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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

"Black Coal, Thin Ice" (Bai ri yan huo, 2014)


Celebrado pela boa qualidade enquanto espécimen do neo-noir, assemelha-se a um dos mais próximos retratos da China industrial que se viu nos últimos anos em filme.

Esta é a China do segundo sector, do crescimento rápido e sem qualquer atenção pela qualidade de vida. Estamos em 1999, e é encontrado numa fábrica transformadora de carvão é encontrado um membro humano. Ali perto, é encontrada o documento de identificação que corresponde a Liang (Wang Xuebing), um trabalhador que não aparecia há algum tempo. O detective Zhang (Liao Fan) é destacado para o caso. Seguindo uma pista, ele em conjunto com outros colegas vai interrogar um suspeito mas a entrevista corre da pior forma possível. Misto de incúria e arrogância da polícia desenrola-se um tiroteio, ao qual apenas sobrevivem Zhang e o colega Wang (Yu Ailei). Com a carreira e casamento arruinados, Zhang entrega-se ao álcool e ao trabalho com segurança. À viúva de Liang, Wu (Lun Mei Gwei) são entregues as cinzas. O caso é enterrado. Eis que cinco anos depois, começam a surgir de modo idêntico, membros de corpos no meio de carregamentos de carvão por toda a região. Zhang alia-se ao colega para resolver em definitivo o caso e reavivar a chance de um regresso à carreira policial. Tendo ligação a Wu a misteriosa viúva de Liang, Zhang fica convencido que nela se encontra a resolução do caso e começa a segui-la.

“Black Coal Thin Ice” é um filme difícil já que ali nada há de sonho ou de encantador. Entre a aridez poluída da mina de carvão e o ar gélido com queda de neve constante, que se sente até às entranhas, não existe um único elemento de conforto. Nem ninguém é feliz. E se aparentar tal coisa, ainda mais rápido lhe cai a máscara. Subsiste uma aura de resignação e condenação. A ideia de que estas foram as cartas que o destino traçou e é com estas que os personagens terão de se governar está permanente durante todo o filme. Não existe nada mais do que a realidade que conhecem.
Para a viúva Wu, jovem, bonita e inteligente, não há a possibilidade de aspirar a mais do que a pequena lavandaria de bairro ou de pensar num segundo matrimónio. Não faz parte do seu plano de vida. Não dá para ver tão longe. Não dá para ver mais longe além da neve que cai. De igual modo Zhang era a profissão e a relação que tinha e lhe foram retirados. Sem eles sobrevive. Sem eles não há mais nada. A resolução dos casos encontra-se num segundo plano, abaixo das intenções egoístas dos seus protagonistas. Em particular, no caso de Zhang, um meio para um fim. “Black Coal Think Ice” não vai muito além do rótulo de neo-noir. Os papéis estão bem definidos. Wu é a femme Fatale, Zhang é o detective anti-herói. Esta última personagem é também a mais divisiva, já que ele comete demasiados erros, que vão desde o desleixo até uma incapacidade quase primitiva de juntar alguns factos. Ser polícia pode estar-lhe no sangue, as capacidades inquisitivas nem tanto. Digamos que não é nenhum Humphrey Bogart. Quanto ao mistério, esse, não é excessivamente complicado se retirarmos parte do jogo do gato e do rato entre os dois protagonistas e uma narrativa que tende a complexificar-se, para esconder o facto de que a verdade é afinal simples. Com 106 minutos de duração “Black Coal Thin Ice” consegue parecer tão longo quanto um filme que complete as duas horas. Aí reside porventura o seu maior problema, tentar parecer mais complexo do que o é ao invés de se focar naquilo que o tornou interessante desde o início, um descendente directo do género noir tendo por cenário a China industrializada do séc. XXI e as suas idiossincrasias. Três estrelas.

Realização: Diao Yinan
Argumento: Diao Yinan
Liao Fan como Zhang Zili
Gwei Lun-Mei como Wu Zhizhen
Wang Xuebing como Liang Zhijun
Yu Ailei como Wang

Próximo Filme: "Haunted Universities" (Mahalai Sayongkwan, 2009)

domingo, 31 de janeiro de 2016

"Parasyte: Part I" (Kiseijuu, 2014)


Daqui a uns anos, talvez até meros meses, vou negar que alguma vez disse isto mas aqui vai: se há moda que precisa continuar é a adaptação de filmes a partir de mangá; se uma precisa de morrer é a divisão de filmes em duas ou mais partes.

“Parasyte: Part I” é só apenas um dos muitos filmes que nasceram numa banda-desenhada e passaram ao ecrã nos últimos anos com resultados variáveis. “Death Note” é um esforço incongruente e aborrecido; “Rurouni Kenshin” que teve uma estreia intrigante caiu a pique à medida que foram sendo geradas sequelas. Por entre mortos e feridos, “Gantz” e “Assassination Classroom” emergiram como os esforços mais interessantes ou divertidos.

Em “Parasyte: Part 1” a humanidade é alvo de uma invasão invisível a olho nu por alienígenas. Estes seres funcionam quais parasitas e introduzem-se nos corpos de seres humanos, tomando o controlo destes e adaptam os seus comportamentos com vista a passar despercebidos enquanto canibalizam outros homens. Shinichi (Shota Sometani) um aluno vulgar de liceu, torna-se, por acidente, na única esperança para salvar a espécie humana quando um dos parasitas fracassa a conquista do seu cérebro e apenas assume o controlo do seu braço direito. Shinichi atribui-lhe o nome literal de “Migi” e acaba por criar-se uma amizade insólita e inesperada entre o rapaz e o alienígena invasor, movida de início pela curiosidade mútua. Eles não podem sobreviver um sem o outro pelo que acabam por coexistir como um som. Shinichi distancia-se da mãe e da amiga Satomi (Ai Hashimato) após o conhecimento da realidade que afecta todos os seres humanos e Migi, por sua vez, começa a questionar a brutalidade da sua própria espécie parasítica. Entretanto, Ryoko (Eri Fukatsu) que começa a exercer a profissão de docente na mesma escola onde Shinichi estuda é possuída por um alienígena de elevado estatuto que pretende estudar os seres humanos no seu meio ambiente. Conhecimento significa poder. E conhecer o Homem tornará mais fácil a conquista da espécie.

“Parasyte” sucede na apresentação de uma estória absolutamente absurda que agrade aos fiéis seguidores da mangá e às audiências sequiosas de uma experiência diferenciada no que diz respeito às invasões extraterrestres. Pela primeira vez em algum tempo é conhecia a perspetiva do invasor. Não é apenas um ser terrível, impassível e impossível de demover na sua senda destrutiva. Ele é tão ou mais complexo que o Homem. Quer-se uma mente colectiva qual colmeia mas até ele quebra as hostes e questiona. Por seu turno, Shinichi enfrenta um dilema pior que o do adolescente normal. O jovem que nunca nada fez de extraordinário, tem agora um braço alienígena com quem comunica telepaticamente. Seria caso para internamento psiquiátrico se contasse a alguém, não? Também a personagem de Ryoko é intrigante. Não será um exagero assumir que se o Homem encontrasse uma nova forma de vida a iria estudar e dissecar em toda a medida para a conhecer. Chocante é a perspectiva de que quem o faz é um Ser invasor e o Homem é a Cobaia.
Desta feita, os efeitos digitais são um bom complemento da estória. Destacam-se, em particular, as sequências em que as pessoas são atacadas pelos parasitas. Mas nota-se, que estamos por fim chegados ao século XXI. Os valores de produção já não podem ser assim-assim. O argumento, o elenco, a cenografia, a trilha sonora, os efeitos inseridos em pós-produção entre outros aspectos técnicos são de qualidade média a superior. Há a nítida sensação que existe uma preocupação em não apostar no menor denominador de satisfação possível e que iria agradar de qualquer modo aos leitores da mangá. Se isto abre portas a que se considere, finalmente, a adaptação da BD como uma fonte viável e rentável de boas obras cinematográficas e, também abre todo um espaço de possibilidades para a atracção de públicos que à partida não teriam o menor interesse em ver estes produtos de Ficção. Três estrelas.

