abuso sexual que nunca mais morre. Foi pois em prisão domiciliária com uma vida, imaginamos, muito mais aborrecida e o velho amigo Andrew Bransberg como interlocutor, que Polanski se lançou numa longa reflexão sobre a sua ainda mais longa vida. A conversa de amigos ou viagem ego-maníaca se preferirem, na qual até existem palmadinhas nas costas e elogios mútuos como “nós trabalhámos juntos naquele filme que teve tanto sucesso” ou “tenho a honra de te chamar amigo há muitos anos”, não é um reinventar da roda. É mais uma viagem nostálgica povoada por momentos mais ou menos conhecidos. Na verdade, se quiséssemos partir a vida de Polanski em pedaços, três destacavam-se facilmente: o crescimento no gueto de Varsósia, o casamento de conto-de-fadas com o final trágico correspondente e a acusação de abuso sexual. Estes momentos foram alternando entre a semi-obscuridade e uma carreira de realizador menos polémica que as suas escapadas sexuais. Não fossem estes eventos e Polanski seria tão aborrecido como qualquer outra pessoa. Ele é apenas um indivíduo com uma vida extraordinária que por acaso, é um realizador ultra-galardoado. 
Sharon Tate
Por isso é no mínimo curioso que a paixão de Polanski pelo cinema tenha nascido com a propaganda nazi. Desfiles de homens e mulheres fardados, de tanques e canhões, sob a égide de um símbolo que para sempre se associará ao fim das coisas vivas. Filmes dos que um dia juraram obliterá-lo, a ele e a todos os da sua raça, mesmo que estes não encontrassem a culpabilidade, o acto vil aleatório de que eram acusados. Pessoas como a mãe de Roman. De cabelo negro, nariz pontiagudo e formas redondas, confortáveis. A perda da mãe numa idade tão precoce deixa-o embargado. Mas ainda mais o pai. O querido pai que viveu e sobreviveu para retornar um homem diferente. O pai que ele reconhecia em cada estranho à distância, para logo perceber que era apenas mais um desconhecido. E depois ele regressa e não já não há final feliz. O homem que mais queria regressar vivo à Polónia para recuperar o filho, arranja uma nova mulher e, de súbito, Roman deixa de pertencer ao retrato familiar tão ferozmente idealizado pelos dois. Ou assim que cremos, já que apenas nos podemos guiar pelas palavras do realizador. Palavras que rapidamente afastam a crise da separação como se nada fosse, para se aproximar de Paris e de uma irmã mais velha que até ali pouco interessara ao enredo. Teria sido mais difícil mas mais sincero ouvir de Roman as palavras que lhe adivinhamos facilmente: o rancor por o pai ter ultrapassado tão depressa a morte da mãe, o ódio pela usurpadora… Uma mão cheia de nada. Duas ou três declarações que demonstram que pouco foi resolvido na mente do rapazinho e a negação. Há quem lhe chame limitações de tempo, constrangimentos de edição, para a película não se estender infindavelmente. Eu chamo-lhe respeito e ainda temor pelo velho pai. A segunda fase surge rápida e furiosa: o trabalho na sétima arte, as amizades, os primeiros sucessos, um casamento, o divórcio e o início do conto-de-fadas. De todas as mulheres de Polanski, de resto, sobejamente mediatizadas, é Barbara Lass a menos conhecida. Nem os comos nem os porquês da estória de amor. Como se de um capítulo menos importante se tratasse. Mau Roman. Não sabes que há pouco que não seja do domínio público? Por que guardas estes pequenos tesouros para ti?
Aliás, de olharmos com atenção para as mulheres da vida romântica de Roman (as importantes pelo menos), todas elas são altas, louras, deusas. O ideal de mulher ariano. Perdoai a referência ofensiva mas Polanski afasta-se do modelo feminino judeu, como se alguma da propaganda tivesse aberto uma fenda no crânio genial. Depois? Tudo o que já sabemos. Extensa literatura, documentários, arte… O casamento com Sharon Tate, a mulher que permanecerá perfeita para todo o sempre no imaginário das massas, que culminou com a morte horrenda às mãos da seita da Charles Manson. Polanski teria tudo para ser feliz: a mulher, o filho, a carreira. Num instante tudo se foi. Até a carreira, por esta altura no mais alto patamar, se esvai pelo momento insano de abuso de uma jovem de 13 anos de idade. A merecida simpatia do público pelo infeliz viúvo transforma-se em repúdio fácil. E, em tudo isto, o que é que o Polanski do séc. XXI tem para nos dizer? Que lamenta. Que foi um erro. E é tudo.
O escândalo
Não é confrontado. Questionado sequer. Andrew é o ombro amigo. Alguém com quem pode contar para continuar a entoar a canção de uma vida, sem desconforto ou provocação. O comentário mais interessante que ouvi sobre esta aventura biográfica foi que podia ter sido exibida no canal História. Pois que se me parece obra digna de um canal tão respeitável, também me parece que provavelmente passaria despercebida de todos. Nem como prova documental de cinema é o expoente máximo. As imagens dos filmes do Polanski são projectadas de modo célere e, a tempos, aleatório. Apenas é dada maior atenção a um dos seus últimos grandes esforços e também mais galardoados, “O Pianista”. Como se o mérito como realizador e a piedade que advém do filme descrever a sua infância durante a IIª Guerra Mundial, o absolvesse de todos os erros cometidos. Não, o momento é de um regozijo contido, num chalé suíço. E de fé no futuro. Pelas suas próprias palavras, Polanski não terá de que sentir temor pois que não lhe é pedido mais do que a sua versão, verdadeira ou ficção. E isso não é justo, pois não? Polanski. O adorado. O infame.


