Tamyia Iemon é um ronin, com feitio irascível que mata o sogro após uma zanga. Naosuke é um samurai obcecado por Osode, uma mulher casada. Após esta rejeitar os seus avanços acaba, num acesso de ciúmes por assassinar o marido dela. Os assassinos, na sua vilanagem, decidem fazer um pacto para encobrir o que fizeram. Após a morte do sogro Iemon desinteressa-se da esposa Oiwa e, eventualmente surge uma nova pretendente em Oume, mais bonita e rica. Com a conivência de uma criada e do potencial sogro, Iemon conspira para se livrar do único obstáculo: a esposa. Envenenada pelos conspiradores Oiwa é primeiro desfigurada e, depois de um acesso de loucura, suicida-se. Antes da morte, a promessa de se vingar dos que lhe fizeram mal e todos sabem que não há maior fúria que a de mulher traída. Entretanto Naosuke força Osode a casar-se com ele através da promessa de vingar a morte da sua irmã.
Nanboku surge como parte integrante da estória, o velho contador de estórias, um pouco como o avozinho que conta um conto ao neto, com a excepção que “Yotsuya Kaidan” não é aconselhável a menores de 16. No entanto é mais um brilhante exemplo da empresa Toei, por trás de grandes êxitos da animação em Portugal como “Dragon Ball”, “One Piece”, “Digimon” e muitas séries e filmes de que nunca ouvimos falar e só podemos lamentar nunca terem cá chegado. A Toei não merece uma busca menos que intensiva e tem material suficiente para ocupar os próximos anos em sessões contínuas. A exemplo da qualidade da animação, os personagens chegam a ser mais humanos que os actores reais. Cada olhar, cada expressão tem um significado e assenta na perfeição na narrativa. Façam o teste. Assistam a “Yotsuya Kaidan” sem som durante uns minutos. Através da paralinguagem conseguem decifrar as emoções das personagens e, por conseguinte uma interpretação da narrativa de modo geral. É um dos maiores elogios que se podem fazer a um criador de animação.
Deverão desvalorizar os créditos iniciais que reúnem a utilização de instrumentos tradicionais com o moderno rap. É um anacronismo já que contrasta com as estórias clássicas que se seguem. De resto, a narrativa de “Yotsuya Kaidan” pode soar familiar e antiquada mas é adulta, com temas com os quais os mais velhos se podem identificar e assistir sem sentimento de culpa associado estarem a ver um filme de animação. Poderão encontrar alguns problemas em identificar-se com o facto de uma das personagens ser forçada a contrair matrimónio para ter alguém que vingue a sua irmã e a necessidade imperiosa de manter a face a tudo custo mas este já não é “defeito” da estória, antes uma questão cultural. Normal, portanto. Se quisermos simplificar, o conto recorre a temas que remontam à verdade universal de que o Homem, máquina fantástica como é, é imprevisível e não se lhe pode atribuir demasiada confiança sob pena de uma promessa de sofrimento atroz. Três estrelas e meia.
Realização: Tetsuo Imazawa
Argumento: Chiaki J. Konaka
Designer de animação: Yoshitaka Amano
Hiroaki Hirata (Japonês) e Brian Dobson (inglês) voz de Iemon Tamiya
Mami Koyama (Japonês), Nicole Oliver (inglês) voz de Oiwa Tamiya
Yuko Nagashima (Japonês), Rebecca Shoichet (inglês) voz de Osode Yotsuya
Keiichi Sonobe (Japonês), Samuel Vincent (inglês) voz de Gonbei Naosuke
Ryou Hirohashi (Japonês), Lalainia Lindbjerg (inglês) voz de Oume Ito
Wataru Takagi (Japonês), Michael Adamthwaite (inglês) voz de Yomoshichi Sato
PS: Deixo link para a versão disponível no youtube com dobragem em inglês. Com certeza haverá sempre algo de "lost in translation" e nunca alcança o nível de qualidade do original, mas não deixa de ser um brinde de Natal.
Próximo Filme: “Ayakashi – Samurai Horror Tales”: Goddess of the Dark Tower, (Ayakashi – Tenshu Monogatari, 2006)
historia bizarra e cheia de detalhes
ResponderEliminarabs!