Realização: Takashi Yamazaki
Argumento: Hitoshi Iwaaki (manga), Ryôta Kosawa e Takashi Yamazaki
Shôta Sometani como Shin'ichi Izumi
Eri Fukatsu como Ryôko Tamiya
Ai Hashimoto como Satomi Murano
Sadao Abe como Migi (voz)
Kazuki Kitamura como Takeshi Hirokawa
Masahiro Higashide como Hideo Shimada
Tadanobu Asano como Goto
Miko Yoki como Nobuko Izumi
Jun Kunimura como Detective Hirama

Próximo Filme: "The Invitation" (2015)

domingo, 27 de setembro de 2015

"The Shrew's Nest" (Musarañas, 2014)


Por entre os devaneios retro de um “Turbo Kid”, a loucura sem limites de “Yakuza Apocalipse” ou os nervos contidos de “The Invitation” seria fácil “The Shrew’s Nest” (que teve uma presença discreta no Cinefiesta de 2014), passar despercebido na 9.ª Edição do MOTELx. Seria… mas não foi.


“The Shrew’s Nest” foca a estória de Montse (Macarena Gómez) e a irmã acabada de completar 18 anos (Nadia de Santiago). Com a morte prematura da mãe e o abandono do pai (Luís Tosar), Montse chama a si o papel de progenitora que assume com todo o zelo e autoridade. Acossada pelo temor do desconhecido Montse é uma reclusa na sua própria casa, fazendo trabalhos de modista e tendo por ligação mais imediata ao exterior a irmã que trabalha na loja de ambas. Na casa que governa com mão de ferro, Montse recebe ainda a Dona Puri (Gracia Olayo) cliente e boa vizinha de confiança há muitos anos conquistada, pois que qualquer pessoa que introduza no seu lar é uma pessoa a mais. Viciada em morfina, nos seus receios e fervor religioso que constituem a maior fonte de emoções numa vida sem acontecimentos, Montse não tem qualquer desejo de alterar a sua situação. Enquanto o exterior não lhe entrar pela casa adentro e conseguir manter a irmã com rédea curta estará no pleno da sua existência limitada.

No entanto, a irmã que até ali manifestara meros laivos de rebeldia inicia a demonstrar um preocupante desejo de independência e a questionar a autoridade de Montse. Entretanto, o vizinho do andar de cima Carlos (Hugo Silva) cai das escadas do prédio quedando-se perto da sua porta. Pela primeira vez em muitos anos Montse é confrontada com uma situação em que se sente forçada a sair da sua zona de conforto e toma a decisão de esconder Carlos que partiu uma perna no acidente, qual Annie Wilkes (“Misery” 1990). Receber um estranho na sua casa, ademais o sedutor Carlos revela-se avassalador para Montse. Um mundo de oportunidades se abre para ela. De súbito, tentar sair de casa parece menos assustador e a ideia da irmã a trocar por outra realidade não se assume como o pior que poderia suceder. A destruição destas ilusões românticas prematuras irá lançar Montse numa espiral de insanidade com contornos trágicos. Montse é uma metáfora da sociedade do ditador Franco. Desde o temor profundo que lhe é incutido através da figura do pai déspota e da religião obsessiva como guia orientador e resposta para quaisquer eventos que fujam aos padrões do que se entende por uma boa conduta, até à “claridade” de que um homem constitui a solução para todos os problemas.
Macarena Gómez é uma estrela como Montse. É esta personagem que confere uma força vital ao argumento. Ela é a Espanha franquista dominada pelo medo. Ela tem medo, incute medo e sobrevive através do medo. Ela teme o desconhecido e exerce o temor no castigo da irmã, no fundo, a única pessoa na qual pode descarregar toda a sua frustração e, em simultâneo, aquela que lhe permite manter alguma sanidade na sua cela voluntária. Quando surge um desafio ao seu poder, ela faz o que qualquer animal perseguido faz: ela luta com todas as suas forças para sobreviver. Só que o que ela entende como provocação, não é mais do que as vivências que qualquer indivíduo tem de ultrapassar para se melhorar enquanto ser humano.
A acção de “The Shrew’s Nest” ocorre quase na íntegra no apartamento das irmãs mas não está confinado ao espaço. Antes ajuda a criar um sentimento de empatia para com Montse e a sua agorafobia e, por outro, criar uma afinidade com a irmã de Montse que anseia ir além das paredes que a sufocam. O argumento foi escrito com uma sensibilidade que permite observar as personagens nas suas áreas cinzentas. Ninguém é por completo um monstro ou uma vítima. O sentimento de desconforto, a loucura que grassa nas paredes aguardando por um rastilho para explodir é palpável. A escalada e a recompensa demoram mas são rápidas e furiosas. Não é mesmo este o tipo de emoções que se esperam de um festival de cinema de terror?

PS 1: Texto publicado originalmente aqui.

domingo, 20 de setembro de 2015

"The Swimmers" (Fak wai nai gai thoe, 2014)


De há uns anos a esta parte a recepção aos filmes de terror tailandeses tem esmorecido. Outrora criativo e arrojado, realizadores e argumentistas parecem agora contentar-se com estórias batidas até à exaustão. No entanto, ainda podem ser encontradas algumas excepções em Banjong Pisanthanakun (“Alone” 2007; “Pee Mak” 2013) e Sophon Sakdapisit que estreou o filme anterior “Laddaland” na Edição do MOTELx de 2012 e agora retorna com este “The Swimmers”.

Algures num liceu tailandês, Perth (Chutavuth Pattarakampol) e Tan (Thanapob Leeratanakajorn), melhores amigos e eternos rivais na equipa de natação enfrentam o maior desafio da sua amizade. Ambos nutrem sentimentos pela mesma rapariga. Habituado a ficar em segundo lugar para Tan, Perth parte em desvantagem pois Ice (Supassara Thanachart) começa por namorar o amigo. A oportunidade de a conquistar surge quando ela lhe pede para a ensinar a nadar. Perante o suicídio inesperado de Ice na piscina onde praticavam Tan afunda-se numa depressão e Perth aproveita a oportunidade para tentar captar a última vaga para a universidade destinada ao vencedor da próxima prova de natação, ainda que isso signifique treinar no local onde a rapariga morreu. Mas os eventos não correm como planeado. Tan diz-lhe que o suicídio de Ice se deveu a encontrar-se grávida e que não vai desistir enquanto não encontrar o desgraçado que quis fugir à responsabilidade. Perth sente-se agora pressionado em todas as frentes e tem a desconfortável sensação de que algo ou alguém o estão a assombrar…

“The Swimmers” é um pouco mais que o arquétipo do filme sobrenatural made in Tailândia. Focado num público mais jovem é um filme sobre escolhas. Quando elas são tomadas com a leveza de espírito da juventude e persiste a ideia fixa tão própria da idade de que há tempo para voltar atrás e se tem a ilusão de que tudo pode ser desfeito. Até que não se pode mais fazê-lo… Ice morreu, Tan está cego pela ira e até o futuro de Perth na universidade se encontra em perigo.
O elenco é decente o suficiente para um projecto de terror protagonizado e dirigido a jovens adultos que constituem o target em voga nestes tempos dominados por filmes como “The Hunger Games” (2012), “Maze Runner” (2014) e sucedâneos. O facto de os actores masculinos passarem bastante tempo na piscina fornece amplas oportunidades para se ver abdominais bem definidos sem que paire a acusação de nudez gratuita. Os diálogos são tão infantis quanto o elenco é novo o que confere alguma plausibilidade à estória (a que não inclui a sugestão de espíritos inquietos) e a cinematografia encontra-se ao melhor nível. A estória mergulha por momentos no absurdo mas é resgatada a tempo de um final que poderá saber a insatisfatório. A ideia de assombração é passa a mera sugestão deixando antever a possibilidade de esta não ir além da insinuação de sentimentos de culpa (mal explorados). Em última análise, se temas como o sexo desprotegido ou o aborto poderão ser controversos, não existe ambiguidade alguma na capacidade de “The Swimmers” atemorizar nos momentos certos.