Próximo Filme: "Red Eagle", 2010 

domingo, 11 de novembro de 2012

"Art of the Devil 3" (Long Khong 2, 2008)



Antes dos filmes “Saw” (2004), se tornarem uma instituição e os filmes de tortura, chamem-lhe torture porn se quiserem, a ver se me importo, já a Tailândia fazia as delícias do mercado interno de terror. É apenas natural que, uns meses após a estreia de “Saw”, o país lançasse “Art of the Devil” que se resume a uma sucessão de cenas de tortura e que catapultou a jovem e bela actriz principal para o estrelato. Mais dois filmes se seguiriam e é o terceiro de que hoje se fala. Não existe a problemática da continuidade pois o primeiro filme é independente dos que o seguiram e o filme de 2008 é a prequela de “Art of the Devil 2”. Curiosamente o terceiro filme foi intitulado Long Khong 2. Confusos? Mas a questão da continuidade nunca seria problemática, uma vez que o foco do filme é a tortura e o que interessa é ter carne viva disponível para o efeito. Quem, pouco importa vai tudo a eito.
Panor (Nakpakpapha Nakprasitte) é a professora sexy que desde que chegou à terreola deixou todos em polvorosa, incluindo um homem que para se casar com ela, chega a envenenar a própria esposa Daun (Paweena Chariffsakul). A morte da mãe e o rápido casamento do chefe de família com a intrusa provoca a desconfiança de todos. Cedo, desenham um plano para ressuscitar Daun e fazer desaparecer Panor, que inclui religião, magia negra e bastante tortura. Está-se bem de ver onde isso vai dar, cenas bastante explícitas de sevícias cruéis. Ok, não são tão dolorosas como, digamos, um vídeo do David Guetta com a Rihanna como guest star mas ainda assim bastante más. E caracterização deixa muito a desejar. "Ora deixa-me cá cortar-te a língua que é um óbvio pedaço de plasticina"... Sem pretender desvendar demasiado, deixem-me só deixar bem claro que “Art of the Devil 3” não é de todo aconselhado a mulheres grávidas ou com enorme sensibilidade no que toca ao seu útero. Mais, há uma cena em particular em que (e eu considero-me já bastante dessensibilizada no que a cenas impressionantes diz respeito), me senti fisicamente doente. Não se metam com o útero de uma mulher. Tipo, essa cena é doentia. No que é que estavam a pensar? 
Bem, cumprem o objectivo de provocar o temor nos espectadores, ainda que por alusão a uma qualquer atrocidade cometida contra a nossa pessoa e não propriamente pelo suspense ou poder da sugestão. A saga “Art of the Devil” concretiza um dos maiores problemas dos filmes de terror do novo milénio. Nada é deixado para a imaginação. O triunfo de inúmeros filmes de terror deve-se à sugestão e não ao que de facto mostraram no ecrã. Mais do que devido à mestria da equipa técnica, o ónus é colocado na curiosidade mórbida do espectador. É ele que se questiona sobre o que se passará fora do alcance da lente. Posto isto, de notar que a bruxaria, se não é algo recorrente para aqueles lados, pelo menos parece que em toda a saga, descobrir um bruxo é tão fácil como ligar ao canalizador. E nem um é vigarista. Todos sabem o que fazer no caminho das artes mágicas negras e todos atingem com sucesso as metas que os clientes lhes pedem. E o melhor de tudo é que enquanto praticam actos perfeitamente questionáveis, vão avisando que lidar com a magia negra traz consequências devastadoras para quem invocou tais males. Não me digam? O que mais me surpreende nem é a facilidade com que se contratam bruxos mas o facto de haver tanta maldade no coração que se recorre por motivo nenhum a medidas tão extremas quanto essas. Processar não? Pintar as paredes do malfeitor com graffiti? No máximo, uma bofetada ou uma ameaça de morte? Não? Eles lá sabem. E depois, existindo ofensas tão graves contra a família é assustador que as pessoas não se importem de colocar os seus entes queridos em risco por algo que foi feito contra apenas um indivíduo. Um bocadinho egoístas ou retardados não? O que me leva à questão seguinte: não existe um único personagem digno de piedade! Todos são malvados. Todos merecem um mau fim e não é como se alguém se importasse. Se o objectivo é repugnar-nos, "Art of the Devil 3" sucede em todas as frentes: ele há sangue, vermes, agulhas enfiadas em sítios pouco naturais, orifícios penetrados e castigados de modo extremamente doloroso… Só não há argumento. Mas não é como se alguém fosse procurar as artes do demónio por causa da estória não é? Uma estrela e meia. 


