Pessoal, o “Shaun of The Dead” aconteceu há dez anos. E, se sim, quase todas as comédias de terror de zombies são comparadas àquele filme, chega um momento em que temos de seguir em frente. As comédias de terror com zombies após o “Shaun of the Dead” não são, nem devem querer ser este último. É o mesmo que os críticos da velha escola, que sempre que vêem um filme de zombies remetem sempre para um certo George E. Romero. São referências é certo, mas estas não se podem substituir às películas que assistimos no presente apenas por que na altura fizeram tanto pelo género.
Quando Beth (Aubrey Plaza) morre após ser picada por uma serpente o seu namorado Zach (Dane DeHaan) fica de rastos. Ele ganha uma obsessão mórbida com todas as questões relacionadas com Beth, começando até a passar longos períodos fora de casa, na companhia dos pais desta, Maury (John C. Reilly) e Geenie (Molly Shannon). Os pais e o irmão Kyle (Mathew Gray Grubler) não compreendem que ele perdeu o amor da sua vida, ainda que a relação estivesse a atravessar problemas. Se calhar até acham que ele está a caminhar para a depressão, envolvido que está nas longas sessões de masoquismo em casa de Beth. Aquilo que foi o modo encontrado por Zach para mitigar a dor que sente no coração é-lhe um dia retirado repentinamente. Os pais de Beth deixam de lhe abrir a porta e de o acolher na sua casa, no seu peito. Está na altura de esquecer Beth. Mas ele não está pronto e o que vê um dia choca-o até à sensatez. Beth está na casa dos pais, não se recorda do que lhe sucedeu e continua ainda bastante apaixonada por ele. Onde os pais dela vêem um milagre, Zach vê uma tragédia prestes a acontecer: Beth é um zombie.
“Life After Beth” aborda uma experiência ainda pouco aflorada nos filmes de zombies. O que sucederia se a pessoa que mais amassemos no mundo se tornasse um zombie? Como tanto se tem assistido, quer no cinema quer em televisão, os protagonistas são rápidos a tomar a decisão definitiva, a da morte irrevogável daqueles com quem partilhavam a vida íntima. Ainda que a decisão seja motivada pela compaixão, isto não significa que o acto seja tomado com facilidade. Aquelas personagens que o argumentista tentou convencer-nos de que estavam a atravessar o apocalipse das suas vidas tornam-se desumanas em segundos. Mas “Life After Beth” nunca chega a ser uma tragédia, pois todas as fases da aceitação da morte de um ente querido estão minadas de piadas. A aceitação cega da “segunda vinda” de Beth pelos pais desta, a apatia dos pais Zach e a obsessão do irmão deste com a autoridade constituem pistas para a conclusão mais improvável de todas, o amante de Beth é o menos louco de entre os loucos. Outra inovação é talvez, o enfoque dos personagens nas suas próprias vidas. Estão tão “casados” com a sua própria realidade que não questionam o que sucede em seu redor. E afinal, o que é que está a acontecer mesmo? “O Zach está com uma depressão porque vê a sua namorada morta? Os mortos voltaram à vida? Desde que não interfira com as nossas vidas”. Talvez a ideia mais poderosa seja essa: a de que o Homem é um ser fundamentalmente egoísta e que aceita quase tudo desde que não mexam com a sua comodidade. Ninguém deseja ser um herói, tirando a dada altura Kyle, mas até este é motivado pelas suas próprias razões lunáticas.
Dane DeHaan, aka sósia do Leonardo DiCaprio continua a dar ares de cochorrinho abandonado mas sem enjoar. A sua personagem é a que apresenta maior densidade emocional: tristeza profunda, descrença, alegria, luxúria, está lá tudo. Já Aubrey Plaza nasceu para ser uma zombie. Há qualquer coisa de pouco convencional nesta actriz que lhe dá um certo sentido de perigo e a torna perfeita para os papéis que, regra geral, não funcionam em mulheres glamorosas que necessitam, no mínimo, de um nariz prostético para se parecerem com algo que não elas próprias. Eles estão rodeados por um grupo de actores com décadas de experiência entre si que interpretam personagens unidimensionais é certo, mas nunca surge a sensação de que alguém está a remar contra a maré. Eles acreditam e fazem crer nas parvoíces que saem da boca daqueles personagens.
Quem espera os comos e os porquês de um apocalipse zombie irá sair muito desiludido de um visionamento de “Life After Beth”. Da herança de sangue e terror resta muito pouco. Promete apenas gargalhadas descomprometidas. Há algum problema com isso? Três estrelas.
Argumento: Jeff Baena
Aubrey Plaza como Beth Slocum
Dane DeHaan como Zach Orfman
John C. Reilly como Maury Slocum
Molly Shannon como Geenie Slocum
Mathew Gray Grubler como Kyle Orfman
Cheryl Hines como Judy Orfman
Paul Reiser como Noah Orfman
Próximo Filme: Kuntilanak, 2006
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