PS 1: A FilmPuff Maria não desapareceu mas andou pelo Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa - MOTELx, pelo que a programação normal seguirá dentro de momentos.

PS 2: Crítica publicada originalmente aqui.

domingo, 11 de janeiro de 2015

TCN Blog Awards 2014: A tradição ainda é o que era


Esta pessoa nunca irá escrever uma das primeiras reacções aos prémios mais badalados da blogosfera de cinema nacional. Elas desmultiplicam-se pore com superior qualidade mas a “cobertura” dos TCN Blog Awards constitui a única tradição anual no mundo da 7.ª Arte que não posso falhar. Nem com os Óscares, indiscutível maior evento cinematográfico mundial, consigo manter tal compromisso (desculpem lá qualquer coisa, mas essa cerimónia de entrega de prémios é uma seca). Também se diga de passagem, que é o único dia do ano em que me posso reunir com a maioria dos meus heróis escritores de cinema e dizer-lhes qual groupie maníaca, que sou sua fã e continuarei a seguir muito atentamente os seus blogues pelo que, por favor, não parem, enquanto aproveito para cravar um ou dois autógrafos. Também ainda não perdi a esperança de um dia, um fã vir ter comigo pedir-me um autógrafo, para depois se apoiar no meu ombro e chorar copiosamente porque era fã do “Alien” e ainda hoje está a tentar retirar sentido do “Prometheus”. Isso, ou vir ter comigo e dar-me um abraço porque, coitada, não sei o que escrevo e mais vale dar-me coragem para um dia vir a escrever alguma coisa de jeito. Não sou esquisita. Além disso, já descobri que sou verdadeiramente importante e que a minha opinião importa pelo que aproveito desde já para dar a conhecer que no próximo ano conto ter uma passadeira vermelha e paparazzi à minha espera… Quanto à cerimónia propriamente dita, este ano descobri que estou velha. Além dos recém-descobertos papos, rugas e cabelos brancos que um penteado alternativo já não é capaz de esconder, descobri que a média de idades dos nossos bloggers desceu drasticamente. Alguns até podem ter surgido em anos anteriores mas só este ano é que dei pela coisa. Não é um ponto negativo, nem poderia ser. Sou apologista de sangue novo, tal como eu própria já o fui, ainda que tenha ainda poucos anos disto em comparação com alguns dinossauros – o Not a Film Critic faz apenas 4 primaveras a 31 de março! E não podia, à altura, ter-me sentido melhor acolhida. Mas se houve muito cara nova, chocou-me talvez a quantidade de ausências de alguns bloggers mais antigos. Faltou o Jorge, o Samuel, o Pirata, a Inês, o Tiago, o Aníbal e o Hugo, (etc.), alguns dos quais, justificam a mera existência destes prémios. Outra novidade foi a mudança do local da cerimónia de uma sala de cinema/auditório para o Deliart Caffé, sendo que se, se lamenta a perda do cenário onde a magia acontece, se podem acomodar algumas das necessidades identificadas em anos anteriores. A cerimónia deste ano foi ainda mais criativa que o ano anterior, se é que tal era possível e o Manuel Reis esteve na sua melhor interpretação de Neil Patrick Harris (aquele tipo que a maioria das pessoas não consegue detestar) duns prémios. Este presente a celebérrima Tuxa; o Francisco Oliveira que irá ser daqui a 15 anos o maior galã das televisões portuguesas e quicá, oscarizado; o Brain Mixer que disponibilizou os seus “Posters Caseiros” que ganharam vida própria e o TCN para Melhor Rúbrica de 2014 para o leilão mais divertido (e único) da estória dos prémios, tendo havido até lugar a copos partidos e mousse espalhada pelo chão, tal era o entusiasmo do licitador e, essa lenda viva do cinema xunga que é o Pedro Cinemaxunga! Quanto aos momentos mais especiais tenho de dar destaque à primeira exibição em directo para a plateia dos TCN Blog Awards, dos podcasts do VHS e do TVdependente e a estreia exclusiva e mundial de “Um Conto de Natal na Trafaria”. E que não nos falte o humor que vimos a descobrir que um certo blogger fica mais inspirado na semana antes da submissão das candidaturas aos prémios; que alguém queria mesmo MUITO que um poster do Crime do Padre Amaro com uma erecção figurasse sobre a sua lareira; que a falta de bateria na câmara de filmar é lixada; que alguém tem uns olhos provocadores e boca de apito (alguém me explique o que é!); que o debate cinema/televisão se mantém mas agora o que está a dar é “atacar” a malta da banda-desenhada (alguém se acusa?)... E agora, aquilo que sei que todos vós estavam mortinhos por saber: não, não foi desta que o Not a Film Critic arrecadou um Prémio, no caso, na categoria de “Melhor Artigo de Cinema” com o  "Top 12: Final Girls". Mas asseguro que o Prémio ficou em boas mãos. Quero ainda referir que o Prémio de Melhor Iniciativa foi atribuído a “Já vi(vi) este Filme” do blogue Hoje Vi(vi) um Filme na qual tive o prazer de participar e deixo uma curiosidade para quem mais passe por aqui. Desde 2012, que este Prémio tem sido entregue às iniciativas nas quais o Not a Film Critic participou. Fixolas. É claro que se falássemos em desejos pessoais, gostaria que mais algumas das minhas páginas favoritas tivessem sido reconhecidas mas as coisas são o que são e, ainda bem que as vontades da maioria se sobrepõem às do individuo. Alguém ficaria muito satisfeito mas o conceito de justiça sairia prejudicado. Como digo ano após ano, para os meus 3 leitores, um evento que é organizado por e em prol de bloggers, quando estes 99% das vezes não obtêm qualquer vantagem financeira ou reconhecimento, com a susceptibilidade de verem o seu trabalho a ser repescado ou copiado por outrem deve constituir uma festa e um momento de partilha de experiências e criação de mais e melhores projectos. A todos os vencedores felicitações. Da minha parte, enquanto escrever continuar a ser divertido, por aqui continuarei. E porque a tradição também é importante, até para o ano.

domingo, 4 de janeiro de 2015

"Marshland" (La isla Mínima, 2014)


Os créditos vêm como uma bomba: um take contínuo percorre a paisagem natural, paradisíaca do sul de Espanha enquanto ecoa o choro de uma guitarra. A paisagem é verde e azul, laranja e castanho, em alternância, o terreno incerto, os sulcos a fazer recordar o próprio cérebro humano, ora digam-me se a película a que vou assistir não é inquietante.