Realização: Equipa Ronin (Pasith Buranajan, Kongkiat Khomsiri, Isara Nadee, Seree Phongnithi, Yosapong Polsap, Putipong Saisikaew e Art Thamthrakul)
Argumento: Kongkiat Khomsiri e Yosapong Polsap
Nakpakpapha Nakprasitte  como Panor
Sukaporn Kitsuwon como Dis
Paweena Chariffsakul como Daun
Kalorin Supaluck Neemayothin como Pan
Sammart Praihirun como Pravet

Próximo Filme: Roman Polanski: A Film Memoir, 2012

domingo, 4 de novembro de 2012

"The Red Shoes" (Bunhongsin, 2005)



Do conto-de-fadas moderno fazem parte itens como a casa grande, as aulas de ballet e um roupeiro cheio de sapatos. De preferência um armário só para sapatos, onde estes possam ser ostentados e adorados, além de calçados. Ao melhor preço que o gosto pode alcançar. Acima de tudo bens, visíveis e passíveis de apreciados e invejados pelos outros. O prazer de saber que os outros anseiam pelas nossas possessões é pouco superior ao de nos sabermos donos e senhores daquilo que detemos. Do sonho apenas se excluem maridos infiéis, filhas desobedientes e a sensação de que somos apenas um bocado de carne andante, que apenas serve para cumprir um desígnio superior… de outra pessoa.
Sun-Jae (Hye Soo Kim), tem um brutal acordar para a realidade quando encontra o marido com outra mulher e, ofensa maior, que calça os seus belos saltos altos durante o acto sexual. Sun-Jae abdica do sonho que era na verdade um pesadelo mas, só ela não o queria ver e foi a última a compreendê-lo com toda a dor que isso implica. Ela muda-se com Tae-su (Yeon-ah Park), a filha menor, para um apartamento decrépito. Lá, tenta manter pequenas lembranças da vida de luxo anterior, como o expositor dos seus belos sapatos, ao mesmo tempo que recupera forças para iniciar um negócio por conta própria. A filha, essa, rebela-se. O pai que era incapaz de lhe dizer a palavra “não” e gostava de a ver dançar era muito melhor.
Por entre a recém-descoberta vida de mãe solteira e o interesse súbito de In-cheol (Seong-su Kim), o designer de interiores que escolheu para decorar o escritório, Sun-Jae encontra um par de sapatos cor-de-rosa intenso. E estão ali, no meio de uma carruagem do metro, abandonados. Como é possível? Ela arrisca. Assentam na perfeição. Como se tivessem desenhados para os seus pés. E finos, requintados. Logo ela, que nunca admitiria ter encontrado os sapatos. Ela é o tipo de mulher a quem se oferecem sapatos. Caros. Sun-jae sente-se desde logo assombrada e encantada. Pois que eles têm memória e, rapidamente, Sun-jae alterna os momentos de realidade com a ficção do novo par de sapatos que encontrou. Mas os saltos de princesa cor-de-rosa também encantam a outrem. Os seus sapatos atraem o olhar lascivo dos homens e a inveja das mulheres e, não tarda, também a morte.
“The Red Shoes” baseia-se no conto de Hans Christian Andersen “Os sapatinhos vermelhos”, no qual, o sueco relata a estória da queda de uma menina pobre que se deslumbrou e descurou os seus deveres por causa de um par de sapatos vermelhos recém-adquiridos. Perante a sua crescente vaidade e desleixo pelos outros, os sapatos foram amaldiçoados e ela condenada a dançar para todo o sempre até que, cheia de dores implorou a um carrasco que lhe amputasse os pés. Ela viveu o remanescente dos seus dias aleijada mas feliz com a nova descoberta de piedade e amor pelo próprio. Quanto a mim esta é uma moral um bocado psicopata, não que a minha opinião venha ao caso, embora, tal conto mais depressa inspire o temor nos jovens do que os incite a uma reflexão sobre os efeitos do seu comportamento sobre os outros. Ainda que narrativa da película