Juan (Javier Gutiérrez) e Pedro (Raúl Arévalo) aguardam à beira da estrada sob o calor abrasador que os venham socorrer. Acabados de chegar sul de Espanha, advindos de Madrid para investigar o desaparecimento de duas irmãs, já dão a imagem de uns inúteis a necessitar de ajuda. Na pensão onde irão pernoitar houve um equívoco: terão de passar a primeira noite no mesmo quarto. Deverá ser pouco tempo, acreditam os locais. As irmãs desaparecidas têm uma má reputação e nem os habitantes, nem o pai destas demonstram grande interesse em fornecer pistas para a resolução do caso. Apenas a mãe Rocío (Nerea Barrios), atormentada pela dor colabora com o pouco que tem para lhes dar, o negativo de fotografias lascivas que o fogo da lareira não conseguiu queimar na totalidade. Esta é sem dúvida uma localidade mínima. Na Espanha abaixo do Guadalquivir pós-Franco, a ditadura apenas findou em termos políticos. A cruz do ditador permanece firme nas paredes das casas. Estado, Família e Igreja governam a mente colectiva. Não existe ainda espaço para a emancipação ou uma sexualidade liberta de preconceitos: aquilo que aquelas adolescentes perigosamente representam. Eis que surgem corpos no meio do terreno pantanoso e aquilo que parecia uma fuga ao tédio, matrimónio em terra idade e aos constrangimentos de uma localidade onde os rumores são difundidos ao sabor do vento, se transformam numa caça a um assassino em série.
“Marshland” é um regresso aos thrillers policiais, um género em decadência, talvez pela sobreexposição, nos últimos anos. Uma das óbvias excepções tem sido o cinema coreano que apresenta de modo sistemático, anualmente, pelo menos um thriller de qualidade para saciar um público que ainda não acusa o cansaço do género. Mas as coincidências de “Marshland” com o cinema coreano não se ficam por aqui. “Marshland” é fantasticamente similar a “Memories of Murder” (2003), de Joon-ho Bong. Ambos ocorrem durante os anos 80, o primeiro pós-ditadura militar, o segundo decorre ainda durante uma no último fôlego, com o surgimento de cadáveres femininos mutilados em campos de arroz. Ambos os casos requerem a visita de um ou mais polícias da cidade, dominantes de novas técnicas, que contrastam com os saberes e desconfiança locais. “Marshland” também mantém a combinação típica do polícia moderno mais subtil e do polícia mais vivido, com métodos mais questionáveis, pelo menos para os padrões actuais. Mas não tenta dizer-nos qual o melhor, deixa as ilações para quem o vê ou, se preferirem, a interpretação estará sujeita à época em que nos inserimos. Gutiérrez e Arévalo estão fantásticos nos papéis convencionais que lhes foram atribuídos. No entanto, as fronteiras entre o polícia bom e o polícia são, no mínimo, nebulosas. Cada um tenta demonstrar o seu caminho ao outro sem criticar abertamente as opções deste. Algures, conseguem manter a cabeça fria ou dão azo à bestialidade quando não o fariam antes. Deles, é Juan o que possui a moralidade mais dúbia e o que parece mais atormentado pelos anos mais de experiência do que Pedro e um passado misterioso. Por isso, encontra maior facilidade em mover-se nos terrenos pantanosos, de segredos obscuros, terríveis e de mostrar as garras sem hesitação ou receio dos locais. Ele conhece as regras implícitas daquelas terras. Juntos, cruzam-se com uma série de personagens, cada uma com uma informação importante a fornecer, mesmo que não o saibam. A cinematografia fabulosa de Alex Catalán completa o cenário de desintegração daquela sociedade. Se não podem sequer confiar nas pessoas que pertencem àquela “ilha”, então em quem? É um sinal dos tempos, terão de reajustar-se se quiserem sobreviver além das próximas colheitas e das mudanças políticas de Madrid. Quatro Estrelas.


Realização: Alberto Rodríguez
Argumento: Rafael Cobos e Alberto Rodríguez
Javier Gutiérrez como Juan
Raúl Arévalo como Pedro
Nerea Barros como Rocío
Jesús Castro como Quini
Antonio de la Torre como Rodrigo
Salva Reina como Jesús
Manolo Solo como Periodista
Cecilia Villanueva como María
Juan Carlos Villanueva como Juez Andrade

O melhor:
- A cinematografia é soberba. Alex Catalán tem motivos para estar satisfeito
- A banda-sonora completa na perfeição as imagens
- Não podiam ter escolhido melhor dupla de actores, em particular, Javier Gutiérrez no papel de um polícia atormentado com esqueletos no armário

O pior:
- Alguma ambiguidade no desenlace

Próximo Filme: "Body of Water" (Syvälle salattu, 2011)

domingo, 7 de dezembro de 2014

“NAFF – Not a Film Festival”- parte 1 ou, um GPS dava jeito!



Já tinha dito que queria ir. Mas entre compromissos, chuva, frio, sonos retardados e alguma preguiça vá, fui adiando. Era domingo à noite (21 de novembro) e feita corajosa fiz-me à estrada. Foi ali para os lados de Benfica, num Turim que não é visitado o suficiente e não tem rede telefónica. Quem precisa disso numa sala de cinema?! A chegada foi uma aventura. Na minha melhor demonstração de incompetência em sentido de orientação e apesar de já lá ter passado umas quatro vezes, fui incapaz de chegar à sessão “Not a Film About Us” a tempo. Percorrer a estrada de Benfica à noite e ao frio é uma experiência fascinante mas não tanto quanto teria sido ter assistido às duas sessões a que me propus. Felizmente não ia em trabalho, como uma jornalista a sério, se não levava uma reprimenda do chefe! Assim, quedei-me pel’ “A Máquina”, que apresenta um velho barbudo e engenhocas, grande cientista autodidacta desconhecido do nosso tempo; uma “Emília” que descobre a jovem rebelde e revoltada que há em todos nós (que permanecemos em Portugal), a “Fúria” de miúdos cujos pais deverão pensar algo como “antes levarem nas trombas num ringue” do que andar na rua na vadiagem e “A Remissão Completa” sobre a redenção de um incorrigível.
“A Máquina” é um mix de qualquer coisa cómica com qualquer coisa de desconcertante. Todos têm um “louco” na sua vida. Aquele género de pessoa que é meio exagerada e meio genial e tivesse ela apoio (recursos humanos e materiais – não falemos de dinheiro por aqui), quem sabe que resultados podiam advir daquela loucura metódica? O avô deseja construir uma máquina que crie uma energia eternamente renovável. Ele admite que talvez nunca venha a conseguir alcançar o seu objectivo e que enquanto possuir a faculdade mental e vigor físico a busca incessante irá manter-se. As suas confissões meandram entre a paixão pela verdade e o afastamento da solidão. “A Máquina” revela-se pois o exercício mais forte, mais intimista, afinal é dedicada a um avô, numa sessão onde se esperava que o cenário mais próximo dos corações se encontrasse na desolada “Emília”. Após um documentário melancólico “Emília” não parece procurar a esperança. À semelhança de muitas outras jovens, ela encontra-se desempregada e desesperada com a situação financeira. Com uma mãe doente e com as mais recentes perspectivas de emprego goradas, a independência não passa de uma miragem. A isto não ajudam as estórias de outros mais bem-sucedidos e “amigos” condescendentes. Se ela quisesse podia ter um trabalho, tem é de se sujeitar. Depois surgem os rebeldes com uma causa, que lhe dizem para lutar contra o sistema, por um destino melhor. Porque parecerá toda esta sucessão de acontecimentos uma encenação? Já o vimos demasiadas vezes? Ou é “Emília” a jovem que podia ser anónima mas não é e representa todos esses jovens anónimos desesperados uma película sem alma? Em 15 minutos, Emília encontra dentro si a força para a ruptura. O que a compele para uma marcha lenta, inútil e sem quaisquer efeitos práticos contra forças que auxiliam a manutenção do status quo mas o representam. Lutar contra canhões com uma pena, hã? “Fúria” descreve o quotidiano de miúdos de um bairro pobre que entre as brincadeiras de rua descarregam a energia no boxe. É uma coisa positiva estão a ver? Dá aos miúdos um objectivo e afasta-os da realidade brutal da rua. Praticam um desporto, adquirem disciplina e descarregam a bílis. Está implícito. É um retrato. E ficamo-nos por aí.
 “Remissão Completa” completo com uma alusão ao cancro é uma estória em tons de rosa. Um homem odioso, daqueles que têm tudo menos um coração perde a razão de ser quando perde a mulher para um cancro. Ele retirava tudo a quem tivesse de ser, para seguir as ordens rígidas, cegas do banco para o qual trabalhava. Um dia, uma das suas vítimas diz-lhe algo que ressoa dentro dele. Como umas palavras ecoam dentro de um corpo oco é um enigma mas é o que acaba por suceder depois do Karma fazer das suas. O mal que lançou para mundo é-lhe agora devolvido. Perde a mulher que amava – notem que no inicio ele está numa discoteca a beijar uma mulher que poderá não ser a esposa –, passa a viver num quarto arrendado com uma velha senhoria (pobre coitado) até que um dia encontra a hipótese. Não, o desejo, da redenção numa boa acção. A moral da estória não é a de que “um Homem pode mudar” mas a de que se cometer um acto altruísta resultante de um desejo egoísta: “se eu fizer uma boa acção, eu poderei ser melhor logo, terei uma boa vida novamente”, isso, não é censurável. E para concluir o facto de ele se ter tornado uma pessoa melhor, ele necessita de narrar aquilo por que passou a um amigo de infância. Narcísico no mínimo. A grande vitória do pouco que tive oportunidade de assistir nesta sessão “Not a Film About Us” foram as ideias havidas e não necessariamente o modo como foram retratadas. Duas estrelas e meia.

Curta-metragem #1: “A Máquina”
Realização: Mafalda Marques

Curta-metragem #1: “Emília”
Realização: Diogo M. Borges
Argumento: Diogo M. Borges

Curta-metragem #3: “Fúria”
Realização: Diogo Baldaia
Argumento: Diogo Baldaia e Manuel Rocha da Silva


Curta-metragem #4: “Remissão Completa”
Realização: Carlos Melim
Argumento: Frederico Ferreira

Próximo Filme: "The Sylvian Experiments" (Kyofu, 2013)

sábado, 22 de novembro de 2014

sábado, 1 de novembro de 2014

TCN 2014: Nomeados Artigo de Cinema


Somos o chamado nicho. Não apelamos a muitos mas também não é preciso porque não somos todos iguais nem gostamos todos do mesmo. O que vemos, isso sim, é um artigo descontraído, despreocupado até, sobre as heroínas que nos inspiraram a criar este espaço entre Monstros. Cada novo ano, cada novo gosto, cada nova partilha, cada nova menção, demonstram que pequeninos só de tamanho, que devemos ser grandes nos corações de alguns. Obrigada.

NOTA: As votações estão disponíveis no Girl on Film. Não se esqueçam de visitar o nosso artigo e o dos outros nomeados antes de tomar uma decisão. (Mas se escolherem a nossa selecção de scream queens não nos chateamos nada). Poderão ainda encontrar toda a informação sobre nomeados e votações aqui.

domingo, 28 de setembro de 2014

"Life After Beth", 2014


Pessoal, o “Shaun of The Dead” aconteceu há dez anos. E, se sim, quase todas as comédias de terror de zombies são comparadas àquele filme, chega um momento em que temos de seguir em frente. As comédias de terror com zombies após o “Shaun of the Dead” não são, nem devem querer ser este último. É o mesmo que os críticos da velha escola, que sempre que vêem um filme de zombies remetem sempre para um certo George E. Romero. São referências é certo, mas estas não se podem substituir às películas que assistimos no presente apenas por que na altura fizeram tanto pelo género.
Quando Beth (Aubrey Plaza) morre após ser picada por uma serpente o seu namorado Zach (Dane DeHaan) fica de rastos. Ele ganha uma obsessão mórbida com todas as questões relacionadas com Beth, começando até a passar longos períodos fora de casa, na companhia dos pais desta, Maury (John C. Reilly) e Geenie (Molly Shannon). Os pais e o irmão Kyle (Mathew Gray Grubler) não compreendem que ele perdeu o amor da sua vida, ainda que a relação estivesse a atravessar problemas. Se calhar até acham que ele está a caminhar para a depressão, envolvido que está nas longas sessões de masoquismo em casa de Beth. Aquilo que foi o modo encontrado por Zach para mitigar a dor que sente no coração é-lhe um dia retirado repentinamente. Os pais de Beth deixam de lhe abrir a porta e de o acolher na sua casa, no seu peito. Está na altura de esquecer Beth. Mas ele não está pronto e o que vê um dia choca-o até à sensatez. Beth está na casa dos pais, não se recorda do que lhe sucedeu e continua ainda bastante apaixonada por ele. Onde os pais dela vêem um milagre, Zach vê uma tragédia prestes a acontecer: Beth é um zombie.

“Life After Beth” aborda uma experiência ainda pouco aflorada nos filmes de zombies. O que sucederia se a pessoa que mais amassemos no mundo se tornasse um zombie? Como tanto se tem assistido, quer no cinema quer em televisão, os protagonistas são rápidos a tomar a decisão definitiva, a da morte irrevogável daqueles com quem partilhavam a vida íntima. Ainda que a decisão seja motivada pela compaixão, isto não significa que o acto seja tomado com facilidade. Aquelas personagens que o argumentista tentou convencer-nos de que estavam a atravessar o apocalipse das suas vidas tornam-se desumanas em segundos. Mas “Life After Beth” nunca chega a ser uma tragédia, pois todas as fases da aceitação da morte de um ente querido estão minadas de piadas. A aceitação cega da “segunda vinda” de Beth pelos pais desta, a apatia dos pais Zach e a obsessão do irmão deste com a autoridade constituem pistas para a conclusão mais improvável de todas, o amante de Beth é o menos louco de entre os loucos. Outra inovação é talvez, o enfoque dos personagens nas suas próprias vidas. Estão tão “casados” com a sua própria realidade que não questionam o que sucede em seu redor. E afinal, o que é que está a acontecer mesmo? “O Zach está com uma depressão porque vê a sua namorada morta? Os mortos voltaram à vida? Desde que não interfira com as nossas vidas”. Talvez a ideia mais poderosa seja essa: a de que o Homem é um ser fundamentalmente egoísta e que aceita quase tudo desde que não mexam com a sua comodidade. Ninguém deseja ser um herói, tirando a dada altura Kyle, mas até este é motivado pelas suas próprias razões lunáticas.
Dane DeHaan, aka sósia do Leonardo DiCaprio continua a dar ares de cochorrinho abandonado mas sem enjoar. A sua personagem é a que apresenta maior densidade emocional: tristeza profunda, descrença, alegria, luxúria, está lá tudo. Já Aubrey Plaza nasceu para ser uma zombie. Há qualquer coisa de pouco convencional nesta actriz que lhe dá um certo sentido de perigo e a torna perfeita para os papéis que, regra geral, não funcionam em mulheres glamorosas que necessitam, no mínimo, de um nariz prostético para se parecerem com algo que não elas próprias. Eles estão rodeados por um grupo de actores com décadas de experiência entre si que interpretam personagens unidimensionais é certo, mas nunca surge a sensação de que alguém está a remar contra a maré. Eles acreditam e fazem crer nas parvoíces que saem da boca daqueles personagens.