seja uma adaptação tão livre do conto que poucos a associem a Anderson, a fotografia é excepcional e evoca o conto de fadas. Valha-nos a imagem, bela e assombrosa, como as estórias de Anderson. Bela e arrepiante, nomeadamente nos momentos em que o sangue corrompe superfícies alvas e limpas, trazendo poluição ao perfeito mundo minimalista que poucos segundos antes ali tivera lugar. Estas cenas são tão mais evidenciadas pela ausência de figurantes. Todos os espaços públicos estão desertos. Apenas quando a personagem principal está em cena, o mundo parece um pouco mais povoado mas mesmo assim são poucas as ocasiões para tal. Sun-jae vive numa bolha com a filha. Quando corpos estranhos se tentam introduzir nela acabam por sofrer as consequências fatais. Mas até no número de mortes “The Red Shoes” é minimalista. Curiosamente é a narrativa que se encontra pejada de ideias, demasiadas, cuja existência, perante um desenlace tão óbvio, é muito duvidosa. Optaram por esta opção ao invés de se manterem na linha minimalista que antes tinha sido demonstrada. Face a opções tão idiotas só posso concluir com o velho princípio KISS - Keep It Simple Stupid! Duas estrelas e meia.


Realização: Young-gyun Kim
Argumento: Young-gyun Kim, Sang-ryeol Man e Hans Christian Andersen (conto)
Hye-soo Kim como Sun-jae
Seong-su Kim como In-cheol
Yeon-ah Park como Tae-su

Próximo Filme: "Art of the Devil 3" (Long khong 2, 2008)

domingo, 28 de outubro de 2012

TCN Blog Awards 2012 - Votações Abertas


Chegámos à edição de 2012 dos TCN Blog Awards e, por esta altura só me flagelo por não ter feito o anúncio dos prémios mais badalados da blogosfera mais cedo. Surpreendentemente, o meu querido, por esta altura, o nosso querido Not a Film Critic conseguiu uma nomeação na categoria de "Melhor Artigo de Cinema" com "Artes Marciais - O Género Menor". Esta nomeação é tanto mais fantástica pelo facto deste texto ser o único artigo elaborado até à data, sendo, que 99,9% do que aqui se produz são apreciações de filmes. Não que me queixe, a nomeação tem até um gostinho especial pelo carinho com que guardo no coração este género esquecido. Mas não podia ser de outro modo, já que o Not a Film Critic nunca poderia reproduzir um artigo baseado numa lógica de números guiada por uma grande dose de bom-senso; de criar o sempre inevitável e certeiro artigo sobre o Woody Allen; muito menos oferecer uma visão singular sobre o que está por trás de um herói de capa; de abordar os heróis e anti-heróis daqui até à China, atravessando meio mundo, sem nunca perder a fluidez do discurso; pensar os temas do cinema além da imagem em movimento e reduzi-la à sua unidade mais simples; à narrativa de um pensador que consegue encontrar na natureza artificial de robôs encontrar vestígios da humanidade até a uma interessante abordagem histórica do cinema chileno... Aqui no Not a Film Critic, segui as imortais palavras do Bruce Lee e fui beber à minha paixão sediada no extremo oriente e falar um pouco do subestimado cinema de artes marciais, "o género menor". E sabem que mais? Quando esta coisa dos prémios terminar, até pode ser que alguns de vós tenham decidido dar uma oportunidade ao género por que já não basta, queremos retornar ao local onde as coisas são o que parecem e a acção é crua, física, de contacto. Onde vibramos nos assentos, a respiração fica acelerada e damos pancadas inconscientes na almofada ou no parceiro do lado. Onde o cinema de artes marciais se torna, de súbito, emocionante outra vez e não o género menor que nos querem, por força suave, fazer crer. Votações aqui.