Quem espera os comos e os porquês de um apocalipse zombie irá sair muito desiludido de um visionamento de “Life After Beth”. Da herança de sangue e terror resta muito pouco. Promete apenas gargalhadas descomprometidas. Há algum problema com isso? Três estrelas.

Realização: Jeff Baena
Argumento: Jeff Baena
Aubrey Plaza como Beth Slocum
Dane DeHaan como Zach Orfman
John C. Reilly como Maury Slocum
Molly Shannon como Geenie Slocum
Mathew Gray Grubler como Kyle Orfman
Cheryl Hines como Judy Orfman
Paul Reiser como Noah Orfman

Próximo Filme: Kuntilanak, 2006

domingo, 31 de agosto de 2014

"The Raid 2: Berandal", 2014


Em 2011 dava-se um dos primeiros momentos "Unicórnio Cor-de-rosa", entenda-se "todos sabem que não existe mas todos esperam secretamente que exista" e estreava "The Raid: Redemption". O melhor de filme de acção da última década disseram alguns, quiçá de sempre, disseram outros. Apresentava uma arte marcial inédita (silat) e adrenalina como há muito não se via. A sinopse era algo tão simples como: uma equipa SWAT que entra num edifício em Jacarta para combater o domínio de um barão da droga acaba encurralada e massacrada pelos mesmos que jurou destruir. Em 2014, surge "The Raid 2: Berandal" e volta a dar-se o fenómeno "Unicórnio Cor-de-rosa", daqueles que só se repetem uma vez em cada ciclo cinematográfico: a sequela ser superior ao filme que a antecede. Se não sentem o mesmo, lamento mas estão em negação que, bem dentro dos vossos corações, sabem que o que estou a dizer é verdade.

Rama (Iko Uwais) o polícia sobrevivente ao massacre do primeiro filme (e, também ele responsável por um) faz um pacto com os superiores: deverá assumir uma nova identidade e infiltrar-se no seio do crime organizado, de modo a chegar ao topo da cadeia e arranjar provas comprometedoras contra os grandes chefes. A alternativa não se avizinha a melhor: se recusar e regressar à família será perseguido pelos criminosos e colocará em perigo a vida de todos. Assim, Rama segue numa odisseia pelo crime que inclui ser preso para se tornar próximo de Uco (Arifin Putra) filho de Bangun (Tio Pakusodewo), um dos pais do crime de Jacarta. O resto é estória e sequências infindáveis de pancada não aconselháveis aos mais sensíveis. Isto, como quem diz, se forem sensíveis e, "The Raid 2: Berandal" não é, em definitivo, para os de estômago fraco fizeram a pior selecção de filme possível. Mas se forem, como eu, entusiastas de bom cinema de acção e de artes marciais sentem-se e apreciem a Mona Lisa do realizador Gareth Evans.
Uma das grandes victórias deste filme improvável é o facto de ser impossível apreciá-lo em silêncio absoluto. Os combates são a cereja no topo do bolo e Gareth, a esse nível, não nos poupou. Há mais e muito bons vilões incluindo o irascível e mimado Uco, a misteriosa “Hammer Girl”, Alicia (Julie Estelle) e o assassino por encomenda Prakoso (Yayan Ruhian). Estas cenas exigem uma tal fisicalidade dos actores e dos duplos que darão por vós a soltar muitos “ahs”,“uis” e até arfar com a falta de fôlego, para o ecrã, tornando a película interactiva de um modo positivamente inesperado. Mais, a audiência não é poupada ao cinema mais visceral: cada golpe é sentido e o sangue não é ocultado. Os actores, para o final parecem sombras de si próprios, como se tivessem sido espancados, física e psicologicamente. Não me tomem por sádica mas sabemos que estamos a assistir a algo especial quando os actores fingem tão complemente que a dor que ostentam parece real. Tais sequências de pancadaria selvática exibem uma graciosidade tal que se assemelham a um bailado. A coreografia é novamente dirigida pelo multifacetado Yayan Ruhian que não só regressa a este papel como volta a interpretar um papel sem qualquer ligação com o do filme anterior, demonstrando mais carisma que muitos actores veteranos. Pelo trabalho técnico, “The Raid 2: Berandal” merece o maior destaque e ser premiado; pela inovação, vagas sucessivas de audiências sem medo de experienciar o verdade cinema de acção. Coloquem de parte o preconceito por “ser um filme de artes marciais”. “The Raid 2: Berandal” é um bom filme e é apenas isso que necessitam saber. E é um filme tão imponente que é capaz de fazer homens adultos questionar a sua masculinidade e por empatia, fazer crescer pêlos no peito às mulheres. Ok, estou a exagerar mas acho que percebem a ideia.
“The Raid 2: Berandal” não está isento de falhas. Além de cenas que desafiam as leis da física, é incrível como certos personagens, com tal desgaste físico se aguentam ainda de pé. Pessoal, não tentem isto em casa, mas estou certa que se levarem um murro bem dado, não sei, digo eu, que perdem os sentidos. Quanto mais levar uma dezena e na cena a seguir estarem frescos como um pêssego. No entanto, onde é competente, é-o de tal modo que os defeitos, reais ou percepcionados quase desaparecem do nosso radar. Quatro estrelas.

O melhor:
- As sequências de combate, nomeadamente, a luta na lama (sem bikinis)
- O retorno de Yayan Ruhian
- Silat.

O pior:
- Improbabilidade de algumas cenas.
-  A estória deixa de fazer sentido para se tornar apenas uma desculpa para inúmeras sequências de confronto.

Realização: Gareth Evans
Argumento: Gareth Evans
Iko Uwais como Rama
Arifin Putra como Uco
Tio Pakusodewo como Bangun
Oka Antara como Eka
Alex Abbad como Bejo
Cecep Arif Rahman como “Assassino”
Julie Estelle como Alicia
Very Tri Yulisman como “Homem do bastão”
Ryuhei Matsuda como Keichi
Kenichi Endo como Goto
Yayan Ruhian como Prakoso

Próximo Filme: "71 into the Fire" (Pohwasogeuro, 2010)

PS: Este filme vai ser exibido no Motelx, dias 10 de setembro pelas 16h00 e 14, às 00h15. Não sejam uns meninos e apareçam!

domingo, 27 de julho de 2014

Colaborações #4

A colaboração mais recente do Not a Film Critic, abre as portas ao segredo mais bem guardado por mim até ao momento: sou uma romântica incurável. Por isso, podem agradecer à Inês Moreira Santos por ter ajudado a desvendar o segredo ou esquecer que este momento alguma vez existiu e, ler de qualquer modo, o artigo no Hoje vi(vi) um filme, como se tivesse sido escrito por outra pessoa. Não se preocupem que a programação manter-se-à horrífica como sempre.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Motelx abre com um toquezinho a Coreia*