PS: Quantos destes artistas conseguem identificar?

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"Aokigahara: Suicide Forest", 2011



Com apenas 21 minutos de duração e a satisfação de um enredo que pertence à história autêntica da humanidade, devo admitir que foi um caso delicado para vir aqui transmitir a gravidade dos eventos que “Aokigahara: Suicide Forest”, se propõe descrever. Devia ser mais fácil não é? Escrever sobre a realidade que vivemos, neste ou noutro canto do mundo. A imaginação e a suposição são abstractas. A morte não.
Quando se aborda um objecto penoso a tendência é para carpir sobre ele. No entanto, “Aokigahara: Suicide Forest”, compromete-se com a verdade de Azusa Hayano, o geólogo com um dos trabalhos mais ingratos de sempre: patrulhar a floresta Aokigahara localizada no sopé do monte Fuji em busca de potenciais suicidas ou cadáveres. Quando a câmara foca a vegetação virgem, praticamente intocada pelo homem é difícil de imaginar o que podia levar alguém a decidir terminar a sua vida num sítio tão pacífico. De facto, por entre os grandes troncos centenários, fetos que lutam uns com os outros pela luz solar e as trepadeiras que cobrem todo o espaço vital da floresta, Aokigahara podia ser pensada como um retiro espiritual. Então, veio um livro de Seicho Matsumoto, no qual, um casal decide morrer na floresta e de repente, morrer naquele lugar magnífico tornou-se romântico. Mais de cem corpos são encontrados ali todos os anos. Estima-se que muitos mais ficarão por encontrar. Inúmeras fontes consideram ainda a floresta Aokigahara o segundo lugar onde ocorre o maior número de suicídios do mundo, apenas atrás da ponte Golden Gate em São Francisco. O método de eleição, a forca. “Aokigahara: Suicide Forest” é um relato honesto, mas talvez demasiado unidimensional, (bem, não estava à espera que os mortos se erguessem da campa e explicassem porque é que escolheram acabar com a própria vida) mas, mais visitantes da floresta encantadora e sinistra ou familiares das vítimas ou…
Com um enquadramento tão delicado, a frieza de Azusa Hayano é arrepiante. Como pode ele ser tão insensível ao facto de sobre um ramo estar a corda de um dependurado? Como permanecer impassível enquanto o geológo vai descobrindo pistas de pessoas que terão por ali passado e não mais voltado? Ele vai, calmamente, falando das fitas que as pessoas prendem às árvores para regressar, não vão eles arrepender-se. E vestígios de pessoas… E cadáveres… Rebate da realidade, Hayano está tão habituado a conviver com a morte como se de uma amiga se tratasse. Imagine-se o que ele já terá visto, o que ele terá impedido e o que não pôde deter. Retive sobretudo um momento em que Hayano menciona um amigo que terá entrado na floresta para fazer o impensável. A meio do processo desistiu mas ficou com uma cicatriz permanente no pescoço. Uma memória com que ele poderá congratular-se. Já que outros que optaram belo beijo frio da morte não puderam arrepiar caminho e abraçaram o único destino possível, uma morte lenta e dolorosa. Duas estrelas.



Próximo Filme: "The Red Shoes" (Bunhongsin, 2005)

domingo, 21 de outubro de 2012

"Sex is zero 2" (Saek-jeuk-shi-gong-ssi-zeun-too, 2007)



Preparados para nova dose da comédia sexual mais sem-vergonha a sair da Coreia-do-sul nos últimos anos? “Sex is zero 2” faz tudo bem: provoca os mais puritanos e faz soltar as gargalhadas e a testosterona dos jovens obcecados por sexo. Esta sequela do filme de 2002 traz as mesmas personagens e sequências ainda mais arriscadas, chegando mesmo a induzir o vómito. Mas “Sex is zero 2” não propõe re-inventar a roda e segue rigorosamente a mesma fórmula do original.

Eun-sik (Ghang-jung Lim) continua o mesmo “adorável” falhado que não tem muita sorte e que cada vez se parece menos com um estudante universitário. Pudera, aos 30 anos! Depois de abandonado por Eun-hyo (Ji-won Ha), ele consegue arranjar uma nova namorada em Kyeong-ah (Ji-hyo Song), que parece gostar genuinamente dele. Mas a sorte dele nem por isso melhora. Enquanto os amigos lá vão conseguindo dar cambalhotas, um deles inclusivamente mudou de sexo nos últimos 3 anos e já está noivo, ele continua sem conseguir a tão almejada intimidade com Kyeong-ah. Ele vai tentando através de insinuações directas e indirectas e às vezes, Kyeong-ah até parece disposta a ceder. Só que na hora H retrai-se. Não está pronta.
Mas Eun-sik já esperou 3 anos e os seus amigos não estão dispostos a vê-lo esperar mais e a desperdiçar a juventude o que conduz às inevitáveis peripécias que o separam de Kyeong-ah, ao invés de os tornar mais próximos. Entretanto, um antigo pretendente da rapariga, Gi-joo (Sang-yoon Lee) mais bonito, rico e bem-sucedido e com as boas graças da sogra retorna decidido a fazer dela sua esposa.
Desta feita as universitárias não praticam fitness mas estão na equipa de natação o que proporciona momentos mais do que suficientes para estarem à beira da piscina em trajos menores. Os homens, esses, continuam obcecados com as artes marciais, tendo por fim, direito a brilhar num torneio elaborado à pressa para o momento climático do filme.
A maioria das personagens são anedotas andantes, com reacções demasiado exageradas e actos demasiado disparatados para que lhes possamos atribuir alguma credibilidade. Uma das personagens tem um comportamento próximo ao da psicopatia sempre que desconfia que o namorado possa estar a trai-la, outra não consegue encarar a realidade de que o ex-namorado é agora uma mulher e que gosta de homens por fim, temos os pervertidos de serviço para quais já não chega espreitar, também têm de brincar com os orifícios dos outros… Só Eun-sik e Kyeong-ah mantêm alguma proximidade com a realidade, parecendo-se com um casal que podia existir. Enquanto meio mundo à sua volta só pensa no acto sexual, 99% do tempo, quer dentro e fora de uma relação amorosa, o par principal mantém um relacionamento parecido com o de adolescentes que estão apaixonados pela primeira vez e ainda possuem alguma inocência quanto aos factos da vida. Eis a vantagem de Kyeong-ah sobre Eun-hyo, a antiga namorada de Eun-sik. Ela tem genuína afeição por Eun-sik, mesmo com um fraco quociente intelectual e as suas tentativas desajeitadas de a levar para a alcova. É a sua doçura que a atrai. Kyeong-ah nunca ficaria com o tolo Eun-sik por piedade. Onde a antiga relação nos faria estremecer a actual aproxima a audiência dos personagens e fá-la ficar do lado destes, torcendo para que as desventuras do par romântico culminem num final feliz. À semelhança do filme anterior, "Sex is Zero 2" está fadado para um último terço dramático. Felizmente, nesta nova aventura a viragem dramática já não é tão desconexa nem radical. Para os fãs do género “Sex is zero 2” é um repescar das piadas que fizeram do primeiro filme um sucesso, com um período ainda menor de reflexão sobre os malefícios do sexo desprotegido ou sem sentimentos envolvidos. Para dizer a verdade, o que a malta quer é passar da palavra à acção e disso, “Sex is zero 2” tem bastante. Três estrelas.

Realização: Tae-yun Yoon
Argumento: Je-gyun Yun
Ghang-jung Lim como Eun-sik
Ji-hyo Song como Kyeong-ah
Shin-ee como Kyeong-joo
Chae-yeong Yoo como Yoo-mi
Hwa-seon como Yeong-chae
Sang-yoon Lee como Gi-joo

Próximo Filme: "Aokigahara: Suicide Forest", 2010

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

"Seediq Bale: Warriors of the Rainbow" (Sàidékè balái, 2011)