O Motelx está aí a rebentar (é só em setembro mas quem está a contar os dias?) e os fãs de terror têm razões para ficar contentes. A conferência de imprensa do Motelx – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa deixou antever que, entre outros, o cinema São Jorge tem o Teatro Tivoli por companheiro e que os primeiros filmes anunciados deixam água na boca. SÓ na secção Quarto Perdido vamos ter películas como “Life After Beth” que se não reinventa a comédia zombie, pelo menos dará para recordar nostálgico o “Shaun of the Dead” – desculpem qualquer coisinha mas gosto de fingir que o “Warm Bodies” não aconteceu e que vai ser exibido o mais brutal, mais assombroso e menos hiperbólico filme que já se viu na tela desde o “The Raid: Redemption”, o “The Raid 2”. E porque não se diga que as criancinhas não têm a devida atenção, vem aí o Lobo Mau com o “Pinocchio”, “Fantasia” e “Snow White and The Seven Dwarfs”. Tudo clássicos de levar os meninos às lágrimas e recalcamentos tais que só passados muitos anos de terapia é que irão compreender que na base dos seus medos mais profundos se encontra aquele filme inofensivo que os pais os levaram a assistir há tanto tempo atrás. E se a organização quiser fazer mesmo mazelas, pode ser que para o ano exibam “The Rescuers”. Se não gostarem desse filme de animação não têm coração meus queridos. Ai naninanão que não têm. Pobre Penny. Mas já voltamos a esse filme…

E como não estivessem já os cinéfilos com o apetite bem aguçado, eis que o prato principal e sobremesa foi “Snowpiercer” de Joon-ho Bong*. (Sim, eu sei que estão fartos de ler em todo o lado “Bong Joon-ho” mas por uma questão de coerência deste estaminé é nome próprio seguido de apelido, sim?) Num futuro pós-apocalíptico, ou como costuma fazer sentido que se iniciem quaisquer críticas que se refiram a um futuro mais ou menos indistinto onde a humanidade se encontra quase extinta porque esta, sozinha, contribuiu para a destruição do planeta (quem diria?), um super-comboio atravessa o globo ininterruptamente. Porquê? Não é como se importasse, fá-lo e pronto. A terra encontra-se a atravessar uma era glacial e o comboio é a única esperança de sobrevivência da humanidade. Para não variar, o Homem continua no seu melhor. No comboio vigora um “Estado” Totalitário sob o comando do elusivo Wilford e os habitantes nas carruagens inferiores estão reduzidos a meros mendigos. Porcos, feios e quase despojados de humanidade aguentam as piores sevícias até ao mais recente dissabor. Os passageiros da frente reclamam duas pequenas crianças para si (vide “The Rescuers”) – juro que não spoilo mais nada –, e eles decidem enfim, encetar a revolta. O objectivo? Chegar à cúpula. O que farão depois disso logo se verá. “Snowpiercer” não é nenhum “The Host” (2006) ou “Memories of Murder” (2003), mas serve para o efeito e, como vou dizendo, bom seria se todos os realizadores tivessem pelo menos um grande filme no currículo. “Snowpiercer” é um híbrido, criado para apelar um público mais vasto ou não fosse o protagonista um Chris Evans ainda assim, “enfeiado” com um nariz prostético para se parecer de forma vaga com um vagabundo comedor de criancinhas. (Não, desta vez a prótese não dará direito a um Óscar). O elenco é um desfile multiétnico de grandes estrelas e actores consagrados num produto que devia ser o grande filme catástrofe da segunda década do milénio ficando apenas a instantes disso mesmo. Não me entendam mal, “Snowpiercer” é mais cerebral que qualquer cataclismo que tenham visto nos últimos anos: se retirarmos o comboio imparável e as personagens excêntricas (se não soubesse, não conseguia reconhecer a Tilda Swinton!), a ideia base é conhecida, incidindo sobre a luta eterna do homem contra os seus pares. A impossibilidade de colaboração por oposição à competição, a concepção da superioridade de uns sobre outros e a consequente exploração dos subjugados por aqueles que detêm os recursos essenciais à geração de vida são tão reais agora como eram há centenas de anos, com a diferença de que agora utilizamos números para descrever a situação: 99% versus 1%. A tese da novela gráfica em que “Snowpiercer” se baseia causa desconforto e aí poderá residir um dos elos mais fracos para a captação de audiências. Isso, e cortes desnecessários (que levante a mão em que acha que os Weinstein deviam guardar o lápis azul). É dado tantas vezes repetido que o Homem tende a evitar o desconforto e a buscar o prazer. Mas também é verdade que filmes de desastres são muitas vezes ridículos servindo apenas combustível suficiente para a audiência sair da sala de cinema agradada com a mensagem de esperança de final. Pouco espaço é deixado para a reflexão. Então, porque é que Joon-ho Bong fez a aposta controversa de realizar um filme catastrófico, com tão desagradável subtexto social? Duas desgraças num só filme? Venham daí mais que, meus queridos fãs de terror, é este o nosso alimento e o Motelx ainda agora começou... Três estrelas e meia.


Realização: Joon-ho Bong
Argumento: Joon-ho Bong e Kelly Masterson
Chris Evans como Curtis
Kang-ho Song como Min-soo
Ed Harris como Wilford
John Hurt como Gilliam
Tilda Swinton como Mason
Jamie Bell como Edgar
Octavia Spencer como Tanya
Ewen Bremmer como Andrew
Ah-sung Go como Yona

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Top 12: Final Girls


Desde os primórdios do terror, que homens pujantes de virilidade e força física ultrapassam os obstáculos mais difíceis que se lhes atravessam no caminho. Mais impressionante só a heroína de aparência frágil mas de força anímica superior que consegue sobreviver ao Homem. Vários realizadores fizeram vida (milhões) de retratar essas mulheres. Chegou pois a vez de o Not a Film Critic homenagear as heroínas dos filmes de terror, leia-se terror terrífico e não terror como em pedaço de trampa que se vê uma vez ao engano e depois se apaga o filme do computador. Disse apagar filme do computador? Desculpem, quis dizer guardar o DVD/bluray numa estante escondida para nunca mais o encontrar, exceptuando talvez, uma limpeza profunda de Verão, daqui a dez anos. Adiante, segue a minha selecção por ordem cronológica e não de preferência (juro que as Neve Campbell e Jennifer Love-Hewitt, estão em minoria).

1) Sally Hardesty (Marilyn Burns): “Texas Chainsaw Massacre” (1974) – Já não terá o impacto de outros tempos, visto que a cada nova década, os cineastas arranjam novas maneiras de aumentar o sangue e o número de mortos! Sobrevive o estereótipo da rapariga de olhos esbugalhados, cujos gritos histéricos fazem gelar qualquer espinha. Ela é Sally, uma rapariga que aprendeu à custa da morte do próprio irmão e dos amigos que não se deve dar boleia a estranhos e encetar viagens pela América rural abandonada. Ela é atacada, capturada, espezinhada, atada e submetida a pressão psicológica brutal e mesmo assim concentra todas as forças em escapar. Sabem quantas raparigas nos slashers, depois de capturadas conseguem escapar? Foi o que pensei.

2) Laurie Strode (Jamie Lee Curtis): “Halloween” (1978) – Falar de Scream Queens e não mencionar a Jamie Lee Curtis é como fazer uma lista de maiores desastres marítimos e esquecer o “Titanic”. Laurie foi apenas a primeira numa série de personagens femininas que conseguem, quase misticamente, escapar impunes aos assassinos mais sádicos e perversos que adoram frequentar os subúrbios e matar adolescentes insuspeitos. Ao contrário das amigas que a seu tempo serão confrontadas com o Fado, a desengonçada Laurie tem o instinto um pouco mais aguçado que lhe diz que algo está muito errado. Corre Laurie! Corre!

3) Ripley (Sigourney Weaver): “Alien” (1979) – O filme é de final dos anos 70 e esta continua a constituir a personagem por excelência no que à resiliência e capacidade de lidar com o desconhecido dizem respeito. Ela é esperta como uma raposa e não aceita tretas de ninguém. Ripley deve ser uma das mulheres menos curiosas da lista, o que não deixa de ser de estranhar uma vez que se encontra a um gazilião de anos de distância da terra, numa nave de transporte de carga espacial rodeada quase só de homens e cyborgs lunáticos. Quando o desastre se abate ela é dos poucos que não perdem a cabeça. Não se costuma dizer que uma pessoa se revela nas alturas mais complicadas?