Parece que deste pequeno país à China, com uma passagem pelos EUA, no topo da lista de erradicação de povos indígenas (culpem a televisão), a estória das tribos nativas é marcada por guerra, sangue e morte. “Coexistência pacífica” é uma expressão maravilhosa mas despojada de sentido no mundo real. Quando esta coexistência apelidada de pacífica apenas é alcançada à custa da conquista e humilhação, como se pode, legitimamente, esperar por mais que uma paz podre e uma subserviência que sobrevive alimentada por uma memória que aguarda por uma centelha inflamatória? O modo de vida dos seediq, população aborígene de Taiwan é um de caça, bebida e de guerrear entre si. Originalmente eram cortadores de cabeças e os seus únicos rivais eram eles próprios, recorrendo a pequenas ofensas para satisfazer o capricho de divertimento. O papel da mulher é relegado para segundo plano. O próprio título do filme conta essa mesma história, seediq bale significa algo como homem verdadeiro.  A mulher está lá para o bom e o mau feitio do seu homem de coração quente seediq. A mulher assegura o calor no lar e a amamentação dos filhos. E pouco mais saberemos dela. A personalidade do homem seediq é tão intempestiva e inesperada quanto a natureza.
Enquanto o homem seediq pulula por entre o terreno selvagem e inexplorado de uma ilha muito distante da cidade de edifícios que rasgam o céu, pouco adiante, o povo japonês, civilizado e calculista prepara uma nova demonstração de força. A ilha não é tão importante quanto demonstrar o poderio do império do sol nascente contra toda e qualquer oposição real ou imaginada. Entre a ilha e o povo japonês está Mouna Rudao (Lin Ching-Tai) o irascível líder de uma facção da tribo seediq, o povo aborígene da ilha de Taiwan. Após a invasão que esmaga quaisquer pretensões de domínio sobre as facções rivais, Rudao aprende a refrear o ego, o seu e o dos outros, temendo que qualquer movimento em falso possa acordar a besta nipónica. Ele vive entre o mundo dos vivos e o dos deuses e ele canta os seus divinos senhores como se vivesse naquele mesmo plano. Superior. Além da ponte do arco-íris, onde os pastos são verdes e existe caça para todos. Mas os deuses estão insatisfeitos. Eles clamam pelas glórias do passado, em que os seediq caçavam e esmagavam os oponentes e com as suas cabeças reclamavam qualquer esperança destes transitarem para o outro lado. O povo japonês esmagou a arrogância dos seediq, retirou-lhes as terras e humilha-os constantemente. Sobreviver a troco da dor do conhecimento da superioridade do inimigo? Sobreviver para não lutar por uma última vez? Sobreviver para as gerações vindouras nunca conhecerem o gosto pela caça, nem provarem a sua masculinidade através da morte? Ou estão destinados a sobreviver como uns bêbados, comprados com o vinho do invasor? Não. Os deuses clamam pelo sangue do inimigo e a época em que os Seediq se unem como um só e lutam até ao último homem… E é Mona Rudao, o homem que irá unir, contra o ego e as escaramuças passadas unir o povo dividido. Pela liberdade.
Em “Seediq Bale: Warriors of the Rainbow” existe o mesmo gosto amargo de “Braveheart”, “Apocalypto” e “O Último dos Moicanos”. A sensação de fatalismo, sem entrarmos por considerações históricas está demasiado presente. Não é latente. É manifesta. Umas centenas de homens armados com flechas nada podem contra milhares de militares, os mesmos que viriam a atacar Pearl Harbour e a atrair a ira americana. No entanto, a piedade, por todo o sofrimento que o povo seediq atravessa só é superada pela barbárie que este povo provoca em igual proporção contra o povo japonês. O incidente Wushe de 1930, que provoca a revolta contra o povo japonês, colonos e militares demonstra que numa guerra não há bons nem maus, apenas dor e morte.

As tentativas (pois que são muitas em quatro horas de duração), de se tentar demonstrar o povo seediq como corajoso e valente saem, de certo modo goradas no comportamento bestial e errático do mesmo e na chacina evitável de mulheres e crianças de ambos os lados. Nenhuma canção deste mundo consegue apagar da memória o derrame do sangue dos inocentes. E por tudo quanto resultou tal incidente e a temível, brutal e esperada reacção japonesa que diminuiu grandemente a população seediq, não deixa de ser irónico que no século XXI, sob o jugo chinês, numa “Taiwan civilizada” os aborígenes sejam ainda em menor número. Três estrelas e meia.

Realização: Te-Sheng Wei
Argumento: Te-Sheng Wei
Lin Cing-Tai como Mona Rudao
Masanobu Andô como Genji Kojima
Umin Boya como Temu Walis

Próximo Filme: "Sex is Zero 2" (Saek-jeuk-shi-gong-ssi-zeun-too,  2007)
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