4) Kirsty Cotton (Ashley Lawrence): “Hellraiser” (1987) – Perante a abertura dos portões do inferno muitos se renderão ao terror mas não Kirsty. Sem mãe e com uma madrasta odiosa ela conhece, de certo modo, o inferno na terra e quando se apercebe de atividades estranhas e extra-humanas na casa do seu pai, será capaz até de fazer um pacto com os cenobitas (anjos demoníacos) para assegurar a sobrevivência. Com maior ênfase no intelecto do que na aparência, Kirsty é calculista e uma mulher de acção que não se apoia em ninguém para resolver os seus problemas. Capaz dos planos mais audazes e pensamento rápido é a pior pessoa que o inferno podia escolher para enfrentar!

5) Sidney Prescott (Neve Campbell): Scream (1996) – A Neve Campbell irrita-me profundamente. O olhar semicerrado que grita que ela é míope ao invés de sexy não funciona para os meus lados. Não, aqui o génio está todo do lado de Wes Craven. A sua Sidney é frágil mas não uma flor delicada e encarna o mais próximo da realidade uma jovem adulta. Não é uma grande beldade ou glamorosa, não é sequer a pessoa mais inteligente do grupo de amigos e apenas tenta sobreviver como qualquer jovem que perdeu recentemente um dos pais. Ela não procura sarilhos, só quer passar despercebida no seu microcosmos, o que no género de terror é sempre de louvar. No entanto, quando a vida real se começa a assemelhar à ficção ela conhece as regras que deve seguir para se safar. Quando acha que o assassino está morto, ela certifica-se que ele está mesmo morto!

6) Julie James (Jennifer Love-Hewitt): “I know what you did last Summer” (1997) – Outra actriz enervante, outra personagem que merecia uma morte, lenta, dolorosa e com requintes de malvadez. Julie James é aquela miúda que todos adoram odiar: gira, com alguns neurónios e que segue as regras à risca. Sim, ela nunca poderia ser apelidada de espontânea mas também não esperem vê-la numa fotografia através das grades. Aqueles que a odeiam ficariam felizes por saber que ela afinal tem esqueletos no armário mas não é como se ser cúmplice de um homicídio fosse algo de que ter inveja. Também tem uma das linhas de diálogo mais estúpidas de sempre: “De que é que estás à espera, hã?” dirigidas a um assassino em série… Além de que esta personagem sobrevive à Buffy (Sarah Michelle Gellar)! Nada fixe Jennifer.

7) Trish Jenner (Gina Phillips): “Jeepers Creepers” (2001) – Num dos poucos filmes onde podemos encontrar Justin Long num papel não irritante é Gina Phillips que sobressai como “Final Girl”. Em “Jeepers Creepers” Trish e o irmão atravessam a América dos milheirais a perder de vista quando se encontram com um ser misterioso. Ela faz aquilo que uma boa irmã faz: acompanha o irmão e tenta zelar pela sua segurança ao invés de ser a típica irmã detestável. Isto não significa que os seus esforços tenham êxito. Mas se há algo que a define como uma das melhores raparigas finais é a autoconsciência pouco comum nos filmes de terror: “Sabes aquela parte nos filmes de terror em que alguém faz algo incrivelmente estúpido? Esta é essa parte!”

8) Sarah Carter (Shauna McDonald) “The Descent” (2005): Ela perdeu num acidente rodoviário provocado por ela, os maiores amores da sua vida, filho e marido. Tem amigas com as melhores intenções do mundo e um espírito de aventura elevado ao extremo. Ainda assim quem não perderia o tino? Como as amigas lhe fazem ver, ela é a maior inimiga dela própria e… se calhar delas também. Os monstros nas profundezas não são superiores aos demónios que lhe crescem na cabeça e durante algum tempo é literalmente carregada às costas pelas amigas. Lapsos momentâneos de lucidez a iluminam para descobrir que aos poucos o grupo vai diminuindo e ela continua, agora e sempre, uma sobrevivente.

9) Yasmine (Karina Testa) “Frontiers” (2007): Haverá pior do que cortar as longas melenas de uma mulher? Ok, pronto, se forem fãs do género de terror encontram 450397570284 formas de tortura muito mais humilhantes e dolorosas mas façam-me a vontade. Grávida e em fuga de uma Paris tumultuosa e de um assalto (ninguém disse que era uma santa), ela, o irmão e os amigos são capturados por uma família de psicopatas. Enquanto eles viram alimentação para minhocas (será?) a pobre Yasmine deverá tornar-se uma máquina reprodutora de bebés para os chanfrados que a capturaram. Ela até faz a sua melhor interpretação de Sally Hardesty num jantar dos diabos mas eles não se compadecem. Se quiser escapar Yasmine terá de matar ou morrer. E matar é o que ela faz…

10) Erin (Sharni Vinson): “You’re next” (2011) – Imaginem que alguém ataca a vossa casa durante um serão familiar e, um por um, os vossos familiares começam a cair mortos. O ataque faz parte de um plano sinistro e não sabem se estarão seguros em qualquer lugar. Erin é a namorada de um dos convivas e, onde outros entram em pânico, ela é expedita e tenta antecipar as movimentações da parte agressora. Ela utiliza todos os instrumentos ao seu alcance para sobreviver ou incapacitar o atacante e acima de tudo não hesita. Ela faz o que tiver de ser feito, quando tem de ser feito. A desenvoltura de Erin não nasce de um qualquer evento traumático, ela não é nenhuma inocente e está tão preparada quanto se deve estar para tais situações. Quando as coisas acontecem ela não fica parada à espera da morte: ela ataca-a com unhas e dentes. Epítome de beleza mortal.

11) Soo-ah Kim (Kim Ha-neul): “Blind” (2011) – Reminiscente de um “Eyes of a stranger” (1981), em que um maníaco que anda por aí a violar e matar jovens mulheres acaba por focar a atenção numa mulher cega mas com um pouco mais de orçamento e de gosto. Soo-ah tinha o sonho de tornar-se polícia em Seul até ao momento em que cometeu um erro de julgamento que lhe custou a visão e a vida de um irmão adoptivo. Apesar de frustrada com a perda do sentido da visão não perdeu a mente inquisitiva e quando se depara com um assassino não se deixa enganar. Ela questiona a todo o momento e em momento de confrontação toma decisões rápidas e eficazes para se colocar em segurança rapidamente. Longe da jovem virginal que toma as rédeas por sorte, ela é capaz de tomar iniciativas que põem o assassino em pé de igualdade com ela e, em última análise anular a vantagem de que este dispõe à partida.

12) I-na (Gyu-ri Nam) “Death bell” (2008) – Um grupo de alunos de elite começa a ser assassinado, um a um, por um assassino altamente inteligente durante um período de clausura para realização de exames. Sem apoio do exterior cabe aos alunos que representam (supostamente) os mais inteligentes da escola e aos professores descobrir quem está por trás das mortes e salvar as suas próprias vidas. Não há motivação como termos um grande alvo nas costas para colocarmos a massa cinzenta a funcionar. No meio de miúdos e graúdos a entrar em pânico e numa onda de acusações que despertam o que há de pior no Homem, é a jovem I-na que mantém a frieza e procura retirar sentido de tudo quanto se está a passar. Minúscula, I-na não tem hipótese contra atacantes com algum vigor físico, pelo que a sua maior arma é a inteligência. Se não fosse ela, o mistério poderia nunca vir a ser desvendado.

Agora a sério, a minha "final girl" favorita se sempre é:
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